Rolando Boldrin
O
compadre Justino e sua mulher, a Zefa, são dois caboclos lá de São Joaquim da
Barra, minha terra querida. São desses casais unidos que nem unha e carne.
Mesmo em seu tempo de mocidade, o compadre Justinho nunca olhou pra outro rabo
de saia. Sempre nutriu sentimento de veneração pela mulher. Num dia desses,
eles desandaram a relembrar das dificuldades que passara na vida.
Justino − Ô, minha véia. Tava me alembrando quando a gente casô...
Eu tinha muito dinheiro dos negócio... Tinha mais de mir cabeças de gado... Aí
veio aquela peste. Ocê lembra? Morreu todo o gado e eu fiquei numa pindaíba de
dá pena. E ocê ali junto, sempre do meu lado. Se alembra?
Zefa − Craro que alembro, uai, como é que eu podia esquecer?
Justino − Mas depois a dificuldade passô. A gente começô a
prantá roça, eu fui arribando de novo. Cheguei a ter muita terra. Era légua de
prantação a perdê de vista, né não, minha véia?
Zefa − Era mesmo, meu véio...
Justino − Mas depois veio a praga dos gafanhotos. Perdemos
tudo. Fiquemo sem roça, sem terra, sem nada. E ocê aí, comigo, sempre junto...
Zefa − Sempre junto, meu véio...
Justino − E quando eu fiquei doente, então? Febre amarela,
icterícia, bronquite braba... Até pneumonia eu tive. Fui internado, seis mês de
hospitar. E ocê ali firme, nunca arredô pé...
Zefa − Nunca. Tava do seu lado no meio dessa desgraça toda...
Justino (num repente) − Ô, Zefa! Pensando bem... ocê dá um
azar desgramado!
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