quarta-feira, 30 de junho de 2021

Sarcasmos e Ironias

 O sarcasmo de Voltaire

O filósofo iluminista francês Voltaire é descrito por historiadores como um sarcástico, que foi preso na Bastilha por causa de sua ironia. 

Conta-se que ao chegar a Paris, Voltaire soube que o regente que governava a França vendeu metade dos cavalos dos estábulos reais para equilibrar a economia. O filósofo, então, comentou, ironicamente, que a economia seria muito maior se o regente despedisse metade dos “asnos” que atulhavam a corte real. 

Por esse e outros deboches, o sarcasmo de Voltaire foi considerado como “a mais terrível de todas as armas intelectuais jamais brandidas por algum homem”. Suas obras literárias foram proibidas pela Igreja e pelo Estado, na época, por tratar de assuntos polêmicos com sarcasmo e ironia. 

Conflito 

Gilberto Brostel 

Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo e preguiça. Tive toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária. Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesmo. Nada te posso garantir, eu sou a única prova de mim. A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais.

****** 

Algumas pessoas subestimam nossa inteligência.
Acham que não temos competência.
Pessoas pobres de espírito… me enojam.
Acham-se donos
de todo conhecimento,
seres dignos de pena...
Assim mesmo, a esses tiro o meu chapéu
e agradeço,
pois me ensinam
tudo o que eu não devo ser.
 

Irma Jardim

Ironias 

Ironia é você sonhar alto, com atitudes pequenas. 

Ironia é você estar em um país democrático, sendo governado pelo presidente atual. 

Que ironia, o mundo tão redondo e cheio de gente quadrada. 

Eu sou a prosopopeia metafórica de um irônico paradoxo eufêmico e hiperbólico. 

Quem reclama da minha ironia deveria saber que gostaria muito menos da minha sinceridade. 

Ironia é você comprar remédio pra memória e esquecer de tomar, e quando lembra de tomar esquece onde guardou. 

Ironia é protestar contra corrupção e a pandemia no nosso país com a camiseta do Brasil. 

A ironia da vida é o sujeito em um dia levar pó pra Indonésia e no outro dia voltar em pó pro Brasil. 

Uso a ironia para não usar uma faca. 

Ironia é a Volkswagen ser alemã e fazer Gol no Brasil. 

Ironia é homem ter duas cabeças e não pensar com nenhuma das duas. 

Ironia é uma Fábrica de Bolos dizer que não atendeu ao telefone, porque estava sem cobertura. 

Ironia é você dizer que ama uma pessoa no dia 1° de Abril. 

Ironia é mulher feia fazer aniversário no dia de São Jorge. 

Ironia é gostar da pessoa errada e querer que tudo dê certo. 

Ironia: Um travesti chamado Amélia. 

Irônico é você clicar em um usuário gay no Facebook e aparecer “Fulano está ativo agora”. 

Ironia é um bombeiro torcer para o Botafogo. 

Ironia é quando o assaltante diz: “Passa o dinheiro, vagabundo!” 

Ironia é um palhaço de circo pegar sua mulher no flagra e dizer:

− Como assim não aconteceu nada? Você está achando que eu sou palhaço, é?

Todas as 62 taças de Pelé

 38 oficiais e 24 amistosas

conquistadas por Pelé em 21 anos de carreira:

De 1956 a 1977 foram 62 títulos conquistados pelo 'Rei do Futebol', sendo 38 títulos oficiais federativos (competições chanceladas por federações oficiais) e 24 títulos oficiais amistosos (chamados popularmente de 'títulos amistosos', sendo competições criadas por clubes, empresas, etc., mas que cumprem todas as regras oficiais da FIFA). 

Pelé conquistou em sua história 24 títulos amistosos, todos pelo Santos, sendo que 21 conquistas foram no Exterior e 3 no Brasil. 

Destes 21 títulos conquistados no Exterior, 7 foram na Europa, 8 na América do Sul, 3 na América do Norte e 3 na América Central. 

Títulos oficiais pela seleção brasileira (10): 

- Copa do Mundo FIFA: 1958, 1962 e 1970;

- Copa do Atlântico: 1960;

- Copa Roca; 1957 e 1963;

- Taça Oswaldo Cruz: 1958, 1962 e 1968;

- Taça Bernardo O´Higgins: 1959. 

Títulos oficiais pela seleção paulista (1): 

- Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais: 1959. 

Títulos pelo Santos (50): 

Títulos Oficiais Federativos (26): 

- Copa Intercontinental de Clubes: 1962 e 1963; - Recopa dos Campeões Intercontinentais: 1968;- Copa Libertadores da América: 1962 e 1963;

- Supercopa Sul-Americana: 1968;

- Campeonato Brasileiro: 1961, 1962, 1963, 1964, 1964 e 1968;

- Torneio Rio-São Paulo: 1959, 1963, 1964 e 1966;

- Campeonato Paulista: 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973. 

Títulos Oficiais Amistosos (24): 

- Torneio Tereza Herrera (ESP): 1959;

- Torneio Pentagonal do México (MÉX): 1959;

- Torneio de Valência (ESP) 1959;

- Torneio Dr. Mario Echandi (CR): 1959;

- Torneio Giallorosso (ITA): 1960;

- Torneio Quadrangular de Lima (PER): 1960;

- Torneio Internacional de Paris (FRA): 1960 e 1961;

- Torneio Itália (Taça Centenário de Unitá de Itália) (ITA): 1961;

- Torneio Internacional da Costa Rica (CR): 1961;

- Torneio Pentagonal de Guadalajara (MÉX): 1961;

- Torneio Internacional da Venezuela (VEN): 1965;

- Torneio Quadrangular de Buenos Aires (ARG): 1965;

- Torneio Hexagonal do Chile (CHI): 1965 e 1970;

- Torneio Internacional de Nova York (EUA): 1966;

- Torneio Pentagonal de Buenos Aires (ARG): 1968;

- Torneio Octogonal do Chile (CHI): 1968;

- Torneio da Amazônia (BRA): 1968;

- Torneio Quadrangular Roma-Florença (ITA): 1968;

- Torneio de Cuiabá (BRA): 1969;

- Taça Cidade de São Paulo (BRA): 1970;

- Torneio de Kingston (JAM): 1971;

- Torneio Laudo Natel (BRA): 1974. 

Títulos oficiais pelo New York Cosmos (1): 

- Campeonato Norte-Americano: 1977. 

(Do blog Arquivo do Futebol)

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Revisão gramatical feita pelo matuto

 

ABREVIATURA → ato de se abrir um carro de polícia;

CÁLICE → ordem alguém para ficar calado;

CATÁLOGO → ato de se apanhar coisas rapidamente;

DESTILADO → aquilo que não está do lado de lá;

DETERGENTE → ato de prender indivíduos suspeitos;

DETERMINA → prender uma garota de programa;

ESFERA → ex-animal feroz amansado;

HOMOSSEXUAL → sabão em pó utilizado para lavar as partes íntimas;

NOVAMENTE → diz-se de indivíduos que renovaram a sua maneira de pensar;

RAZÃO → lago muito extenso, porém pouco profundo;

SIMPATIA → concordando com a irmã da mãe;

TALENTO → característica de alguma coisa devagar;

VOLÁTIL → sobrinho avisando ao tio aonde vai

MINISTÉRIO → aparelho de som de tamanho reduzido;

ARMARINHO → ar proveniente do mar;

UNÇÃO → erro de concordância verbal; o correto seria: um é.

domingo, 27 de junho de 2021

Efeito colateral do absurdo

 

Martha Medeiros  

Ele telefonou de manhã cedo e me assustei: ué, só trocamos WhatsApps. Telefonemas estavam reservados para os aniversários ou para alguma tragédia pessoal. Como não era meu aniversário, me preparei para o pior. Alô. 

Ele estava arrasado, havia rompido uma relação. Não com a namorada, nem com o filho. Na noite anterior, discutiu feio com um grande amigo e se desentenderam de vez, o passado em comum não conseguiu evitar o fim. Nunca imaginou que chegaria a esse ponto por causa de política. “Não sou nenhum radical, você sabe” – começou me dizendo – “mas cheguei no meu limite. Desde moleques, éramos dois idealistas, comíamos e bebíamos livros, lutávamos contra o moralismo, viajávamos de carona pelo Brasil conhecendo praias lindas e cidades miseráveis, vimos a condição precária de tanta gente. As cenas chocantes de tortura que assistíamos em filmes nos revoltavam, queríamos mudar o mundo! Inocentes, claro, mas o valor que dávamos à justiça, à vida e à igualdade era inegociável. E, supunha eu, vitalício. Agora, de cabelo branco, ele grita “mito, mito!” para um sujeito que baba ovo pra ditadura e pra torturador, e que está nos levando a um retrocesso desmoralizante. Não foi um voto em oposição ao PT, essa desculpa já caducou. Ele realmente se identifica com o cara, Martha. Como continuar conversando sobre futebol como se nada tivesse mudado? 

Fui a escolhida para o desabafo porque, semanas antes, havia comentado que, apesar do abismo aberto no país em 2018, eu ainda acreditava que as amizades formadoras, aquelas que se cristalizaram na infância e adolescência, não deveriam ser desfeitas pela polarização. Manter o laço com quem nos viu crescer e que repartiu vivências muito íntimas é uma espécie de seguro-emocional. Amizade verdadeira é um alicerce, uma maravilha do mundo antigo, quase um marco zero existencial. 

Até agora, por sorte, não tive um embate violento e definitivo com ninguém que fosse especial para mim. Nas redes é outro papo, as pessoas se exaltam e, se o vínculo é fraco ou inexistente, tchau e bênção. Mas é muito doloroso colidir com um amigo querido que ainda acredita que a crise é entre esquerda e direita, que se posiciona como se houvesse dois extremos em disputa, quando não há. Nossos políticos podem ser malandros, safados, frustrantes ou coisa pior, mas atuam na mesma arena democrática, são todos discutíveis. O obscurantismo é indiscutível. Alternativa suicida. 

Era mesmo uma tragédia pessoal: meu amigo ligou para falar sobre a morte do afeto, fulminado pela glorificação do absurdo. Minha defesa pela manutenção dos laços entre pessoas discordantes não surtiu efeito dessa vez. Ele perdeu um irmão em vida, o que é sempre triste. Para atenuar, combinamos de reduzir a troca de WhatsApps e nos telefonarmos mais. 

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(No Caderno Donna de Zero Hora, junho de 2021)

Menino Pobre

 

Menino pobre do meu bairro, triste,
existe um verso em teu olhar profundo;
é que em tua pessoa subsiste
a miséria tristíssima do mundo...

Menino pobre do meu bairro, existe
em teu olhar um sentimento fundo:
choras a dor de haver um mundo triste
dentro do grande e colorido mundo.

Menino pobre do meu bairro, grita,
para que escutem tua voz tremente,
amargurada, enfraquecida e aflita;

pelos irmãos que dantes não gritaram,
clama nas ruas angustiosamente,
exige o pão que os homens te roubaram!


Gioia Júnior


Uma breve história romântica

 

A festa de São João do meu colégio era esperada o ano inteiro. Acontecia no pátio grande. As famílias reuniam-se para abastecer as barraquinhas. Cachorro-quente, pipoca, quentão, guaraná, amendoim. Uma vez mandei um telegrama pro Pedro. 

– Me encontre embaixo da escada do pátio de areia, quero um beijo. 

Ousada, do alto dos meus dez anos, queria compromisso de namoro selado com uma aliança carnal. Desci as escadas e fiquei esperando meu príncipe. Ele compareceu logo em seguida. Queria confirmar o casório. Levei um beijinho de selo e só não fomos mais além porque, a infância prevaleceu com sua invejável ingenuidade. 

No outro ano, desfeito já o namoro, entre correrias de pega-ladrão e sentenças que levavam os desavisados a passarem 15 minutos na cadeia improvisada num canto do pátio grande, mandei prender o Pedro. Estava desacorçoada com o fim do romance. Ele tinha se engraçado pela Valéria, a Santa Clara angelical da peça que encenávamos sobre a vida de São Francisco de Assis. Prendi o guri não como vingança para a minha desdita, mas como modo de marcar, entre frágeis grades, a dor de meu amor perdido. 

*****

Susana Vernieri é uma jornalista, escritora e ensaísta brasileira. Formada em jornalismo pela UFRGS, trabalhou durante 10 anos em jornais de Porto Alegre. Voltou à universidade para fazer o mestrado e em seguida o doutorado em Literatura brasileira.

sábado, 26 de junho de 2021

A primeira mulher a ir ao espaço

  

Selo postal da URSS em homenagem a Valentina Tereshkova, 1963 

Valentina Vladimirovna Tereshkova (em russo Валентина Владимировна Терешкова, transliteração Valentina Vladimirovna Tereškova), Maslennikovo, região de Yaroslavl, atual Rússia, 6 de março de 1937) foi a primeira mulher cosmonoauta da história. 

Começou a trabalhar com 18 anos, em uma fábrica têxtil. Na mesma época, ela entrou em um clube de paraquedistas amadores. Aos 24 anos, em 1961, ela começou a estudar para se transformar em cosmonauta. No mesmo ano, o programa espacial soviético considerou enviar mulheres ao espaço, numa forma de colocar a primeira mulher no espaço e superar os Estados Unidos. Em 1962, ela foi admitida a função, principalmente por ser especialista em paraquedas. 

Em 16 de junho de 1963, uma missão soviética no mês de julho colocou duas aeronaves no espaço, sendo que uma foi conduzida por Valery Bykovsky, que bateu o recorde de resistência no espaço, quando completou uma missão de cinco dias. A coronel engenheira Valentina pilotou a nave Vostok 6 e tornou-se a primeira mulher no espaço. Ela completou 48 órbitas ao redor da Terra, no total de 71 horas. Ambas as naves aterrissaram no dia 19 de junho. 

Em 1964, Valentina e o cosmonauta Andrian Nikolayev tiveram uma filha, considerada a primeira criança nascida de pais cosmonautas. 

Durante 70 horas, em 1967, a cosmonauta circundou a órbita da Terra. Ela foi eleita "A mulher do século" em 2001. 

Ao realizar o primeiro voo espacial de uma mulher, Valentina recebeu uma das principais condecorações da União Soviética, a ordem de Lênin, além de outras concessões soviéticas. Ela também foi presidente do comitê das mulheres soviéticas e tornou-se membro do Soviete Supremo, o parlamento da URSS, e do Presidium, um grupo especial dentro do governo soviético. Atualmente ela vive em Moscou. 

Detalhamento dos Voos − Vostok 6 

Missão do(a) Vostok 6: Vôo orbital conjunto com Vostok 5

Nave: Vostok 3KA

Apelido: Seagull

Base de lançamento: Baikonur

País: URSS

Foguete lançador: Vostok

Órbitas: 48

Duração: 3 dias e 13 horas

Missão conjunta com a Vostok 5; primeira mulher no espaço. 


sexta-feira, 25 de junho de 2021

Uma carta aos animais

 

Vocês são nosso alimento, nossas cobaias, nossos amigos. 

Repartem conosco os problemas e conflitos deste mundo que nós, seres racionais, tivemos a pretensão de construir, alterar e modificar, muitas vezes sem pensar que de nossas decisões dependiam a sobrevivência e o conforto de vocês. 

Ocupamos um espaço que a vocês pertencia. E vocês, humildemente se calaram. 

Destruímos suas crias, matamos suas fêmeas, caçamos seus machos, numa fútil e irracional demonstração de força pela caça predatória. E vocês, assustados, sucumbiram. 

Aprisionamos sua beleza e exibimos diante dos olhos curiosos e desumanos. E vocês, condescendentes, permitiram. 

Retiramos suas peles, alimentamo-nos com suas carnes, utilizamos suas forças, nem sempre por necessidade, às vezes, até, por crueldade. Crueldade racional. E vocês, submissamente, sacrificaram-se. 

Poluímos o seu mundo puro com nossa tecnologia desumana e vocês, corajosamente, fugiram dela. Mas fugiram calados. 

Com a nossa inteligência domesticamos a sua selvageria, conquistamos sua amizade. Mas, infelizmente, não soubemos retribuí-la como vocês mereciam. 

Por tudo isso, pedimos perdão. 

Tomara que nós, seres racionais, ainda tenhamos tempo de aprender as lições de vida que vocês podem nos ensinar. 

* * * * * * * * 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

A bondade sempre volta

 

Junho de 2021, tenho que fazer um exame de rotina de Colonoscopia no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Tenho que estar lá uma hora antes do procedimento. Um jovem enfermeiro, muito simpático, vem ao meu encontro para me indicar o meu armário, onde deverei guardar as minhas roupas e vestir um conjunto hospitalar. Ao ler o meu nome numa papeleta, onde estão os meus dados pessoais, ele não conteve a sua emoção: “Professor Nilo, é o senhor?”, e me abraça comovido. Como passaram centenas de alunos por mim durante o tempo em que eu lecionei, arrisquei: “Foste meu aluno do Pasqualini (Escola Municipal na Restinga); ou do Colégio Santos Dumont (Estadual)?” Ele responde na hora: do Pasqualini!”.

Após esse papo inicial, ele fala de alguns macetes que eu dei na sala de aula, da forma como eu me comunicava com os alunos. Mas até aí, pela máscara que estava usando e pela sua indumentária de enfermeiro, que está na linha de frente de um grande hospital, não conseguia identificar aquele moço negro que fez todos os procedimentos pré-operatórios em mim, com tanto carinho e competência. 

Durante o procedimento que estava sob sua alçada: medir a minha temperatura, pressão arterial e colocar a agulha em meu braço onde passaria a anestesia, ele contou-me o porquê de sua admiração por mim. Falou que, na oitava série, ele se sentava bem na frente porque tinha dificuldade em enxergar o que estava escrito no quadro. Eu teria dito a ele: “Vou providenciar um óculos para ti! Amanhã de manhã, vou estar numa ótica na avenida Wenceslau Escobar, às dez horas da manhã, e vamos dar um jeito nisso.” 

Isso aconteceu há 25 anos, nunca mais me lembrei desse fato. Mas aquele garoto, que fez um Curso de Enfermagem de alto padrão para trabalhar num dos melhores hospitais de Porto Alegre, nunca se esqueceu daquele pequeno gesto que eu fiz a ele, e eu sem nunca esperar algo em troca. 

Mais tarde, já sala de operação, ele fala ao médico proctologista e à médica anestesista quem era o paciente que iriam operar. 

Depois, na sala de recuperação, deu-me uma atenção toda especial e cuidadosa. Então, ao nos despedirmos, eu disse-lhe: “Não lembro bem da pequena bondade que eu fiz a ti, mas, tenha a certeza, que hoje pagaste, com teu profissionalismo, tudo de bom que um dia eu te possa ter feito. Creia, meu jovem, a bondade sempre volta, nos momentos mais difíceis de nossa vida. Obrigado pela a atenção e pelo carinho que hoje dedicaste a mim. 

Nilo da Silva Moraes

20 lendas do folclore brasileiro

 (com explicação)

A cultura nacional está repleta de histórias e mitos antigos que povoam o nosso imaginário coletivo. Confira, abaixo, as mais famosas lendas e personagens do folclore brasileiro, com um comentário acerca das suas simbologias e origens: 

1. Lenda do Curupira 

Um dos personagens mais célebres do nosso folclore, o Curupira é uma criatura que habita as florestas e vive para proteger a fauna e a flora do local. A lenda nasceu na tradição indígena e fala sobre um menino (ou, em algumas versões, um homem de estatura baixa) com cabelos de fogo. 

Para defender todas as formas de vida que habitam os seus domínios, ele é conhecido por ter os pés ao contrário. Isso lhe garantiu a fama de “enganador”: suas pegadas indicam o caminho errado para os caçadores ou qualquer ser humano que pretenda invadir ou destruir as matas. 

2. Lenda da Cuca 

Muito célebre na cultura popular, a Cuca é uma terrível bruxa que, muitas vezes, é representada com cara e garras de jacaré. A lenda é usada na educação infantil: através de antigas cantigas de ninar, a personagem serve como ameaça, para que as crianças caiam no sono e se comportem bem. 

Associada à magia, aos sonhos e à noite, a história tem origens no folclore português e chegou ao Brasil durante o período da colonização. Assim, teria sido inspirada na figura da Coca, um dragão malvado que é morto por São Jorge durante a procissão religiosa do Corpo de Cristo, uma tradição que ainda se mantém, atualmente, na região do Minho. 

3. Lenda do Boto 

A lenda faz parte do folclore indígena e, assim como outras do mesmo universo, está ligada às águas, muito presentes nas regiões de origem, integrando seus cotidianos e modos de vida. O boto-cor-de-rosa é um golfinho fluvial que habita o rio Amazonas, em torno do qual se inventaram muitas histórias. Em algumas versões, ele usa um chapéu para esconder o buraco na cabeça, que identifica a sua natureza mágica. 

Segundo os relatos, em algumas noites, ele consegue sair do rio e se transformar num homem cheio de encantos. Nessas madrugadas, passeia em busca de moças que seduz, mas após o encontro amoroso, retorna à sua forma natural e regressa à água. 

Muitas vezes, essas mulheres acabam engravidando e gerando os “filhos do Boto”, ou seja, crianças que nasceram de pai desconhecido. 

4. Lenda do Saci-pererê 

Também conhecido só como Saci, ele habita as florestas e é famoso pelas travessuras que pratica. Com apenas uma perna, caminha aos pulos, fumando um cachimbo e usando um gorro vermelho que lhe confere poderes mágicos. 

Em algumas versões, é encarado como uma criatura maléfica, mas noutras é apenas um garoto que gosta de brincar com os humanos e confundi-los: entra nas casas e esconde os objetos ou muda os seus lugares, atrapalha o trabalho, etc. 

A lenda se originou na mitologia indígena, do Sul do Brasil, ganhando nomes e descrições diferentes. Com o tempo, foi sendo alterada como resultado do processo de colonização, ganhando influências africanas e europeias. 

5. Lenda da Iara 

A lenda da Iara, ou Mãe d’Água, nasceu entre os povos indígenas brasileiros. Trata-se de uma sereia bela e sedutora que habita o rio Amazonas. Com os seus encantos, ela atrai os homens para o fundo das águas, fazendo com que se apaixonem e morram afogados. 

A história também foi sendo transformada ao longo dos tempos, ganhando outros contornos e versões. Inicialmente, a figura terá surgido na forma masculina, o Ipupiara, uma criatura mitológica que provocava naufrágios e se alimentava dos pescadores. 

6. Lenda do Tutu 

Associado à figura do Bicho-papão, o Tutu é uma criatura monstruosa que pode assumir várias aparências. Assim como a Cuca, a lenda está presente nas canções de ninar e é usada para educar as crianças, integrando a herança cultural portuguesa que chegou ao país durante o período colonial. 

Conhecido pela sua força e brutalidade, muitas vezes o personagem é representado como um porco-do-mato selvagem e ameaçador. A figura também foi influenciada por elementos africanos: por exemplo, o nome “Tutu” teria sido inspirado num termo do quimbundo, “quitutu”, sinônimo de “ogro” ou “monstro”. 

7. Lenda da Mula sem cabeça 

A célebre lenda fala sobre o espírito de uma mulher que foi amaldiçoada e condenada a permanecer eternamente no corpo de uma mula que, em vez de ter cabeça, tem apenas chamas. 

Em algumas regiões, o povo fala que consegue escutá-la galopando, durante as madrugadas, com rapidez e violência. A figura surgiu na cultura europeia e se tornou muito popular durante o período da Idade Média, estando presente em diversas obras literárias dessa época. 

O pecado cometido por esta mulher pode variar, dependendo da versão, mas o mais consensual é de que ela teria sido amante de um padre. 

8. Lenda da Cobra-grande 

Também conhecida como Boiuna e Cobra Nonato, entre outros nomes, a personagem é muito popular sobretudo nas regiões do norte e nordeste brasileiros. Trata-se de uma cobra gigantesca que habita nas águas profundas do Amazonas e assusta todo mundo que a vê. 

A lenda indígena terá nascido na região da Amazônia, mas foi sendo transmitida para outras localidades e se transformando. Para alguns povos, ela era apontada como a criadora dos rios, já que o seu corpo teria gerado os percursos na terra por onde as águas corriam. 

9. Lenda da Vitória-régia 

A antiga história tupi-guarani nasceu no norte do país e, assim como outras lendas do mesmo imaginário, pretende explicar a origem de um elemento natural. Neste caso, se refere às plantas com o mesmo nome que são comuns na Amazônia. 

No enredo, uma moça indígena, Naiá, está apaixonada pela Lua, chamada de Jaci. Nas crenças do seu povo, as mulheres que Jaci amava eram levadas para o céu e viravam estrelas. 

Um dia, quando se debruçou nas águas para beijar o reflexo da Lua, ela caiu e morreu afogada. Jaci, triste com a notícia, transformou-a na bela planta aquática, para que seu espírito se eternizasse naquele lugar. 

10. Lenda da Pisadeira 

A lenda brasileira que nasceu entre a tradição popular está presente sobretudo no interior de Minas Gerais e São Paulo. A Pisadeira é uma figura assustadora e esguia, com dedos finos e unhas afiadas que passeia pelos telhados e observa os humanos. 

Quando alguém come muito durante o jantar, ela invade o seu quarto e pisa no seu estômago, provocando sensações perturbadoras como falta de ar e paralisia momentânea. 

Segundo os relatos, quando acordam, as suas vítimas devem esfregar os pés um no outro três vezes, para evitar que ela regresse para atormentá-las. 

11. Lenda do Negrinho do Pastoreio 

A lenda brasileira surgiu durante o século XIX e combina influências africanas e cristãs, com um enredo que se passa nos duros tempos da escravidão. O personagem é um menino negro que foi violentamente castigado pelo dono da fazenda, quando um cavalo fugiu. 

O homem largou seu corpo numa estrada, pensando que ele teria morrido. Contudo, no dia seguinte, viu o garoto totalmente recuperado, montando o cavalo que sumiu e acompanhado pela imagem de Nossa Senhora. A partir daí, o povo começou a pedir a ajuda do Negrinho do Pastoreio sempre que um objeto desaparecia. 

12. Lenda do Corpo-seco 

O mito que veio da Península Ibérica para o Brasil também é chamado de Unhudo e fala sobre um cadáver que ficou abandonado na Terra, após cometer um grave pecado. Em algumas versões, ele teria assassinado a mãe e noutras seria um homem extremamente cruel. 

Conhecido por assombrar os humanos e assustá-los, anda vagueando pelo nosso mundo, já que o seu espírito não pode subir aos céus. Segundos os relatos, ele tem uma aparência ressecada, com unhas e cabelos longos, que continuam crescendo depois da sua morte. 

13. Lenda do Lobisomem 

O monstro lendário, que integra a mitologia da Grécia Antiga, é um ser humano que passa a assumir a forma de um lobo, durante a lua cheia. Em outras culturas, surgiram diversas histórias semelhantes: homens que se transformavam em predadores como leopardos, leões e tigres. 

A maldição poderia ser causada por diversos fatores, segundo as variações da lenda. Ocorreria como um castigo divino, com crianças que não eram batizadas ou com o sétimo filho homem de um núcleo familiar. 

Presente em livros, filmes e videogames contemporâneos, na versão moderna da lenda, o Lobisomem só pode ser morto com uma bala de prata. 

14. Lenda do Mapinguari 

A criatura lendária, que habita a floresta amazônica, tem sido descrita, através dos relatos, como um enorme monstro coberto de pelos vermelhos. Com apenas um olho, ele tem garras e dentes afiados, caminhando pela região e devorando tudo o que aparece. 

Também chamado de Isnashi, o personagem do folclore brasileiro teria sido um bravo guerreiro que assumiu aquela forma para permanecer entre a natureza, depois da sua morte. 

Algumas teorias apontam que a figura poderá ter sido inspirada na preguiça-gigante, um animal pré-histórico. 

15. Lenda da Macaxeira 

Também conhecida como lenda da Mandioca, a história de natureza indígena vem explicar a origem da raiz tão usada na alimentação daqueles povos. Havia, entre os tupis, uma menina chamada Mani que era muito amada por todos. 

Um dia, ela ficou muito doente e seus pais fizeram tudo o que podiam para curá-la. Mesmo assim, nada funcionou e Mani acabou falecendo e sendo enterrada na oca onde morava. 

Pouco tempo depois, uma planta desconhecida nasceu no local, a Macaxeira ou Mandioca, e suas raízes passaram a alimentar a população. 

16. Lenda do Capelobo 

Semelhante à história do Lobisomem, esta é uma lenda indígena que surgiu no norte do país. O Capelobo é um monstro que combina características humanas e animais, podendo ter elementos de tamanduá, anta, cachorro, etc. 

Bastante popular nas regiões do Pará, Maranhão e Amazonas, a criatura vive nas matas e, durante a noite, passeia perto das casas em busca de alimentos. Embora costume comer bichos domésticos, também pode matar os caçadores da área e beber seu sangue. 

Segundo os relatos, ele emite gritos que podem ser ouvidos durante as madrugadas e a única forma de derrotá-lo é atingi-lo com um tiro no umbigo. 

17. Lenda da Caipora 

Semelhante ao Curupira, a figura do imaginário tupi-guarani habita as florestas e protege os animais dos caçadores. Dependendo da versão e da região, a personagem pode ser representada como sendo um homem ou uma mulher. 

De estatura baixa, cabelos vermelhos e com grande agilidade, Caipora cavalga um porco-do-mato e emite gritos para afugentar os seres humanos da região. 

18. Lenda do Bicho-papão 

Conhecido por vários nomes, o Bicho-papão é um antigo ser mitológico que se manifestou em diversas partes do mundo. Associado ao sentimento de medo, trata-se de um monstro que é usado na educação infantil, para evitar comportamentos errados. 

Como o nome indica, o Papão tem a terrível fama de invadir as casas e devorar as crianças que não obedecem às regras da sua família. Assim como a Cuca, a personagem também está presente nas antigas canções de ninar da língua portuguesa. 

19. Lenda do Papa-figo 

Também chamado de Homem do Saco, o personagem do folclore brasileiro é conhecido sobretudo nos meios rurais. Por vezes, a criatura é descrita como um homem de aparência comum, mas noutras versões tem dentes de vampiro e garras pontiagudas. 

Segundo a história popular, ele sofria de uma doença rara e, para se curar, bebia o sangue comia fígados de crianças que sequestrava com o saco que carregava sempre. O intuito da narrativa é ensinar os mais novos sobre os riscos de conversar com desconhecidos. 

20. Lenda da Comadre Fulozinha 

Uma variante da lenda da Caipora, a figura do folclore nacional está mais presente na região do nordeste. Trata-se de uma guardiã da vida natural, descrita como uma mulher indígena de cabelos muito compridos que monta um cavalo. 

Conhecida pelo seu assobio, muito temido, ela também prega peças nos humanos, como trançar as crinas dos cavalos ou deixar os portões das fazendas abertos. 

(Do blog O Pensador)

 

domingo, 20 de junho de 2021

Procure a bicharada

 

Na mata 

Uma velha senhora, chamada Renata, morava sozinha num pequeno bangalô. Um dia, enquanto dormia, recebeu a visita de um estranho cobrador. Era um rapaz conhecido pelo apelido de “Sarará”, que veio galopando; empurrou a porta e, logo que entrou, o mais forte que podia ele gritou: 

− Sua velha dorminhoca, que só gosta de fofoca, pague logo o que me deve e não me venha avacalhar oferecendo boicote ou papo barato que não vou suportar assunto engatado. 

A velha pulou da cama com o cabelo emaranhado, calçou o sapato e, tremulando sem parar, uma célebre modinha começou a cantar. Os bichos que estavam na mata conheciam aquela melodia e logo foram acudir a velha que morava sozinha. 

Coloque os olhos e a cabeça para funcionar e descubra quantos e quais os bichos vieram acudir a velha senhora escondidos nessa pequena história, com toda a certeza, muitos bichos você encontrará. 

Aceite o desafio e procure a bicharada!

Algumas frases para pensar

 

01) Sabe aquela mulher superequilibrada? Que nunca te cobra nada? Supersegura, nada ciumenta e calma? Ela tem outro. 

02) No filme de terror a vitima sempre pergunta:
− Tem alguém aí?
Como se o assassino fosse gritar:
− Tô indo fazer compras, quer alguma coisa? 

03) − Dói né?
− O quê?
− Deitar no sofá e lembrar que se esqueceu o controle remoto. 

04) Tenho uma notícia boa e uma ruim pra te dar
A ruim é que não tem notícia boa
E a boa é que não tem notícia ruim . 

05) − Quer passar na prova?

− Sim, quero.

− Toma Atroveran. Tomou, passou. 

06) Antes das eleições os candidatos tem muitos predicados, mas é depois que se conhece o sujeito oculto. 

07) As mulheres são um ser definitivamente engraçadas, lutam tanto para ser iguais aos homens em todos os sentidos, mas é curiosos que elas sempre se esquecem de pagar ou dividir a conta. 

08) Já inventaram o “Homem de ferro”, “Super homem”, “Homem aranha”, só falta inventarem o “Homem que preste”… 

09) Fui procurar o que era melhor pra mim e abri a geladeira. 

10) Eu: − Mãe, vou sair.

Mãe: −Tá me avisando ou pedindo permissão?

− Eu: − Tô pedindo dinheiro. 

11) Eu confesso: Já lavei dinheiro! Não conferi os bolsos antes de por na máquina. 

12) Ontem perguntei ao meu espelho:

− Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?

Ele tá falando nomes até agora; como se desliga? 

13) Se você abrir o olho e não enxergar nada, acenda a luz pra ver se funciona.

14) Só desejo coisas boas. De negativo já basta o meu extrato.

15) Não tenho que passar boa impressão para ninguém. Não sou impressora.

16) A quem não gosta de mim só tenho um pedido: quando chegar aos meus pés me avisa, que é pra eu não pisar em cima.

17) A luz viaja mais rápido que o som. Por isso algumas pessoas parecem brilhantes até você ouvi-las falando.

18) Se alguns cuidassem do planeta como cuidam da vida dos outros... pessoal do Greenpeace tava desempregado.

19) Para você que acha que o mundo gira ao seu redor, eu tenho um conselho: vá ao médico, pode ser labirintite.

20) Primeiro, encanto. Depois, desencanto. Por fim, cada um pro seu canto.

sábado, 19 de junho de 2021

Nada será como antes

 Por Fraga

Nada será como antes: sabe aquele pessimismo de estimação, sob medida ou flexível, no piloto automático ou no improviso, o velho e bom pessimismo de tocaia na realidade, sempre pronto pro bote em cima dum fato novo? Sisqueça. Daqui pra frente todo pessimismo será insuficiente. 

Nada será como antes: ah, kibon que eram os abraços apertados, os apertos de mão pra valer, os tapinhas nas costas e até a troca de perdigotos amigáveis. Irresistíveis os convites pruma reunião caseira com trocentas pessoas num espaço onde mal cabem 10 ou 15. E, claro, saudades do uso indiscriminado da palavra saudável. 

Nada será como antes: lavar as mãos por lavar, apenas curtir o frescor frio da água no verão ou sua quentura no inverno. Não se pegar suspirando por uma torneira de álcool gel junto à porta de entrada. Nem ter com as compras um encontro compulsório de gelólatras anônimos. Álcool gel, gênero de primeiríssima necessidade, quem diria. 

Nada será como antes: nunca mais entrar num ônibus com naturalidade, pedir licença pra sentar e puxar conversa ou dar trela. Jamais voltar a se firmar nos corrimões pra se segurar. Nem dar um passinho a mais naquele corredor apinhado de corpos suarentos e deseducados. E exaltar, pro resto das nossas vidas, a plaquinha do fale ao motorista somente o indispensável, e exigir dele a recíproca. 

Nada será como antes: e enaltecer elevadores vazios à sua espera, rezar por salas de espera desabitadas, torcer por bancos de praça sem ninguém, e praças sem nenhuma alma. Vibrar por ter se condicionado faz tempo a atravessar pro outro lado da rua ao se deparar com um desmascarado na sua direção. Idolatrar até o fim dos tempos a expressão distanciamento social. 

Nada será como antes: adeus, escurinho do cinema, telona amada, o lugar costumeiro entre as poltronas, o cinema favorito e a ida até lá. Mal vindos os streaming e seus catálogos limitados e medianos, mal vindas as telas dos televisores e as telinhas dos computadores a reduzir a farelos pixelados o impacto de qualquer filme. Maldito o conformismo da mente a palmos dos astros e desgraçada seja essa acomodação dos quadris no sofazão de casa. 

Nada será como antes. Sofrer por não se arriscar a participar de manifestações públicas a favor da ciência e da paz ou contra a idiotice e a violência. Se atormentar por não se atrever a aderir ou conclamar ida às ruas pra derrubar o deprimente da república. Sentir-se cagão pela impotência maior que a do pau. Amargar a expectativa de que a eternidade é isso que taí. 

Nada será como antes. E acho que nenhuma musa inspiradora vai me trazer algum assunto que não seja pandêmico, vacinântico, bozonamista, miliciânico, negaciômaco ou cpidínico etc. Argh! 

(Do jornal Extra Classe, junho de 2021)

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Algumas Trovas

 (do humorista e compositor Jorge Murad)

O teu modo de viver,

criticá-lo a mim não cabe:

não sei, não quero saber,

tenho raiva de quem sabe...

Você, terceira pessoa?

Parece até brincadeira!

Para mim, ora, essa é boa.

Você, é sempre a primeira. 

Eu, que já fui coroinha,

em alto e bom som proclamo:

não troco qualquer rainha

pela “coroa” que eu amo...

Se o amor é um sacrifício,

não duvides nem um pouco:

iria até para o hospício,

para amar-te como um louco. 

Os teus cílios, tua cor,

tuas unhas, teus feitiços,

e até mesmo o teu amor

são todos eles postiços...

Joias desaparecidas.

Não se encontram nunca mais,

mas as mulheres perdidas

a gente encontra demais... 

Se amor se paga com amor,

como diz ditado antigo,

meu benzinho, por favor,

acerte as contas comigo!

Dançou um baião-de-dois

num forró a Dona Inês,

e nove meses depois

o baião era de três... 

E o alfaiate explicou,

com palavras ressentidas:

Já que o senhor não pagou,

tomarei outras medidas.

Um pau d'água renitente

diz, sobre o álcool: ora essa,

se ele mata lentamente,

não faz mal... Não tenho pressa. 

Que a mulher tem duas caras,

isto não é mais segredo:

a primeira mostra às claras,

e a outra... de manhã cedo.

A piada é uma desgraça,

quando a graça não contém;

a gente até acha graça,

da graça que ela não tem.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Palavras

 

Peguei meu filho no colo (naquele tempo ainda dava), apertei-o com força e disse que só o soltaria se ele dissesse a palavra mágica. 

E ele disse: 

− Mágica. 

Foi solto em seguida. Um adulto teria procurado outra palavra, uma encantação que o libertasse. Ele não teve dúvida. Me entendeu mal, mas acertou. Disse o que eu pedi. 

(...) 

(Luis Fernando Veríssimo)

A origem de algumas palavras

 

Embora quase metade das palavras em inglês tenham origem latina, poucas foram incorporadas durante os quase 400 anos de ocupação romana da Grã Bretanha (anos 43 a 410). A grande maioria das palavras de origem latina foram introduzidas na língua inglesa durante e depois da renascença. 

O oceano Ártico tem esse nome por estar situado sob a constelação Ursa Menor, no Polo Norte. Arctus é urso, em grego. Já o continente Antártico, mais comumente chamado Antártida, em português, é o que está em oposição ao Ártico (portanto, antiártico) no Polo Sul. 

A palavra morfina, que, como vários outros termos médicos, é cognata em diferentes idiomas, obteve seu nome de Morfeu, deus dos sonhos. O nome Morfeu, criado pelo poeta romano Ovídio, vem do grego “morphe”, que quer dizer “forma”. O nome seria, portanto, uma alusão às formas que enxergamos nos sonhos. 

O termo “dengue” é um substantivo masculino no português, portanto “o dengue”. Foi utilizado pela primeira vez no Caribe para designar uma febre extremamente violenta provocada pelo mosquito Aedes aegypti. A palavra originou-se da adaptação espanhola de ki denga pepo, que na língua dos nativos da região significava "cãimbra causada por espíritos maus". O dengue ocorre sob duas formas: a mais branda, cujos sintomas desaparecem em cerca de uma semana, e a hemorrágica, que pode ser fatal. 

Não é só no Brasil que a cultura árabe anda lançando moda. O termo francês echarpe, usado também no português, vem de icharb, o lenço que as mulheres árabes usam para cobrir a cabeça, deixando só o rosto à mostra. 

A palavra “asterisco” vem do grego asteriskós, que é o diminutivo de aster, estrela. Embora seja um termo cognato em várias línguas (asterisk em inglês, astérisque em francês e asteristico em espanhol), a língua alemã partiu para uma tradução literal: sternchen (estrelinha). 

A palavra alfabeto deveria ser, a bem da precisão, “alfabeta”. Afinal, a origem dessa palavra, cognata em muitas línguas, são as primeiras letras do alfabeto grego, alfa e beta. O alfabeto é uma das mais importantes invenções do homem, e a sua origem vem sendo estudada, discutida e polemizada há vários séculos. Tudo leva a crer, porém, que foram os fenícios os seus inventores. 

O símbolo @ já existe desde os tempos do Império Romano, quando representava a palavra latina “ad”, da qual adveio o “at”, em inglês. Graficamente, o @ latino procurava representar, ainda que forma meio tosca, um pequeno “a dentro de um “D”. Já em português, o @ representa a arroba, uma medida de peso equivalente a 15 quilos. A palavra arroba origina-se de um termo árabe que também designa peso, ar-rubá. (Fonte: Odisseia Digital 2) 

A palavra “cookie” em inglês, que já é conhecida e usada internacionalmente com o sentido de “biscoito”, vem do holandês koekje, diminutivo de bolo. Em informática, “cookie” significa ainda um tipo de arquivo que alguns sites “plantam” no computador do usuário para rastrear suas futuras visitas na internet. 

O termo “genocídio”, crime de que está sendo acusado Jair Bolsonaro, é relativamente novo: a palavra foi criada pelo professor Raphael Lemkin da Duke University e usado para se referir aos criminosos nazistas em 1945. A palavra vem do grego “genos” (= raça) e do latim “cadere” (= matar). 

A palavra grega “pathos”, usada em muitas línguas como raiz de palavras relacionadas à medicina (como patologia, por exemplo), tem duplo sentido. Por um lado significa doença; de outro, significa paixão. Uma paixão patológica seria, portanto, uma redundância. 

O “til” (tilde, em inglês) costumava ser a própria letra “N”, indicando que a letra sobre a qual estava escrita deveria ser lida com som nasal. Com o passar do tempo, o “N” foi perdendo os seus ângulos agudos para se tornar a linhazinha curva em formato de onda que conhecemos hoje. 

De acordo com a revista Veja, Antraz não é uma boa tradução para a palavra “Anthrax”. Anthrax é uma palavra que vem do grego e significa “carvão”. A forma cutânea da doença produz manchas escuras na pele, daí a analogia. Já a palavra “antraz” é usada no meio médico para um outro mal, bem menos agressivo: uma furunculosa provocada por estafilococos. 

A Rita e a desilusão amorosa

 

Precisamos falar sobre “a Rita” de Chico Buarque 

Por Michelle Oliveratto 

Uma introdução de samba triste é que antecede os versos que, com uma voz chorosa, Chico Buarque canta sobre o desamor de Rita. 

Ele fala sobre angústia e a dor de ser abandonado. Sobre a rejeição amorosa de uma mulher que, ao partir, levou com ela tudo que possa representar vida. E não é muito difícil se identificar com os sentimentos narrados na canção. Não é preciso viver um “grande” amor, daqueles que acontecem apenas nas canções de Chico Buarque ou nas histórias de Shakespeare. Nas paixões, também, é possível experimentar essas sensações de intensidade, onde o fim se assemelha com a beira do abismo. De modo que redenção para toda dor se encontra no horizonte, inatingível, quanto mais caminha para sua direção, mais distante ela fica. 

Então, essa angústia descrita no samba já foi experimentada pela grande maioria das pessoas, fazendo com que deixemos de ser meros ouvintes da canção para nos tornar solidários à dor do personagem abandonado por Rita. Pois, trata-se de uma dor sentida em nossa pele. Isso nos aproxima da canção, do compositor e, até mesmo, de Rita que, no caso, torna-se mero vocativo para tantas outras personagens da vida real que dilaceram os corações, e transformam a vida de quem as amam em um samba triste. 

Na música, é narrada a frieza com que a amada, além de arrancar do peito quem outrora tanto amou, também leva consigo seu retrato, seu trapo, seu prato, uma imagem de São Francisco e um bom disco de Noel. Afastando qualquer possibilidade de volta. Aparentando até mesmo uma fuga. 

Na segunda estrofe, o sujeito abandonado cogita a possibilidade que a atitude da amada, tenha sido de má fé. Levantando a suspeita que ela tenha matado o amor por vingança. Que embora não tenha levado nada de valor, causou perdas emocionais ditas como irreparáveis. Como a juventude, esperança de futuro e um coração dilacerado. Inspiração já não havia mais. Sem motivo para canção, o violão se calou. 

Chico Buarque retrata o sentimento de luto ocasionado pela morte de um amor, através do ponto de vista de quem foi abandonado. Mas não podemos deixar de olhar por uma outra perspectiva, que vai além de tentar ouvir a versão de Rita da história, mas analisar o contexto político que o Brasil vivia na época que o disco, que leva o nome do artista, foi lançado em 1965. 

Brasil se encontrava em plena ditadura militar, onde os artistas eram perseguidos e censurados. Criticas ao governo era inadmissível. Tudo era controlado. Mas para driblar a censura, compositores, escritores e toda classe intelectual, usava de algumas artimanhas para camuflar e poder expressar todo o descontentamento com o cenário político de uma forma indireta. 

Será que a música “A Rita” não seria um protesto camuflado de desilusão amorosa? 

Quando Chico Buarque com seu canto triste entoa os versos: “A Rita levou meu sorriso, no sorriso dela meu assunto, levou junto com ela o que me é de direito”. 

Ausência do sorriso, passa justamente a ideia de descontentamento de uma sociedade movida pelo medo, de uma classe perseguida e torturada, caso fugisse das regras impostas por militares, que por sua vez, fiscalizava absolutamente tudo, obras literárias, canções e ficavam atentos, inclusive, nas conversas triviais. Como consta no verso que relata que além do sorriso, levará também o “assunto” e “o que me é de direito” transmitindo a ideia da liberdade de expressão que foi negada. 

“Levou seu retrato, seu trapo, seu prato, que papel! Uma imagem de São Francisco e, um bom disco de Noel (...). Não levou um tostão, porque não tinha não, mas causou perdas e danos. Levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos, o meu coração. E além de tudo, Me deixou mudo Um violão”. 

Nesse trecho, é possível notar evidências da postura militar que, ao encontrar indícios de algo que considerava uma ameaça, ou que iria contra as regras impostas, era confiscado e apreendido. Gerando perdas imensuráveis, como uma sociedade coagida, torturada, exilada, reprimida. O maior reflexo de uma sociedade é a arte que ela produz, e a mesma não tinha liberdade para ser criada. Jovens que lutavam por direitos, pagaram com a própria vida, teve o silêncio forçado, assim como os violões dos artistas que eram impedidos de cantar os lamentos causados por essa crueldade. 

O título da canção “A Rita” caracterizada por uma figura feminina, fria, calculista, impetuosa e egoísta. Pode ser também associada, por outra figura feminina cujas características são as mesmas e, que se intitula “A ditadura”. 

Tudo depende da forma que olhamos. As palavras têm o poder de arquitetar labirintos imensuráveis. Atrás do silêncio, pode se esconder um discurso de salvação. Um samba triste pode ser um pedido de socorro. A história de amor, cujo homem é abandonado, pode dizer muito mais do que uma desilusão amorosa, pode ser um grito no escuro de uma sociedade amordaçada pela tirania militar. 

(Do blog Obvious) 

A Rita levou meu sorriso,

No sorriso dela,

Meu assunto.

Levou junto com ela

O que me é de direito

E arrancou-me do peito

E tem mais...

Levou seu retrato, seu trapo, seu prato,

Que papel!

Uma imagem de São Francisco

E um bom disco de Noel. 

A Rita matou nosso amor de vingança,

Nem herança deixou.

Não levou um tostão,

Porque não tinha não,

Mas causou perdas e danos. 

Levou os meus planos,

Meus pobres enganos,

Os meus vinte anos,

O meu coração.

E além de tudo

Me deixou mudo

Um violão.