quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Histórias de Paraquedistas XXVII

Formandos Paraquedistas do 1949/7


De cima para baixo e da esquerda para a direita:

1ª fila:
  
01) Pqdt 159 - Álvaro da Cruz Fernandes - Cb
02) Pqdt 155 - João Carlos Moraes Aranha - Cb
03) Pqdt 156 - Oswaldo de Souza Pires - Cb
04) Pqdt 172 - José do Nascimento Silva Filho
05) Pqdt 180 - Wantuil Gomes Vieira
06) Pqdt 162 - Etelvino Faria Martins
07) Pqdt 164 - Hilton Corrêa da Silva
08) Pqdt 166 - João Damianik Neto
  
2ª fila

01) Pqdt 154 - Ernesto dos Santos Tavares - Cb
02) Pqdt 157 - José Mourelli - Cb
03) Pqdt 174 - Wilson do Carmo
04) Pqdt 177 - Othoniel Nunes
05) Pqdt 179 - Ivan Gonçalves
06) Pqdt 176 - Donaldo de Simone
07) Pqdt 167 - Moacyr Krupfer
08) Pqdt 175 - Aristóteles Nunes Filho

3ª fila:

01) Pqdt 163 - Edson Teles
02) Pqdt 160 - Christóvão Junger Alves – Cb
03) Pqdt 158 - Oscar Radislovitch Filho – Cb
04) Pqdt 161 - Ary de Paula Machado
05) Pqdt 168 - Álvaro de Souza Martins Filho
06) Pqdt 169 - Antônio José da Silva
07) Pqdt 173 - Miguel Cocchiaro
08) Pqdt 165 – Joel de Oliveira
09) Pqdt 178 - Sérgio Prado de Azambuja (Azambuja Preto)*

4ª fila:

01) Pqdt 088 - Jorge Ignácio de Souza - CB (do 1949/3)
02) Pqdt 069 - Moacyr Botecchia - 3º Sgt
03) Pqdt 061 – Morlais de Araújo Guterres - 3º Sgt (gauchão)

Sentados na mesma ordem:

01) Pqdt 053 – Odir Garcia ( o tatu da Baiuca)
02) Pqdt 017 - Edegar Marques - 2º Sgt (o Edegar dos cachorros) Pioneiro
03) Pqdt 018 – Décio Teixeira Borges -2º Sgt – Pioneiro
04) Pqdt 009 – Fernando Retumba Carneiro Monteiro – 1º Ten – Pioneiro
05) Pqdt 003 – Edy Miró Mendes de Morais – Cap – Pioneiro
06) Pqdt 032 – Ayrton Maia – 2º Ten – Pioneiro
07) Pqdt 015 – Paulo Aury Bollick Ângelo – 2º Ten – Pioneiro
08) Pqdt 041 – Octávio de Barros Souza e Mello – 2º Sgt – Pioneiro
09) Pqdt 070 – José Paixão Filho – 3º Sgt

Observações:

O Pqdt 09 – Cel Retumba, faleceu em 1950 em um desastre de avião comercial, junto ao Pqdt 74 Sgt Francisco Antônio.

* O Pqdt 178 – Azambuja, morreu com um tiro na nuca “brincando” de roleta russa.

O Pqdt 173 – Cocchiaro, paulista do Pari (Brás-SP), veio de SP com a cara e a coragem para ser pqdt igual à mariposa na luz. Grande mecânico, transladou-se para os EUA com mulher e filhos pequenos. Trabalhou muitos anos nos foguetes da NASA.

Somente os seis cabos alunos formaram-se sargentos paraquedistas, até o final de 1949, em toda a tropa.

Do número 48 (Cel Nestor Penha Brasil), Turno 1949/1, ao 180, Sd Wantuil Gomes Vieira, Turno 1949/7, foram os primeiros paraquedistas militares formados no Brasil, todos do ano de 1949.

Na foto há 25 de um total de 27 formandos. 
Na foto, faltam os seguintes Pqdts:

Pqdt 170 – Fernando Ferreira de Almeida
Pqdt 171 – José Esteves
  
Identificação da foto de João Carlos Moraes Aranha, Sgt Pqdt 155.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

No tempo do realejo

Por Antônio Goulart


Realejo na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, nos anos 1920.

A geração deste milênio nunca viu um realejo e provavelmente nem saiba do que se trata, embora tenha surgido na Europa há mais de 200 anos. É o nome de uma caixa musical feita artesanalmente, dotada de foles e um cilindro. Acionando um dispositivo e girando uma manivela, podem-se ouvir vários tipos de música.

A finalidade do instrumento portátil era atrair curiosos, que, mediante a introdução de uma moeda, viam um pequeno periquito pegar com o bico um pedacinho de papel onde estava escrito algo ligado ao futuro do interessado. Já foram utilizados macacos em lugar de pássaros, daí por que o realejo era também conhecido como o mico da sorte.

Chegou ao Brasil, onde nunca foi fabricado, no início do século passado. Segundo informações, no interior de São Paulo e em alguns pontos do país, ainda hoje existem raros exemplares de realejo, que são levados como atração a eventos, feiras e festas de casamento.

Em Porto Alegre, o colunista lembra ter visto um deles, na década de 1960, no Parque Farroupilha. Era conduzido sobre um carrinho com rodas. Provavelmente, um dos últimos a se apresentar por aqui.

Mário Quintana (1906-1994), no livro Canções, de 1946, tem um poema que abre com esta estrofe: 

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
De carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma...
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!

João do Rio (1881-1921), numa crônica sobre músicos ambulantes, cita o caso de um cidadão que compra um realejo com bonecos mecânicos e, mediante certos truques, ganha muito dinheiro.

O escritor, estendendo-se sobre o assunto, observa que há realejos que sustentam numerosas famílias, realejos escravizadores, realejos solteiros e malandros e “realejos virgens prontos para a fuga”.

Pode-se dizer que a tradição folclórica do realejo está em extinção. Quem possui um, guarda-o a sete-chaves e cuida muito bem do instrumento.
  
(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora, janeiro de 2018)


Exemplar bem conservado do instrumento portátil



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A breve história de um trenzinho

Antônio Goulart


A foto acima mostra um dos caminhos percorridos pelo trem até chegar a Vila Conceição (descida para a Pedra Redonda) nos anos de 1920. Um fosso de granito de 800 metros de comprimento por 10 metros de altura foi escavado desde o início da vila até a beira da praia, criando um grande paredão por onde passava a Maria Fumaça.

Sua duração não foi longa, nem chegou a 42 anos, de fins de 1899 a 1941. Teve até quatro designações, mas a que prevaleceu foi a mais popular: Trenzinho da Tristeza. Sua história completa foi contada por um estudante de Arquitetura, André Huyer, em 2010, numa aprofundada pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, transformada, em 2015, no livro A Ferrovia do Riacho – Do Sanitarismo à Modernização de Porto Alegre (Editora Evangraf).

Apesar de sua curta existência, a ferrovia deixou marcas explícitas na estrutura física da cidade, na sua própria história e na memória de muita gente. Decisiva para o crescimento da Zona Sul, foi cantada em prosa e verso por poetas e cronistas do início do século passado. Chama a atenção o fato de ter sido construída pelo governo municipal. O projeto do trem foi concebido especialmente para o transporte de cubos contendo o esgoto cloacal das residências até a Ponta do Dionísio, mas já no ano seguinte, em 1900, passou a ser utilizado por passageiros, o que durou até 1936. Teve até quatro locomotivas, importadas da Alemanha, movidas inicialmente a vapor produzido por lenha, depois por carvão mineral.

No início, seu traçado ia até o bairro Tristeza. Em 1912, chegou até Pedra Redonda. Em 1926, fez conexão com a Vila Nova, quando se inaugurou também a estação no centro da cidade, próximo ao Mercado Público. Antes, a estação ficava junto ao riacho, perto da ponte de pedra. Em 1927, a ferrovia foi arrendada durante três anos. Em 1933, foi repassada ao governo do Estado, sendo administrada pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS). Em 1936, devido à concorrência dos ônibus, encerrou o transporte de passageiros, mas manteve a linha Vila Nova, prolongada até o Matadouro Modelo, onde hoje se encontra o quartel do Exército, na Serraria. Em 1941, encerrou definitivamente sua circulação, devido à grande enchente que alagou a cidade. A Ferrovia do Riacho teve um indiscutível papel social, sem nunca ter dado lucro financeiro.

O Almanaque* encontrou um antigo usuário do Trenzinho da Tristeza, o engenheiro aposentado Mário Landgraf (91 anos). Ele lembra com saudade do tempo em que o usou regularmente para ir da Zona Sul ao Colégio Farroupilha, na Rua Alberto Bins. O destino final da última locomotiva não é nada elogiável. Na década de 1960, esteve em exposição no Parque Farroupilha, mas acabou tendo seus equipamentos roubados. Passou breve tempo no Parque Saint′Hilaire, quando a VFRGS a cedeu ao Museu do Carvão, em Arroio dos Ratos, onde também entrou em processo de degradação. Depois, foi passada para a prefeitura de Carlos Barbosa, onde não teve melhor sorte. Desde 2008, está totalmente abandonada em um desvio da ferrovia do vinho.

(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora, janeiro de 2018)

*Almanaque Gaúcho de ZH.

Observação:

Após um processo litigioso com José Joaquim Assunção dono da área onde se situava a Ponta do Dionísio, a reconstrução e conclusão da estrada foi efetivada em 1889 e a Intendência Municipal optou pela Ponta do Melo como local dos despejos a partir de 13 de novembro daquele ano.

Sérgio da Costa Franco, em seu Guia Histórico de Porto Alegre, explica que:

“a postulação do proprietário José Joaquim Assunção, dono da área da Vila Assunção, inconformado com a implantação da ferrovia em suas terras, sem indenização. Como decorrência (...) a reconstrução da Estrada de Ferro do Riacho em 1899 fez-se até a Ponta do Melo, onde se construiu um trapiche para o despejo das fezes no rio, sendo retirado o segmento final que ia até a Ponta do Dionísio. Em compensação, implantaram-se 800 metros de trilhos até o Bairro da Tristeza. Esse último trecho, posto em tráfego desde 14/01/1900, viria a ter um importante significado social, marcando o início da expansão da Tristeza como local de veraneio e foco de lazeres da população burguesa de Porto Alegre.

Imagens do Trenzinho da Tristeza

Trajeto dos primeiros trens com dejetos da cidade
(Traçado de linha vermelha)

O trapiche da Ponta do Melo*, 1900

Estação do Riacho por Xico Carlos

Estação da Tristeza por Xico Carlos

Estação Ildefonso Pinto, atrás do antigo Mercado Livre.
(Ambos já demolidos)

Extensão do trem para o bairro Vila Nova, em 1926

Esta fotografia mostra uma parte do desvio da linha férrea a Tristeza para o Bairro da Vila Nova. Muitas mercadorias, principalmente a produção de frutas da Vila, foram transportadas para Porto Alegre pela via férrea. 

*Ponta do Melo estava onde hoje está situado o terreno do antigo Estaleiro Só. Ponta do Dionísio, no início da praia da Assunção.

Ponta do Melo é o nome consagrado popularmente àquela área da cidade onde localizava-se o antigo Estaleiro Só, quase em frente ao prédio da Fundação Iberê Camargo. Advém do fato de, em 1888, o Sr. Francisco Luiz de Melo requerer à Câmara Municipal a posse daquela área marinha, fronteira à sua chácara. Após isso, estabeleceu-se uma linha férrea, lindeira à margem do Guaíba, que por muitos anos transportou passageiros e cargas entre a região central e a zona sul da cidade.
  
Tal linha, inicialmente, servia principalmente ao serviço dos cubeiros", ou cabungueiros. Ocorre que Porto Alegre tinha serviços de esgoto bastante limitados ou incipientes na virada do século XIX/XX, de modo que era comum o uso dos cubos. Tais cubos (ou cabungos) eram uma espécie de penico, colocado nos banheiros sob a tábua de assento para servir de receptáculo às necessidades fisiológicas da população. Fornecidos pela Intendência Municipal, tais cubos, depois de cheios, eram levados até o trem, e de lá seguiam pela via férrea até a Ponta do Melo, onde o material era descartado diretamente no rio. Os cubos eram lavados e desinfetados, e faziam o caminho de volta às casas.

Para o despejo semanal dos resíduos dos cubos, foi então construído um trapiche na Ponta do Melo, o qual é muito provavelmente o apresentado na foto. Vale destacar que, antes mesmo da concessão da área ao Sr. Melo, já haviam relatos de uso daquela ponta para o descarte de excrementos, de onde advém a outra alcunha popular do local: Ponta do Asseio. Tristemente, é lá até hoje um dos principais pontos de descarte do esgoto cloacal de Porto Alegre.

Entre 1950 e 1999, funcionou naquela área o Estaleiro Só, que foi uma das maiores empresas do RS. Após a falência, a área está fechada, e ocorrem no momento diversos estudos para um aproveitamento do espaço compatível com a preservação do meio ambiente e com a história da cidade.

Fontes: Sérgio da Costa Franco, Guia Histórico de Porto Alegre

Ponta do Dionísio, 1900, em foto de Virgílio Calegari

Na chamada “Ponta do Dionísio”, onde hoje funciona o Clube Veleiros do Sul, havia um trapiche do qual eram jogados no lago Guaíba os dejetos fecais da população da cidade. Após 1899, os dejetos passaram a ser jogados na “Ponta do Melo”, onde o extinto Estaleiro Só estava instalado.

Trem da Tristeza - o que restou

Uma deusa entre nós

Fotografia registra uma das visitas de Carmem Miranda
 a Porto Alegre


A cópia da foto acima foi herdada por José Jardim, do seu pai, o boêmio porto-alegrense Jardim Filho. No verso da fotografia está cuidadosamente anotada a identificação:

1) Paulo Coelho – Grande Pianista;
2) Clóvis Ribeiro – jornalista do Diário de Notícias;
3) A Maior – Carmem Miranda – cantora;
4) Vavéco – José dos Santos – violão;
5) Queichinho (sic) – Mariolopes – violino;
6) Zé Bernardes – José da Silva Bernardes – violão;
7) Ernani Ruschel –  jornalista e locutor.

Fotografia tirada num dos ensaios de Carmem Miranda em Porto Alegre, na Rádio Difusora, em 1938. Talvez exista alguma imprecisão, mas o registro é, naturalmente, uma preciosidade. Carmem esteve algumas vezes na Capital.

O músico, e pesquisador da história da música, Arthur de Farias registra que em suas visitas ela fazia questão da presença de Paulo Coelho ao teclado do piano. Carmem Miranda nasceu em Portugal em fevereiro de 1909. Um ano depois, no mesmo mês, nascia aqui o pianista.  Juntos, era o encontro de dois gênios. “O Gordo” e a “Pequena Notável”, como testemunha, bem na direita da foto, de perfil, Ernani Ruschel, o locutor que, pela primeira vez, fez a narração radiofônica de uma partida de futebol no Rio Grande do Sul.

Em 1939, Carmem Miranda foi pela primeira vez aos EUA. Seu sucesso cresceu cada vez mais, até sua morte em 1955 em Beverly Hills. Ela tinha 46 anos.

(Do Almanaque Gaúcho – ZH)


domingo, 28 de janeiro de 2018

O bandido da luz vermelha

Uma crônica de 1997


Condenado em pleno tropicalismo, em agosto de 1967, a 351 anos, 9 meses e 3 dias (por que esses 3 dias?) a prisão, Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, aos 54 anos de idade, vai deixar a prisão hoje, sábado, depois de cumprir exatos 30 anos no Carandiru.

Mas este Acácio, que rendeu um belíssimo filme ao Rogério Sganzerla no final dos 60, não é o verdadeiro Bandido da Luz Vermelha. Este é cópia de um outro, o verdadeiro, um americano. Na época se dizia que o que era bom para os Estados Unidos era bom também para o Brasil. Tempos da ditadura militar americanizada.

Eu explico.

No final dos anos cinquenta, surgiu, nos Estados Unidos, um sujeito chamado Caryl Chesmann, jovem, bonito, charmoso, que aprontava barbaridades, sempre usando uma lanterna vermelha em seus assaltos, estupros e assassinatos. Logo a imprensa americana, escandalizada, lhe deu a alcunha de O Bandido da Luz Vermelha.

Depois de uma grande caça, foi preso, julgado e condenado à cadeira elétrica. Na prisão, dispensou advogado e estudou Direito passando ele mesmo a se defender nos tribunais. Os americanos e o mundo acharam aquilo o máximo. Ele sempre conseguia adiar a pena de morte. E cada vez mais o mundo inteiro seguia seus julgamentos como uma espécie de OJ Simpson branco.

E mais fez o Caryl. Começou a escrever livros, contando a sua infância podre, seus crimes, suas amantes. O Corredor da Morte foi o que fez mais sucesso. Na época vendia mais que o Paulo Coelho hoje. Aqueles livros cariam como uma luva para os produtores de Hollywood. Seus filmes corriam o mundo. Tornara-se um ídolo americano e de todos nós adolescentes da época, que o confundíamos com o James Dean. A juventude transviada estava no auge e precisava de seus heróis.

Em 1961, depois de adiar estupidamente várias vezes sua morte, finalmente caminhou pelo corredor da morte em San Quentin e, apesar de milhões de cartas do mundo todo, foi executado. Dizem que até João XXIII pediu clemência.

Morto aquele, surgiu o nosso Acácio. Mesmo jeitão, boa pinta (loiro), 24 anos. Diz a lenda que as mulheres por ele estupradas pediam a sua volta.

O Brasil era uma efervescência cultural na época. O tropicalismo no auge, Zé Celso no seu auge, Glauber ditando regras, Flávio Cavalcanti quebrando discos. Com tanto louco na praça, o Acácio foi bem-vindo. Todo mundo torcia para que o Bandido da Luz Vermelha não fosse capturado. Mas foi.

Em 1993, fiz uma visita ao Carandiru para obter material para a minha minissérie James Lins, o Playboy que não deu certo, junto com o jornalista Renato Lombardi. Ele me aponta um sujeito desdentado, dizendo palavras da Bíblia.

- Olha lá o Bandido da Luz Vermelha!

Levei um choque cultural. Ainda tinha na minha cabeça o Luz (como é chamado na prisão) dos anos 60. Dizem que pirou e não queria sair da prisão, pois não saberia mais viver aqui fora.

Pois é, no momento que você está lendo esta crônica, o homem já está na rua. Ponha-se no lugar dele. Fique 30 anos trancado numa penitenciária (sem nunca sair) depois saia e encare São Paulo. E o Brasil.

Imagine o choque, o susto. Nenhum Gordini na rua, o Comodoro fechado, aqueles prédios todos lindos da Paulista, milhares de crianças pedindo esmola. Será que ele vai entender o escândalo dos frangos da dona Sylvia? E o Cláudio, Luizinho, Baltazar, Rafael e Simão? Não jogam mais? O Jânio já morreu? Lula? Pelé ministro? Não tem mais gonorreia? Beatles? E o Austregésilo, ainda vive? Hambúrguer? Fecharam a Salada Paulista? Minhocão?

Vai ser difícil para o nosso Bandido da Luz Vermelha se acostumar e entrar na Internet com seus 54 anos.

Sei não, acho que ele vai voltar a usar a sua velha lanterna vermelha de novo, cometer alguma coisa braba para voltar para a sua casa lá no Carandiru.
Para ele, com certeza, tem mais vida lá dentro do que aqui fora.

Te cuida, Luz.

Texto de Mário Prata, de 1997

(O bandido da luz vermelha foi assassinado em 5 de janeiro de 1998.)

A morte do Bandido da Luz Vermelha


A morte de “Luz Vermelha” foi noticiada pelo jornal Notícias Populares em 7 de janeiro de 1998, menos de cinco meses após sua liberdade. Ele foi morto com um tiro na cabeça, disparado pelo pescador Nelson Pizengher, de 46 anos, que confessou o crime. Segundo Pizengher, o disparo foi efetuado para salvar a vida do irmão Lírio Pizengher, que fora agarrado pelo “Luz Vermelha” e ameaçado com uma faca após um desentendimento por causa de supostos assédios cometidos por Acácio contra a mãe e a esposa do pescador.

João Acácio morava de favor havia dois meses na casa de Nelson. O “NP” apurou ainda que o diretor do Hospital Regional de Joinville, na época, teria assinado um atestado de insanidade do ex-presidiário, dais antes dele ser assassinado pelo pescador. Segundo apuração do “NP”, “Luz Vermelha” seria internado em um hospital de Florianópolis em poucos dias.

Dentro e fora das grades, aos 55 anos de vida João Acácio Pereira da Costa se resumiram em 55 anos de tragédia.

(Folha de S. Paulo)

*Em novembro de 2004, Nelson Pizengher foi absolvido pela justiça de Joinville, que, apesar de crime qualificado, sustentou que o ato do pescador foi de legítima defesa.


Os sete pecados do hífen na virada do ano



Dad Squarisi

Deus criou o mundo em sete dias. Daí o sete ser o número da completude. Que nome dar ao suceder dos dias e das noites? Eureca! Os romanos encontraram a resposta. Consagraram cada amanhecer a uma divindade da mitologia.

O primeiro ficou com o deus Sol. O segundo, com a deusa Lua. O terceiro, com Marte, o deus da guerra. O quarto, com Mercúrio, o deus da eloquência. O quinto, com Júpiter, o deus do raio e do trovão. O sexto, com Vênus, a deusa do amor. O sétimo, com Saturno, o deus do tempo.

Com o cristianismo, as coisas mudaram. Lá pelo quinto século, a Igreja decidiu: “Vamos depurar o latim. Xô, expressões do mundo pagão!”.

Pronto. A semana foi purificada. Os dias ganharam nomes referentes ao universo cristão ou nomes neutros. Algumas línguas desconheceram a mudança. Outras só adotaram o sábado e o domingo. O português, que nasceu no século 13, aceitou-a integralmente.

O sábado veio do hebraico Shabbat, dia de descanso. (“Deus descansou no sétimo dia”, diz a Bíblia.) Dia do Sol virou domingo, de dominica, dia do Senhor (Cristo ressuscitou no domingo). Os outros dias são dedicados ao trabalho. Feira, em latim, significa mercado. Segunda-feira é o segundo dia da semana.

Com a novidade, nasceram os nomes compostos. Com eles, o hífen - segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. Com o hífen, o castigo de Deus. O emprego do tracinho é tão confuso que nem o Senhor consegue memorizar as regras. O jeito é comer pelas beiradas. Aprender aos poucos. E, em caso de aperto, pedir socorro ao dicionário. Comecemos pelo vocabulário que marca a virada do calendário.

Ano-novo

Atenção, cristãos novos. Ano-novo é substantivo comum. Vira-lata escreve-se com as iniciais minúsculas. Tem plural: Feliz ano-novo. Passei dois anos-novos na praia. A festa do réveillon recebe o ano-novo com música, champanhe e boa comida.

Boas-entradas

Fim de ano tem uma marca. É o clima de festa e boas intenções. A língua faz o que as pessoas querem que faça. Criou boas-entradas. Trata-se dos cumprimentos e votos de felicidades que se desejam no princípio ou no fim do ano. A dupla funciona também como interjeição: “Boas-entradas!”, saudamos conhecidos e desconhecidos.

Boas-vindas

Parentes e amigos se mexem. Saem de casa e visitam os entes queridos. Os homenageados não deixam por menos. Recebem-nos com expressão de acolhimento afetuoso e hospitaleiro: Boas-vindas!

Boa-nova

Notícia feliz, novidade fortunosa? É boa-nova. Se uma borboleta branca entrar em casa, oba! É boa-nova. O plural? Boas-novas.

Bom-dia

Bom-dia, flor do dia. Como vai a tia? Toma banho na bacia? Com água fria? Na Bahia?” Ops! Tanta rima tem razão de ser. Lembra que a saudação não anda sozinha. Vem acompanhada e ligadinha.

Boa-tarde e boa-noite jogam no mesmo time. “Boa-tarde”, dizemos ao entrar no elevador depois do meio-dia. “Boa-tarde”, responde o outro. Se o escurinho pareceu, o boa-noite pede passagem.

Meia-noite

Meia-noite marca o fim de um dia e o começo de outro. Ao bater as 12 badaladas, o relógio anuncia o ano-novo. Viva! Meio-dia também forma casal. Vem preso por senhora aliança: “Eu almoço ao meio-dia. E você?”.

Tim-tim

Os animados recebem 2018 com champanhe. Que tal um brinde? Tim-tim.

“A Batalha de Porto Alegre”



Getúlio Vargas no Palácio do Catete

A Revolução de 1930 foi uma armação mineira que contou com a participação da Paraíba e o comando dos gaúchos. Os paulistas, até hoje, guardam algum ressentimento por termos acabado com a hegemonia deles na política nacional. Passados 80 anos* da Revolução de 1930, a mídia nacional ignorou o fato por razões que a razão desconhece. Felizmente, três escritores gaúchos resolveram revirar nosso passado mais glorioso: o imortal Moacyr Scliar, com o romance “Eu Vos Abraço, Milhões” (Companhia das Letras), eu mesmo, mortalzinho da silva, com “1930: Águas da Revolução” (Record) e Sinval Medina, com “A Batalha de Porto Alegre” (Martins Livreiro). Maravilha.

Sinval Medina, romancista premiado, produziu o que chamou de “reportagem histórica”. Um belo livro sobre o 3 de outubro de 1930 em Porto Alegre. O texto é límpido, elegante e fluente. A história aparece humanizada e muito real. O autor pesquisou a bibliografia e a imprensa da época. Bebeu também no que lhe foi contado em outros tempos por seu pai, Sinval Coutinho Medina, um ourives que viveu o “inesquecível 3 de outubro”. Assim se faz a história, remexendo nos arquivos e no baú das nossas melhores memórias. Sinval Medina vive há décadas em São Paulo. Sabe que os paulistas comemoram o 9 de julho, data da Contrarrevolução de 1932, com entusiasmo. Nesse sentido, se parecem com os gaúchos, embora em grau menor, que também festejam uma revolução perdida. Não importa. A questão ainda é: por que não comemoramos o 3 de outubro?

Há excelentes passagens literárias em “A Batalha de Porto Alegre”: “Para chegar à ponte da Azenha e prosseguir no rumo de casa, o jovem Sinval Medina precisava atravessar a Rua Venâncio Aires, pela qual tropas da Brigada Militar avançavam contra a Companhia de Estabelecimentos. Os tiros disparados pelos defensores do quartel varriam a rua. Agachado junto às portas cerradas do Cine Avenida, pensou em voltar à administração da Carta Geral, onde certamente ficaria em segurança. Mas e os pais, em casa, esperando por ele? Precisava seguir em frente. Respirou fundo, posicionou-se com o joelho esquerdo flexionado e a perna direita para trás, como numa largada de cem metros rasos, respirou fundo e partiu. A corrida o levou até a esquina da Rua Lobo da Costa, onde uma vez mais foi obrigado a parar devido ao tiroteio". Que belo encontro entre memória e história!

Outra passagem comovente é esta: “Por volta das cinco da tarde, o aprendiz de ourives Sinval Medina ainda circulava entre a multidão que se comprimia na Praça da Alfândega. Sentimentos contraditórios o dominavam. Sentia que algo muito sério estava para acontecer. Queria ver como aquilo tudo terminaria. De outro lado, pensava no sofrimento que causaria à mãe - era filho único - se não estivesse com ela no momento do estouro da Revolução”. A narrativa do retorno do rapaz, a pé, para casa, situada entre a Azenha e o Menino Deus, dá o tempero do livro. Aquele 3 de outubro mudou Porto Alegre. E o Brasil. Nunca se apagou do imaginário dos Medina. O pai legou ao filho uma herança de valor incomensurável: suas lembranças.

Juremir Machado da Silva:
juremir@correiodopovo.com.br




sábado, 27 de janeiro de 2018

Pequenas histórias pitorescas militares



A troca vantajosa

Numa reunião entre o presidente Richard Nixon e a primeira ministra de Israel, Nixon disse a Golda Meir que lhe dava três generais, os que ela escolhesse, em troca pelo General Moshe Dayan. “Okay”, Golda concordou: “Dê-me o General Electric, o General Motors e o General Dynamic.”

Quem tudo quer tudo perde...

O General Moshe Dayan, quando Ministro da Defesa de Israel, afirmou mais tarde num prefácio ao Livro de Jean Laterguy intitulado As Muralhas de Israel: “Partimos para a guerra no intuito de abrir o estreito de Tiran, mas quando a Jordânia se juntou aos Egípcios conquistamos a Cisjordânia até ao Jordão e libertamos Jerusalém. Depois, foi a vez de a Síria querer entrar no conflito, e conquistamos o planalto de Golan. Ninguém, nem eu nem qualquer outra pessoa, previra que as coisas se iriam passar assim. Em seis dias, o nosso exército, combatendo em todos os horizontes de Israel, traçou as fronteiras que mantemos atualmente.”

A arrogância de um centurião

Por Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery*

Eu estava com a aviação em missão na Amazônia, comandava a Brigada de Aviação do Exército. Fui lá várias vezes. Fiz o primeiro voo de helicóptero para atravessar a Amazônia, em 1992. Foi uma aventura, mas fomos, deixamos cinco helicópteros lá. Aí eu recebo uma ordem de Brasília.

Eu, General do Exército Brasileiro, comandando uma das mais novas brigadas do Exército, a Brigada de Aviação, 72 helicópteros, recebo ordem para participar de um encontro no Centro de Instrução de Guerra na Selva - CIGS, em Manaus, com um general americano, não lembro o nome dele.

Esse general comandava a divisão de emprego de tropas especiais, as forças especiais americanas, comandos, rangers, helicópteros; a tropa que é utilizada no primeiro dia de combate fora dos EUA.

Foi assim na Guerra do Golfo, foi assim em Granada, foi assim no Panamá.

Ao se apresentarem, o adido militar americano no Brasil me falou:

- General Nery, o senhor tem alguma coisa a falar com o nosso general aqui?

Respondi:

- Não, eu apenas fui avisado para vir porque ele desejava falar comigo. O que o senhor deseja me falar?

Ele disse:

- Eu quero que você treine 2.000 pilotos meus na Amazônia.

Treinar os 2.000 pilotos dele, veteraníssimos da Guerra do Golfo, para aprenderem a voar na selva amazônica...

Retruquei:

- Olhe, eu acho que o senhor está enganado. O senhor deveria estar treinando em outro lugar. Além do mais, eu acho um desrespeito o senhor se dirigir dessa forma à pessoa de um general do Exército brasileiro. Por favor, me dê licença.

Ele interrompeu:

- Não, um momento. Na verdade eu queria que vocês ajudassem a conseguir uma autorização para que eu treinasse 26.000 homens, da minha divisão, na Cabeça do Cachorro (AM). Eu pretendo ficar seis meses ali.

Uma proposta feita para mim, fardado, um general brasileiro, dentro do meu país, dentro do Brasil. Isso ocorreu entre 1992 e 1993.

Os outros generais presentes, Gen Ex Santa Cruz, Comandante Militar da Amazônia e Gen Bda Thaumaturgo, Chefe do Estado Maior do CML, sabem do ocorrido e tiveram a mesma reação. O que nos chamou a atenção foi a ousadia daquele homem, a sua prepotência de vir aqui, ao Brasil, com esta intenção.

*Paraquedista 7140 do Turno 1961/1 - MS 933 - Salto Livre 10 - GIGS 251 e Comando 62.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Sou a palavra e te convido

Para incentivar os alunos a escreverem

(Do livro “A prática da redação em grupo”, de Hildebrando A. de André)


Jovem, escreve tudo aqui:
a tua palavra,
a tua frase
o teu parágrafo,
a tua redação.

Escreve o teu nome,
teu sentimento,
tua emoção,
teu secreto desejo,
tua ambição,
tua rebeldia,
tua história,
teu poema,
teu discurso,
porque escrevendo haverá sempre um pedaço de ti no que escreves.

Escreve teu recado,
teu convite,
tua sugestão,
teu comentário,
tua crítica,
porque escrevendo haverá sempre um pedaço dos outros no que escreves.

Escreve para brincar,
para desafiar,
para provocar,
para destruir,
para refletir,
para construir,
para conhecer-te.

Escreve o que quiseres,
em qualquer momento, em qualquer lugar,
a favor ou contra o mundo,
com estilo ou sem estilo,
porque escrevendo tu te encontrarás
e serás uma PESSOA
e serás um HOMEM.



Escolha a rosa mais bonita

 e descubra os mais belos segredos da sua personalidade...


Entre as flores mais famosas do mundo, as rosas são belas e possuem muitas propriedades medicinais. Mas você sabia que elas também são capazes de mostrar os segredos mais profundos da sua personalidade e revelam muito sobre você?

Olhe a imagem abaixo e escolha a que você acha que melhor o representa − cada cor tem um significado específico e revelará algo especial sobre você.

Resposta 1:

→ A rosa clássica é uma escolha ousada e sempre mostra que você é extrovertido, corajoso e uma pessoa muito sincera e honesta. Por causa da sua honestidade você sabe como detectar mentiras e tem uma intuição muito boa. O futuro é seu e sabemos que você tem muitos planos, você sabe o que quer e não tem medo de buscar isso. Com tantos objetivos você pode ficar estressado, e por isso precisa aprender a relaxar às vezes. Dê uma caminhada e não se esqueça de parar e sentir o cheiro das flores!

Resposta 2:

→ Todos sabem que podem procurá-lo quando precisarem de apoio, pois você ama cuidar dos outros e proteger seus amigos e as pessoas que ama. Sua primeira preocupação é sempre o bem-estar das pessoas ao seu redor, e você faz tudo que pode para manter a tranquilidade e equilíbrio na sua vida. Porém, tome cuidado, pois, às vezes, você constrói um muro entre você e o resto do mundo, o que pode acabar isolando-o. Você precisa correr alguns riscos e aceitar mudanças quando elas vierem.

Resposta 3:

→ Você é comandado pelas suas emoções e pode ser muito sensível. Às vezes, você sente que não se encaixa, mas isso ocorre por causa da sua sensibilidade. Você também tende a subestimar suas conquistas e relacionamentos. Você não percebe o seu próprio valor e ainda tem muitos talentos escondidos que precisam ser descobertos. Somente tente acreditar mais em si mesmo e cerque-se de pessoas que o amam e o apoiam.

Resposta 4:

→ Feliz, criativo e natural! Estas são somente algumas das suas qualidades incríveis. Você é sempre otimista e gosta de olhar para o mundo de uma maneira positiva. Curioso e aventureiro, você ama descobrir e vivenciar novas coisas. Embora você goste de sempre começar novos projetos, nem sempre prossegue com eles tende a abandoná-los quando fica entediado.

Resposta 5:

→ Você sempre está olhando para o futuro. Sempre alerta e desejando segurança, luta constantemente para tornar o seu mundo um lugar melhor. Lembre-se de não ser sempre tão focado no futuro a ponto de esquecer como aproveitar o presente. Tente viver um dia de cada vez.

Resposta 6:

→ Não há dúvidas de que seus sonhos se tornarão realidade. Você é disciplinado, dedicado e sempre coloca 100% de energia no que faz. Você trabalha duro, mas ama o que faz, o que significa que irá avançar rápido. Você está sempre procurando por novas maneiras de se desenvolver e o trabalho é um dos aspectos mais importantes de sua vida. Porém, tente manter um bom equilíbrio para que você tenha pessoas com as quais poderá compartilhar os seus sucessos.

(Do Blog APost)


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Curiosidades brasileiras


Sinônimo de lixeiro é nome de um francês


Durante o Império, os serviços de coleta de lixo do Rio de Janeiro estavam a cargo do francês Pedro Aleixo Gary, o primeiro a assinar um contrato de limpeza pública na então capital do Brasil. Uma de suas principais tarefas consistia em coordenar a limpeza das ruas após a passagem de cavalos, principal meio de transporte na época. Os cariocas acostumaram-se a chamar a “turma do Gary” para executar serviços. Com o tempo, o nome do francês passou a ser associado à limpeza das ruas. Em homenagem a ele, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro mantém uma fábrica de utensílios de limpeza chamada Aleixo Gary.

Em São Paulo, bem mais tarde (já na década de 1970), boa parte da mão-de-obra braçal masculina foi requisitada para a construção do metrô paulistano. E as mulheres entraram no mercado de trabalho da coleta de lixo. As funcionárias do serviço de limpeza seriam popularmente chamadas de margaridas, batizadas pela empresa de coleta de lixo da cidade. O nome traz em si a palavra “gari” e faz alusão à cor branca, símbolo de limpeza, e à flor, que representa a mulher.

A tradição de chamar os funcionários da limpeza pública pelo nome de seus primeiros representantes existe também em outros países. Em Portugal, por exemplo, eles ficaram conhecidos como almeidas, lembrança do ex-diretor geral de limpeza urbana da capital portuguesa.

Brigadeiro entra para história como herói e como nome de doce


O brigadeiro Eduardo Gomes nasceu em Petrópolis, Rio de Janeiro, 1896. Em 1922, com colegas, desafiou a República Velha (1889-1930) sublevando o Forte de Copacabana, no heroico episódio Os Dezoito do Forte. Depois da Revolução de 1930, liderou a criação do Correio Aéreo Nacional. Foi duas vezes ministro da Aeronáutica. É o patrono da nossa Força Aérea. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), enquanto ele coordenava a defesa da costa, descobria-se a solução para o racionamento de açúcar, leite, ovos: a mistura de leite condensado, manteiga e chocolate dava um doce delicioso.

Em 1945, Gomes candidatou-se à Presidência. Suas eleitoras distribuíam a guloseima, que ganhou o nome do candidato: brigadeiro*.

Ele morreu em 13 de junho de 1981 sem ganhar essa nem a outra eleição, em 1950. Já o brasileiríssimo doce com seu nome caiu no gosto de todo o País.

(Do livro “Brasil Almanaque de Cultura Popular”, 
de Elifas Andreato e João Rocha Rodrigues)

*No Rio Grande do Sul, pela cor do chocolate, ainda é chamado de “Negrinho”.


O brigadeiro é um dos doces mais famosos do Brasil, sendo conhecido praticamente só aqui. Era conhecido antigamente como negrinho, mas ganhou esse nome em homenagem ao Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato a presidente da república na década de 1940. Para promover a candidatura, eram feitos esse doce, que eram entregues ao povo junto com um santinho do Brigadeiro.

Ingredientes:

1 lata de leite condensado;

1 colher de sopa de margarina sem sal;

7 colheres rasas das de sopa de Nescau ou 4 colheres de sopa de chocolate em pó;

Chocolate granulado para fazer bolinhas.

Modo de preparo:

Coloque em uma panela funda o leite condensado, a margarina e o chocolate em pó;

Cozinhe em fogo médio e mexa sem parar com uma colher de pau;

Cozinhe até que o brigadeiro comece a desgrudar da panela;

Deixe esfriar bem, então unte as mãos com margarina, faça as bolinhas e envolva-as em chocolate granulado;

As forminhas você encontra em qualquer supermercado.