sábado, 30 de abril de 2016

Odeio Reuniões



O questionário do coordenador eficiente

Publicamos a seguir um questionário redigido com o intuito de testar sua capacidade de atravessar uma reunião sem chegar a absolutamente a nada. Já dominou essa técnica?

01. Sabe por que convocou a reunião?

Sim (   ) Não (   )

02. Mais da metade dos presentes conseguiu permanecer acordado?

Sim (   ) Não (   )

03. Conseguiu tomar uma decisão – qualquer decisão?

Sim (   ) Não (   )

04. Seguiu o roteiro?

Sim (   ) Não (   )

05. Estabeleceu um objetivo?

Sim (   ) Não (   )

06. Passou-se mais de uma hora sem uma discussão?

Sim (   ) Não (   )

07. Alguém na plateia teve a oportunidade de expressar uma opinião?

Sim (   ) Não (   )

08. A ideia de alguém foi aceita?

Sim (   ) Não (   )

09. Foi bem-sucedido ao encerrar a reunião, concordando quanto a um plano de ação?

Sim (   ) Não (   )

10. Alguém reclamou da falta de diversão?

Sim (   ) Não (   )

11. Alguém lhe disse que suas piadas não tinham a mínima graça?

Sim (   ) Não (   )

12. Alguém – inclusive você – sabia o objetivo da reunião?

Sim (   ) Não (   )

13. Você fez algum comentário que possa ser considerado “relevante”?

Sim (   ) Não (   )

14. Havia o dobro de pessoas presentes do que era realmente necessário?

Sim (   ) Não (   )

15. O termostato registrou o aumento da temperatura?

Sim (   ) Não (   )

16. Chegou a haver menos de três pessoas falando ao mesmo tempo?

Sim (   ) Não (   )

17. Você ou o grupo reuniram informações suficientes para resolver o problema?

Sim (   ) Não (   )

18. Alguém entendeu alguma coisa?

Sim (   ) Não (   )

 *****

Se você marcou “sim” em qualquer uma das questões, volte a página 1 deste livro* e comece tudo de novo.

* “Odeio Reuniões”, de Stephen Baker – Melhoramentos.



O Parnasianismo

Resumo prático para professores de Literatura Brasileira

01. Marco do início do período:

→ 1880 − com a publicação de “Sonetos e Rimas”, de Luís Guimarães Júnior (obra de valor meramente histórico).

02. Origem e estilo:

→ O Parnasianismo originou-se na França, sendo difundido através de obras de Théophille Gauthier, Lecomte de Lisle e José Heredia. Manifestando-se exclusivamente na poesia, o estilo parnasiano foi contemporâneo das obras em prosa do Realismo e do Naturalismo.

03.  Aspectos de diferenciação entre a poesia parnasiana e tradição romântica:

A poesia parnasiana anunciava-se como antirromântica na medida em que pregava a ausência do subjetivismo e abandono das formas românticas populares e musicais, tão de agrado dos românticos.

04. Principais características da poesia parnasiana:

→ isenção da manifestação sentimentais;

→ preferência pela descrição minuciosa;

→ evocação freqüente de cenas e personagens históricos e mitológicos;

→ preocupação exaustiva com a forma rebuscada;

→ culto de uma parte desligada de qualquer compromisso histórico, ou seja, a “arte pela arte”;

→ objetividade: o poeta apresenta o fato, a personagem, a coisa como são e acontecem na realidade pela sua (do poeta) maneira de ver, sentir e pensar;

→ impassibilidade: o poeta não pode participar, de qualquer forma, daquilo que está apresentando (isenção de ânimo);

→ perfeição de forma: a poesia, para o poeta parnasiano, deve ser perfeita, equilibrada, sem excessos.
05. Comentários sobre algumas características do parnasianismo:

→ Tentando combater a herança romântica de que estava impregnada a poesia da época, a poesia parnasiana propunha um atitude fria e impassível perante o mundo, “enxugando” o poema de qualquer sentimentalismo ou subjetivismo. Em consequência, os poemas ortodoxamente parnasianos são quase impessoais, para o que muito contribui a linguagem rebuscada e elitista, bem como os temas historicamente distanciados: cenas e personagens de civilizações antigas e do mundo clássico.
06. Explicação da atribuição do nome “Parnasiano” a este estilo literário:

→ Segundo a mitologia grega, “Parnaso” era o nome de um monte habitado pelas musas. Assim, denominaram-se “parnasianos”, os poetas que aderiram a esse estilo. No Brasil, a denominação chegou através da França: “Le Parnesse Contemporain” era o título de uma publicação para a qual colaboravam os parnasianos franceses (1866).
07. Principais representantes, no Brasil, da poesia parnasiana:

→ Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho. (Os três primeiros constituíram a chamada “Trindade Suprema”, ou seja, foram eles os que mais de perto chegaram - durante parte de suas obras - dos modelos parnasianos franceses).



Trindade Parnasiana:

Alberto de Oliveira - Raimundo Correia e Olavo Bilac

Poetas Parnasianos


01NOME:

 OLAVO Brás Martins dos Guimarães BILAC (Olavo Bilac).

 nascimento:  1865 - Rio de Janeiro

 morte:           1918 - Rio de Janeiro

 Abandonou os cursos de Medicina e Direito para dedicar-se ao jornalismo.

 Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

 Promoveu a campanha do Serviço Militar Obrigatório (1915)

 Autor do “Hino à Bandeira Nacional” (Salve lindo pendão da esperança)

2. EPÍTETO:

       → “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (eleito em 1907, pela revista Fon-Fon).

03. OBRAS:

     → “Poesias” (1888, contendo: Panóplias - Via Láctea - Sarças de Fogo - Alma Inquieta - As Viagens - O Caçador de Esmeraldas).

       → “Tarde” (1919, posteriormente incluído no volume “Poesias”)

04. POEMAS PRINCIPAIS:

     → “Pátria”, “Língua Portuguesa”, “Satânica”, “Profissão de Fé”, sonetos de Via Láctea (XIII), letra do Hino à Bandeira Nacional, “Nel Mezzo del Camin...”, “In Extremis”.

05. CARACTERÍSTICAS:

 Obra de fácil comunicação com o público.

 Parnasianismo reduzido, salvo em certos poemas históricos e mitológicos, com perfeição formal.

→ Temas: 

→ Platonismo amoroso; 

→ sensualismo,;

→ exaltação patriótica; 

→ reflexão (pessimista sobre vida e a natureza humana.


01.  NOME:

 RAIMUNDO de São Luís da Mota Azevedo CORREIA (Raimundo Correia).

 Nascimento:    1859, a bordo do navio brasileiro ‘São Luís’, em águas do Maranhão.

 Morte:             1911, em Paris.

02.  EPÍTETO:

 “O Poeta das Pombas”

03.  OBRAS:

 “Primeiros Sonhos” (1879, poemas de características ainda românticas)

 “Sinfonias” (1883)

 “Versos e Versões” (1887)

 “Aleluias” (1891)

 “Poesias” (1898)

04.  PRINCIPAIS POEMAS:

 “As Pombas”

 “Mal Secreto”

 “A Cavalgada”

 “Plenilúnio”

05.  CARACTERÍSTICAS:

 Adesão ao parnasianismo a partir de “Sinfonias”;

 traços parnasianos de sua poesia: temas históricos, temas mitológicos, poemas descritivos;

 linguagem clássica e concisa;

 poemas reflexivos.



01.  NOME:

 Antônio Mariano ALBERTO DE OLIVEIRA (Alberto de Oliveira).

 Nascimento:    1859 - Rio de Janeiro

 Morte:             1937 - Niterói

 Não participou de nenhum movimento político, social ou literário.

 Foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, após a morte de Bilac.
02.  OBRAS:
 “Canções Românticas” (1878) poemas românticos, “Meridionais” (1884), “Sonetos e Rimas” (1885), “Versos e Rimas” (1895), “Poesias Completas” (quatro séries: 1900, 1906, 1913, 1927, contendo a primeira série toda a produção anterior, com correções), “Ramo de Árvore” (1922).
03.  PRINCIPAIS POEMAS:

 “Vaso Grego”

 “Vaso Chinês”

 “Horas Mortas”
04.  CARACTERÍSTICAS:

 Estreia com obra romântica: “Canções Românticas” (1878)

 Adesão ao Parnasianismo a partir de “Meridionais” (1884)

→ O mais parnasiano dentre os contemporâneos (perfeição formal).

01.  NOME:

 VICENTE Augusto de CARVALHO (Vicente de Carvalho)

 Nascimento:    1866 - Santos

 Morte:             1924 - São Paulo

 Conhecido como “Poeta do Mar”, pela sua paixão pelo oceano,

→ é considerado o melhor parnasiano depois da tríade (Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto Oliveira);

 é popular por desenvolver temas do agrado do leitor comum e por expor sempre seus sentimentos com simplicidade e clareza.
02.  EPÍTETO:

 “Poeta do Mar”
03OBRAS:

 “Ardentias” (1885), “Relicário” (1888), “Rosa, Rosa de Amor” (1902), “Poemas e Canções” (1908), “Verso e Prosa” (1909), “Versos da Mocidade” (1912)
04.  PRINCIPAIS POEMAS:

 “Palavras ao Mar”

 “Velho Tema”

 “Olhos Verdes”

 “Pequenino Morto”
05.  CARACTERÍSTICAS:

 Parnasiano reduzido ao extremo domínio da linguagem;

 poemas caracterizados pela musicalidade e cadência;

 Temas:

  natureza (cenas marinhas);

  lirismo amoroso;

   reflexão sobre a natureza do homem.





Manual para a Vida



Saúde:

01. Beba muita água;
02. Coma ao café da manhã como um rei, ao almoço como um príncipe e ao jantar como um pedinte;
03. Coma o que nasce em árvores e plantas, e menos comida produzida em fábricas;
04. Viva com os 3 E's: Energia, Entusiasmo e Empatia;
05. Arranje tempo para orar;
06. Jogue mais jogos;
07. Leia mais livros do que já leu;
08. Sente-se em silêncio pelo menos 10 minutos por dia;
09. Durma 8 horas por dia;
10. Faça caminhadas de 20-60 minutos por dia, e enquanto caminha sorria.

Personalidade:

11. Não compare a sua vida a dos outros. Ninguém faz ideia de como é a caminhada dos outros;
12. Não tenha pensamentos negativos ou coisas de que não tenha controle;
13. Não se exceda. Mantenha-se nos seus limites;
14. Não se torne demasiadamente sério;
15. Não desperdice a sua energia preciosa em fofocas;
16. Sonhe mais;
17. Inveja é uma perda de tempo. Você possui tudo que necessita.
18. Esqueça questões do passado. Não lembre seu parceiro dos seus erros do passado. Isso destruirá a sua felicidade presente;
19. A vida é curta demais para odiar alguém. Não odeie.
20. Faça as pazes com o seu passado para não estragar o seu presente;
21. Ninguém comanda a sua felicidade a não ser você;
22. Tenha consciência que a vida é uma escola e que está nela para aprender. Problemas são apenas parte do curriculum, que aparecem e se desvanecem como uma aula de álgebra, mas as lições que aprende, perduram uma vida inteira;
23. Sorria e gargalhe mais;
24. Não necessite ganhar todas as discussões. Aceite também a discordância;

Sociedade:

25. Entre mais em contato com sua família;
26. Dê algo de bom aos outros diariamente;
27. Perdoe a todos por tudo;
28. Passe tempo com pessoas acima de 70 anos e abaixo de 6;
29. Tente fazer sorrir pelo menos três pessoas por dia;
30. Não te diz respeito o que os outros pensam de você;
31. O seu trabalho não tomará conta de você quando estiver doente. Os seus amigos o farão. Mantém contato com eles.

A Vida:

32. Faça o que é correto;
33. Desfaça-se do que não é útil, bonito ou alegre;
34. DEUS cura tudo;
35. Por muito boa ou má que a situação seja... Ela mudará...
36. Não interessa como se sente, levanta, se arruma e aparece;
37. O melhor ainda está para vir;
38. Quando acordar vivo de manhã, agradeça a DEUS pela graça.
39. Mantenha seu coração sempre feliz.
40. Divulgue as boas normas.


sexta-feira, 29 de abril de 2016

Pequenos grandes golpes

Um jovem modelar


“Posso ser pobre e desgraçado,
mas nunca serei um mentiroso!”

Era um rapaz de uns dezoitos anos, simpático, com uma expressão terrivelmente triste, vestido com uma roupa velha, mas bem passadinha, limpinha, remendada. Via-se que tinha nascido em bom berço. Parecia uma criatura portadora de uma precoce tragédia, mas o que sempre trazia no bolso, com toda a certeza, era uma carta.

Tocava a campanhia e, quando abriam a porta, estendia a carta:

– Entregue-a à dona da casa, por favor.

– Da parte de quem?

– Ela sabe. Entregue-lhe.

O envelope estava sempre limpinho. Renovava-o todos os dias. A carta tornava a escrevê-la várias vezes por semana. E a carta dizia assim: “Ajude-me. Tenho um irmãozinho no Hospital das Clínicas e minha mãe no Pronto Socorro”.

Partia a alma. Ademais a carta estava bem escrita, com bom estilo, sem erros de ortografia. Brotava das suas linhas queixumes de dolorosa sinceridade.

Geralmente, a dona da casa, quando via o rapaz limpinho, digno, apresentável, era tomada de surpresa e o fazia entrar.

O jovem, com o chapéu numa mão e um lenço na outra, reforçava os conceitos da carta. Primeiramente, repetia:

– Tenho um irmãozinho no Hospital das Clínicas e minha mãe no Pronto Socorro.

E a seguir acrescentava:

– Tinha começado a carreira de advocacia, mas tive que abandoná-la. Que desgraça, senhora, que desgraça! Ainda não tenho vinte anos e a dor já bateu à minha porta. A senhora não imagina como sou desgraçado!

Dizia com toda a lentidão, as palavras, para que não ficasse na garganta nenhum “s”, nenhum “l”. O importante era impressionar como uma pessoa culta.

Até que um dia a vaca virou touro. A dona da casa meteu a cara na porta, olhou-o de cima a baixo, e metralhou-o:

– Não tem vergonha, jovem e vendendo saúde, andar pedindo esmola com um papel cheio de mentiras?

O rapaz armou o peito e olhou-a fixamente:

– A senhora me ofende no mais fundo dos meus sentimentos... porque posso ser pobre e desgraçado... porque é possível que não goste de trabalhar... mas mentiroso não sou!

Disse assim, deu meia volta e foi embora. A mulher ficou perplexa e chamou-o:

– Venha, conte-me... A gente nunca, sabe, compreende-me... Jure que disse a pura verdade!

– Juro-lhe pela minha mãe e meus irmãozinhos que digo a verdade. Que morram, se minto!

E não mentia. No Pronto Socorro, a mãe era chefe dos escritórios (Classe O, com penacho) e no Hospital das Clínicas tinha até dois irmãos, que tiravam um bom ordenado, um como porteiro e outro como eletricista, os quais, com as gorjetas e biscates, já tinham comprado automóvel e apartamento em prestações.

O golpe dos baralhos


Um malandro internacional chegou, há tempos, ao Rio, a bordo de um luxuoso navio, procedente da Europa. Trazia muitas malas com roupas de uso. Mas, revistando outras de aspecto mais velho e surrado, os guardas aduaneiros encontraram uma grande partida de baralhos. Tratava-se evidentemente de um contrabando, pois o passageiro não acusar a existência daquela mercadoria incorporada à sua bagagem e recusava-se, ao mesmo tempo, a pagar o imposto, aliás, pesadíssimo, que incide sobre material de jogo. Em resumo: os baralhos foram apreendidos e, depois do competente processo fiscal, foram vendidos em leilão. Comprou a valiosa partida um esperto negociante, que arrematou a mercadoria por vinte mil cruzeiros*, esperando revendê-la com um lucro fabuloso.

No dia seguinte, aparentando uma calma irritante, entrou no estabelecimento comercial do comprador dos baralhos, o seu primitivo dono. Queria falar em particular com o comerciante, pois desejava fazer-lhe uma vantajosa proposta.

– Quero comprar toda a partida de baralhos.

– Muito bem. E quanto me oferece?

– Dez mil cruzeiros.

– O senhor está maluco? Pois eu paguei vinte mil cruzeiros por esses baralhos e evidentemente valem muito mais...

– É um exagero de sua parte. Esses baralhos não valem nada. Sou muito camarada oferecendo-lhe dez mil cruzeiros para evitar-lhe um prejuízo maior...

– Como não vale nada, se não são de primeira qualidade?...

– Não valem nada, porque estão incompletos... Faltam-lhes os “reis de copas”, que estão comigo.

O comerciante, depois de abrir vários pacotes, verificou que, de fato, estavam todos desfalcados de uma carta que era exatamente o “rei de copas”.

Meia hora depois, o esperto negociante resolvia aceitar a proposta que lhe fazia o contrabandista, vendendo-lhe os baralhos pelos dez mil cruzeiros, convencido de que, nessa altura, estava fazendo um ótimo negócio...

*Cruzeiro era a moeda dos anos 50.

O supérfluo intermediário


José Benedito passara a noite em claro. Estava preocupadíssimo com um compromisso financeiro inadiável. Era um título bancário, com vencimento para aquele dia, mas o pior é que ele estava sem vintém. Pela manhã, extenuado, tomou um banho, para se refazer, vestiu-se e encheu-se de coragem para ir bater à porta de seu amigo Jerônimo, milionário e bem instalado na vida, o qual bem podia desapertá-lo.

– Vim cedo te procurar, prevalecendo-me da nossa velha amizade. E vim para tratar de um assunto muito desagradável e urgente: preciso que me emprestes, até sábado, dez mil cruzeiros. Pode ser ou está difícil?

– Evidentemente está difícil, mas os amigos são para sanar estas dificuldades. No momento, não tenho dez mil cruzeiros em caixa, mas te darei um cheque, que é a mesma coisa.

Assim, rapidamente, José Benedito foi atendido, retirou-se contente e agradecido, para ir saldar imediatamente o seu débito no banco.

Na sexta-feira, porém, Benedito estava novamente inquieto. É que ele promete devolver no sábado, a seu bom amigo Jerônimo, os dez mil cruzeiros, que lhe emprestara com tão boa vontade, e a verdade é que ele não tinha o dinheiro para devolver. E ele não podia faltar à sua palavra, nem desiludir um amigo de tantos anos, que o tinha atendido com tanta presteza e solicitude. No sábado, depois de uma noite atribulada, tomou pela manhã uma resolução heróica: foi à casa de outro amigo expondo-lhe a sua aflitiva situação e solicitando-lhe dez mil cruzeiros emprestados, impondo-se a condição de devolvê-lo até a próxima quarta-feira.  Atendido com incrível boa vontade pelo amigo, José Benedito correu como uma flecha para pagar os dez mil cruzeiros que devia a Jerônimo.

Na quarta-feira seguinte não dispondo de numerário para resgatar a dívida que contraíra com o outro amigo, Amarildo, José Benedito teve que voltar a pedir o dinheiro a Jerônimo. Mas no sábado seguinte, para pagar a Jerônimo, teve que recorrer outra vez a Amarildo. Durante meses, José Benedito viveu nessa agonia, correndo, aos sábados, ao escritório de Amarildo para pagar a Jerônimo e, às quartas-feiras, batendo à porta de Jerônimo para liquidar a dívida com Amarildo.

Numa festa da sociedade, numa noite, por acaso, José Benedito encontrou os dois amigos. Chamou-os à parte e revelou-lhes toda a sua tragédia:

– Todos os sábados vou apanhar dez contos com você, Amarildo, para pagar a você, Jerônimo; e todas as quartas vou buscar dez contos com você, Jerônimo, para pagar os dez contos devidos a você, Amarildo. Trata-se, como estão vendo, de uma dívida entre vocês dois e da qual eu sou simples intermediário, sem tirar nenhum proveito. Refletindo melhor sobre este assunto, resolvi retirar-me deste negócio, livre e desembaraçado, de maneira que, daqui por diante, vocês podem continuar a fazer esses pagamentos, às quartas e sábados, sem a minha inútil intervenção.

E dizendo isso, despediu-se afetuosamente dos amigos embasbacados para nunca mais aparecer...

(Histórias do livro “O Barão de Itararé apresenta o seu Almanhaque, 
de 1955)


O Barão por Edgar Vasques


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Sonetos de B. Lopes



(1859-1916)

BERÇO

Recordo: um largo verde e uma igrejinha,
um sino, um rio, um pontilhão, e um carro
de três juntas bovinas que ia e vinha
rinchando alegre, carregando barro.

Havia a escola, que era azul e tinha
um mestre mau, de assustador pigarro...
(Meu Deus! que é isto! que emoção a minha
quando estas cousas tão singelas narro!?)

Seu Alexandre, um bom velhinho rico,
que hospedara a Princesa; o tico-tico
que me acordava de manhã e a serra...

com seu nome de amor – Boa Esperança,
eis tudo quanto guardo na lembrança
de minha pobre e pequenina terra!

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer em véspera tranquila,
num pôr-do-sol de goivos e saudade,
da velha igreja, que a Madona asila,
o sino grande a soluçar Trindade;

Quando o tufão do mal que me aniquila
soprar minh´alma para a Eternidade,
todas as flores dos jardins da vila,
certo, eu terei da tua caridade.

E, já na sombra amiga do cipreste,
há de haver uma lágrima piedosa,
a edênica gota, a pérola celeste,

para quem desfolhou, terno, e as mãos cheias,
o lírio, o bogari, o cravo e a rosa
pelas estradas brancas das aldeias.


→ Bernardino da Costa Lopes nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), Província do Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de 1859 e morreu no Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1916. Casado, desorganizou sua vida por motivos de ordem sentimental e entregou-se ao álcool. Foi ri­dicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz, de louvor ao marechal Hermes da Fonseca.

→ O poeta negro B. Lopes nasceu antes do fim da escravidão, mas como filho de pais livres e membros da classe média pobre: o pai, Antônio, escrivão, e a mãe, Mariana, costureira.

→ Membro da boemia intelectual, sua poesia recolhe diferentes tendências da passagem do século XIX ao XX. Da primeira etapa, vista como parnasiana, é Cromos (1881), com o qual obteve reconhecimento nacional. Seus cromos representam, conforme Alfredo Bosi, “uma linha rara entre nós: a poesia das coisas domésticas, os ritmos do cotidiano”.

→ Em 1890, Cruz e Souza chegou ao Rio de Janeiro: ele, B. Lopes, Emiliano Perneta e Oscar Rosas formaram o primeiro grupo de simbolistas brasileiros. Desse novo período, fazem parte Brasões (1895) e Val de Lírios (1900), entre outros.

→ Em 1906, morre de tuberculose. A hibridez de sua poesia, de marcas parnasiana e simbolista, continua a merecer novos leitores.

→ Seus sonetos estão em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968.






A morte de um abolicionista

A morte do lidador

Coelho Neto

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Entramos.

Em um quarto, alumiado por uma janela, onde mal cabiam uma cama de solteiro, um lavatório e duas cadeiras, jazia o pelejador da campanha magnífica.

Magro, esquelético, com os olhos encovados no fundo das órbitas, a fronte vasta, escalvada, de uma cor baça de bronze empoeirado, a boca reentrante à falta de dentes, sem voz, meio encolhido na enxerga, as pernas cobertas por um chale azul, Patrocínio* sorria e chorava, estendendo-me os braços que eram ossos envoltos em pele cinérea.

Sobre o lavatório estava um velho prato com um resto de mingau, às moscas; aos pés da cama, pelos travesseiros, no chão, os jornais do dia, todos. Na parede, um Cristo morto.

Não houve palavras. Fitamo-nos e eu o vi através de uma névoa... depois.

Os passarinhos cantavam nas árvores em flor e o sol entrava quente e rútilo pela janela aberta. Dia lindo! E ele soluçou: – “Meu amigo!” Que respondi? Não sei. Conversamos. Ele não teve uma queixa. Metendo a mão sob o travesseiro, para tirar o lenço, deixou cair uma tira de papel escrita a lápis. Pediu-ma sorrindo.

– É meu artigo. Escrevo-os aqui na cama, a lápis. Quando me faltam forças, dito a minha mulher. A lápis, hein! Mas, deixemos de tristeza. Falemos do passado...

E falamos... Oh! o passado daquele homem, um dos grandes heróis da Pátria... a sua história, que é a de toda uma época, a sua campanha, o seu canto triunfal!...

Onde estava o povo que o levantara nos braços e o aclamara em delírio no grande dia? Onde estava imensa legião negra que ele arrancara das senzalas – corpos que ele soltara na liberdade, almas que ele alumiara, corações que franqueara ao amor, espíritos que desentenebrecera?

Onde estavam os escravos de ontem? E a Pátria que ele tanto enobrecera, o seu culto, o seu orgulho, o seu entusiasmo, o seu amor? E os que havia socorrido? E os que ele havia encantado com as suas páginas fulgurantes? Todos aqueles que subiam as escadas do seu jornal com louvaminhas e flores, os que se inclinavam zumbridos à sua passagem, os que lhe pediam socorro, que ele nunca negou? Onde estavam?

Lá fora, as cigarras vívidas faziam um chilreio jucundo, pombos batiam asas e o sino festivo enchia o ar de sons.

– Em que pensas?

– Eu?

– Sabes? Isto há de passar. Só peço a Deus maus um ano. Viste o balão? Está quase pronto. Mais um ano e... adeus terra! Lá vai o Zé do Pato... Lá vai! Lá vai! E eu pelas nuvens além, perdendo-me no éter, longe, longe, respirando o ar de Deus, o grande ar virgem da altura.

Meneou a cabeça com desânimo.

Uma rapariguita entrou com uma carta, deu-lha. Ele rasgou nervosamente o invólucro, abriu-a: franziu o sobrolho, notei que a mão lhe tremia. Escondeu o papel e, com os olhos turbados de tristeza, fitos no céu, que era toda alegria, repetiu com uma voz que se perdia em angústia:

– Lá, longe!...

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E foi! Foi, não levado pelo seu veículo, mas pela Morte, quando ainda raspava o crânio com os ossos dos dedos, para arrancar as últimas migalhas.

Morreu como vivera: defendendo os fracos, batendo-se pela Liberdade.

*José do Patrocínio


José do Patrocínio

José Carlos do Patrocínio (Campos dos Goytacazes, 9 de outubro de 1853 – Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1905) foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravos.

Concentrando-se a sua atenção no moderno invento da aviação. Iniciou a construção de um dirigível (balão) de 45 metros, o "Santa Cruz", com o sonho de voar, jamais concluído. Numa homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lírico, quando discursava saudando o inventor, foi acometido de uma hemoptise, sintoma da tuberculose que o vitimou. Faleceu pouco depois, aos 51 anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos o maior de todos os jornalistas da abolição.

No dia 29 de janeiro de 1905, José do Patrocínio sentou-se em frente da sua pequena escrivaninha no modesto barracão em que vivia no bairro de Inhaúma, no Rio de Janeiro. Começou a redigir:

“Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro...”

Não terminou a palavra nem a frase – Um jato de sangue jorrou-lhe da boca. O “Tigre do Abolicionismo” – pobre e desamparado – morria, imerso em dívidas e mergulhado no esquecimento.





terça-feira, 26 de abril de 2016

Por que escrevo?



No livro Por que escrevo?, organizado por José Domingos de Brito como parte da série “Mistérios da Criação Literária”, a pergunta parece ser feita a todos os mais variados cânones da literatura, da poesia, e do jornalismo – pessoas que, enfim, constroem e desconstroem com palavras. De A a Z, as respostas vão sendo traçadas uma a uma, em um espírito íntimo em meio ao qual o leitor tem, certas vezes, a impressão de ouvir da boca de seu grande ídolo as razões que o levaram a tal árdua profissão. Enquanto Allen Ginsberg diz que escreve porque gosta de cantar quando está só, Gabo diz que escreve para que seus amigos o amem mais. E assim o livro nos mostra, em uma coletânea despretensiosa e sem ornamentos - e com uma rica bibliografia sobre o ofício da escrita -, das respostas mais simples e definitivas às mais reflexivas, abrangentes e complexas possíveis.

Aqui vão algumas delas*:

01. Allen Ginsberg:

“(…) Eu escrevo poesia porque gosto de cantar quando estou só (…) Eu escrevo poesia porque minha cabeça contém uma multidão de pensamentos, 10 mil para ser preciso (…) Eu escrevo poesia porque não há razão, não há por quê. Eu escrevo poesia porque é a melhor forma de dizer tudo que me vem à cabeça no intervalo de um quarto de hora ou de toda uma vida.”

02. Augusto dos Anjos:

“A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito… Escrevia
Mais por impulso de idiossincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as 24 horas do dia!

Riam de mim, os monstros zombeteiros.
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre…

Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!”

03. Carlos Drummond de Andrade:

“Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas.”

04. Clarice Lispector:

“Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”

05. Fernando Pessoa:

“Eu escrevo para salvar a alma.”

06. Fernando Sabino:

“Tenho a impressão de que se eu soubesse responder a essa pergunta deixaria de ser escritor. Não haveria condição. Não saberia dizer, não. Está além da minha compreensão. Esta pergunta é tão grave como se perguntassem: ‘Por que vive? Por que ama? Por que morre?’. Talvez eu escreva para atender a essas três presenças que são as únicas que existem na vida de um homem. No verso de Eliot: ‘Birth, copulation and death’; eu diria ‘nascimento, amor e morte’. Não sei por que escrevo. Eu nasci, virei homem e vou morrer.”

07. Gabriel García Márquez:

“Para que meus amigos me amem mais.”

08. George Orwell:

“Meu ponto de partida é sempre um sentimento de proselitismo, uma sensação de injustiça. Quando sento para escrever um livro, não digo a mim mesmo: ‘Vou produzir uma obra de arte’. Escrevo porque existe uma mentira que pretendo expor, um fato para o qual pretendo chamar a atenção, e minha preocupação inicial é atingir um público. Mas não conseguiria escrever um livro, nem um longo artigo para uma revista, se não fosse também uma experiência estética. Quem se dispuser a examinar meu trabalho perceberá que, mesmo quando é uma clara propaganda, contém muito do que um político de tempo integral consideraria irrelevante. Não sou capaz de abandonar por completo a visão de mundo que adquiri na infância, nem quero. Enquanto viver e estiver com saúde, continuarei a ter um forte apego ao estilo da prosa, a amar a superfície da Terra, a sentir prazer com objetos sólidos e fragmentos de informações inúteis. De nada adianta tentar reprimir esse meu lado. O trabalho é conciliar os gostos e os desgostos arraigados com as atividades essencialmente públicas, não individuais, que esta época impõe a todos nós.”

09. Jean-Paul Sartre:

“Porque a criação só pode encontrar seu acabamento na leitura; porque o artista deve confiar a outro a tarefa de concluir o que ele começou; porque somente através da consciência é que ele pode se ter como essencial a sua obra e toda obra literária é um apelo. Escrever é apelar ao leitor para que ele faça passar à existência objetiva o descobrimento que empreendi por meio da linguagem.”

10. João Cabral de Melo Neto:

“Por que escrevo é um negócio complicado… Eu tenho a impressão de que a gente escreve por dois motivos. Ou por excesso de ser - é o tipo do escritor transbordante, como a maioria dos escritores brasileiros; é uma atitude completamente romântica - ou por falta de ser. Eu sinto que me falta alguma coisa. Então, escrever é uma maneira que eu tenho de me completar. Sou como aquele sujeito que não tem perna e usa uma perna de pau, uma muleta. A poesia preenche um vazio existencial. Às vezes, eu escrevo porque quero dizer determinada coisa que eu acho que não foi dita; às vezes, porque me interessa que conheçam meu ponto de vista. Às vezes, escrevo também por prazer.”

11. José Saramago:

“Antes eu dizia: ‘Escrevo porque não quero morrer. ’ Mas agora eu mudei. Escrevo para compreender. O que é um ser humano?”

12. Julio Cortázar:

“(…) O fascínio que uma palavra produzia em mim. Eu gostava de algumas palavras, não gostava de outras, algumas tinham certo desenho, uma certa cor. Uma de minhas lembranças de quando estava doente (fui um menino muito doente, passava longas temporadas de cama com asma e pleurisia, coisas desse tipo) é a de me ver escrevendo palavras com o dedo, contra uma parede. Eu esticava o dedo e escrevia palavras, e via as palavras se formando no ar. Palavras que eram, muitas vezes, fetiches, palavras mágicas. Isso é algo que depois me perseguiu ao longo da vida. Havia certos nomes próprios -e sei lá por quê - que para mim tinham uma carga mágica. Naquela época havia uma atriz espanhola que se chamava Lola Membrives, muito famosa na Argentina. Bom, eu me vejo doente - aos sete anos provavelmente - escrevendo com o dedo no ar Lo-la-Mem-bri-ves, Lo-la-Mem-bri-ves. A palavra ficava desenhada no ar e eu me sentia profundamente identificado com ela. De Lola Membrives, a pessoa, eu não sabia muita coisa, nunca a tinha visto e nunca a vi. Na realidade, eram meus pais que iam ver as peças onde ela trabalhava. E foi nesse mesmo momento que comecei a brincar com as palavras, a desvinculá-las cada vez mais de sua utilidade pragmática e comecei a descobrir os palíndromos, que depois apareceram nos meus livros… Desde muito pequeno, minha relação com as palavras, com a escrita, não se diferencia da minha relação com o mundo em geral. Eu não acho que nasci para aceitar as coisas tal como estão, tal como me são oferecidas.”

13. Manuel Bandeira:

“Na verdade, faço versos porque não sei fazer música… Jamais senti que meu destino fosse a Poesia, sobretudo assim com esse P maiúsculo que pressinto na sua garganta. Creio que se fui poeta em alguns momentos, só o fui por incidente patológico ou passional.”

14. Moacyr Scliar:

“Quando criança, eu era adicto à literatura, não podia ficar sem ler. A minha conexão com a vida acontecia via literatura. Eu lia para aprender a viver, para saber o que fazer. É claro que isso provoca muitas desilusões, muitos choques, porque a vida não é a literatura. Assim, quando comecei a escrever, foi porque lia. Outra razão é que meus pais foram grandes contadores de história. Numa noite quente como essa, as pessoas do meu bairro se reuniam para contar histórias, o que, desde muito cedo se incorporou em mim, passou a ser uma coisa que eu também queria fazer, só que à minha maneira, escrevendo.”

15. Paulo Francis:

“Escrevo romances para me perpetuar, para ter fama, glória, dinheiro, amor, essas coisas comezinhas da vida.”

16. Rachel de Queiroz:

“Acho que para cada escritor há uma razão diferente. No meu caso, num certo sentido, é o desejo interior de dar um testemunho do meu tempo, da minha gente e principalmente de mim mesma: eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista. Creio que o impulso de todo artista é esse. É se fazer ver. Eu existo, olha pra mim, escuta o que eu quero dizer: tenho uma coisa pra te contar. Creio que é por isso que a gente escreve.”

17. Sérgio Milliet:

“Quer saber de uma coisa? Não acredito na predestinação literária. São circunstâncias acidentais que fazem o escritor e é o acaso de um primeiro êxito que o leva a perseverar. Um homem de inteligência média faz qualquer coisa; basta que a vida o exija. Qualquer camarada de algumas letras escreveu versos na mocidade; se não continuou, foi porque outra coisa lhe interessou.”

18. Truman Capote:

“Sou um escritor essencialmente horizontal. Não posso pensar mais do que quando estou encostado, com um cigarro nos lábios e uma xícara de café ao alcance da mão. A xícara de café pode ser trocada por um copo de vodka, não há por que ser maníaco. Não uso máquina de escrever, redijo à mão, com lápis. Trabalho quatro horas por dia durante quatro meses por ano. Sou um estilista: me preocupa mais onde colocar uma vírgula que ganhar o prêmio Nobel.”

19. William Faulkner:

“Para ganhar a vida.”

E você, por que escreve?


*Todos os depoimentos a seguir transcritos pertencem à coletânea “Por que escrevo?”, organizada por José Domingos de Brito (editora Novera), com suas respectivas fontes individuais.