terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O Sombra



“Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?
O Sombra sabe! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!”

→ Esse personagem tão temido, entretanto, é um homem de carne e osso como todos nós, mas como nenhum de nós possui um poder sobrenatural: há muitos anos na Índia, ele conquistou, através do ocultismo, a invejável faculdade de se tornar invisível – prendendo os inimigos no mais flagrante delito, não raro empenhando-se em brigas perigosíssimas para si e para quem conhece sua noiva, a linda Margot Lane, a única aliás que conhece o segredo de o Sombra. Esse homem de carne e osso não é outro senão Lamont Craston, jovem rico e elegante, possuidor de excelente ilustração e praticante de esportes como todo bom americano.

Fonte: Acervo particular de Frederico Jorge Barwinkel.

E quem interpretou O Sobra no Brasil foi:

→ Saint-Clair Lopes* foi locutor, ator, apresentador, noticiarista, produtor de programas, animador e uma referência jurídica na área de radiodifusão. Seu maior sucesso foi o seriado 'O Sombra', na Rádio Nacional, atual Nacional do Rio. 

→ O personagem Sombra**, interpretado por Saint-Clair, era muito popular nos anos 1940, numa versão brasileira do seriado americano que veio no pacote da chamada 'Política da Boa Vizinhança' entre os Estados Unidos e os países sul-americanos. O programa já fazia sucesso, nos anos 1930, na América do Norte na voz de Orson Welles.

→ Algumas frases do seriado ficaram na memória dos ouvintes por muito tempo. As principais: sempre que o Sombra perguntava: “Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?”, vinha a resposta: “O Sombra sabe!”, e vinha uma gargalhada sinistra: “Ah! Ah! Ah! Ah!”.***

→ No quadro 'O rádio faz história' do programa Todas as Vozes, a jornalista e professora da faculdade de comunicação da PUC-RJ, Rose Esquenazi, conta como a atração repercutia nas famílias brasileiras a mostra as vozes de Saint-Clair Lopes e Orson Welles na interpretação do personagem O Sombra.

→ O programa Todas as Vozes vai ao ar de segunda a sexta, das 7h05min às 10h na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, com apresentação do jornalista, radialista e professor Marco Aurélio Carvalho.


*Saint-Clair Lopes nasceu no Rio de Janeiro, em 1906. Ao contrário de muitos radioatores que se acomodaram, ele decidiu estudar Direito e Jornalismo. Por essa razão, era sempre chamado para criar leis e defender os interesses da radiodifusão que estava crescendo no país. Foi professor de radiojornalismo na Faculdade de Filosofia da UFRJ e na PUC. Foi comentarista de assembleias da ONU, em 1947, sendo a sua palavra ouvida através da Rádio Nacional. Exerceu também a consultoria jurídica da ABERT, dos empresários do rádio. Escreveu livros sobre a história do rádio, como Radiodifusão, hoje e divulgou a jurisprudência da radiodifusão.

→ Antes da Rádio Nacional, ele passou por várias estações. A primeira foi na Rádio Philips, onde fez um teste para o programa Hora do Outro Mundo, de Renato Murce. Era uma atração criativa, já que, supostamente, era irradiada de Marte para a Terra. Depois, trabalhou na Rádio Educadora do Brasil, Transmissora e, finalmente, na Rádio Nacional, onde ficou 33 anos. Foi ali que Saint-Clair Lopes mostrou todo seu talento. Com aquela voz tão poderosa chegou a apaixonar uma fã que, ao morrer, deixou toda a fortuna para ele. A mulher de Saint-Clair não gostou nada daquilo.

→ Para o livro do amigo Renato Murce, Bastidores do Rádio (Ed. Imago, 1976), seu padrinho no rádio, Saint-Clair fez uma pequena biografia que terminou assim: “Entrei pobre para o rádio e saí dele pouco menos pobre, mas rico, muito rico de realizações que confortam e com a consciência tranquila do dever cumprido”.

*     Saint-Clair Lopes morreu em 6/3/1980, aos 73 anos.

**   O Sombra ficou no ar por seis anos na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

*** A gravação da vinheta que apresentava o programa, está disponível na Internet.



3 comentários:

  1. É realmente uma pena que não se ache mais esse programa pra poder escutar. Eu sou um que adoraria escutar todos os episódios.

    ResponderExcluir
  2. Concordo, esse programa prendia a atenção dos ouvintes de todo o Brasil numa época pré-televisão. Quem conseguia, de alguma parte do Brasil, sintonizar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ouvia pérolas com as aventuras do d´O Sombra.

    ResponderExcluir
  3. Não sou da época, mas meu pai, que era de 1931 me contava sobre o programa de rádio.

    ResponderExcluir