sábado, 30 de setembro de 2023

A faca

 Paulo Roza

Imagem da internet 

Este lendário instrumento, entricheirado nas guaiacas, participa do cotidiano do homem do campo como se fosse um parceiro em suas jornadas. Foram tantas, que ficaram perpetuadas na história. São causos, contos e fatos, que relatados na penumbra dos candeeiros, provocam misturas de gargalhadas com lágrimas saudosas de um tempo já bem distante. 

Conténs uma simbologia única e distinta, tendo como pais os cuteleiros que te pariram a ferro e fogo, dando-te um caráter de bravura já em teu nascimento. Tendo a têmpera como perfil e sobre o abrasivo da pedra e da marreta, até que estejas devidamente desbastada e polida para poder cumprir as tarefas que te são impostas. Assim também é o homem, desbastado e polido ao longo da vida, até que seja distinguido para enfrentar os desafios da jornada. 

Dando-te um caráter de beleza, tens no punho a identidade, tantas vezes osso como símbolo da eternidade, outras tantas a madeira como representante da natureza e por vezes osso e madeira entremeados com anel, símbolo desta aliança. 

Na lida, és combatente na defesa de teu dono; nos tribunais és a materialidade, sendo a arma do crime; nos campos limpas a ramilha (parte do casco) do nobre amigo quando disponibilizamos teu dorso; nas areias das praias escreves poemas, indicas direções e caminhos. Sem perderes o rumo, vais esculpindo madeiras dando-lhes contorno e formas, pronta a adornares recantos. Longe da exaustão serves como bisturi rural, castras, cortas e aparas, e ainda impões o derradeiro destino ao animal que,  abatido e retalhado, vai dar sustento ao homem, fazendo cm que cada naco de carne possa ser repartido, tornando-se protagonista e símbolo plural das tarefas galponeiras. 

Na infância, limpamos bambus, fazemos caniços e alçamos pandorgas e pipas. 

Desafiando perigos, salvaste vidas, outras se perderam desafiando teu fio. 

Tornas-te símbolo de liberdade quando cortas amarras; marcas território quando cravada nos troncos; presa entre os dentes és um desafio ao oponente, mostrando singular coragem. 

Por onde andas, és apreciada e cortejada, pois és linda como adorno e, mesmo assim, sem perder a ternura, tens o lombo duro e a língua afiada. 

Mesmo adormecida na bainha, eu desejo que tu sejas, como sempre, nosso símbolo de coragem e de lutas, perpetuando pelas gerações futuras onde cada um possa escrever orgulhosamente a sua parte. 

Hoje és um mimo nas mãos do meu amigo, segues lonqueando os tentos de amizade, trançando laços fraternos, entre os homens de tua querência. 

********** 

Parte do texto publicado no Almanaque Gaúcho, do jornal Zero Hora, setembro de 2023. 

Glossário: 

Guaiaca: cinto largo de couro ou de camurça, provido de bolsinho usado para se guardar dinheiro e objetos miúdos, e também para o porte de armas, como na foto acima, na frente da faca. 

Galponeiras: trabalho relativo a galpão. 

Pandorga: é como chamam no Sul a pipa, brinquedo aéreo das crianças. 

Lonqueando: preparando o couro, raspando todo o pelo que ele contém, a fim de o cortar, depois em tiras finas, para trabalhos de trança, como, por exemplo, laços, sogas, rebenques, etc. 

Querência: lugar de nascimento ou residência de uma pessoa. O mesmo que pago.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Cadeira vazia

 A música de Lupicínio Rodrigues 

Por: Urariano Mota

“Entra, meu amor, fica à vontade,
E diz com sinceridade
O que desejas de mim...”
 

As composições de Lupicínio Rodrigues representam uma das coisas mais ternas e violentas da música popular brasileira. Como ele consegue ser terno e violento ao mesmo tempo? Não é simples. Sobre um terreno de relações desiguais, do homem imperando sobre a mulher, de relações, portanto, violentas, Lupicínio constrói um mundo cheio de terna compreensão para o homem que ama. E que sofre, quando rejeitado, sem abdicar jamais de uma posição que se deseja altiva. 

“...Entra, pode entrar, a casa é tua,
Já te cansaste de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim.

Eu sofri demais, quando partiste,
Passei tantas horas triste,
Nem quero lembrar esse dia,

Mas de uma coisa podes ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia...”
 

Observe-se, nesta música, que o amante jogado a um canto por outros, é afinal procurado pela mulher que o abandonou. Ela parece chegar de mansinho, meio envergonhada, sem ousar cruzar a porta da casa que não mais é sua. Para entrar, ela espera e precisa do convite do soberano, do soberano que, durante o tempo de abandono que tomou, assistiu de camarote às lições que a ingrata levou. Até não parece o recebimento de uma amorável cadela fugida? Coisa muito terna, mas desigual, em planos diferentes, pois a casa é dele, e ela é quem o procura. 

Então ele se faz paternal, concede, diz-lhe que entre, que a casa é sua, suaviza com um “meu amor”, para lhe mostrar que não é uma estranha. Poderia ainda dizer-lhe: “sei que erraste, mas como sou um bom pai, não insistirei nos teus erros”. 

“...Tu és a filha pródiga que volta
Procurando em minha porta
O que o mundo não te deu.

E faz de conta que sou teu paizinho,
Que tanto tempo aqui ficou sozinho,
A esperar por um carinho teu.

Voltaste, estás bem, estou contente,
Só me encontraste muito diferente,
Vou te falar de todo o coração:

Não te darei carinho nem afeto,
Mas pra te abrigar, podes ocupar meu teto,
Pra te alimentar, podes comer meu pão.”
 

À primeira vista há o prazer da vitória sobre quem o magoou, quase uma vingança. Por trás, no entanto, há um queixume de quem se acha ter amargado uma injusta solidão. Como é homem, não chora, nem se deixa abrir numa queixa: recebe-a de volta, soberanamente. Recebe-a como quem retoma um bem roubado, é coisa sua mesmo. 

O detalhe que surge e toma corpo neste discurso de senhor e escravo é a cadeira vazia. Ninguém a havia ocupado. Durante toda sua ausência ela se fez presente naquela cadeira. Este detalhe trai. E sentindo-se descoberto por esta fraqueza, eis que volta o Senhor com um novo embuste: proclama, altaneiro, que não lhe dará carinho nem afeto. Chega a ser cômico. Há ternura demais nessa vingança de cadeira vazia e jejum de afeto. 

Abandonada

 Numa caixinha de sapatos 

Carpinejar

Eu não tenho como saber o que virá das perguntas do público em minhas palestras. Devo estar preparado para enfrentar as mais profundas questões existenciais. 

Vejo que não condiz com a realidade a crença de que as pessoas temem abrir os seus tormentos pessoais em público. 

Recentemente, em palestra no interior de Minas Gerais a respeito do meu novo livro Manual do Luto, que aborda a despedida e a saudade, uma senhora de cerca de 60 anos pediu a palavra. 

Ela enfrentava dificuldades para terminar o raciocínio, entrecortado por soluços de um verdadeiro desabafo. Havia uma sinceridade represada que transpunha os diques de proteção e assumia a força inabalável de uma explosão das águas do choro. 

− Eu vivo uma rejeição profunda. Ao nascer, fui abandonada pelos pais numa caixinha de sapatos. Envolvida numa manta, como se fosse um cachorrinho. Eles me largaram de volta no hospital em que eu nasci. Nunca me recuperei de ter sido negada, posta de lado, à sombra, por quem me deu à luz. 

Talvez esperasse de mim uma reação de desamparo, de concordância espantada, de comiseração. Mas eu não senti pena, emergiu uma clareza determinada da minha intuição. 

Aproximei-me dela no meio da plateia e falei, com as minhas mãos encostadas em seus ombros: 

− Está enganada. Você foi salva da rejeição em vida, que é muito pior do que a rejeição do nascimento. Seus pais a amaram o suficiente para que não quisessem que você fosse infeliz com eles e como eles. Tanto que tiveram o cuidado de deixá-la no hospital, onde poderia ser cuidada. Careciam de recursos emocionais mais do que recursos financeiros para sustentá-la. Desfrutavam da difícil e rara consciência de que não serviam para você, de que merecia uma chance melhor. Não havia amor e acolhimento naquele lar, nada que pudesse suprir o que você buscava. Escapou de um ambiente tóxico e opressivo, de ouvir brigas e discussões a todo instante, de ser recriminada e censurada, de perder qualquer liberdade sobre seu futuro. Não se veria indesejada uma vez, mas se veria indesejada diariamente. 

Ela suspendeu as suas lágrimas. Entendeu que não precisava de outra vida − escoltada no momento pela ternura cúmplice do marido, dos filhos e da sua família adotiva −, que apenas devia mudar o seu ponto de vista. 

Assim, o seu sofrimento acenou para nós e virou as costas. Ocupando o seu lugar, surgiu um sorriso lindo, que se esboçou primeiramente no brilho dos olhos, para depois se espalhar pela boca. 

Ela me abraçou e sussurrou: 

− Eu nasci de novo hoje. 

Eu também ri, e concordei: 

− Agora você vai nascer sempre, já que você se escolheu para sempre. 

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(Do jornal Zero Hora, setembro de 2023)

Golpes envolvendo o Pix

 Saiba como se proteger de golpes envolvendo o Pix

Fernando Soares 

Novo sistema de pagamentos criado pelo Banco Central, o Pix começou a operar em fase restrita a partir de 3.10.2020 para um grupo limitado de clientes. A ferramenta, que promete revolucionar a maneira como os brasileiros lidam com o dinheiro, entrou em operação para todos os clientes no dia 16 de novembro de 2020. 

A novidade permitirá a transferência de valores em qualquer horário, sem restrição de dia da semana e sem custo na maior parte das operações, mas também tende a ser explorada por criminosos que buscam se aproveitar dos descuidos dos usuários. 

Especialistas em cibersegurança reforçam que é necessário redobrar os cuidados com dispositivos pessoais e desconfiar de mensagens com supostos links para cadastramento das chaves. 

Confira as dicas do coordenador da graduação em Segurança da Informação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Luciano Ignaczak, e do diretor de tecnologia da Claranet CorpFlex, Diogo Santos, para usar a novidade em segurança. 

● O Pix exige os cuidados já habituais em relação a usuários acostumados a utilizar serviços financeiros pela internet. Ou seja, a recomendação é que a pessoa tenha um antivírus no celular e no computador, mantendo-o sempre atualizado. 

● Além disso, não clique em mensagens de SMS ou WhatApp e e-mails pedindo para o usuário acessar determinada página para se habitar a usar o sistema. 

● A dica é ser proativo. Se você quer se cadastrar no Pix, entre no aplicativo ou site do seu banco, sem usar links. Dessa maneira, a chance de ser vítima de um malware (software malicioso) é pequena. 

● Tenha certeza de que está fazendo o cadastramento no canal oficial do seu banco, evitando cair em golpes. 

● Os bancos já disponibilizam em seus aplicativos oficiais um campo para cadastramento da chave do Pix. Assim, não é necessário baixar nenhum outro programa, seja do banco ou de terceiros, para se habilitar. 

● No caso de dúvida sobre como proceder para cadastrar chaves, o ideal é procurar o gerente da conta ou algum funcionário do banco. 

● Quando a plataforma estiver ativa, é necessário tomar cuidado com golpes já tradicionais, como o do telefonema informando o sequestro dos filhos ou de supostos amigos pedindo dinheiro por estarem passando necessidade. Nunca faça transferências antes de entrar em contato com as pessoas.

● O Pix entrou em operação em 16 de novembro de 2020. Instrução normativa do Banco Central estabelece que os bancos participantes poderão estabelecer limites máximos para transferências via Pix por usuário. O piso será o mesmo das transações de débito 

(De GZH Economia)

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Bailei na Curva

 Composta para peça, canção “Horizontes”

Virou hino afetivo de Porto Alegre

 Marcelo Perrone

Elenco original de “Bailei na Curva”: Hermes Mancilha, Claudia Accurso, Cláudio Cruz, Márcia do Canto, Júlio Conte, Regina Goulart, Flávio Bicca Rocha e Lúcia Serpa. 

Horizontes entra na última cena de Bailei na Curva, cantada pelo elenco, e a melodia segue nas vozes e assobios do público entre os aplausos ao fim do espetáculo. Tem sido assim desde 1983 com a canção composta por Flávio Bicca Rocha para a peça, como síntese existencial da geração que cresceu à sombra da ditadura militar, mas que ganhou vida própria como um hino afetivo de Porto Alegre. 

− Escrevi Horizontes durante os ensaios da peça − diz Bicca. − Em setembro de 1983, um mês antes da estreia, apresentei ela no festival de música da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, evento que era muito importante e contava com participantes de todo o Brasil. Horizontes ganhou o prêmio do júri popular e ficou em terceiro na votação do júri oficial. Quando a peça estreou, a música já era conhecida. 

Em 1984, Horizontes ganhou na voz de Elaine Geissler a versão que se tornou um grande hit local. 

− Ela gravou num disco do projeto Unimúsica, e aí começou a tocar muito nas rádios − lembra Bicca. 

Desde então, Horizontes já teve diferentes versões, sendo que uma outra que ficou conhecida tem as vozes de Victor Hugo e Ângela Jobim, dos anos 1990. Bicca diz que, apesar do sucesso, a canção que segue presente no repertório de grupos vocais, músicos da noite, festivais e campanhas publicitárias pouco lhe rende em direitos autorais: 

− Caetano e Chico Buarque têm 80, cem músicas de sucesso cada um, e eu tenho essa. Não é sempre que se acerta, mas uma eu acertei − brinca Bicca. 

Nestes 30 anos em que sua música segue viva, Bicca diz ter ficado com uma mágoa:

− Nunca me convidaram para fazer a trilha sonora de peça alguma. Nas que fiz, também estava envolvido na produção, com meus amigos Rogério Beretta, em Adão e Eu, e Márcia do Canto, em Comédia dos Amantes.

Horizontes

Flávio Bicca Rocha

Há muito tempo que ando
Nas ruas de um porto não muito alegre

E que, no entanto, me traz encantos
E um pôr de sol me traduz em versos.
 

De seguir livre, muitos caminhos,
Arando terras, provando vinhos.
De ter ideias de liberdade,
De ver amor em todas idades.
 

Nasci chorando, Moinhos de Vento,
Subir no bonde, descer correndo,
A boa funda de goiabeira,
Jogar bolita, pular fogueira.
 

Sessenta e quatro, sessenta e seis,
Sessenta e oito, um mau tempo talvez.
Anos setenta, não deu pra ti,
E, nos oitenta,

Eu não vou me perder por aí. 

(De GZH)

De 1983 a 2023 se passaram 40 anos. Mas a magia de Bailei na Curva continua intacta. Aqui duas fotos da cena do cinema. Na primeira, foto abaixo: Cláudio Cruz, Márcia Do Canto, Flávio Bicca Rocha, Regina Goulart, Claudia Accurso e Hermes Mancilha, elenco original da montagem.

Na segunda, foto abaixo: Leonardo Barison, Catharina Conte, Saulo Aquino, Laura Leão, Manoela Wunderlich e Guilherme Barcelos, elenco atual do espetáculo.


Mosaico literário

 As 50 frases mais bonitas da literatura Brasileira

01. “Acreditar em nossa própria mentira é o primeiro passo para o estabelecimento de uma nova verdade.” – Carlos Drummond de Andrade 

02. “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar” – Machado de Assis 

03. “A única pessoa livre é aquela que não tem medo do ridículo.” – Luiz Fernando Veríssimo 

04. “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.” – João Guimarães Rosa 

05. “A mulher não é inferior nem superior ao homem, é diferente. No dia em que compreendemos isso a fundo, muitos mal-entendidos desaparecerão da face da terra.” – Monteiro Lobato 

07. A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda. – Mario Quintana 

08. “Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre.” – Paulo Coelho 

09. “Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria… Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos… Essa… a alegria que ele quer” – Guimarães Rosa 

10. “O amor eterno não existe. Mesmo a mais forte paixão tem o seu tempo de vida. Chega seu dia, se acaba, nasce outro amor. Por isso mesmo o amor é eterno. Porque se renova. Terminam as paixões, o amor permanece.” – Jorge Amado 

11. “Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano”. – Graciliano Ramos 

12. “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.” – José de Alencar 

13. “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” – Cecília Meireles 

14. “O sucesso sempre incomoda os medíocres ambiciosos, os sonhadores incapazes, os fracassados em geral.” – Rubem Fonseca 

15. “Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.” – Vinicius de Moraes 

16. “Defendo o que eu gosto e quem eu gosto até o fim, mesmo que para isso eu fique em pedaços. A vida pode te deixar em pedaços, mas o amor te deixará inteiro.” – Lima Barreto 

17. “A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos.” – Érico Veríssimo 

18. “Maravilhas nunca faltaram ao mundo; o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las.” – Mario Quintana 

19. “Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer.” – João Ubaldo Ribeiro 

20. “Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.” – Ariano Suassuna 

21. “A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado.” – Rachel de Queiroz 

22. “Deixa-te disso, criança, deixa de orgulho, sossegas, não vês que a vida é um oceano por onde o acaso navega.” – Gonçalves Dias 

23. “Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos.” – Milton Hatoum 

24. “A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza.” – Lygia Fagundes Telles 

25. “Pensar é um dos atos mais eróticos na vida de uma pessoa.” – Nélida Piñon 

26. “Se chove, tenho saudades do sol, se faz calor, tenho saudades da chuva.” – José Lins do Rego 

27. “Claro que há uma química da paixão, representada pelos hormônios. Mas a verdade é que o amor continua sendo um mistério não decifrado pela medicina. E é bom que seja assim. Sem o mistério do amor, a vida não teria graça.” – Moacyr Scliar 

28. “O professor sempre se impacienta, quando tem de explicar qualquer coisa mais de uma vez; o livro não, o livro exige apenas a boa vontade de quem estuda. – Aluísio Azevedo 

29. “Hoje em dia a tendência é banda cover de música ruim. Barrigudinhos de 30 anos que não viveram adolescência, tentam recuperar tempo perdido. Adolescente difusos pegam nostalgia emprestada – zumbis de olhar ermo, mendigando sentido.” – João Paulo Cuenca 

30. “Quereis que nos liguemos estreitamente a uma pessoa? Fazei-nos sofrer por ela.” – Manoel Antônio de Almeida 

31. “A arte existe porque a vida não basta.” – Ferreira Gullar 

32. “A velhice tem gemidos,
– A dor das visões passadas
– A mocidade – queixumes,
Só a infância tem risadas!

– Casimiro de Abreu 

33. “No meio de tudo isto (Revolta da Armada) eu tive felizmente bastante lucidez para descobrir a estrada do dever, e nela estou e nela prosseguirei.” [Carta a Reinaldo Porchat, 22 nov. 1893] − Euclides da Cunha 

34. “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.” – Fernando Sabino 

35. “Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização.” – Lya Luft 

36. “Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais.” – Hilda Hilst 

37. Os meus braços estão presos,
A ninguém posso abraçar,
Nem meus lábios, nem meus olhos
Não podem de amor falar;
Deu-me Deus um coração
Somente para penar.

– Bernardo Guimarães 

38. “O mal-humorado é alguém sem imaginação” – Ruy Castro 

39. “O Amor é uma árvore ampla e rica, de frutos de ouro, e de embriaguez; infelizmente frutifica apenas uma vez.” – Olavo Bilac 

40. “Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão.” – Rubem Braga 

41. “Não faço nada pelo bem de ninguém e, decerto, faço mal a algumas pessoas.” – Paulo Mendes Campos 

42. “A vida humana deixou de ser um preparativo para uma vida eterna “post morten”, tornando-se algo válido por si mesmo. Que destino pode ter o homem contemporâneo a partir da morte de Deus?” – Hélio Jaguaribe 

43. Não mude por ninguém, mude por você mesmo. Essa é a essência da mudança. Mudar porque queremos progredir e não porque queremos impressionar. – Sergio Santana 

44. “Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar” – Rubem Alves 

45. “Quem critica os meus defeitos é porque inveja as minhas virtudes”. – Márcio Souza 

46. “Não podemos negar-lhes o direito de serem jovens… E tolos.” – Carlos Heitor Cony 

47. “Ideias todo mundo tem. Como é que entram na cabeça da gente? Entram porque a gente lê, observa, conversa, vê espetáculos.” – Ruth Rocha

48. “Reduzimos a vida a esta insignificância… Construímos ao lado outra vida falsa, que acabou por nos dominar. Toda a gente fala do céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu na sua profunda, temerosa realidade? O nome basta-nos para lidar com ele...” – Raul Brandão 

49. “Veja tudo, de vários ângulos e sinta, não sossegue nunca o olho, siga o exemplo do rio que está sempre indo, mesmo parado vai mudando” – Autran Dourado 

50. “Tenha até pesadelos, se necessário for. Mas sonhe.” – Patrícia Galvão 

(Do blog Mundo Interpessoal)

terça-feira, 26 de setembro de 2023

O jogo da sapata

 (Do livro “Nos Meus Tempos de Piá”, de Pércio de Moraes Branco)

Uma das brincadeiras preferidas na minha infância era a sapata. Não sei de onde vem esse nome, mas pelo que se vê no Google ele é usado, talvez, só no Rio Grande do Sul. Em outros Estados, ela tem o nome de avião, macaco ou macaca, canção, maré, academia ou cademia, boneca, amarelinha e macacão. Destes, o mais comum deve ser amarelinha, nome que eu via já nas histórias em quadrinhos da minha meninice, que encontrei em várias cidades, inclusive gaúchas, e que meus netos aprenderam a usar. Ele não tem nada a ver com a cor amarela; vem do francês jeu de marelle (jogo de marelle, em tradução livre), pois na França “marelle” é o nome da pedrinha que cada jogador usa. 

(...) Na amarelinha tradicional, são nove quadrados e um semicírculo (o céu), mas pode haver pequenas variações. 

Nas cidades em que vivi, no RS e em outros dois Estados, parece que só existe a amarelinha, com este ou outro nome. Nas histórias em quadrinhos, também só se vê amarelinha. Meus netos (nenhum gaúcho) só conhecem a amarelinha. 

A sapata não tem céu, não tem semicírculos nem quadrados enfileirados. E nela se joga apoiando os dois pés no chão, não apenas um como na amarelinha. 

Na sapata lagoense, cada jogador usa uma pedrinha ou pedaço de tijolo, madeira, metal, enfim qualquer peça achatada para que não role ao ser jogada no chão. 

O primeiro jogador pega sua pedrinha e a coloca na casa número um. A seguir percorre toda a sapata pisando uma vez em cada casa até a casa oito. Retorna do mesmo modo, pega sua pedra e sai da sapata.

A seguir faz a mesma coisa colocando sua pedra na casa dois, e assim sucessivamente, enquanto não errar. Caso erre, outro jogador passa a jogar. 

Quando um jogador faz a casa oito (na sapata é oito e nove na amarelinha), completa a primeira fase no jogo, que é a mais fácil.

Antes de descrever a fase seguinte, porém, vejamos algumas regras: 

− O jogador jamais pode queimar (pisar em qualquer um dos riscos do desenho). 

− Ele não pode também sair da sapata antes de recolher a pedra. 

− Se errar o arremesso da pedra e ela cair na casa errada, para de jogar e passa a vez ao jogador seguinte. 

− Não se pode pisar com os dois pés numa mesma casa. 

Nenhum desses erros elimina o jogador do jogo, mas o obriga a parar na etapa a que chegou e ceder a vez a outro competidor. 

A segunda fase do jogo tem etapas fáceis, algumas um tanto difíceis e uma superdifícil. 

A primeira etapa chama-se “mãozinha’. O jogador deve percorrer toda a sapata como antebraço na horizontal e voltado para frente, pondo a pedra sobre a mão fechada, sem deixá-la cair. Na etapa seguinte, o “pezinho”, a pedra é colocada sobre um dos pés. A seguir, no “ombrinho”, ela é colocada sobre um dos ombros e, depois, sobre a cabeça, “cabecinha”. 

Depois disso, vem o “manquinho”. Nesta, sem usar a pedra, o jogador deve percorrer toda a sapata pulando sobre um pé apenas. Depois, vem a parte mais difícil, o “queimei?”. Nessa fase, o jogador olha bem a sapata para memorizar seu desenho no chão, depois, com a cabeça levantada de modo a não ver a sapata, passa a percorrer todas as casas, perguntando, após pisar em cada uma das casas: “Queimei?”. Se não queimou, passa para casa seguinte. Chegando às casas sete e oito, deve fazer o percurso de volta, sempre sem queimar. 

Quem completa o “queimei?” faz jus a um prêmio. De costas para a sapata, joga  sua pedra para trás. A casa onde ela cair passa a ser “propriedade” sua, e os demais jogadores só poderão ali pisar se ele autorizar. 

A partida só termina quando todas as casas tiverem dono, possibilitando tão remota que nunca vi acontecer. 

(Do Almanaque Gaúcho, Zero Hora, setembro de 2023)


 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Existem anjos entre nós?

 

Ao longo da Escritura, vemos numerosos casos nos quais os anjos eram parte integrante do plano de Deus. Um versículo alude à possibilidade de os anjos caminharem entre nós hoje: “Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos” (Hebreus 13:2). A referência óbvia é a Abraão, cujos visitantes angélicos lhe apareceram como homens (Gênesis 18). Este versículo pode ou não confirmar que os anjos realmente caminham entre nós sem o sabermos. “Acolheram” está no passado, então os encontros atuais não são explicitamente mencionados. 

Há dezenas de exemplos escriturais de encontros angélicos, então sabemos que Deus pode e usa anjos para realizar certas coisas. O que não sabemos com certeza é a frequência com que os anjos se permitem ser vistos pelas pessoas. Aqui estão os conceitos básicos sobre os anjos da Bíblia: os anjos podem instruir as pessoas (Gênesis 16:9), ajudar as pessoas (Daniel 6:22), entregar mensagens às pessoas (Lucas 1:35), aparecer em visões e sonhos (Daniel 10:13), proteger as pessoas (Êxodo 23:20) e ajudar a realizar os planos de Deus. 

Sabemos que Deus criou anjos, e os usa em Seu plano. Os anjos têm um senso de individualidade, já que alguns têm até nomes (como Gabriel e Miguel) e todos têm responsabilidades diferentes dentro da hierarquia angelical. 

Entretanto, será que caminham entre nós? Se Deus assim optar por usá-los em Seus planos para nós, sim, eles podem caminhar entre nós fazendo a vontade de Deus. Os anjos são mencionados em Gênesis e em Apocalipse e testemunharam a criação do mundo (Jó 38:7). Deus tem usado a Sua hoste celestial desde o início dos tempos e ainda os usará no fim dos tempos, de acordo com as Escrituras. É bem possível que muitas pessoas tenham se encontrado ou visto um anjo sem perceber. 

Se os anjos caminham entre nós, é porque estão servindo um propósito ordenado por Deus. A Bíblia menciona demônios que perambulam pela terra sem outro propósito além de destruir (Mateus 12:43-45). Satanás e sua força demoníaca provavelmente podem aparecer fisicamente, bem como os santos anjos. O propósito de Satanás é enganar e matar. Satanás se transforma em anjo da luz (2 Coríntios 11:14). 

Uma nota importante: os anjos não devem ser glorificados ou adorados (Colossenses 2:18). São entidades que realizam a vontade de Deus e se referem a si mesmos como “conservos” nossos (Apocalipse 22:9). 

Quer tenhamos encontros angelicais ou não, o mais importante é que obtenhamos a salvação através de Jesus Cristo. Ele está além de todos os anjos e todos os humanos, e só Ele é digno de adoração. “Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora.” (Neemias 9:6). 

(Do blog Got Questions)


Campanha publicitária

 

Esta foi a campanha publicitária do City Bank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors. 

As frases 

“Crie filhos em vez de herdeiros.” 

“Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete.” 

“Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela.”

“Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama.”

“Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas.”

“Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"

“Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos.”

“Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas...” 

(e em seguida a esse Outdoor na Marginal Pinheiros, tinha um outro dizendo: ...e quem sabe assim você seja promovido a melhor pai do mundo!) 

“Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos.” 

“Quem leva seu filho na igreja não vai buscá-lo na cadeia.” 

“Precisamos deixar filhos melhores para o mundo e não um mundo melhor para nossos filhos.” 

“Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço.” 


domingo, 24 de setembro de 2023

Árvores

 

Elas nos dão sombra, frutos e ar puro. Quando nas margens dos rios, um conjunto delas dá estabilidade ao leito, dificultando a erosão e enchentes. Quando juntas, em grandes porções de terra, são lar de muitas pessoas e animais, reguladoras das chuvas. Elas absorvem o gás carbônico que insistimos em lançar na atmosfera e o transforma em oxigênio. Quando juntas ou isoladas em meio às cidades, em praças, parques ou avenidas, oferecem um descanso para os olhos que comumente miram o concreto, fornecem proteção contra o sol forte do verão e talvez até algum fruto. 

Ainda que reconheçamos todos esses benefícios, elas continuam sob ameaça, na cidade, no campo ou nas florestas. Dia 21 de setembro foi o Dia da Árvore. O estabelecimento de uma data oficial é um convite a pensar sobre um assunto, a abraçar uma reflexão sobre um tema. No caso das árvores, uma reflexão sobre a própria vida. 

fotocorreio, Correio do Povo, 24 de setembro de 2023

O mal existe?

 

Um professor, ateu, desafiou seus alunos com esta pergunta: 

− Deus fez tudo que existe? 

Um estudante respondeu corajosamente: 

− Sim, fez! − Deus fez tudo, mesmo? 

O professor replicou: 

− Se Deus fez todas as coisas, então Deus fez o mal, pois o mal existe, e considerando-se que nossas ações são um reflexo de nós mesmos, então Deus é o mal. 

O estudante calou-se diante de tal resposta e o professor, feliz, se vangloriava de haver provado uma vez mais que a Fé era um mito. 

Outro estudante levantou sua mão e disse: 

− Posso lhe fazer uma pergunta, professor? 

−Sem dúvida, respondeu-lhe o professor. 

O jovem ficou de pé e perguntou: 

− Professor, o frio existe? 

− Mas que pergunta é essa? Claro que existe, você por acaso nunca sentiu frio? 

O rapaz respondeu: 

− Na verdade, professor, o frio não existe. Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é ausência de calor. Todo corpo ou objeto pode ser estudado quando tem ou transmite energia, mas é o calor e não o frio que faz com que tal corpo tenha ou transmita energia. O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe. Criamos esse termo para descrever como nos sentimos quando nos falta o calor. 

– E a escuridão, existe? − continuou o estudante. 

O professor respondeu: 

− Mas é claro que sim. 

O estudante respondeu: 

− Novamente o senhor se engana, a escuridão tampouco existe. A escuridão é na verdade a ausência de luz. Podemos estudar a luz, mas a escuridão não. O prisma de Newton decompõe a luz branca nas varias cores de que se compõe, com seus diferentes comprimentos de onda. A escuridão não. Um simples raio de luz rasga as trevas e ilumina a superfície que a luz toca. − Como se faz para determinar quão escuro está um determinado local do espaço? Apenas com base na quantidade de luz presente nesse local, não é mesmo? Escuridão é um termo que o homem criou para descrever o que acontece quando não há luz presente. 

Finalmente, o jovem estudante perguntou ao professor: 

− Diga, professor, o mal existe? 

Ele respondeu: 

− Claro que existe. Como eu disse no início da aula, vemos roubos, crimes e violência diariamente em todas as partes do mundo, essas coisas são o mal. 

Então o estudante respondeu: 

− O mal não existe, professor, ou ao menos não existe por si só. O mal é simplesmente a ausência de Deus. É, como nos casos anteriores, um termo que o homem criou para descrever essa ausência de Deus. Deus não criou o mal. Não é como a Fé ou o Amor, que existem como existe a Luz e o Calor. O mal resulta de que a humanidade não tenha Deus presente em seus corações. É como o frio que surge quando não há calor, ou a escuridão que acontece quando não há luz. 

(Autor desconhecido)

O faz-nada

 

Honra ao vagabundo

ao faz-nada perfeito.

Tudo que ele não faz

não faz bem-feito.

Seu viaduto inexistente

não cai em cima da gente.

Seu pastel de coisa alguma

recheado de ilusão

não dá intoxicação.

Ele não é psicólogo

provocando a demência

nem é sociólogo

de olho na presidência.

Menos um na pista:

também não é motorista.

E muito menos

− aleluia! −

outro economista.

Viva o desocupado

esse antiempreendedor

e seu bendito torpor.

A sua preguiça

é a nosso favor.

Ele não enche as Bolsas

com seu alarido

nem corre pelas ruas

com celular no ouvido.

Que alegria:

jamais cobrará demais

pra consertar nossa pia.

É menos um grevista

menos um arrivista

menos um ativista

menos um congressista

menos um beletrista

menos um carreirista

e, Deus seja louvado,

menos um advogado. 

(Do livro “Poesia numa hora dessas?!”,

de Luis Fernando Veríssimo)


Dois pequenos grandes contos

 O prejuízo

Meu pai perguntou: “por que você fez isto?” E não disse mais nada. Não respondi coisa alguma nem sabia o que responder. Fiquei olhando ora para a parede, ora para o telhado, morrendo de vergonha. 

Meu pai entrou no banheiro, sem me olhar, urinou, fez a barba, depois saiu de lá novamente sem olhar para mim. Sentou para tomar café da manhã sem me chamar, como sempre fazia. Eu não aguentava mais o peso do seu silêncio quando ele resolveu abrir a boca ainda cheia de café com leite e cuscuz para desabafar, entre enraivecido e queixoso: 

“Vou ter que trabalhar o final de semana inteiro, fazer hora extra para poder pagar a vidraça do seu Nestor que você destruiu, moleque.” 

Aí criei coragem e disse: “não precisa, quem vai pagar a vidraça sou eu.” 

Meu pai me olhou indiferente e incrédulo, como se olhasse para uma parede que fala, e tomei a dianteira antes que ele dissesse qualquer coisa: 

“Deixe, pai. Vendo meu time de botão, vendo laranja descascada na porta de casa e pago essa droga.” 

Meu pai arregalou os olhos e depois desamarrou a cara. Abriu um sorriso que até hoje lembro como o mais bonito que já vi no rosto dele. Só não sei se foi porque eu disse que pagava o prejuízo ou se foi por causa do “essa droga”. 

Garrincha

 

Quando o juiz apitou, encerrando a partida no campinho de subúrbio, aconteceu o grande espetáculo. 

Um pequeno passarinho muito conhecido naquele lugar, chamado garrincha, pousou sobre a bola de couro esquecida no campo de batalha. Meio pardo e de asas e cauda listradas de preto, também conhecido como garriça ou cambaxirra, o pássaro, que tem nome de craque, deu alguns pulinhos desajeitados sobre a pelota e bateu asas. 

Nesse instante, como se tivesse sido chutada violentamente por um jogador invisível, a bola também bateu asas e subiu. Um lançamento perfeito na direção do céu. Os vinte e dois jogadores titulares, mais os reservas, técnicos, dirigentes e todos os torcedores ficaram parados no estádio. Os olhos voltados para o voo maluco da bola, que voou até sumir. 

E como o dia já estava mesmo começando a virar noitinha, a lua apareceu de repente e engoliu a redonda – como a chamam os locutores esportivos. A bola virou lua, lua cheia, bem cheia e muito brilhante. O campo ficou tão iluminado que os atletas sentiram vontade de começar outro jogo, e só não o fizeram porque o cansaço da peleja disputadíssima não permitiu. O menino quis saber se a bola seria recuperada e o pai disse que não. “Está bem lá em cima, limpa, linda e cheia. Iluminando os grandes estádios, nas grandes cidades, ou os campinhos mais escondidos nos fins de mundo. 

(Do livro “Cabelos molhados”, Contos de Luís Pimentel)


sábado, 23 de setembro de 2023

A maior criação de Deus

 

Um homem, um dia, teve um sonho fantástico. Estava voando sobre o Brasil querendo conhecer lugares onde houvesse grandes desigualdades sociais e onde a natureza estava sendo mais devastada. 

Começou pelo Rio de Janeiro. Observou, numa favela, crianças fora da escola fazendo serviços de adulto para traficantes e milicianos. Ficou horrorizado com aquilo. 

Viu, numa rodovia federal do Nordeste, meninas com menos de dez anos se prostituindo para ganhar alguns trocados para aplacar a fome da família. 

O homem, triste com o que tinha visto, resolveu voar para o interior do Brasil. Foi para a região Centro-Oeste. Viu imensas áreas onde antes havia grandes matas, sendo dizimadas para a criação de gado, onde sua venda daria mais lucro para os fazendeiros gananciosos. 

No Norte do nosso país, viu centenas de rios sendo poluídos com mercúrio por garimpeiros inescrupulosos à procura de ouro. Esses rios ficam em reservas ambientais onde milhares de índios vivem e tiram o seu sustento. 

O homem, então, desceu à terra, ajoelhou-se, com as mãos em prece, olhou para o céu, implorando ao Criador: 

− Meus Deus, Todo Poderoso! Estou em pânico e terrivelmente triste com o que acabo de ver. O Senhor, com todo o seu imenso poder, não poderia fazer algumas coisas para acabar com tudo isso? 

No sonho, Deus respondeu a ele: 

− Meu amado filho, eu já criei alguém que pode lutar para tentar acabar com tudo isso de ruim que há na Terra: Eu fiz VOCÊ! 

NSM

“Não temos em nossas mãos as soluções

para todos os problema do mundo,

mas, diante de todos os problemas do mundo,

temos nossas mãos.”

(Friedrich von Schiller)

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Duas singelas histórias brasileiras

 Sexo turbinado

No motel, um casal, que estava no seu primeiro encontro amoroso, havia mandado bala durante um tempão e resolveu bater papinho. O cara começa: 

- Esses seus seios... São incríveis, firme e você deve estar beirando os 30, não? 

- Quarenta aninhos! Coloquei 200 ml de silicone de cada lado. 

O cara, positivamente, retrucou: 

- Viva a Medicina! Gostei dos seus cabelos também. São naturais? 

- Aplique. Estavam curtinhos. 

Aí foi a vez dela soltar a curiosidade: 

- Querido, estamos transando há mais de duas horas e você ainda não baixou o mastro. Viagra? 

- Prótese peniana − disse ele na maior tranqüilidade. 

Ela ficou perturbada e comentou, provocando: 

- Pensei que fosse pura excitação. 

- Fiquei excitado, juro! Também, com esse seu bumbum... 

 Aí, foi a vez dela se mostrar poderosa: 

- Silicone, amor. Nas batatas da perna também coloquei um pouco. 

- Onde mais você já mexeu? – perguntou ele, intrigado. 

- Pálpebras, maçãs do rosto, queixo, pescoço, lipo na barriga, culotes, cintura, lifting... e também fiz a preciosa. 

- O quê? O que é que você fez? Hímen? 

- Não, mudança de sexo. Meu nome é Waldemar.

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Franguinho nas fuças

Dois amigos se encontram num bar. Um deles com um olho preto. 

- O que foi isso, amigo? 

- Levei um frango congelado na cara. 

- Como foi que isso rolou? 

- É que minha mulher estava de minissaia e ela abaixou no frízer para pegar alguma coisa. Eu estava atrás dela e não resisti. Agarrei-a ali mesmo. 

- Sério? 

- Claro! Ela não queria, se remexia, e eu fiquei com mais excitado ainda. Mais ela gritava, mais eu continuava... 

- Pô! Qual é dessa mulher? 

- Ela se debatia como uma louca e eu cada vez com mais vibração... 

- Uau, que cena, cara! 

- E enquanto eu a penetrava, ela conseguiu pegar um frango congelado e jogou o bicho na minha cara com toda a força. 

- Putz, que coisa! Tua mulher não gosta de sexo? 

- Em casa, sim; no supermercado, não...