Texto de Ary Toledo
(Garçom chega a um
freguês sentado à mesa.)
Garçom: − Que prazer ter o senhor de volta ao nosso
restaurante!
Freguês: − Fala, figura fina!
G: − Não está me reconhecendo?
F: − Fisionomia... familiar...
G: − Eu sou o garçom Fernando,
atendi o senhor há uns tempos aqui, é que agora engordei, me chamam de
Fernandão, o cabelo também caiu...
F: − Foi fato. Ficou forte,
fofão... floresta foi, ficaram fiozinhos fininhos e fracos fazendo figuração no
forro.
G: − E o senhor, como está?
F: − Forte, firme, feliz e faminto!
G: − Há uma mesa vazia lá fora...
F: − Fora é frio, ficam os fumantes
fazendo fumaceira forte, fico na frente, é fresquinho, faz favor...
G: − Seu nome é?
F: − Francisco Freire Fernão
Fernaz Fernandes Figueira Furtado Franco Ferreira de Figueiredo Falcão, facinho
de falar e fácil de fixar.
G: − Já escolheu o que vai comer?
F: − Favorito!
G: − Qual é o favorito?
F: − Filé de frango à francesa
com fricassé de fubá, farofa, fritas, feijão, fatiazinha de fígado, frito com
farinha fina na frigideira, fica finíssimo, falou, filhão!
G: − E pra beber?...
F: − Fisga no fundo do freezer uma fermentada fresquinha
fazendo fumaça!
(Após trazer a
cerveja, diz:)
G: − De férias aqui em Frutal, seu Francisco?
F: − Faturando o feijão dos filhos...
G: − E de braço engessado! O que foi? Acidente de carro?
F: − Foi.
G: − Onde?
F: − Friburgo.
G: − Como foi?
F: − Fresco num FIAT fedorento,
fuleiro, feio, ferrugento, fazendo frescura frente ao footing, falhou o freio,
findou de frente na fronte de um fusca, o fusca me fechando, fiquei fora da
faixa, furei o farol fechado, fui de frente a um furgão.
G: − Porrada violenta!
F: − Felizmente foi fraco. O furgão
ficou fixo e fervendo à fricção, fui freando. Fiz uns ferimentozinhos, feri a fronte,
a face e fraturei a falange.
G: −Tá cheio de assinatura aí no gesso, de quem é?
F: − Filhos!
G: − (Espertamente) Quantos filhos o senhor têm?
F: − (Pensativo) Five! Fabinho, Flávio, Fernando, Fátima e
Fabiana!
G: − A Fabiana! Sua filha mais velha estava estudando, já se
formou?
F: − Formou! Fez faculdade em
Friburgo, formou-se em
Filosofia. Fiz festa de formatura fantástica! Fabiana ficou
feliz.
G: − Ela até ajudava o senhor na sua indústria aqui não é? O
senhor não tem uma indústria?
F: − Fabriquinha...
G: − De que era mesmo?
F: − Fundição. Fazia forno de flandres,
ferrete, ferradura, ferrolho, fechadura, faca, foice, facão, fivela, funil,
formão, fieira, fio farpado, fabricava ferramentas fundidas em ferro forjado.
G: − Ainda tem a fábrica?
F: − Fechei...
G: − Por quê?
F: − Faliu... faltou
financiamento... fator financeiro foi fundamental. Fora fiscais federais
fazendo fiscalização feroz... Fornecedores falhando, funcionários ficando em
férias forçadas, faturamento fraquíssimo... o ferro ficou faltando. Fui à
falência! Foi feio o fracasso e fui forçado a fechar a firma...
G: − E agora o senhor trabalha em quê?
F: − Faço feiras e festas!
Feriadão de finados fui a Fortaleza, fiz a festa das felinas, foi formidável.
Fui a Florianópolis, fiz o Festival do Figo em Floripa. Fui a Franca
fazer a famosa feira Francal. Finalmente, fui fiscal nas firmas franqueadas da
feira filantrópica de fomento à fundição de Frutal.
G: − O senhor está morando aqui em Frutal?
F: − A fim de facilitar Fabiana, fixei-me em Friburgo.
G: − Facilitar o quê?
F: − Fica focado, Fernando!
Fósforo, fosfato fixa, filho. Eu falei! Faculdade Filosofia Fabiana fazia,
Friburgo fiquei.
G: − Onde tem aquele time fazendo sucesso no Carioca?
F: − Friburguense!
G: − Torce pra ele?
F: − Falhou Feio! Futebol, Flamengo, fiquei fã fanático e
fervoroso!
G: − Tá mal o time, né?
F: − Fase! Flamengão na final não
falha! Na finalíssima é fogo. Fica feito furacão, faz a felicidade da família
flamenguista fazendo fla-flu final. Faz a faixa fácil! Fluminense é freguês.
Fazendo futebol fajuto, feio, fraquinho, fica fora facilmente fazendo figuração.
Flamengão flamejante faz a festa final!
G: − Por falar em festa, teve festa aqui semana passada... O
senhor foi?
F: − Fui. Festa à fantasia, fiquei fascinado! Fêmeas fantásticas,
Fernandão, fiquei flertando...
G: − Mas o senhor não é casado?
F: − Fui!
G: − E a esposa, dona...
F: − Filomena. Faleceu. Fevereiro
G: − De quê?
F: − Fumo.
G: − Pulmão?
F: − Faringe.
G: − Enfisema?
F: − Fibrose.
G: − Fumava muito?
F: − Famigeradamente!
G: − Por que não falava para ela parar?
F: − Falava frequentemente.
Fumante é fogo! Falar que fumo é fatal fica uma fera. Falava: Filó, fumo
fissura a faringe, forma fibrose. Filó não fazia fé no que eu falava, fumava
feito fornalha, Fernando. Foi um flagelo! Foi ficando fina, fragilizada,
fininha, frequentemente febril, foi ficando em frangalhos, foi fatal, faleceu.
Fiz um funeral à falecida, familiar fechado, foi uma fatalidade, fico falando
de Filozinha, fico na fossa, Fernando!
G: − O senhor perdeu uma grande esposa, é natural...
F: − Foi. Filó foi figura
fantástica, forte, firme, fiel, fissurada nos filhos, fêmea de fibra. Fernando,
faz falta a falecida...
G: − Vamos mudar de assunto... agora que já almoçou... a
sobremesa?
F: − Frutas frescas: Figo, framboesa flambada... fica
finíssimo.
G: − Perfeitamente... depois, vou trazer um cafezinho da
hora.
F: − Falou, Fernandão.
(Após o café:)
G: − Que tal?
F: − Formidável! Fresquinho, forte
e fervendo. Não ficou o famoso fraco fedido e fino, feio e fedorento, feito em
filtro furado, no fundo formiga fazendo festa fazendo freguês ficar furioso.
G: − Seu Francisco, para encerrar, o senhor fala tudo com efe,
é impressionante sua facilidade!
F: − Fato a facilidade, falar em
fé fichinha, falo fluentemente sem fazer força, forma de falar, frases fluem
facilmente, fico falando de farra.
G: − Então, eu proponho um
desafio: se o senhor falar quinze palavras com f sobre o almoço, não precisa
pagar a conta.
F: − Feito: Filé de frango à
francesa fatiado em fatias finas, fritando na frigideira, ficando fiado, fico
feliz, freguês é fiel...
G: − Se ferrou! Eu contei, só deu 14!
F: − Foda-se!
(E se foi.)