segunda-feira, 30 de abril de 2018

Três envelopes



O sujeito acaba de assumir o comando de uma importante empresa multinacional e, no dia de sua posse, recebe três envelopes do seu antecessor, que fora demitido.

− Abra cada um deles, toda vez que deparar com um problema difícil – aconselha o ex-presidente.

As coisas parecem que vão caminhado bem até que, alguns meses depois, a empresa começa a dar prejuízo. Ele abre o primeiro envelope e lá está o conselho: “Culpe o seu antecessor!”

Ele reúne os acionistas, mostra gráficos e consegue provar que a culpa era do seu antecessor.

Alguns meses se passam, novos problemas ocorrem, e o lucro desaparece. No segundo envelope, o novo conselho: “Corte custos.” O executivo reúne a diretoria e exige cortes drásticos em todas as áreas. Nos meses seguintes, os resultados já começam a ser satisfatórios.

Passa-se mais um ano e a empresa volta a dar prejuízo. Ele abre o último envelope e vê o terceiro conselho: “Prepare três envelopes!”




LUNARA


(Luiz do Nascimento Ramos)

→ A velha periferia, o velho Arroio Dilúvio “Nhô João Deixa Disso” e “Dois Philophos-Riachinho”, com seus complementos aos títulos em alemão: cartões-postais artísticos de mais de cem anos atrás de Porto Alegre.


Nhô João Deixa Disso


Dois Philosophos


→ Europeus, Gaúchos, Negros: “Sesteada”, acima, e “Aguadeira”, abaixo, fotografias de Lunara apresentam uma cidadela bucólica marcada pelo encontro de etnias.


Quem foi

Luiz do Nascimento Ramos (Porto Alegre RS 1864 − idem 1937). Fotógrafo e comerciante. Sabe-se que atua em Porto Alegre nas primeiras décadas do século XX, mas não há dados a respeito de sua formação. Começa a trabalhar como guarda-livros, tornando-se mais tarde sócio da firma de importações Franco, Ramos & Cia. Fotógrafo amador, integra a associação Sploro Photo-Club, em Porto Alegre, e registra a periferia da cidade aos domingos. Utiliza o pseudônimo Lunara para expor suas imagens. Conquista medalha de ouro na Mostra Grupal de Artes Plásticas, promovida pelo jornal Gazeta do Comércio, em 1903, e, no ano seguinte, é premiado em concurso realizado pelo Photo Club Hélios.

→ Na década de 1910, publica regularmente seu trabalho na revista Máscara. Em 1922, recebe prêmio da publicação Revue de France, de Paris, fato noticiado na revista Ilustração Brasileira, do Rio de Janeiro, que dedica duas páginas ao seu trabalho. Após seu falecimento, sua obra permanece durante décadas guardada por familiares.

→ Em 1976, a jornalista e fotógrafa gaúcha Eneida Serrano (1952) descobre 23 negativos de vidro e dois álbuns com 60 fotografias de sua autoria e, três anos depois, realiza a exposição Lunara − Amador 1900, no Museu de Comunicação Hypólito José da Costa, em Porto Alegre.

Em homenagem ao artista, em 2001, o centro cultural Usina do Gasômetro, na capital gaúcha, inaugura a Galeria Lunara, espaço especializado em fotografias.

(Do Blog Enciclopédia Itaú Cultural)


Áureo, filho de Lunara.


domingo, 29 de abril de 2018

A Noite Estrelada



→ O quadro A Noite Estrelada, de Vincent Van Gogh, foi pintado em 1889. É um óleo sobre tela, com 74 cm X 92 cm, e se encontra no Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA). A pintura retrata a vista da janela do quarto do artista no hospício de Saint-Rémy-de-Provence.

Análise, interpretação e contexto

→ Vincent Van Gogh pintou esta tela quando estava no hospício de Saint-Rémy-de-Provence, onde se internou voluntariamente em 1889, após ter cortado a sua própria orelha. Van Gogh sofria de depressão e de surtos psicóticos.

→ Durante esse período, ele realizou vários estudos de lugares dentro do hospício, como o corredor e a entrada. As saídas de Van Gogh eram controladas. O pintor tinha pouco contato com o mundo exterior, o que o deixou com limitações de temas para a pintura. O artista resolveu se dedicar mais a interpretações de obras de outros artistas.

→ Dentro do hospício, Van Gogh tinha acesso a duas celas: uma onde dormia, e outra no térreo, onde podia pintar as suas telas. A Noite Estrelada é a vista da cela na qual ele dormia, pouco antes do nascer do sol. O pintor não podia fazer suas telas nesse quarto, porém ele tinha carvão e papel, no qual fazia esboços em que trabalhava mais tarde na cela dedicada à pintura.

→ Van Gogh era pós-impressionista e foi considerado um dos pioneiros da arte moderna. Podemos observar em suas obras uma representação do mundo, com pinceladas fortes, mas quase nenhuma abstração. O quadro A Noite Estrelada é considerado um dos mais importantes de Van Gogh, pois conta com algumas pequenas abstrações, que se tornarão matéria essencial para o modernismo.

Principais elementos da obra

→ Essa tela é uma das mais importantes de Van Gogh. Faz parte de uma série de telas que representam a vista que ele tinha da janela de seu quarto no hospício. Todas estas obras têm em comum os montes no horizonte das telas. A Noite Estrelada é o único registro feito à noite dessa paisagem.

O uso das espirais


→ As espirais são as primeiras coisas que chamas a atenção neste quadro. As pinceladas rápidas em sentido espiral dão uma sensação de profundidade e movimento ao céu. Esse aspecto do quadro pode ser considerado impressionista.

→ Estas espirais são características das obras de Van Gogh desse período. São diversas as pinceladas usadas para dar esse efeito.


A Vila


→ A pequena vila representada na quadro de Van Gogh não fazia parte da paisagem vista pelo seu quarto. Alguns críticos acreditam que ela é uma representação da vila na qual o pintor passou a infância. Outros acreditam que seja a vila de Saint-Rémy. Para todos os efeitos, a vila é uma inserção no quadro feita pelo artista, sendo um componente imaginado.

O cipreste


→ O cipreste é um elemento comum nas obras de Van Gogh. Esta árvore está associada à morte em diversas culturas europeias. Elas eram usadas nos sarcófagos egípcios e nos caixões dos romanos. O cipreste passou a ser comum para ornamentar cemitérios e quase sempre está relacionado à morte.

→ Para Van Gogh, o interesse nos ciprestes tem um caráter formal. O pintor apreciava muito as formas pouco comuns que o cipreste apresenta e a sua fluidez. Os belos movimentos que esta árvore faz ao vento estão representados nesse quadro.

As estrelas


→ As estrelas são um dos elementos mais importantes do quadro. Além da sua beleza plástica, elas são representativas, pois demonstram uma grande abstração no quadro. Em um primeiro momento Van Gogh não ficou satisfeita com o quadro. Para ele, as estrelas eram muito grandes. Ele diz que se deixou levar pelas ideias abstracionistas ao compor estrelas tão grandes.

Interpretação da obra

→ A obra de Vicente Van Gogh é um marco na história da arte. Sua beleza plástica é notável e os elementos que compõem a obra mostram o trabalho de um artista maduro. Muitos críticos consideram a obra um marco na carreira de Van Gogh, mesmo não tendo apreço do pintor quando foi feita.

→ A pintura é muito expressiva, a visão do céu noturno turbulento com as espirais é marcante e faz contraste com a calmaria da pequena vila pouco abaixo das linhas dos montes.

→ Um cipreste que sobe na vertical toma a frente do quadro, como uma figura de destaque no meio da paisagem. Ao seu lado, a torre da igreja também se projeto para o alto, mas de uma forma um pouco mais tímida. Ambos projetam uma ligação entre a terra e o céu. Esses são os dois elementos verticais nessa pintura de Van Gogh.

A Noite Estrelada é uma obra cheia de sentimentos que transparecem nas pinceladas. Uma obra que contém fortes elementos imaginativos e que, de certo modo, transparece uma mente agitada.

(Do Blog Cultura Genial) 


Frases do Barão de Itararé



Barão por Edgar Vasques

O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.

A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.

Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.

Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.

O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.

Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Quem empresta, adeus.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

O fígado faz muito mal à bebida.

O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.

A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.

Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.

Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!

Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!

Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…

Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.

As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.

Quem não muda de caminho é trem.

A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

  


sábado, 28 de abril de 2018

Como a vacina da gripe é feita no laboratório



Há todo um processo por trás da dose que está na seringa
(Ilustração: Pedro Hamdam/SAÚDE é Vital)

→ O imunizante contra o vírus influenza surgiu no século 20 e, desde então, seu método de fabricação não mudou muito. Conheça o processo e se proteja!

Por André Biernath, Diogo Sponchiato

→ A vacina contra a gripe é refeita anualmente, de acordo com análises que indicam quais subtipos do influenza mais circularão na próxima temporada – tanto no Hemisfério Norte como no Sul. Os vírus são colocados em ovos e, depois, o material é purificado para formar o imunizante do ano. Conheça o processo em detalhes a seguir:

1) Todos os países possuem centros de vigilância que recolhem amostras e analisam as cepas do vírus da gripe que estão pintando em cada lugar – eles sofrem mutações constantes. Os dados são encaminhados para a Organização Mundial da Saúde (OMS).

2) A entidade então determina os três ou quatro tipos do influenza que serão incluídos no imunizante. Isso ocorre em fevereiro no Hemisfério Norte e em setembro para o Hemisfério Sul, para a vacina ser produzida a tempo de chegar à população antes do inverno.

3) Com base nas orientações da OMS, os laboratórios iniciam a manufatura do produto. Começa assim: amostras dos vírus são injetadas em ovos de galinha que contém um embrião vivo em pleno desenvolvimento. Os ovos são incubados para o influenza se multiplicar ali.

4) O líquido que envolve o embrião dentro do ovo serve de matéria-prima para a vacina. Depois de extraí-lo, os cientistas fragmentam e inativam o vírus da gripe – assim, é impossível que ele cause a doença.

5) Aí, as vacinas são distribuídas nos postos de saúde e nas clínicas particulares. Ao entrar em contato com o produto, o corpo da pessoa passa a produzir anticorpos que impedem a instalação da gripe.

6) A campanha estreia em outono para proteger a população antes que o número de casos se eleve.

Uma receita de vacina diferente

→ Cada ovo inoculado com o vírus rende material para aproximadamente uma única dose. Além disso, a multiplicação do influenza demora. É por isso que o processo de produção leva meses.

→ Mas há uma solução sendo testada para acelerar a fabricação do imunizante e, assim, ajudar até em pandemias da gripe. Os pesquisadores estão experimentando cultivar o vírus em células dentro do laboratório. Tomara que dê certo!

(Do Blog Saúde é Vital)


O fígado indiscreto



Inácio era o rei dos acanhados. Pelas coisas mínimas, avermelhava, saía fora de si e permanecia largo tempo idiotizado.

O progresso do seu namoro foi, como era natural, menos obra sua que da menina, e da família de ambos, tacitamente concertadas numa conspiração contra o celibato do futuro bacharel. Uma das manobras constou do convite que ele recebeu para jantar nos Lemos, em certo dia de aniversário familiar comemorado a peru.

Inácio barbeou-se, laçou a mais famosa gravata, floriu de orquídeas a botoeira, friccionou os cabelos com loção de violetas e lá foi, de roupa nova, lindo como se saíra da forma naquela hora. Levou consigo, entretanto, para seu mal, o acanhamento. − e daí proveio a catástrofe...

Lá, enquanto engoliam a sopa, teve tempo de voltar a si e arrefecer as orelhas. Mas não demorou muito no equilíbrio. A culpa aqui foi da dona da casa. Serviu-lhe dona Luiza, um bife de fígado sem consulta prévia.

Esquisitice dos Lemos: comiam-se fígados naquela casa até nos dias mais solenes.

Esquisitice do Inácio: nasceu com a estranha idiossincrasia de não poder sequer ouvir falar em fígado − seu estômago, seu esôfago e talvez seu próprio fígado tinham pela víscera biliar uma figadal aversão. E não insistisse ele em contrariá-los: amotinavam-se repelindo indecorosamente o pedaço ingerido.

Nesse dia, mal dona Luiza o serviu, Inácio avermelhou de novo, e novamente saiu fora de si. Viu-se só, desamparado e inerme ante um problema de inadiável solução. Sentiu lá dentro o motim das vísceras; sentiu o estômago, encrespado de cólera, exigir, com império, respeito às suas antipatias. Inácio parlamentou com o órgão digestivo. Mostrou-lhe que mau momento era aquele para uma guerra intestina. Tentou acalmá-lo a goles de Clarete, jurando eterna abstenção para o futuro, Pobre Inácio! A porejar suor nas asas do nariz, chamou a postos o heroísmo, evocou todos os martírios sofridos pelos cristãos na era romana e os padecidos na era cristã pelos heréticos; contou um, dois e três e glup! Engoliu meio fígado sem mastigar. Um gole precipitado de vinho rebateu o empache. E Inácio ficou a esperar. De olhos arregalados, a revolução intestina.

O calouro, entretanto, não deu fé da tagarelice; surdo às vozes do mundo, todo se concentrava nas vozes viscerais. Além disso, a tortura não estava concluída; tinha ainda diante de si a segunda parte do fígado engulhento. Era mister atacá-la e concluir de vez a ingestão penosa. Inácio engatilhou-se de novo e − um, dois, três: glup! Lá rodou, esôfago abaixo, o resto da miserável glândula.

Maravilha! Por inexplicável milagre de polidez, o estômago não reagiu. Estava salvo Inácio. E como estava salvo, voltou lentamente a si, muito pálido, com o ar dos ressuscitados. Chegou a rir-se.

Estava nessa doce beatitude, quando:

− Não sabia que o senhor gostava tanto de fígado, disse-lhe dona Luiza, vendo-lhe o prato vazio − repita a dose.

Fora de si outra vez, o pobre moço exclamou, tomado de pânico:

− Não! Não! Muito obrigado!

E não houve salvação! Veio para o prato de Inácio um novo naco − este formidável, dose dupla.

Um criado estouvadão, que entrava com o peru, tropeçou no tapete e soltou a ave no colo de uma dama. Gritos, reboliço, tumulto. Num lampejo de gênio, Inácio aproveitou-se do incidente para agarrar o fígado e metê-lo no bolso.

Salvo! Nem dona Luiza nem os vizinhos perceberam o truque − e o jantar chegou à sobremesa sem maior novidade.

(Monteiro Lobato, Cidades Mortas)

sexta-feira, 27 de abril de 2018

O Inimigo dos Marotos




Déspota esclarecido

Viu a última do Dom Pedro I? Pois ele quebrou o nariz e nunca o arrumou. A descoberta veio à luz na semana passada graças à reconstituição facial em 3D feita a partir de uma fotografia do crânio do imperador, tomada em 2012 – tudo com autorização dos Orleans e Bragança. A bem da verdade, o nariz não foi a única coisa que o bom Dom Pedro quebrou e não consertou – e não só na cara. Do cavalo, ele caiu 36 vezes, embora fosse exímio (e imprudente) cavaleiro. Figurativamente, o príncipe também se quebrou em outras tantas ocasiões – sendo inclusive forçado a abdicar pelo mesmo “povo” que tanto o idolatrara e pelo “bem” do qual (e “felicidade geral da nação”) ele havia decidido ficar no Brasil em janeiro de 1822, naquele que foi o avant première do Sete de Setembro, que faria dele nosso primeiro e adorado imperador. Dom Pedro, de fato, foi amado – até porque sempre teve um lado amável.

Embora nascido em Portugal, chegou ao Rio com 10 anos e virou um genuíno príncipe brasileiro – mais do que isso, carioca. Andava de roupas de algodão e chapéu de palha, tomava banho nu na praia do Flamengo, ria muito e zombava de quem quer que fosse. Foi mau aluno – um péssimo latinista! −, mas excelente músico: tocava piano, violino fagote, trombone, clarinete e cravo. Flertava ainda com um ritmo e um instrumento malditos: o violão e o lundu, que aprendeu em lugares mal-afamados do Rio, como a Taverna da Corneta, na Rua das Violas, onde conheceu aquele quer viria a ser seu melhor amigo e secretário particular: Francisco Gomes da Silva, por alcunha o Chalaça. Dom Pedro era um amante latino, com milhares de casos no “currículo”; um dândi liberal que tomava o que gostava, fossem cavalos, mulheres ou bebidas.

Dom Pedro I não era perfeito – nem aperfeiçoável. Mas acreditava na liberdade e no liberalismo e sempre entendeu que, para se “aperfeiçoar”, qualquer governo não podia prescindir de oposição e de liberdade de imprensa, que ele sempre prezou, até porque foi um jornalista panfletário e polêmico, que publicava artigos inflamados contra seus adversários, sob vários pseudônimos, tais como O Inimigo dos Marotos, Piolho Viajante, o Anglo-Maníaco e O Derrete Chumbo a Cacete.

Sempre gostei de Dom Pedro I – desde os bancos escolares e ainda mais depois de tanto ler sobre ele, por dever de ofício. Mas não foi por simpatia – nem por ele nem por nenhum de seus herdeiros – que quase acabei sufragando pela volta da monarquia naquele plebiscito um tanto patético de 1993.

(...)
  
(Excerto de um texto de Eduardo Bueno, em ZH, abril de 2018)


quarta-feira, 25 de abril de 2018

Acho que sei a sua idade



Responda com sinceridade!

01. Você já tomou Q-Suco?

02. Você bebia Grapette?

03. Sua primeira bebida alcoólica foi Cuba Libre?

04. Já comeu goiabada cascão?

05. Você tomou leite que vinha em garrafa de vidro com tampinha de alumínio?

06. Já tomou Cibalena?

07. Tomou Biotônico Fontoura ?

08. Você cuidou de suas espinhas adolescentes com pomada Minâncora?

09. Sua mãe usava Violeta Genciana para cuidar de seus machucados?
.
10. Seu pai usava aparelho de Gilete com lâminas removíveis?

11. Sua mãe tinha secador de cabelos com touca?

12. Sua mãe usava Leite de Colônia?

13. Você jogava bilboquê?

14. Usava tampinha de guaraná para fazer distintivo de polícia?

15. Soltava bombinha de quinhentos, em época de festa junina?

16. Você andou de carrinho de rolimã?

17. Brincou de mocinho e bandido?

18. Você lembra quando. o Ronnie Von jogava a franjinha de lado cantando Meu Bem?

19. Você assistia ao Perdidos no Espaço?

20. Você sabia de cor a música de Bat Masterson?

21. Sabe quem foi Phantomas?

22. Quem foi Ted Boy Marino?

23. Você assistia ao Repórter Esso?

24. Assistia ao Toppo Giggio?

25. Assistia à Vila Sésamo?

26. Você sabe quem foi Jonhnny Weismuller?

27. Assistiu ao Vigilante Rodoviário?

28. Sabe quem foi Odorico Paraguaçu?

29. Você se lembra o que era compacto simples e o que era um compacto duplo?

30. Você já teve um Bamba?

31. Se lembra do Vulcabrás 752?

32. Você usava japona?

33. Quando estudava, os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico?

34. Você chamava revista em quadrinhos de gibi?

35. Sua mãe tinha caderneta no armazém?

36. Usou bomba de flit?

37. Já andou de Simca Chambord ou de Gordini?

38. Conheceu o Aero Willys?

39. O Kharman Guia ?

40. Já andou de Vemaguete?

41. Já usou gasolina azul no seu carro?

42. Sua mãe usava cera Parquetina?

43. Você se lembra do sabão em pó Rinso?

44. Da televisão com seletor de canais rotativo?

45. Dançava a música Corazon de melon nas reuniões dançantes?

46. Usava sabonete Eucalol?

47. E o trio maravilhoso Regina?

48. Foi uma matinê no cinema Castelo na Azenha?

49. Viu a Elis Regina cantar no Clube do Guri do Ari Rego?

50. Foi a um baile na Reitoria da UFRGS?

Se você respondeu SIM para pelo menos 30% das questões, está mesmo com um probleminha (mesmo que não admita) de DNA: Data de Nascimento Avançada, mas sem stress... isso também é sinal que você  viveu coisas fantásticas na sua vida...



Uma proeza gaúcha

O gaúcho que laçou o avião

Por Antonio Goulart, jornalista


Numa tarde de janeiro de 1952, o jornalista Cláudio Candiota, então diretor do jornal “A Razão”, de Santa Maria (RS) encontrava-se em sua sala quando foi procurado pelo comandante do aeroclube da cidade, Fernando Pereiron. O visitante trazia uma notícia de impacto, mas não para ser divulgada. Pelo contrário, queria escondê-la. Temia causar prejuízo à imagem do estabelecimento sob sua responsabilidade.

Quando soube do que se tratava, a reação de Candiota foi em sentido oposto: “Deixa comigo. Vou tornar este aeroclube famoso em todo o mundo. É a primeira vez que acontece uma coisa como essa” − disse de imediato.

Como também era correspondente no RS da revista O Cruzeiro, o jornalista telefonou para a direção da revista, no Rio, que mandou, já no dia seguinte, para Santa Maria, o seu melhor fotógrafo, o gaúcho Ed Keffel. Uma semana depois aparecia, com exclusividade, a reportagem em cinco páginas, amplamente ilustrada.

Um peão de estância tinha simplesmente laçado um avião em pleno voo. E como houve dano na hélice do aparelho, o piloto estava ameaçado de demissão, por ter agido de forma imprudente e provocativa, e por não ter comunicado o fato às autoridades aeronáuticas.

O autor da façanha de “laçar um avião pelo focinho” foi o peão Euclides Guterres, 24 anos, solteiro, descrito na época como vivaz, fazedor e contador de proezas. Tudo começou quando o jovem piloto Irineu Noal, 20 anos, pegou um avião “paulistinha” e decolou rumo à fazenda de Cacildo Pena Xavier, em Tronqueiras, nas proximidades da base aérea de Camobi, e passou a tirar repetidos rasantes sobre as coxilhas.

No alto de uma delas, Euclides cuidava de uma novilha com bicheira e não gostou do que viu. Achando que aquilo era alguma provocação, não teve dúvidas: armou o laço de 13 braças e quatro tentos e atirou em direção ao bico do teco-teco, acertando o alvo.

Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, arrebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. O piloto, assustado, tratou de pousar. Ainda na cabeceira da pista, longe do hangar, retirou o laço e o escondeu no meio das macegas.

“Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço”. disse o peão Euclides Guterres.

“Nada nos pode parecer mais estranho do que a notícia de que um homem tenha laçado um avião. A vontade que a gente sente é mesmo de duvidar. Mas, a verdade é que a extraordinária façanha aconteceu no pampa gaúcho, em Tronqueiras, na rica fazenda de Arroio do Só, no município de Santa Maria.”


(Do Blog Espaço Vital Independente)

www.espacovital.com.br


terça-feira, 24 de abril de 2018

Pai Nosso em Aramaico



É desta oração que derivou a versão atual do “Pai-Nosso”,
a prece ecumênica de ISSA (Jesus Cristo).

Ela está escrita em aramaico, numa pedra branca de mármore, em Jerusalém / Palestina, no Monte das Oliveiras, na forma que era invocada pelo Mestre Jesus. O aramaico era um idioma originário da Alta Mesopotâmia, (século VI a.C.), e a língua usada pelos povos da região.

Jesus sempre falava ao povo em idioma aramaico. A tradução direta do aramaico para o português, (sem a interferência da Igreja), nos mostra como esta oração é bela, profunda e verdadeira, condizente com o Mestre Jesus.

Pai-Mãe, respiração da Vida,
Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor.
Nosso EU, no mesmo passo, possa estar com o Seu,
para que caminhemos como Reis e Rainhas
com todas as outras criaturas.

Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só,
em toda a Luz, assim como em todas as formas,
em toda existência individual,
assim como em todas as comunidades.

Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,
pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não
permita que a superficialidade e a aparência das coisas
do mundo nos iluda, E nos liberte de tudo aquilo que
impede nosso crescimento.

Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento
de que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
a Canção que se renova de tempos em tempos
e que a tudo embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Que assim seja!



segunda-feira, 23 de abril de 2018

O primeiro grande construtor de Porto Alegre



João Batista Soares da Silveira e Souza nasceu na Ilha de São Jorge nos Açores em 1837 e ainda muito jovem veio para o Brasil estabelecendo-se em Porto Alegre como empreiteiro. Faleceu em 1913.


Os dados existentes nas atas da Câmara Municipal de Porto Alegre mostram que até o início de 1863 aquela área onde se ergueu o edifício Malakoff, foto acima, não passava de um terreno devoluto que servia para despejo de lixo e detritos já que na época, a atual Praça XV era ocupada pelo antigo mercado de Porto Alegre e o movimento de carreteiros e quitandeiros fazia com que os arredores virassem depósito de imundices. Foi então, neste mesmo ano, que o Comendador João Baptista Soares da Silveira e Souza que era empreiteiro, resolve erguer ali o primeiro “arranha céu” da cidade. Imediatamente iniciam-se as obras que acabariam por volta de 1868. O edifício tinha três andares e uma construção bastante sólida para a época. Inicialmente tinha uma arquitetura muito simples ao estilo barroco-colonial. Ao longo de seus quase 100 anos de existência, sofreu várias reformas sendo que a última (1905) acrescentou alguns elementos arquitetônicos neoclássicos às janelas e a balaustrada além de significativas modificações no telhado. Isto pode ser comprovado pelas fotografias anteriores e posteriores a esta data. Na parte térrea, abrigou várias casas de comércio ao longo destes anos, geralmente armazéns de secos e molhados e comércio varejista. Os andares superiores eram destinados a escritórios de várias empresas que atuavam na cidade. Nas últimas três décadas de sua existência, começou a entrar em decadência devido ao surgimento de vários outros edifícios de porte na capital. Poucos anos antes de sua demolição (final da década de 60) estava transformado em verdadeiro “pardieiro”. Em seu lugar ergue-se atualmente o edifício Dellapieve.


Nas fotografias acima podemos observar o Malakoff com sua arquitetura já bastante modificada pelas várias reformas pelas quais passou. A última, em 1905, modificou bastante suas janelas, acrescentou pequenas sacadas além de modificar bastante o telhado e a balaustrada. Observa-se a influência do neoclássico predominante naquela época.


A Casa de Correção, foto acima, também conhecida como "Cadeia da Ponta do Gasômetro" foi uma das grandes obras do empreiteiro João Batista Soares da Silveira e Souza. A construção teve inicio em 1848 e somente teve conclusão em 1864. Após ser parcialmente destruída por um incêndio em 1954, foi dinamitada em abril de 1962.

Convém lembrar que o Comendador João Baptista Soares da Silveira e Souza era, naquela época, o maior empreiteiro da cidade. Foi ele quem construiu a Ponte dos Açorianos (Ponte de Pedra) uma obra considerada bastante ousada para a época. Também é dele a antiga Casa de Correção (Cadeia da Ponta do Gasômetro) e a antiga Ponte da Azenha. Nasceu na Ilha de São Jorge (Açores) em 25 de março de 1837 e faleceu em Porto Alegre no dia 8 de outubro de 1913 aos 78 anos.


A única obra de João Batista Soares da Silveira e Souza que restou em pé foi a Ponte dos Açorianos (Ponte de Pedra). Conserva sua forma arquitetônica original. Sua construção foi ordenada em 1843 pelo Duque de Caxias quando Presidente da Província e teve as obras concluídas em 1854. Era considerada uma obra muito ousada pelos engenheiros da época.

P.S. João Batista Soares da Silveira também teria construído o prédio da Sociedade  A Bailante, foto abaixo, demolida para dar lugar ao Auditório Araújo Viana, que também foi demolido, dando lugar à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.


P.S. O Comendador João Baptista Soares da Silveira e Souza e o Coronel João Baptista Soares da Silveira e Souza Sobrinho, (tio e pai) de Olívia Baptista Wilkens esposa de Carlos Antonio Wilkens, foram responsáveis por importantes obras na capital.

A partir de 1844, o Comendador Baptista destaca-se como empreiteiro em diversas obras públicas, como o aterro da Praça do Paraíso, a construção da Ponte de Pedra do Riacho (Ponte dos Açores de Porto Alegre), do prédio da Bailante, do Teatro São Pedro, da Casa de Correção e de outras obras particulares importantes como o edifício Malakoff, que foi o primeiro prédio de quatro andares de Porto Alegre.






A ave do seu mês

O que a ave do seu mês diz a seu respeito?

→ Você sabia que todo mês é associado a uma ave? Assim como as pedras preciosas, as aves do mês do seu nascimento revelam muito a seu respeito! Selecione, então, o mês do seu nascimento para saber mais sobre o seu caráter:


1 - Janeiro: Coruja

→ As águas paradas são profundas na sua história. Você escolhe as palavras com cuidado e fica atencioso durante as conversas. Apesar da sua natureza calada, a sua eloquência na redação criativa surpreende, especialmente nas suas formas de expressão, que proporcionam aos outros uma pausa! Você se comunica com termos próprios, mas esteja certa de que suas ideias são profundas e significativas.

2 - Fevereiro: Papagaio

→ A sua é a ave dos espíritos livres. Nunca chata nem previsível, você é conhecida pela sua capacidade de enxergar além do mundano. Artes, músicas e textos estão entretecidos na sua personalidade. Seus amigos e entes queridos são constantemente inspirados pelo seu caráter singular e pelo seu irradiante entusiasmo com a vida. Você não quer os ser o centro das atenções, mas faz as pessoas virarem a cabeça para te olhar!

3 - Março: Pintarroxo

→ Os pintassilgos são os pássaros da perseverança! Você tem a capacidade sobrenatural de superar até as mais fortes tempestades. Os seus entes queridos admiram sua força e convicção, quer admitam, quer não. Às vezes, você pode se sentir cansada, mas raramente demonstra. Pelo contrário, você concentra os esforços e fica de olho no prêmio. Firme e forte.

4 - Abril: Canário

→ O riso e a alegria são abundantes nos bebês Canários. Às vezes palhaça e outras vezes demonstrando sagacidade, você simplesmente adora animar as pessoas ou entreter a todos ao seu redor. Ao ver um meme engraçado, os seus comentários o tornam duas vezes mais engraçado num instante! Canários adoram se divertir!

5 - Maio: Rouxinol

→ Assim como a doce canção do pássaro canoro do seu mês, você abrilhanta o dia de cada pessoa que cruza o seu caminho. O seu temperamento sempre positivo, alegre, é contagiante e geralmente invejado pelos que a cercam. O seu sorriso bondoso é capaz de transformar alegre um humor amargo. Felizmente, você nunca foi vista sem um sorriso no rosto.

6 - junho: Pomba

→ Um pássaro nobre Você é uma líder inata, quer saiba disso, quer não. Você é a monarca da organização e da delegação. Você se encarrega e traz a ordem ao caos, quer seja uma grande emergência, quer seja simplesmente mandar todos para a escola na hora certa. Não existe lista de afazeres que seja demais para você. Você põe os soldados em ação!

7 - Julho: Águia

→ Assim como a ave do mês Águia, você é extremamente confiante. A sua capacidade de ouvir não perde para ninguém. Pessoas totalmente estranhas quase sempre se surpreendem contando a você a história da vida delas. Da mais absoluta confiança, você mantém em segredo total as informações confidenciais. Você também é capaz de oferecer conselhos pacientes, sinceros, para elevar o moral ou incentivar os outros a seguir no rumo certo.

8 - Agosto: Martim-Pescador

→ Os filhos do pássaro do mês Martim-Pescador são mais conhecidos por serem as pessoas mais amigas. Além de gostar de conhecer gente nova, vocês têm um jeitinho de fazer com que gente nova goste de conhecer vocês. Você tem a fama de ser generosíssima e oferecer ajuda a todos os necessitados. Com a sua generosidade, que se estende para além dos amigos chegados, você tem prazer em ajudar a todos que entrem em contato com você.

9 - Setembro: Falcão

→ Você é a protagonista dá sua própria história! Apesar de encarar muitas dificuldades, você constantemente se eleva à altura do evento. As suas façanhas não passam despercebidas, mas você detesta alardear seus próprios filhos. Esta forte mescla de heroísmo e humildade faz com que você seja muito admirada, tanto em casa quanto no trabalho. As pessoas confiam em você e essa confiança não está fora do lugar.

10 - Outubro: Cisne

→ Este pássaro do mês é o resolvedor. Você sempre tem a solução. Você adora ajudar e encontra a solução de qualquer problema em tempo recorde. Você adora estar certa e geralmente está mesmo. Todos procuram você primeiro quando encaram uma situação difícil ou só precisam de um bom conselho. Você também tem ótimas receitas!

11 - Novembro: Galo

→ A ave que é o amigão supremo. Você é a melhor amiga que qualquer pessoa poderia ter. Não só um(a) parceiro(a), mas uma companhia completa. Chova ou faça sol, você estará sempre ao lado do(a) seu(sua) amigo(a) e lhe servirá de guarda-costas ao enfrentar situações que possam derrubá-lo(a). Além de conduzir os outros pelo caminho certo, você vai impedir que ele se torne maçante.

12 - Dezembro: Corvo

→ Uma ave empolgante, de trama e mistério. Você é uma buscadora e aventureira. Confiante e curiosa, você está sempre à procura da próxima pista numa série de passeios empolgantes. Você confia em si mesma e perfeitamente feliz sozinha. Você pode não ser a alegria da festa, mas com certeza vai viver algo novo.

(Do Blog APost Testes)



domingo, 22 de abril de 2018

Pequenas Histórias Brasileiras

A água se acabava

Leonardo Motta


Botão de rosa entreaberto, naquela idade que Bernardim Ribeiro cantou, “menina e moça”, a Chiquinha era nas redondezas serranas de Campo Grande a mais linda promessa de mulher bonita, a mais perigosa ameaça para os corações adolescentes do que se faziam homens. Seu pai, o velho Galdino Silva, antevia os cuidados que a filha lhe havia de dar e, às vezes, quando a sós, com a esposa, dizia:

− Biluca, minha velha, se prepare que nós temos de amargar com a Chiquinha... Esta menina, esta menina!

A mãe, envaidecida, achava era graça em tais apreensões.

Na noite de São João, houve um “arrasta-pés” na casa de Galdino. As danças iam muito animadas, quando a Chiquinha sentiu súbita indisposição: dois ou três cálices de licor de tangerina lhe tinham subido à cabeça. Desculpando-se de não poder dançar aquela “figurada”, ela tratou de ir repousar um pouco. Na alcova, cuja porta aberta dava para o corredor que levava à sala de jantar, estirou-se a fio comprido numa rede. Mas, naquele estado de torpor e quase inconsciência, não cuidou de ajeitar as saias curtas, resultando disso ficar meio desnuda. Um rapaz viu-a assim e saiu bisbilhoteiramente a avisar os companheiros. Daí a pouco, sob pretexto da procura de água na sala de jantar, havia intenso trânsito no corredor... O velho Galdino observou a coisa e acabou descobrindo a razão de tanta sede. Mas não deu nenhum escândalo. Chamou a mulher e ordenou-lhe calmamente:

− Biluca, vá dizer à Chiquinha que se deite direito, senão esta rapaziada me seca os potes...

*****

Lua de mel

O senhor Vespasiano de Carvalho, honrado comerciante desta praça, convolou núpcias com uma jovem de origem humilde e naturalmente acanhada. Logo depois do casamento, resolveu realizar a viagem de núpcias, dirigindo-se para o Sul do país, onde pretendia aproveitar a deixa para visitar alguns fregueses, que não conhecia pessoalmente, mas apenas por correspondência. Assim, o jovem casal deu grandes passeios pelas principais praças do Brasil meridional.

− Ó, meu amor! Não imaginas o desejo que tenho de voltar a estar à vontade em casa.

− Eu também, minha querida! – suspira Vespasiano, muito apaixonado.

− Por quê? Também tu estás com os sapatos apertados?

*****

Últimas vontades

O homenzinho estava nas últimas. Não foi, porém, necessário explicar-lhe a gravidade de seu caso. Ele mesmo compreendeu tudo, com grande resignação, e, por isso, momentos antes de exalar o derradeiro suspiro, chamou com muita meiguice a esposa para perto de sua cabeceira, a fim de lhe transmitir as suas últimas vontades.

− Eu quero, minha querida, que três meses depois da minha morte te cases com Palimércio Menezes.

− Mas, Carlos! – exclamou ela meio soluçante, meio surpreendida – eu julgava que tinhas ódio dessa pessoa...

− Por isso mesmo... – confirmou gravemente o enfermo.

E expirou.

(Do Almanhaque do Barão de Itararé, de 1955)

sábado, 21 de abril de 2018

Perfume de Mulher



No filme “Perfume de Mulher”, há uma cena inesquecível, Em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde:

− Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos...

− Mas em um momento se vive uma vida! − Responde ele, conduzindo-a num passo do tango “Por uma cabeza”, de Alfredo Le Pera e Carlos Gardel.

E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.

Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar. Ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe.

Tempo todo mundo tem, por igual. Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon:

“A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro.’’

Pense nisso!

Por una cabeza

Por una cabeza
De un noble potrillo
Que justo en la raya
Afloja al llegar
Y que al regresar
Parece decir:
No olvidéis, hermano
Vos sabés, no hay que jugar.

Por una cabeza
Metejón de un día
De aquella coqueta
Y risueña mujer
Que al jurar sonriendo
El amor que está mintiendo
Quema en una hoguera
Todo mi querer.

Por una cabeza
Todas las locuras
Su boca que besa
Borra la tristeza
Calma la amargura.

Por una cabeza
Si ella me olvida
Qué importa perderme
Mil veces la vida
Para qué vivir.

Cuantos desengaños
Por una cabeza
Yo juré mil veces
No vuelvo a insistir
Pero si un mirar
Me hiere al pasar
Su boca de fuego
Otra vez quiero besar.

Basta de carreras
Se acabó la timba
¡Un final reñido
Ya no vuelvo a ver!
Pero si algún pingo
Llega a ser fija el domingo
Yo me juego entero.
¡Qué le voy a hacer!


Por uma cabeça

Por uma cabeça
De um nobre potrilho,
Que justo na raia,
Afrouxa ao chegar
E que ao regressar
Parece dizer:
Não esqueças, irmão
Você sabe, não há que jogar.

Por uma cabeça
Paquera de um dia
Daquela coquete
E falsa mulher,
Que, ao jurar sorrindo,
O amor que está mentindo
Queima em uma fogueira
Todo o meu querer.

Por uma cabeça
Todas as loucuras
Sua boca que beija,
Apaga a tristeza,
Acalma a amargura.

Por uma cabeça
Se ela me esquece,
Que me importa perder,
Mil vezes a vida
Para que viver?

Quantos desenganos
Por uma cabeça
Eu joguei mil vezes
Não volto a insistir
Mas se um olhar
Me atinge ao passar
Seus lábios de fogo
Outra vez quero beijar.

Chega de corridas
Acabou o tesão.
Um final renhido
Já não volto a ver!
Mas, se algum matungo,
É barbada para o domingo
Eu me jogo inteiro
Que vou fazer!