segunda-feira, 31 de julho de 2023

As barbaridades que cometemos ao falar

  

Por Carlos Nobre 

− Acho que vou ter que me operar da úrsula. (Por úlcera) 

− Meu tio é troglodita. (Por poliglota) 

− Pende em sua cabeça a espada de Demóstenes. (Por Dâmocles) 

− Deixa eu ler este epitáfio. (Por epígrafe) 

− Outra noite conheci um famoso long-play. (Por playboy). 

− Essa mulher tem uma língua vespertina. (Por viperina) 

− Apesar da pouca idade que tem, ele parece um adúltero. (por adulto) 

− Na semana passada fui num supositório. (Por simpósio) 

− Meu marido é um grande grumete. (Por gourmet) 

− Suicidou-se fazendo Mata-Hari. (por haraquiri) 

− Hoje é o dia de Singapura. (Por Yon Kippur) 

− Brindemos com uma taça de shampignon. (Por champagne)* 

− Operei as amigas. (Por amídalas) 

− Peter Seller. (Por best-seller) 

− Amanhã começa uma conferência de países afrodisíacos. (Por afro-asiáticos) 

− Que sujeito mais prolífico. (Por prolixo) 

− Analisaram a minha matéria fiscal. (Por fecal) 

− Se escreve Shakespeare, mas se pronuncia Schopenhauer) 

− Minha mãe faz malhonese como ninguém. (Por maionese) 

− Acho que tô com stéreo. (Por aterosclerose) 

− Ascensorista, por favor. Fico no ônzimo andar. (Por décimo primeiro andar) 

 *Essa não tinha no texto. 

P.S. Uma que poderia estar no texto:

Hoje estou de pau operado... (Por depauperado) 

Depauperado: que experimentou perda acentuada de energia física; abatido, esgotado.

 

domingo, 30 de julho de 2023

Do tempo de Estado Novo

 

Durante o Estado Novo (período de 1937-1945 do governo de Getúlio Vargas), pressionado pelas normas que proibiam o uso das línguas alemã, italiana e japonesa no país, o diretor de um clube alemão de uma cidade do Sul do Brasil convocou os associados para dar uma informação importante. Preocupava-se com a possibilidade de a entidade ser fechada em represália pelo uso do alemão. 

Falou o diretor: 

− Então, a ordem é a seguinte. Aqui ninguém vai falar alemão. Ninguém! Nenhuma palavra! Quem desobedecer, raus!  

* raus = pra fora.. em alemão...

A Cola

 

Bilhete a uma colega que pedira “cola” para uma prova difícil: 

Querida: 

Eis, na sacola, a “cola” e a cola. Coloca quatro gotas de cola para colar a “cola” na classe da escola. A cola cola a “cola” e não descola. Cuidado com teu colar quando colar a “cola”, pode a cola colar o colar na “cola”. Caso o colar colar na “cola”, tira o colar e fica calada, esconde tudo, ou o professor vai ficar na tua cola! Após colar a “cola”, coloca a cola na sacola. Na saída, descola a grana para pagar a “cola”, a cola e a sacola. 

Te convido para uma coca-cola na saída da escola. 

(Do Almanaque Gaúcho, de Zero Hora)

Jorge Selarón

 Por Diego Vieira

 Um artista da Lapa

 

Jorge Selarón foi um pintor autodidata, nascido no Chile em 1947 e que se tornou um dos personagens mais conhecido do bairro carioca da Lapa. Selarón, que desde 1983 vivia no Brasil tinha o sonho de manter e completar a decoração, com mosaicos, da escadaria, com 215 degraus e 125 metros de comprimento, que liga a Lapa ao bairro de Santa Teresa. A escadaria do Convento de Santa Teresa, também conhecida como Escadaria Selarón, está situada no final da Rua Teotônio Regadas. 

O artista morava em uma das casas do local e decidiu homenagear o povo brasileiro de quem tanto gostava e tão bem o havia acolhido. Por estar a longa escadaria abandonada e suja, o artista, usando cores da bandeira brasileira, deu início à colocação dos azulejos por ocasião da Copa do Mundo de Futebol de 1994. 

Foram fixados azulejos originários de inúmeros países, totalizando cerca 2.000 peças. Foram presentes de turistas estrangeiros, de amigos brasileiros ou obtidos em demolições e, também, adquiridos no comércio ou criados pelo próprio artista. 

O artista fez tudo sozinho, sem apoio do poder público. Obcecado, no auge da obra, só parava quando não tinha mais recursos para comprar os materiais. Aí voltava a pintar quadros para ganhar dinheiro. Feito isso, continuava a obra. 

A fama de Selarón correu o mundo. Sua escadaria serviu de cenário para comerciais e até videoclipes foram gravados no local. A Prefeitura da Cidade tombou a Escadaria, além de conceder ao artista, em maio de 2005, o título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, recebendo a Medalha Pedro Ernesto. 

Além de renovar os mosaicos, também varria e zelava pela sua obra. Ele dizia: “só acabarei este sonho louco e inédito no último dia da minha vida”. Pois no dia 10 de janeiro de 2013, seu corpo foi encontrado na escadaria, provavelmente vítima de assassinato.

O artista plástico chileno Jorge Selarón, de 65 anos, foi encontrado morto na escadaria do Convento de Santa Teresa, que liga o bairro à Lapa, no Centro do Rio, na manhã desta quinta-feira (10). Selarón é responsável por ter instalado o mosaico de cores que transformou os degraus da escadaria da Lapa em um ponto turístico. O corpo estava nos próprios degraus, em frente à casa onde morava havia mais de 30 anos. 

O corpo do pintor e também ceramista estava carbonizado e com uma lata de removedor de tintas ao lado. A Divisão de Homicídio trabalha com três linhas de investigação na morte do artista plástico:  homicídio, crime passional ou suicídio. Nesta quinta-feira, o jornal O Globo publicou entrevista com o artista relatando sofrer ameaças.  “Ele era uma pessoa alegre e alto astral, mas desde que começou a ser ameaçado, entrou em profunda depressão e hoje [quinta] recebi esta triste notícia. Estou arrasado”, explicou o argentino César Gomes, secretário do pintor há seis anos.

Segundo reportagem do jornal O Globo, um ex-funcionário do ateliê de Selarón o teria ameaçado desde novembro de 2012 e no dia 28 de janeiro o teria agredido. O artista disse ao jornal O Globo que o ex-colega queria obrigá-lo a ceder os rendimentos obtidos com a venda de quadros. 

P.S. A escadaria do Convento de Santa Teresa, também chamada Escadaria Selarón, é um dos locais mais visitados por turistas nacionais e estrangeiros, do bairro da Lapa, no Centro do Rio de Janeiro. 

sábado, 29 de julho de 2023

Cartaz elucidativo

 

A brigada contra o cigarro atinge contornos ainda não vistos. Cartaz flagrado na parede de uma repartição pública federal de Porto Alegre, RS: 

“Fumante, a fumaça do teu cigarro é o resíduo do teu prazer. Porém, ele polui o ar, meu cabelo, minha roupa e meus pulmões. Tudo isso sem o meu consentimento. Acontece que eu também tenho um prazer: gosto de tomar umas cervejinhas. O resíduo do meu prazer é a urina. Tu ficarias aborrecido se eu fizesse xixi em tua cabeça? Então vê se te manca!”

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Oppenheimer:

 Conheça a história do criador da bomba atômica


Um dos cientistas mais famosos dos Estados Unidos não ficou conhecido apenas pelo seu talento na pesquisa: ele é também um dos mais polêmicos e contraditórios. O físico teórico Robert Oppenheimer ficou mais famoso pelo seu envolvimento direto na criação da bomba atômica, que resultou no encerramento definitivo da Segunda Guerra Mundial ao ser jogada nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. 

Oppenheimer antes da bomba 

Julius Robert Oppenheimer nasceu em abril de 1904 em Nova York, filho de um imigrante alemão bem sucedido que trabalhava na indústria têxtil e uma pintora de origem norte-americana. 

Robert foi um dos melhores alunos no colégio e de lá passou para a Universidade de Harvard, onde começou os estudos com especial interesse por química, matemática, filosofia e literatura. 

Aos poucos, foi se especializando em Física, mas não passava muito tempo em laboratórios por não gostar da rotina de experimentações — até conhecer a mecânica quântica, campo ainda em fases iniciais de estudo que lida com dimensões abaixo da escala do átomo e partículas elementares de matéria e energia. 

O pesquisador passou também pela Universidade de Göttingen, na Alemanha, concluiu o doutorado e estudou com pesquisadores como Niels Bohr (o mesmo do modelo de orbitais dos elétrons) e Max Born. Com este último, desenvolveu a teoria da Aproximação de Born-Oppenheimer, que fala sobre a movimentação de núcleos dos átomos. 

Com o nome já famoso no meio, Oppenheimer começa a lecionar na década de 1930 em duas instituições ao mesmo tempo: o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e a Universidade da Califórnia.  

Nesse período, a vida pessoal do físico também muda radicalmente. Primeiro, ele herda a fortuna do pai e passa a ter um padrão de vida mais tranquilo financeiramente. Além disso, Robert se casa em 1940 com Katharine Harrison, a Kitty, bióloga e companheira para o resto da vida. 

A rotina do casal era tranquila, com o professor sendo uma espécie de celebridade do meio universitário por aulas memoráveis e vasto conhecimento. Até a Segunda Guerra Mundial, quando ele foi convocado para uma tarefa que mudaria o curso da história dele e de toda a humanidade. 

Projeto Manhattan 

Em 1942, Oppenheimer é indicado para integrar o Projeto Manhattan, codinome para o grupo de pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento da bomba atômica nos Estados Unidos. 

Na época, em plena Segunda Guerra Mundial, pesquisadores como Albert Einstein insistiam para que o governo americano começasse pesquisas nucleares para evitar que os nazistas saíssem na frente. Os combates ainda eram intensos em várias partes do mundo e a disputa parecia longe de acabar. 

Convencido a aceitar o convite, mas visto com desconfiança pelos colegas pela falta de experiência em laboratórios, Oppenheimer ficou especialmente responsável por um laboratório em Los Alamos, inclusive com a seleção de cientistas a seu critério. A liderança nesse período o colocam como "inventor" ou "pai" da bomba atômica, o que é um título justo, embora o trabalho seja fruto de anos de desenvolvimento por parte de grupos de pesquisadores de diferentes áreas. 

A primeira detonação de uma arma nuclear aconteceu em 16 de julho de 1945, comprovando o sucesso e a letalidade da tecnologia. Ao testemunhar o experimento, Oppenheimer contou em uma entrevista anos depois que pensou em um trecho do texto sagrado hindu Bhagavad-Gita que resumia a sensação de mortalidade e, ao mesmo tempo, controle sobre outras vidas do cientista: “Agora eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos”. 

(...) 

Do blog Mundo Conectado 


terça-feira, 25 de julho de 2023

Pala pra trás

 Letra e música de Ney Lopes

Lá vem ele outra vez
De boné tipo inglês,
Mas de pala pra trás.
Quem é esse cara, compadre?
O que é que ele faz?

Com a pala na nuca
Ele é fraco da cuca,
Que estranho ele é,
Ou será que é uma touca
Muito, muito louca
O boné do Mané?!

Vira essa pala pra frente
Antes que um mal te aconteça!
Isso é mais um banal lero-lero
Que os gringos puseram
Na tua cabeça.

A pala é a maior proteção
Pros olhos e a visão
Quando a luz é demais,
A não ser que a sensibilidade
Em Vossa Majestade
Venha lá de trás...
 

P.S. Essa música está na internet na voz do próprio compositor, Ney Lopes.

Presente grego

 Nílson Souza

Todo dia tem alguém de aniversário. Eu mesmo vou passar por isso no próximo mês. Mas já vou avisando aos amigos que porventura se lembrarem da data ou forem alertados por algum algoritmo intrometido:

− Por favor, não me mandem presentes por entregador! 

Vade retro, vigaristas! Não aceito, não sou a pessoa contemplada, não uso cartão bancário, sequer costumo fazer aniversário. Não vou cair nesse golpe manjado! 

Mas poderia ter caído, com muitos vêm caindo em vários Estados brasileiros, especialmente alguns homens e mulheres que já fizeram muitos aniversários na vida, como este cronista cada vez mais vacinado de informações e de leituras. O golpe do presente é do tempo da Idade do Bronze. Mais exatamente, pelo que se conhece, do ano 1.300 antes de Cristo. 

Segundo o poeta Homero, uma tal de Helena, rainha de Esparta e considerada a mulher mais bela da Terra na sua época, teria trocado umas mensagens de WhatsApp com o príncipe encantado Páris, de Troia − e os dois acabaram fugindo juntos. O rei espartano Menelau ficou furioso e mandou seu exército destruir a cidade lendária e recuperar a rainha. O cerco durou 10 anos e, como os troianos não se rendiam, o guerreiro Ulisses teve uma big idea, como se dizia no mundo da publicidade: os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira, simularam a retirada e deixaram o trambolho no portão dos espartanos como um presente de paz. 

Deu no que deu: iludidos, os presenteados pagaram o motoboy com o cartão de crédito, levaram o cavalo cheio de guerreiros inimigos para dentro da cidade e acabaram perdendo a guerra, a poupança, a autoestima e até a rainha apaixonada. 

Presentes gregos, senhoras e senhores, não aceitem. Desconfiem de tudo. Não existe bilhete premiado, não é verdade que seu filho quebrou o telefone e está trocando de número, o banco não liga para ninguém (em todos os sentidos), não existe almoço grátis, não beba com desconhecidos para não cair no Boa Noite Cinderela, empréstimo vantajoso é cilada, seu parente que telefonou de madrugada não foi sequestrado, recuse ajuda de estranhos no caixa eletrônico, no se deixe filmar na hora de digitar a senha, evite passar informações pessoais, mesmo que o sujeito do outro lado da linha demonstre saber tudo sobre você. 

Não vacile, não dê presentes aos golpistas que proliferam por aí, na vida real e no mundo digital. 

Pé-atrás, gente, e feliz aniversário para todos nós. 

******* 

(Do jornal Zero Hora, 18 de julho de 2023)

 

domingo, 16 de julho de 2023

50 frases inesquecíveis de filmes

 

Quantas vezes saímos do cinema com uma frase na cabeça? Quantas vezes ao assistir novamente um filme, já sabemos a frase que vem a seguir? Não podemos negar, algumas frases simplesmente "grudam" em nossas cabeças, seja por serem engraçadas, seja pelo contexto no filme, seja por ter conter uma ideia brilhante, ou por qualquer outro motivo. 

Pensando nisso, após já termos feito um lista com os 500 melhores filmes de todos os tempos, os 100 melhores personagens do cinema e 50 grandes pôsteres de filmes, reunimos 50 frases inesquecíveis e marcantes de filmes, não necessariamente em ordem de importância. Confiram: 

01 − “Why so serious?” ­− “Por que tão sério?” → Em “Batman, O Cavaleiro das Trevas”; 

02 − “Let`s put a smile on that face” −­ Vamos colocar um sorriso nesse rosto → “Em Batman, O Cavaleiro das Trevas”; 

03 − “My name is Bond, James Bond” −­ “Meu nome é Bond, James Bond” → Famosa frase dos filmes do 007; 

04 −- “I`m the King of the world” ­→ “Eu sou o rei do mundo” ­Em “Titanic”;

05 ­− “Hasta la vista, Baby” → No filme “Exterminador do Futuro 2”; 

06 − “Luke, I am your father” −­ “Luke, eu sou seu pai” − De Darth Vader para Luke Skywalker → No filme “Star Wars − O império contra-ataca”; 

07 − “Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno, porra!” → No filme brasileiro “Cidade de Deus”; 

08 − “I see dead people” – “Eu vejo pessoas mortas” → No filme “O Sexto sentido”; 

09 − “Hello… I Want to play a game” −­ “Olá… Eu quero jogar um jogo. → “De Jigsaw nos filmes Jogos Mortais; 

10 − “I´m gonna make him an offer he can´t refuse” − “Eu vou fazer uma proposta que ele não poderá recusar” → Do filme “O Poderoso Chefão”; 

11 ­− “ET phone home” ­ ET telefone Casa” →­ No filme “ET, O Extraterrestre”; 

12 – “They can take our lives, but they can never take our freedom.” ­− “Eles podem tirar nossas vidas, mas nunca poderão tirar nossa liberdade.” → ­De William Wallace no filme “Coração Valente”; 

13 −­ “Let the games begin” ­− “Que os jogos comecem” → No filme “Jogos Mortais”;

14 −­ “We`ll always have Paris” − “Nós sempre teremos Paris” → No filme “Casablanca”; 

15 −­ “The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return.” −­ “A coisa mais importante que você pode aprender é só amar e ser amado em troca” → No filme “Moulin Rouge”; 

16 ­− “E fique com o troco, seu animal” → No filme “Esqueceram de mim”; 

17 −­ “Houston, we have a problem −­ “Houston, nós temos um problema” ­→ No filme “Apollo XIII”; 

18 −­ “With great powers comes great responsability” − “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” → No filme “Homem Aranha”; 

19 − “May the force be with you” −­ “Que a força esteja com você" ­→ No filme “Star Wars”; 

20 −­ “Não tente fazer, faça ou não faça.” →­ No filme “Star Wars”;

21 −­ “Me Tarzan, you Jane” ­→ No filme Tarzan;

22 ­− “I`ll be back” −­ “Eu voltarei” ­→ No filme “Exterminador do Futuro”;

23 ­− “Quem é você? Sou seu pior pesadelo” → No filme “Rambo”;

24 − "Slot need chocolat!" → No filme “Os goonies”;

25 −­ “Run, Forest, Run” − “Corra, Forest, Corra” →­ No filme “Forest Gump”;

26 −­- “Wilsoooooooonnnnnnnn” → No filme “O Náufrago”;
 

27 ­−- “You can't lost someone you've never had” -­ “Você não pode perder alguém que nunca teve” ­→ No filme “Como Perder um Homem em 10 dias”; 

28 – “You make me wanna be a better man” ­- “Você me faz querer ser um homem melhor” →­ No filme “Melhor Impossível”; 

29 − “What you do in life echoes in eternity” ­ “O que você faz nesta vida ecoa na eternidade” ­→ No filme “O Gladiador”; 

30 −- “There is no place like our home”  “Não há lugar como nosso lar” → No filme “O Mágico de OZ”;  

31 − “My precious...” −­ “Meu precioso” → Nos filmes “O Senhor dos Anéis” ­– “As Duas Torres”;

32 −- “My name is Maximus Decimus Meridius, commander of the armies of the north, general of the Felix legions, loyal servant to the true emperor, Marcus Aurellius. Father to a murdered son, husband to a murdered wife, and I will have my vengeance, in this life or the next.” – “Meu nome é Maximus Decimus Meridius comandante dos exércitos do norte, general das Legiões Felix... servo leal do verdadeiro Imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada. E terei minha vingança, nesta vida ou na próxima.” ­→ No filme “O Gladiador”; 

33 −- “Are you talking to me” −­ “Você está falando comigo?” ­ → No filme “Taxi Driver,” Motorista de Táxi; 

34 ­− “we're gonna need a bigger boat” ­− “Nós vamos precisar de um barco maior” → No filme “Tubarão”; 

35 ­− “Show me the money” ­− “Mostre-me o dinheiro” → No filme “Jerry Maguire − A grande virada”; 

36 ­− “Keep your friends close, but your enemies closer” – “Mantenha seus amigos por perto e os seus inimigos mais perto ainda.” →­ No filme “O Poderoso Chefão 2”; 

37 − “Say "hello" to my little friend” −­ “Diga “oi” para meu pequeno amigo” ­→ No filme “Scarface”; 

38 ­− “I feel the need - the need for speed” –­ “Eu sinto a necessidade –­ a necessidade de velocidade.” → No filme “Top Gun”; 

39 − “Carpe diem. Seize the day, boys. Make your lives extraordinary.” – “Carpe diem. Aproveitem o dia, garotos. Façam suas vidas serem extraordinárias.” →­ No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”; 

40 −­ “Põe na conta da Papa” →­ No filme “Tropa de Elite”; 

41 −­ “Elementary, my dear Watson” −­ “Elementar , meu caro Watson” ­→ No filme “Scherlock Holmes”; 

42 ­− "Earn This” − “Faça por merecer” → No filme “O Resgate do Soldado Ryan”;

43 −­ “Yo, Adrian!” →- Rocky Balboa;
 

44 −­ “Snakes! Why did it have to be snakes?” −­ “Cobras! Por que tinham que ser cobras?” →­ No filme “Indiana Jones, Os caçadores da arca perdida”; 

45 −­ “I love the smell of napalm in the morning.” – “Eu amo o cheiro de napalm pela manhã.” → No filme “Apocalypse Now”; 

46 − “Yippie-ki-yay, motherfucker!” – “Yippie-ki-yay, filho da mãe!” – No filme “Duro de Matar”; 

47 − “What an excellent day for an exorcism.” – “Que dia excelente para um exorcismo.” → “O Exorcista”; 

48 −- “First rule of Fight Club is: you do not talk about Fight Club.” – “Primeira regra sobre o Clube da Luta: você não fala sobre o Clube da Luta.” → Em “Clube da Luta”; 

49 – “My mama always said: life is like a box of chocolates. You never know what you're gonna get.” – “Minha mãe sempre dizia: a vida é como uma caixa de chocolate. Você nunca sabe o que vai encontrar.” → “Forrest Gump”; 

50 − “This is the day that you'll always remember as the day you almost caught Captain Jack Sparrow".” – “Esse é o dia que vocês sempre lembrarão como o dia em que vocês quase pegaram o Capitão Jack Sparrow.” → “Piratas do Caribe”. 


Retirado de

http://www.cineseries.com.br/colunas/listas/50-frases-inesqueciveis-de-filmes.


sábado, 15 de julho de 2023

A moeda perdida

 Condensado da “Saturday Review of Literature

por Channing Pollock

Ao findar a primeira grande guerra, um pequeno grupo de veteranos regressou à sua aldeia natal, na França. Muitos dentre eles conseguiram reconstruir a vida e, de algum modo, prosperar, porém François Lebeau, vítima de uma intoxicação por gás, não recobrou jamais as forças que perdera, e, não podendo, em consequência, trabalhar como os outros, caiu aos poucos na pobreza e na miséria. Contudo, o orgulho o impedia de aceitar a caridade dos amigos e da gente da aldeia. 

Os veteranos costumavam reunir-se num jantar anual. Em uma dessas ocasiões, realizado o ágape na residência de Jules Grandin, que fizera fortuna, e se tornara, com a prosperidade, corpulento e pomposo, exibiu este aos convidados uma moeda curiosa − uma grande peça de ouro velho sobre cujo valor e antiguidade discursou largo tempo. Todos, porém, àquela altura, tinham bebido à farta, e, no meio das conversas estrondosas que ressoavam pela sala, ninguém se lembrava, dentro em pouco, da famosa moeda. Quando Grandin algum tempo depois voltou a tratar da mesma e perguntou se a tinham visto, procuraram-na debalde pela sala. A peça de ouro desaparecera! 

Correu entre os convivas um murmúrio de indagações e protestos. Finalmente, o advogado da aldeia sugeriu que se desse uma busca entre os presentes, no que todos, de logo, aquiesceram - à exceção de Lebeau. Os circunstantes encararam-no surpresos: 

- Pois se recusa a isso? perguntou-lhe Grandin, sem ocultar o espanto. 

Ao que Lebeau respondeu, corando: 

- Sim, senhor. Não posso permitir isso. 

- Mas você sabe − fez-lhe ainda ver o dono da moeda − o que essa recusa dá a entender?... 

- Nunca pratiquei um roubo, e não vejo porque hei-de submeter-me a essa busca, retrucou-lhe Lebeau. 

Os outros, no entanto, um a um, esvaziaram os bolsos. Não aparecendo a moeda, todos os olhares se voltaram, novamente, para o pobre Lebeau. 

- Você continua mesmo recusando? insistiu outra vez, irritado, o advogado, dirigindo-se a ele. Porém Lebeau nem sequer respondeu. Grandin retirou-se da sala. Ninguém mais, desde então, se dirigiu a Lebeau, que, entre os olhares desdenhosos dos amigos, saiu dali como um criminoso, voltando à casa de cabeça baixa. 

Daquele dia em diante, tornou-se-lhe a existência uma desgraça. As pessoas da aldeia desviavam os olhos quando o viam. Empobreceu cada vem mais e, ao morrer-lhe a mulher tempos depois, ninguém soube se morrera de fome ou de vergonha. 

Decorridos alguns anos, quando o incidente já se fizera lenda no lugar, Grandin mandou fazer certas alterações na casa. Durante as obras, um dos operários encontrou a moeda, presa entre as tábuas do soalho, e coberta de pó, na sala em que o jantar fora servido. 

Apesar dos seus modos afetados e dos ares pomposos que ostentava, Grandin era no fundo um justo, e, ao ter a prova da inocência de Lebeau, quis sem demora reparar a injustiça que fora cometida. Foi ter depressa à casa deste, e, contando a maneira extraordinária por que a moeda reaparecera, pediu-lhe encarecidamente desculpas a infundada suspeita. 

- Mas, (ajuntou) já que você sabia que a moeda não estava nos seus bolsos, por que motivo se recusou à busca? 

Lebeau, aflito, acabrunhado, e, prematuramente envelhecido, respondeu, pondo nele uns olhos tristes: 

- Porque, de fato, eu havia cometido um furto. Minha família e eu, naquelas últimas semanas, não tínhamos tido comida que bastasse; por isso, no decurso do jantar, enchi os bolsos do que pude apanhar de alimentos, em sua mesa, para levar aos filhos e à mulher que deixara em casa famintos. 

(Da Seleções de Reader's Digest)


O olhar do lenhador

 

Um lenhador não encontrava o seu machado preferido. Tinha procurado em todo o lado e não havia nada a fazer. Começou então a imaginar que alguém o teria roubado. Espreitou pela janela e nesse momento passava o filho do seu vizinho. Pensou: “Tem mesmo o andar de um ladrão de machados. E até tem um olhar e cabelos de um ladrão de machados!” 

Alguns dias depois, o lenhador encontrou o seu machado preferido debaixo do sofá, onde o tinha colocado uma tarde ao regressar do trabalho. 

Feliz por tê-lo encontrado, veio à janela. Precisamente naquele momento passava de novo o filho do seu vizinho. Pensou: “De fato, não tem andar de ladrão de machados! Pelo contrário, tem um olhar e até cabelos de um bom rapaz!” 

Facilmente, colocamos etiquetas com toda a facilidade nas pessoas: Este é mau, este é bom... Porque julgamos as pessoas tão facilmente?

A reengenharia das pulgas

 Max Gehringer*

Muitas empresas caíram e caem na armadilha das mudanças drásticas de coisas que não precisam de alteração, apenas aprimoramento. O que lembra a história de duas pulgas. 

Duas pulgas estavam conversando e então uma comentou com a outra: 

- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí nossa chance de sobrevivência quando somos percebidas pelo cachorro é zero. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas. 

Elas então contrataram uma mosca como consultora, entraram num programa de reengenharia de voo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra: 

- Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao corpo do cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a velocidade da coçada dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e levantam voo rapidamente. 

Elas, então, contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhes ensinou a técnica do 'chega-suga-voa'. Funcionou, mas não resolveu... A primeira pulga explicou por quê: 

- Nossa bolsa para armazenar sangue é pequena, por isso temos de ficar muito tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos alimentando direito. Temos de aprender como os pernilongos fazem para se alimentar com aquela rapidez. 

E então um pernilongo lhes prestou uma consultoria para incrementar o tamanho do abdômen. Resolvido, mas por poucos minutos... Como tinham ficado maiores, a aproximação delas era facilmente percebida pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo de pousar. Foi aí que encontraram uma saltitante pulguinha, que lhes perguntou: 

- Ué, vocês estão enormes! Fizeram plástica? 

- Não, reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI. Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento. 

- E por que é que estão com cara de famintas? 

- Isso é temporário. Já estamos fazendo consultoria com um morcego, que vai nos ensinar a técnica do radar. E você? 

- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia. 

Mas as pulgonas não quiseram dar a pata a torcer, e perguntaram à pulguinha: 

- Mas você não está preocupada com o futuro? Não pensou em uma reengenharia? 

- Quem disse que não? Contratei uma lesma como consultora. 

- Mas o que as lesmas têm a ver com pulgas, quiseram saber as pulgonas... 

- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez de dizer para a lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse a situação e me sugerisse a melhor solução. E ela passou três dias ali, quietinha, só observando o cachorro e então ela me disse: “Não mude nada. Apenas sente na nuca do cachorro. É o único lugar que a pata dele não alcança”. 

Moral: 

Você não precisa de uma reengenharia radical para ser mais eficiente. Muitas vezes, a grande mudança é uma simples questão de reposicionamento. 


sexta-feira, 14 de julho de 2023

Nunca mais

 Artur Xexéo 

Nunca mais vi ninguém fumando cachimbo. Nem o pai do Pimentinha nem o Saci-Pererê. Aliás, quase não vejo mais ninguém fumando qualquer coisa. 

Nunca mais vi ninguém pegando jacaré. Nem caçando tatuí. Nem soltando pipa em forma de gaivota na praia. 

Nunca mais vi ninguém acompanhando corrida de submarino no Arpoador. 

Nunca mais passei um fax. Nem mandei telegrama. Nem recebi carta. Ultimamente, não tem ninguém nem deixando recado na minha secretária eletrônica. Nunca mais vi ninguém comprando um cartão-postal. 

Nunca mais vi ninguém comendo presuntada. Nem coquetel de camarão. Nem sanduíche de queijo com banana. 

Nunca mais vi uma tolha de Linholene, aquela que parecia de linho. 

Nunca mais vi ninguém revelando um filme. Nem criando uma comunidade no Orkut. Nunca mais ouvi ninguém falar do Second Life. 

Nunca mais vi o Cine Pirajá. Nem o Cine Jurema. Nunca mais vi o Super Bruni 70. 

Nunca mais vi ninguém brincando de polícia e ladrão. Nem de pera, uva ou maçã. Nunca mais vi ninguém jogando bola de gude. 

Nunca mais tomei Mirinda. Nem uísque sour. Nem vinho Liebfraumilch, que vinha numa garrafa azul. 

Nunca mais vi um Simca Chambord. Nem um DKW Vemag. Nunca mais vi um Renault Dauphine. 

Nunca mais vi ninguém comprando um disco. Nem ouvindo walkman. Nem escutando fita cassete. 

Nunca mais vi o Tabuleiro da Baiana. Nem o Palácio Monroe. Nem o prédio do Cassino Atlântico. 

Nunca mais pus BomBril na antena para melhorar a imagem. Nunca mais vi antena. Nem seletor de canais. Nem botão de horizontal e vertical. 

Nunca mais vi ninguém brincando de telefone sem fio. Nem de “a palavra é...”. E nem de tesoura. 

Nunca mais vi “O fino da bossa”. Nem o “Corte Rayol Show”. 

Nunca mais ouvi alguém dizer “pena que a TV não seja a cores”. Ou que “depois do sol, quem ilumina seu lar é a Galeria Silvestre”. Ou que “ninguém vende mais barato que O Mundo das Louças”. Ou que “o Príncipe veste hoje o homem de amanhã”. 

Nunca mais vi um show do João Gilberto. 

Nunca mais vi uma cédula de votação. 

Nunca mais vi ninguém usando perfume Lancaster. Nem pomada Minâncora. 

Nunca mais ouvi a música ciclâmen. 

Nunca mais vi ninguém consultando uma enciclopédia. Nem o Aurélio. Nem o Houaiss. 

Nunca mais vi um Electra II da Varig. Nem táxi com duas portas e sem o banco do carona. Nunca mais vi um cinema drive-in. 

Nunca mais vi uma miss com maiô Catalina. 

Nunca mais vi um filme de Tarzan. 

Nunca mais vi ninguém com calça rancheira. Nem com sandália japonesa. Nem com blusa BanLon. 

Nunca mais vi o meu autógrafo do Alberto Sordi. Nem o da Maysa. Nunca mais vi ninguém pedindo autógrafo. 

Nunca mais vi uma máquina de escrever. Nem uma cama Dragoflex. Nunca mais vi ninguém usando lenços Paramount. Aliás, quase ninguém mais usa lenço. 

Nunca mais vi ninguém dançando o sa-sa-ruê. Nem ouvindo o jequibau. Nem ensaiando o Let kiss. 

Nunca mais vi o anúncio da hora certa durante o intervalo comercial. Nem a previsão do tempo. Nem a temperatura. 

Nunca mais vi um cinejornal. 

Nunca mais vi uma ficha de telefone. Nem um catálogo telefônico. Nunca mais ouvi sinal de discar. 

Nunca mais vi ninguém usando creme dental Kolynos. 

Nunca mais vi uma caneta-tinteiro. Nem um estojo de lápis. Nunca mais vi um compasso. Ou uma régua T. Nunca mais vi um esquadro. 

Nunca mais vi alguém dando aula de caligrafia. Nem de trabalhos manuais. Nem de Educação Moral e Cívica. Nunca mais vi um caderno com o “Hino Nacional” estampado na contracapa. 

Nunca mais vi um filme de arte. Nem uma comédia sofisticada. Nunca mais vi uma chanchada. 

Nunca mais vi ninguém usando uma lanterna. 

Nunca mais vi ninguém jogando pif-paf. Nem escopa. Nunca mais vi ninguém jogando crapô. 

Nunca mais vi um faquir. 

Nunca mais vi um show no Golden Room. Nunca mais fui ao Teatro Alaska. Nunca mais fui ao Tivoli Park. 

Nunca mais vi um ximbolê. Nem alguém brincando de “ordem... seu lugar... sem rir... sem falar...”. Nunca mais vi ninguém pulando amarelinha. 

Nunca mais vi minha carteirinha de sócio do Clube dos Amigos de Lassie. Nem minha bengala do Bat Masterson. Nem minha calça Calhambeque. 

Nunca mais vi um cachorro pequinês. 

Nunca mais ouvi ninguém dizendo que vai botar pra quebrar. Ou que entrou pelo cano. Ou que tô contigo e não abro. 

Nunca mais vi ninguém dançando de rostinho colado. 

Nunca mais voei pela Varig. Nem pela Cruzeiro. Nem pela Panair. Nem pela Vasp. 

Nunca mais vi uma sirigaita. Nunca mais levei um safanão. Nunca mais vi ninguém molhando o pão no café. 

Nunca mais vou ver o Rio Doce. 

(Do Segundo Caderno, do jornal O Globo,

22 de novembro de 2015)

Artur Oscar Moreira Xexéo foi um jornalista, escritor, tradutor e dramaturgo brasileiro.  

Nascimento: 5 de novembro de 1951, Rio de janeiro, Rio de janeiro. 

Falecimento: 27 de junho de 2021,  São Vicente/Rede D'or, Rio de Janeiro. 

Livros: “Hebe: A biografia”, “Janete Clair: A usineira de sonhos”, “O torcedor acidental”, “Liberdade de expressão”.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Rimas

 Luis Fernando Veríssimo

O homem chegou em casa assustado:

− Está por toda a cidade, é uma sina: todo mundo falando com rima.

− O quê? − perguntou a mulher.

− Uma compulsão, um vírus, algo no ar. Não se diz mais nada sem rimar.

− Que absurdo − disse a mulher − um vírus da rima. Ninguém é obrigado a falar o que não quer, seja homem ou mulher. Nenhuma lei... Meu Deus, peguei!

− É na rua, é em casa, é em todo lugar. Não se fala sem rimar.

− Mas é uma barbaridade, ser poeta contra a vontade!

− Concordo, é um abuso. Mas o que fazer? Estou confuso.

− Só há um jeito de se rebelar, resistir e não rimar...

− Como?

− Não falar.

− Mas como nos comunicaremos, se não com as vozes que temos?

− Escrevendo, por que não? Ninguém manda em nossa mão.

− Sei não, será que muda? E se eu escrever como o Neruda?

− Não é hora pra chilique. Pega um papel, e olha a Bic.

O homem experimenta escrever uma frase no papel. Depois recua, horrorizado.

− Estou quase tendo um ataque. Escrevi como o Bilac!

− Será uma coisa generalizada, que atingiu até a empregada?

− Vamos ver se é ou não é. Chame a Nazaré.

A mulher chama a empregada.

− Nazaré, vem aqui um minutinho?

A empregada responde da cozinha:

− Já vou indo, um instantinho. Estou fazendo ensopadinho.

O homem e a mulher se abraçam. É uma epidemia. A rima tomou conta do país. Mas por quê? A mulher tenta racionalizar.

− Tem que haver explicação. Um motivo, uma razão.

− Terá sido a eleição?

− Mas como, de que jeito? O que foi que mudou com o pleito?

− Elegeu-se o maravilhoso...

− Quê?

− ...Fernando Henrique Cardoso

− O Cardoso, maravilhoso? Me admira você, que votou no PT!

− Você não está entendendo? Eu não sei o que estou dizendo!

− Calma, não se apoquente. Fale outra vez, pausadamente.

O homem faz um esforço, mas não consegue.

− Elegeu-se. O. Maravilhoso. Fernando. Henrique. Cardoso.

− Tente outra rima, com urgência. Quem sabe 'seboso', pra manter a coerência?

− Não consigo, não vê? Tente você.

− Elegeu-se o...

− Sim?

− Elegeu-se o...

− Sim?

− Gostoso...

− Não!

− Fernando Henrique Cardoso.

− Já vi, é uma perfídia. Tudo culpa da mídia. Nós não estamos enfeitiçados, estamos é condicionados.

− Quando ele se elegeu, foi nisso que deu. Há uma rima oficial no Brasil − pelo menos até abril.

− Quem variar é exótico, até impatriótico.

− Paciência, relaxemos. Isso passa, esperemos.

− Eu até diria assim: rima melhor quem rima no fim.

Aparece a Nazaré na porta da cozinha.

− A senhora chamou. Aqui estou.

− Nada, nada, Nazaré. O ensopadinho, de que é?

− De vitela cortadinha. Batata, vagem e cebolinha.

− Parece uma beleza, pode botar na mesa. 

********** 

 (Do caderno Revista de Zero Hora, 16 de outubro e 1994)

O convite

 por Oriah Mountain Dreamer

Não me interessa saber como você ganha a vida. Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração. 

Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo. 

Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor. 

Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la. Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana. 

Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança. 

Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia a dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida. 

Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: “Sim!” 

Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. 

Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos. 

Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar. 

Não me interessa onde, o que ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona. 

Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia. 

Texto extraído do livro: 

“O convite”, de Oriah Mountain Dreamer, Editora Sextante. Tradução de Maria Helena Rang.