sábado, 31 de março de 2018

Quantos animais há na imagem?




→ Consegue descobrir?

→ Já está pronto para a resposta?

→ Quer uma dica?

→ Ok... se você tem certeza.

→ Há pelo menos 10 animais na foto...

→ Isso ajudou?

→ Bom, a resposta está escrita abaixo!

→ Mas tente não espiar cedo demais!

→ Dê uma boa insistida antes de desistir tão facilmente...

→ Mas se você tem certeza...

→ Aqui vai...




Do Blog APost



O torturador



O jornalista Ricardo Boechat, âncora do Jornal da Band, comentou o voto do deputado Jair Bolsonaro, na Plenária da Câmara dos Deputados no dia 17/04/2016, durante a votação da admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, no qual ele homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da ditadura militar brasileira, chamando-o de “herói”.

“Torturadores não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Não são contra ou pró-impeachment. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam, em momento algum, serem citados como exemplo. Muito menos numa casa Legislativa que carrega o apelido de casa do povo”.

Ricardo Boechat*

*13 de julho de 1952  11 de fevereiro de 2019

P.S. O áudio e a imagem desse comentário estão na Internet.

A cruel dúvida do ator

Certa feita, um jovem ator estava preocupado por interpretar o papel de um torturador. É que o interpretava muito bem! Estava até gostando de tudo aquilo, dos instrumentos de tortura, dos gritos das vítimas, a perversa alegria... Estava se sentindo realizado!

Então, foi procurar Augusto Boal, o diretor, para lhe pedir ajuda – seria ele, afinal, um torturador nato, um monstro em pele de ator? Boal o tranquilizou:

− É claro que você é um torturador nato! Todos nós podemos ser tudo o que quisermos! A nossa culpa não está em poder ser... mas em escolher o que jamais deveríamos ser.

Os Primeiros Tempos da Tortura


Não era mole aqueles dias
de percorrer de capuz
a distância da cela
à câmara de tortura
e nela ser capaz de dar urros
tão feios como nunca ouvi.

Havia dias que as piruetas no pau-de-arara
pareciam ridículas e humilhantes
e nus, ainda éramos capazes de corar
ante as piadas sádicas dos carrascos.

Havia dias em que todas as perspectivas
eram pra lá de negras
e todas as expectativas
se resumiam à esperança algo cética
de não tomar porradas nem choques elétricos.

Havia outros momentos
em que as horas se consumiam
à espera do ferrolho da porta que conduzia
às mãos dos especialistas
em nossa agonia.

Houve ainda períodos
em que a única preocupação possível
era ter papel higiênico
comer alguma coisa com algum talher
saber o nome do carcereiro de dia
ficar na expectativa da primeira visita
o que valia como um aval da vida
um carimbo de sobrevivente
e um status de prisioneiro político.

Depois a situação foi melhorando
e foi possível até sofrer
ter angústia, ler
amar, ter ciúmes
e todas essas outras bobagens amenas
que aí fora reputamos
como experiências cruciais.

Alex Polari

Alex Polari de Alverga nasceu em João Pessoa, em 1951 Foi preso no DOI-CODI em 1971 e barbaramente torturado. Polari sobreviveu para denunciar ao próprio Tribunal Militar o assassinato de Stuart Angel (filho da estilista Zuzu Angel) retratado no poema “Canção para Paulo” e as torturas que sofreu e presenciou.

→ Em 1978, ainda preso, lançou seu primeiro livro de poesia: “Inventário de Cicatrizes”. Em 1980 foi finalmente libertado e se envolveu com o Santo Daime, não escrevendo mais poemas.

→ A poesia de Polari é coloquial, direta, despojada e bem humorada, apesar de profundamente marcada pela experiência da clandestinidade, do cárcere, da tortura.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Gilda Marinho


Por Luís Fernando Veríssimo


Eu estava pensando no que escrever sobre a Gilda Marinho* e, como costuma acontecer depois de uma certa idade, caí numa nostalgia ressentida. Pensei em como os grandes tipos da cidade estão se acabando e em como nossa paisagem sentimental fica cada vez mais pobre.

Pensei em como a Gilda – até por morar onde morava, no centro tradicional da cidade, no velho Clube do Comércio em frente à velha Praça da Alfândega – representava uma espécie de última cidadela da Porto Alegre dos grandes tipos. Sua excentricidade e sua exuberância estavam um pouco nisso, de continuar a ser, sem concessões, um tipo da velha Porto Alegre, embora a velha Porto Alegre não existisse mais. A Gilda era, ao mesmo tempo, a grã-fina levada quase à paródia nos seus parâmetros e nos seus gostos, e a personificação, com a sua inteligência e bom humor, da irreverência diante da pretensão social e da besteira. Há pessoas que não querem envelhecer por vaidade. A Gilda se recusou a envelhecer para não trair o que se esperava dela, para não ser infiel ao seu tipo. E me dei conta que a pior maneira de escrever sobre a Gilda é com nostalgia. Ela podia lamentar que Porto Alegre não estivesse mais à altura de seu tipo, mas não era uma nostálgica. Ao contrário, continuou até o fim uma mulher contemporânea. Ninguém jamais pensou em sentar aos pés da Gilda e ouvir reminiscências dos seus tempos de moça. Seus tempos de moça foram até anteontem.
  
A própria Gilda contava que, com cinco anos, ainda em Pelotas, às vezes suspirava fundo, e sua mãe perguntava o que era. E Gilda:

− Saudade de Paris...

*****

(Parte da crônica “Algumas pessoas”, de Luís Fernando Veríssimo)

*Nascida em Pelotas, no ano de 1900, esta porto-alegrense de coração, fez história na em nossa cidade, sobretudo na área cultural, foi jornalista, uma das primeiras mulheres a trabalhar na imprensa gaúcha, tradutora, professora de Artes da UFRGS, mas, sem dúvida alguma, seu sucesso maior foi como colunista social. Gilda morreu em Porto Alegre, em 1984, sem antes, porém, de passar batom e espalhar perfume no quarto em que estava internada.

(Os últimos momentos de Gilda Marinho)

Eu volto

Antes de deixar seu apartamento levada para o hospital, Gilda, em sua permanente vaidade, quis maquiar-se. Gasparotto ajudava-a.

Arrumou os cabelos com cuidado e escolheu uma roupa discreta entre tantos vestidos coloridos e brilhantes que enchiam seu guarda-roupa. As mãos trêmulas já não podiam espalhar com precisão o rouge em seu rosto abatido; nem acompanhavam a linha dos lábios com o batom.

Naquele momento nenhuma frase espirituosa conseguiria livrá-la do embaraço da situação, mas ele tentava superar as limitações do físico que fraquejava, não se descuidando da aparência. Estava muito longe a mocinha faceira das festas de Pelotas, a militante das causas revolucionárias, a dama de todos os salões. Mas ela não queria entregar-se ao destino como o fazem tantas anciãs doentes; por menor que fosse, queria registrar o traço de que ali estava Gilda Marinho.

Quando saísse, nunca mais voltaria àquele lugar, no qual, durante tantos anos, conviveu com seu próprio mito, com segredos que ninguém além dela saberia desvendar. Desta vez, as pernas a traíam os movimentos, não pelo excesso de vodca ou champanha ou conhaque tomados na véspera, mas pela fatalidade, que ela preferia não aceitar.

Abatido e nervoso, Gasparotto a ajudava nos preparativos. Os médicos não tardariam e qualquer minuto perdido poderia ser irresgatável. Pálida, sentindo-se perdida, Gilda quase não falava. A doença roubara aquele calor de eterna juventude, aquele olhar brilhante e profundo dos apaixonados pela vida. E Gilda foi uma apaixonada: amou os bons e os maus, amou a si e aos outros, amou a humanidade como um todo. E amou seus amantes, talvez mais do que tenha sido amada por cada um deles.

Ao longo da vida entregou-se com a ansiedade dos que sorvem cada minuto como se fosse o último. E, naquele instante, certamente estava incrédula de que seria sua hora; ou talvez não... Talvez admitisse com serenidade aquele contratempo. Quem sabe?

Soou a campainha. Médicos e enfermeiros assaltaram o apartamento em agitada movimentação.

Tudo foi muito rápido. Colocaram-na em uma maca e a conduziram para fora.

Na tarde quente de verão, uma pequena multidão aglomerou-se na porta do prédio atraída pela ambulância, na habitual curiosidade mórbida despertada pelos símbolos da desgraça. Atenta a tudo, apesar da fraqueza, Gilda deu-se conta de que a situação já deveria ter despertado a atenção dos frequentadores da Rua da Praia, ávidos de novidade, sempre. E com a voz pausada, mas decidida, denotando uma ponta de seu inimitável sarcasmo, pediu a alguém que estava mais próximo:

 − Avisem às pessoas que não fui assassinada; eu volto.

A inesperada brincadeira daquela célebre mulher, quase moribunda, provocou riso incontrolável na equipe que a conduzia até a ambulância.

Foi a última vez que alguém riu para Gilda.

A ambulância saiu pelo calçadão da Rua da Praia; sua amada Rua da Praia, passarela de tantos anos...

Não deu para ver, pela última vez, os jacarandás da Praça da Alfândega.

Desta vez, Gilda não conseguiu voltar para casa.

(Texto do livro Gilda Marinho, de Juarez Porto)


A notícia de sua morte na imprensa

“Desde o meio dia da tarde de ontem hospitalizada na Cardioclínica de Porto Alegre, morreu às 18h30min, a conhecida jornalista Gilda Marinho, vítima de embolia pulmonar e parada cardíaca. O sepultamento será hoje, às 16h, no Cemitério São Miguel e Almas.”

Segundo a enfermeira Zuki, que cuidava de Gilda há mais de dois anos, a colunista social teve vários problemas após o acidente de automóvel que sofreu em 13 de janeiro. No dia 2 de fevereiro ela teve uma grave crise asmática, mas, após receber assistência e medicação, melhorou. Ontem, houve um agravamento no seu estado de saúde, que exigiu a internação na Cardioclínica, por volta das 15h30min.

(Folha da Tarde de 8/2/84)


O último pedido de Gilda Marinho

Sempre com mordacidade pela própria morte, enfatizava que, quando a fossem enterrar, não queria que pusessem uma lápide convencional com sua foto, nome e data de nascimento e falecimento: “Isso é horrível”. Comentava. Queria apenas que em seu túmulo fosse inscrito: “Aqui jaz Gilda Marinho. Completamente contra a sua vontade”. O desejo, até hoje, não foi satisfeito.



quinta-feira, 29 de março de 2018

O Boi Barroso



Meu bonito boi barroso,*
Que eu já contava perdido,
Deixando o rastro na areia,
Foi logo reconhecido.

Montei no cavalo escuro
E trabalhei logo de espora
E gritei: aperta, gente,
Que o meu boi se vai embora!

No cruzar de uma picada,
Meu cavalo relinchou,
Dei de rédea para a esquerda
E o meu boi me atropelou.

Ajudai-me, companheiros,
Não me deixem morrer só.
Ali vem o boi barroso
Estralando o mocotó!

Nos tentos levava um laço
Com vinte e cinco rodilhas,
Pra laçar meu boi barroso
Lá no alto das coxilhas.

Mas no mato carrasquento,
Onde o boi estava embretado,
Não quis usar o meu laço
Pra não vê-lo retalhado.

E mandei fazer um laço
Da casca do jacaré,
Pra laçar meu boi barroso
Num redomão pangaré.

E mandei fazer um laço
Do couro da jacutinga,
Pra laçar meu boi barroso
Lá no passo da restinga.

E mandei fazer um laço
Do couro da capivara,
Pra laçar meu boi barroso
Nem que fosse a meia-cara.

Estribilho:

Meu boi barroso,
Meu boi pitanga,
O teu lugar
É lá na canga.

(Augusto Meyer: Cancioneiro Gaúcho)

*Boi-Barroso: Toada gaúcha muito popular em que se exaltam as qualidades de um boi desse pelo. São muitas as quadras escritas a respeito de tal boi, da cor do barro, a maioria de autores desconhecidos.

Nomes criativos



Escrito por Mauricio Garcia

Sou formado em Medicina há 7 anos, e minha carreira me proporcionou contato com as mais variadas e indescritíveis figuras e situações. Vim de família de classe média, e começar a trabalhar com todas as parcelas da população é um choque de cultura inigualável. Vê-se de tudo. Muitas das situações não podem ser descritas aqui, causariam conflitos éticos em uma profissão onde o sigilo médico impera. Porém, este capítulo da Medicina que abordo agora é aberto a todos. E engraçadíssimo, por sinal.

Apesar de Portugal nos ter fornecido estoque inesgotável de piadas sobre seus habitantes, se vivêssemos sob as leis de lá, este artigo não seria escrito. Estou me referindo ao rigor português ao escolher o nome da criança recém-nata, pois lá existe uma lista de nomes possíveis.

Mas isto aqui é Brasil. O brasileiro é um povo criativo, e resolve fazer arte até na hora de batizar seus filhos. Apresento a vocês, uma coletânea feita com colegas meus de profissão, principalmente os pediatras, dos nomes mais bizarros e engraçados vistos em consultórios, maternidades e afins. Afinal, todo mundo tem que passar pelo médico um dia. Obs: não saiam do artigo antes de assistir esse vídeo aqui em nosso fórum. Vamos brincar de dar nomes bizarros para nossos filhos! Afinal, eles não podem reclamar mesmo:

- Valdisnei: Um clássico. Homenagem ao grande Walt Disney.

- Usnavi: Filho de um fanático por navios americanos, que apresentam a inscrição U.S. NAVY.

- Adolfo Dias: Nada demais. O problema foi a doença do paciente. Impotência. Um predestinado.

- Kaelisson Bruno: Homenagem ao grupo KLB (Kiko, Leandro e Bruno).

- Caso famoso em Recife: Xerox (pai), Fotocópia (filha mais velha) e Autenticada (filha mais nova).

- Merdalina: Pois é. Tem de tudo.

- Maiquel Edy Marfy: Seria Michael + Eddie Murphy?

- Maycom Géquiçom: Sem comentários.

- Urinoldo Alequissandro: O médico que atendia este garoto o encaminhou para outro colega. Não conseguia parar de rir ao associar o garoto com um urinol.

- Kevinson Junior: O nome do pai era Rafael (Atenção para a sutileza).

- Caralhecilda: Ninguém chamava a paciente gritando. Por que será?

- Um Dois Três de Oliveira Quatro: Esse é famoso. É um agricultor potiguar. Eles merecem.

- Tospericagerja: Um clássico, homenagem do pai aos craques da Copa de 70: TOStão, PElé, RIvelino, CArlos Alberto, GERson, JAirzinho.

- Jean Claude Van Dame da Silva: Um magrinho raquítico.

- Boniclaide: Bonnie and Clyde.

- Erripóter: A mãe não se chamava J.K Rowling.

- Kalifornia Drim dos Santos e Roliude dos Santos: Irmãos provindos de uma comunidade hippie.

- Darkson Stick Nick da Silva: Venceu um concurso promovido pelos médicos - O pior nome!

- Harlei David Son: Born to be wild!

- Laion, Pantro e Xitara: Geração Thundercats.

- Uilikit e Uiliket: Gêmeos também da geração acima.

- Bilidudilei e Jimibradilei da Silva: Irmãos.

- Letisgo: Outro clássico. Let´s go, em versão tupiniquim. Duro era gritar o nome para chamar para a consulta.

- Railander da Silva: Esse sofreu um corte, para sua sorte, não foi a sua cabeça que foi cortada.

- Heman Eduardo: A pronúncia é He-man! Pelos poderes de Grayskull! Acreditem ou não, sua irmã se chamava She-Ra.

- Bruno: Filho mais velho. Até aí nada, o problema foi quando o mais novo nasceu, e foi batizado de Marrone.

- Pir: Pronúncia PI-ERRE.

- Ellen Geoáite: Homenagem a uma escritora americana chamada Ellen G. White.

- Eneaotil: Era mais fácil chamar de NÃO.

- Darzã: O pai era fanho e o cara do cartório não entendeu quando ele disse Tarzan.

- Kwysswyla: Uma proeza, só uma vogal! Leia-se Quíssila. Romy Schneider. Tá, eu sei que você não conhece. Foi uma diva do cinema há uns 50 anos atrás.

- Romixinaide: Homenagem a Romy Schneider.

- Shaite: Nosso velejador Robert Scheidt também merece homenagem.

- Madeinusa: Exótico? Apenas a expressão MADE IN USA, junta.

- Mikarraquinem: Criança que adorava correr do banho.

- Free William da Silva: Free Willy legendado.

- Mijardenia e Merdamercia: Irmãs, carinhosamente chamadas de Mimi e Memé.

- Tayla Nayla, Taxla Naxla, Tarla Narla: Irmãs cuja mãe aguardava a quarta filha, que seria batizada de. Taola Naola. Levanta a mão aí quem também era fã de Tartarugas Ninja!

- Michelângelo: Seria uma homenagem bonita ao pintor renascentista? Nada, era a tartaruga ninja mesmo.

- Leidi Dai: Nem precisa tecla SAP.

- João Lenão: Beatle tupiniquim.

- Magaiver: Esse com certeza tinha uma mãe que tomava pílula e um pai vasectomizado que estava usando camisinha no dia. E mesmo assim nasceu.

- Orange, Blue e Yellow: Família arco-íris.

- Justdoit: A Nike fazendo a cabeça do povão.

- Aga Esterna: Essa era uma joia! Literalmente.

- Mari Onete: Ao contrário do que se pensa, foi sozinha à consulta.

- Delícia Cremosa: Devem ter levado o pote de margarina pro cartório.

- Jedai: Que a força esteja com você.

- Inri: Isso mesmo. Jesus de Nazaré Rei dos Judeus.

- Rudegulete e Claiver: 2 irmãos, uma dupla de ataque poderosa (Ruud Gullit e Kluivert).

- Ulton: Ao chamar a criança, o médico foi corrigido pela mãe: U-Eli-Ton. Tem que pronunciar o L.

- Istiveonder da Silva: Ao contrário do cantor, esse enxergava bem.

- Uiliam Bone: Futuro apresentador do Jornal Nacional.

- Silvester Estalone: Diz o médico que pediu um autógrafo.

- Hyrum: Pronuncia "Airon". Questionado, o pai disse que era homenagem ao Iron Maiden.

- Frankstein Júnior: O pai se chamava João da Silva. Como será que posso fazer pra demonstrar minha paixão pelo esporte e minha estupidez simultaneamente?

- Kung Fu José e Kung Fu João: Gêmeos.

- Myqueimausi: Deve ser filho do Valdisnei.

- Miquetiçon: Segundo a mãe, pronuncia-se. Mike Tyson.

- (Homenagem ao ex-piloto francês de F1 Patrick Tambay) - Patrick Itambé da Silva.

- Dois irmãos: Villejack Jeans e Cachemire Bouquet. Eita propaganda!

- Hotidogson: Nem o cachorro quente escapa da homenagem.

- Milquesheiqueson: Qual era o sabor?

- Brucili Benedito da Silva: Mais um homenageado, Bruce Lee.

- Abias Corpus da Silva: Esse nunca iria preso.

Brasil, país da criatividade!


Perguntas e respostas famosas



Perguntaram ao grande matemático árabe Al-Khawarizmi sobre o ser humano, e ele respondeu:
− Se tiver Ética, ele é 1. Se também for inteligente, acrescente 0 e será 10. Se também for rico acrescente mais um 0, e ele será 100. Mas... se perder o 1, que corresponde à Ética, então perderá todo o seu valor e restarão apenas os zeros

Um repórter fez a seguinte pergunta a Nelson Piquet:
− E aí, Piquet, vai ganhar hoje?
Piquet:
− Sou piloto, não sou vidente!

Perguntaram a Dom Hélder Câmaraarcebispo emérito de Olinda e Recife, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil, o que o povo achava dele?
− Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.

Perguntaram ao ex-jogador e ex-técnico Dunga, como se faz para ganhar um campeonato?
Ele respondeu o seguinte:
− Se você fizer tudo certo e perder, está tudo errado. Se fizer tudo errado e ganhar, está tudo certo.

Perguntaram a Nelson Rodrigues se os homens mentem muito.
Eis a resposta dele:
− Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.

Perguntaram a Jânio Quadros por que ele bebia:
Sua resposta foi a seguinte:
− Bebo porque é líquido, pois e fosse sólido comê-lo-ia.

Perguntaram a Mae West, atriz americana os dos 40, 50... se os homens podiam confiar nela:
− Claro, centenas já confiaram...

Pergunta de um repórter esportivo a Garrincha:
− Garrincha, dê um alô ao microfone!
Garrincha:
− Alô, microfone!

Perguntaram a Claudiomiro, antigo centroavante do Internacional, de Porto Alegre, o que ele faria com Moto-rádio, que ganhou por ter sido escolhido o melhor em campo:
Claudiomiro:
− A moto eu vou vender, o rádio eu vou dar pra minha mãe...

Perguntaram a Elsie Lessa, jornalista e cronista brasileira, de que tempo ela era:
Elsie Lessa:
− Sou do tempo em que toda geladeira era branca e todo telefone era preto.

Perguntaram ao recém-eleito presidente da República, Juscelino Kubitscherk, que medidas ele tomaria em relação às secas no Nordeste, em 1956:
Juscelino:
− Esta é a última seca que assola o Nordeste.

Perguntaram a Hermano Alves, jornalista e político brasileiro, qual seria a solução para o Brasil:
Hermano Alves:
− A solução para o Brasil é meter o operariado paulista dentro da realidade física do Nordeste, sob a orientação dos intelectuais de Ipanema. Pena que isso só possa acontecer num filme de Glauber Rocha.

Ao ser perguntado em 1979 por um garoto sobre o que faria se seu pai ganhasse o salário mínimo, João Batista Figueiredo respondeu secamente:
− Eu dava um tido na nuca.

Perguntaram a Fernando Collor de Mello com ele liquidaria a inflação:
Collor respondeu:
− Vou liquidar o tigre da inflação com uma única bala!

Perguntaram a Fernando Collor de Mello qual seria o seu primeiro ato como presidente:
Collor:
− Meu primeiro ato como presidente será mandar para a cadeia um bocado de corruptos.

Perguntaram a Otto Lara Resende, jornalista e escritor brasileiro, se, nós, brasileiros, um dia acabaríamos no Primeiro Mundo:
Otto:
− Vamos acabar, sim, no Primeiro Mundo. Encarregados da faxina: camareiros, garçons, lixeiros etc.

Um menino de rua perguntou a Tico Terpins, da banda punk Joelho de Porco, se ele não tinha um trocado para ele comprar um doce, pois estava com fome:
Tico:
− Não dou. Senão, você não janta.

Perguntaram a Nelson Rockfeller, ex-governador, ex-presidente e empresário norte-americano, sobre a pobreza, que, falando sério, deu a seguinte resposta:
Rockefeller:
− O principal problema das pessoas de baixa renda é a pobreza.

Perguntaram a Woody Allen, cineasta, roteirista, escritor, ator e músico norte-americano, sobre o pessimismo:
Woody respondeu o seguinte:
− Mais do que qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto; o outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.

Perguntaram a Eriberto França, ex-motorista de Fernando Collor de Mello, então presidente, se ele não se envergonhava de estar traindo o seu patrão:
Eriberto respondeu:
− Meu patrão é o Brasil.

Perguntaram a Tim Maia, cantor, compositor, instrumentista e produtor musical, se ele tinha algum vício:
− Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouco.

Perguntaram a Jânio Quadros, advogado, professor e político brasileiro, se ele havia dito a frase: “Filo porque qui-lo”.
Jânio respondeu:
− Eu jamais diria “Fi-lo porque qui-lo”. O que eu disse foi “Fi-lo porque o quis”.

Perguntaram a Ibrahim Sued, jornalista, colunista social e apresentador de televisão sobre o poder do jornalista.
Ibrahim disse:
− O jornalista é forte e poderoso não pelo bem que ele faz, mas pelo mal que pode fazer.

Em 1955, aos cinquenta anos, quando convidaram Érico Veríssimo, um dos escritores brasileiros mais importantes do século XX, a entrar para a Academia Brasileira de Letras:
Érico, assustado, respondeu;
− Entrar para a Academia? Mas eu já sou quase uma vaga!

Ulisses Guimarães, político, advogado e um dos principais opositores è ditadura militar, ao ser chamado de velho pelo presidente Collor, respondeu da seguinte forma:
− Velho, sim; velhaco, não.

Boris Casoy, jornalista e âncora de telejornal, sobre governos em geral, disse o seguinte:
− Suspeito respeitosamente de todos os governos. Deve ser distorção minha. Ou dos governos.

Perguntaram a Maria Corelli, escritora inglesa, por que ela nunca se casou?
Ela respondeu da seguinte maneira:
− Nunca me casei porque nunca precisei. Tenho três bichinhos em casa que, juntos, perfazem um marido: um cachorro que rosna de manhã, um papagaio que fala palavrões o dia todo e um gato que volta de madrugada para casa.

Nancy Witcher Astor, Lady Astor, a primeira mulher a fazer parte da Câmara dos Comuns do Reino Unido, falando a Winston Churchill, político conservador e estadista britânico, sobre a questão matrimonial:
Lady Astor:
− Se você fosse meu marido, Winston, eu envenenaria o seu chá.
Churchill:
− E se eu fosse o seu marido, Nancy, eu tomaria esse chá.

Perguntaram a Art Buchwald, humorista norte-americano, se ele entendia de vinhos. Ele respondeu seguinte:
− Quando me mudei para Paris não entendia nada de vinhos. Dois anos depois, já era capaz de saber se um vinho era branco ou tinto sem ter de prová-lo. Bastava olhar para a garrafa.

Perguntaram, certa vez, a Vinicius de Moraes se ele tinha medo de avião. Vinicius respondeu o seguinte:
− Avião é mais pesado do que o ar, tem motor à explosão e foi inventado por um brasileiro. Não pode funcionar.

Perguntaram a Bope Hope, ator comediante norte-americano, quando é que uma pessoa estaria ficando velha:
Resposta de Bope:
− Você sabe que está ficando velho quando as velas começam a custar mais do que o bolo.

Perguntaram a Paulo Francis, jornalista, crítico de teatro e escritor brasileiro, sobre a invasão de baianos no Rio de Janeiro:
Francis disse o seguinte:
− Os baianos invadiram o Rio para cantar “Ó, que saudades eu tenho da Bahia...”. Bem, se é por falta de adeus, PT saudações.

Perguntaram a Al Capp, o pseudônimo por que ficou conhecido o cartunista, escritor e conferencista norte-americano Alfred Gerald Chaplin, criador de Ferdinando e da Família Buscapé, que opinião ele tinha sobre a arte abstrata:
Aqui está a opinião de Al:
− A arte abstrata é um produto dos incompetentes, vendida pelos inescrupulosos e comprada pelos imbecis.

Perguntam a Alfred Hitchcock, cineasta britânico, por que ele nunca fez um filme infantil:
Hitchcock respondeu:
− Se eu filmasse Cinderela, a plateia pensaria que havia um cadáver na carruagem.


(Algumas frases do livro “O Melhor do Mau Humor”, de Ruy Castro)

quarta-feira, 28 de março de 2018

A Constituição de Capistrano de Abreu



Dois jornalistas, redatores da “A Manhã”, do Rio, foram procurar Capistrano de Abreu, para entrevistá-lo sobre o problema social no Brasil. Ao encontrá-lo na rua, para solicitar-lhe um encontro, o erudito misantropo disse-lhes logo, hostil:

− Estou em casa sempre até as 11 do dia e depois das 9 da noite. Se quiserem ir, vão; se não quiserem, não vão. Para mim é indiferente.

No dia seguinte, houve a visita. O misantropo, deitado em uma rede e cuspindo numa lata, achou que o país estava perdido. Tudo uma lástima. E concluiu, feroz:

− Agora andam falando em reforma constitucional. Querem atribuir os erros à lei... Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição, decretando:

“Artigo 1º: − Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.

  Artigo 2º: − Revogam-se as disposições em contrário.”

E cuspiu na lata.

(O Brasil Anedótico, obras completas de Humberto de Campos,
livraria José Olympio, Rio de Janeiro, 1936, pág. 60)


João Capistrano Honório de Abreu foi um jornalista e professor brasileiro que literalmente deixou seu nome na História. Nasceu em 1853 na cidade cearense de Maranguape, o também genial Chico Anysio foi seu conterrâneo. Poucos conheciam o Brasil como ele, o mais influente historiador de sua época, destacando-se em meio a intelectuais portentosos como Rodolfo Garcia, Pandiá Calógeras, Afonso Taunay e Paulo Prado.

Foi por conhecer realmente o Brasil e a formação de sua nacionalidade que o genial jornalista da Gazeta de Notícias passou a defender que a Constituição se resumisse a apenas dois artigos, porque, se ambos fossem obedecidos, todos os problemas do país se resolveriam automaticamente.

O Artigo 1º seria: “Todo brasileiro deve ter vergonha na cara”. E o Artigo 2º encerraria a chamada Carta Magna: “Revogam-se as disposições em contrário”.

terça-feira, 27 de março de 2018

Visita de médico

Uma Peça de Teatro do século 18


D. Lancerote − Oh! tarda este médico!

Sevadilha − Não pode tardar muito, pois me disse que vinha.

D. Lancerote − Como estais agora, meu sobrinho?

D. Tibúrcio − Depois que arrotei, acho-me mais aliviado.

D. Nize − Vaso ruim não quebra (à parte).

D. Clóris − Se fora coisa boa, não havia de escapar (à parte).

D. Lancerote − Não sabeis quanto folgo com a vossa melhora, pois me estava dando cuidado o enterro, e me podeis agradecer a boa vontade, pois vos seguro que havia de ser luzido: vós o veríeis.

D. Tibúrcio − Outro tanto desejo eu fazer a Vossa Mercê.

(Entram D. Gil e Semicupio vestidos de médicos).

Semicupio − Deo gratias.

D. Lancerote − Entrem, senhores doutores.

Semicupio − Qual de Vossas Mercês é aqui o doente?

D. Lancerote − É este que aqui está de cama.

Semicupio − Logo me pareceu pelos sintomas.

D. Tibúrcio − Ai, minha barriga, que morro! Acuda-me, Senhor doutor!

Semicupio − Agora vou a isso; ora diga-me o que lhe dói?

D. Tibúrcio − Tenho na barriga umas dores mui finas.

Semicupio − Logo as engrossaremos; e tem o ventre tremido, inchado e pululante?

D. Tibúrcio − Alguma coisa.

Semicupio − Vossa Mercê é casada ou solteira?

D. Lancerote — Não, senhor, que meu sobrinho é macho.

Semicupio − Dianteiro ou traseiro?

D. Lancerote − Ui, Senhor doutor! Digo que meu sobrinho é varão.

Semicupio − De aço ou de ferro?

D. Lancerote − É homem: não me entende?

Semicupio − Ora acabe com isso; eis aqui como por falta de informações morrem os doentes; pois se eu não especulara isso com miudeza, entendendo que era macho lhe apucava uns cravos, e se fosse varão umas limas; e como já sei que é homem, logo veremos o que se lhe há de fazer.

D. Lancerote − Eis aqui como eu gosto de ver os médicos assim especulativos.

Semicupio − Pois o mais é asneira; diga-me mais, ceou demasiadamente a noite passada?

D. Tibúrcio − Tanto como a futura, porque desde que se me acabaram as chouriças que trouxe no alforje, me tem meu tio posto a pão e laranja.

D. Lancerote − Aquilo são delírios, Senhor doutor.

Semicupio − Assim deve ser por força, ainda que não queira, pois, conforme ao aforismo: Cum barriga dolet, catera membra dolent.

D. Tibúrcio − Não são delírios, Senhor doutor, que eu estou em meu juízo perfeito.

Semicupio − Pior, pois quem diz que tem juízo, não o tem.

D. Lancerote − Senhor doutor, o homem está alucinado, depois que um fantasma, que saiu de uma caixa, o desancou; e, sobre isto, a grande pena que tem tomado de umas moças que aqui introduziu em casa, enganando-as, de cuja inocência se me veio queixar à mãe, que era mulher de bem, ao que parecia.

Semicupio − Ela é muito criada de Vossa Mercê.

D. Tibúrcio − Deixemos isso; o caso é que a minha barriga não está boa.

Semicupio − Cale-se que ainda há de ter uma boa barrigada. Deite a língua de fora.

D. Tibúrcio − Ei-la aqui.

Semicupio − Deite mais.

D. Tibúrcio − Não há mais.

Semicupio − Esta bastará; é forte linguado! Tem muito boa ponta de língua! Vejam Vossas Mercês, Senhores doutores.

D. Gil − A língua é de prata.

D. Fuas − Úmida está bastante.

Semicupio − Venha o pulso: está intermitente, lânguido, convulsivo.

D. Lancerote − Ah! senhor, que grande médico!

D. Nize e D. Fuas − Como está tão melancólico! (para D. Clóris).

D. Clóris − Estará cuidando na receita.

Semicupio − Ora, senhores, capitulemos a queixa. Este fidalgo (se é que o é, que isto não pertence à medicina) teve uma colérica procedida de paixões internas, porque o espírito, agitado da representação fantasmal e da investida feminil, retraindo-se o sangue aos vasos linfáticos, deixando exauridas as matrizes sanguinárias, fez uma revolução no intestino reto; e, como a matéria crassa e viscosa, que havia nutrir o suco pancreático, pela sua turgência se achasse destituída de vigor, por falta de apetite famélico, degenerou em líquidos; estes, pela sua virtude acre e modaz, vilificando e pungindo as túnicas e membranas do ventrículo, exaltaram os sais fixos e voláteis por virtude do ácido alcalino, de sorte que fez com que o senhor andasse com as calças na mão toda esta noite: in calsis andatur, qui ventre evacuar, disse Galeno.

D. Lancerote − Eu não lhe entendi palavra.

D. Tibúrcio − Eu morro sem saber de quê.

Semicupio − Conhecida a queixa, votem o remédio, que eu, como mais antigo, votarei em último lugar.

D. Gil − Eu sou de parecer que o sangrem.

D. Fuas − E eu que o purguem.

Semicupio − Senhores meus, a grande queixa, grande remédio; o mais eficaz é que tome umas bichas nas meninas dos olhos, para que o humor faça retrocesso de baixo para cima.

D. Tibúrcio − Como é isso de bichas nas meninas dos olhos?

Semicupio − É um remédio tópico; não se assuste, que não é nada.

D. Tibúrcio − Vossa mercê quer-me cegar?

D. Lancerote − Calai-vos, sobrinho, que ele médico é, e bem o entende.

D. Tibúrcio − Por vida de D. Tibúrcio, que primeiro há de levar o diabo o médico e a receita, do que eu tal consinta.

Semicúpio − Deite-se, deite-se: o homem está maníaco e furioso.

*****

(Guerras do Alecrim e da Manjerona, cena V, da 2ª parte).

Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte:
Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.


Antônio José da Silva, O Judeu, (Rio de Janeiro, 1705, Lisboa, 1739) advogou em Lisboa, e, havendo escapado a uma primeira acusação de judaizante, tinha-se popularizado como autor de peças dramáticas, então chamadas óperas, para o teatro do Bairro-Alto, quando foi denunciado por uma escrava e, condenado, sofreu pena capital no Campo da Lã. Espírito’ galhofeiro e que essencialmente ambicionava comprazer ao público, nem sempre acatou a decência; mas não vale negar-lhe, como bem pondera o Senhor Pereira da Silva, o pico da originalidade e do sal cômico.

Entre as suas óperas distinguem-se: Vida do Grande Dom Quixote de La Mancha; O Labirinto de Creta; Esopaida; Guerras do Alecrim e da Manjerona; e o Anfitrião, no qual se tem querido ver alusões ferinas a D. João V.

Lembranças amargas, não...

(Memórias de Álvaro Moreyra)

1888-1964



→ Murmuro esse nome como se começasse a rezar, como se estivesse beijando – Mãe... – Nome tão pequeno, maior que toda a vida...

→ A primeira mulher a quem chamei: − Minha...

→ Esqueci o berço. Não esqueci o colo.

→ Deus te castiga! – é uma ameaça que se escuta desde pequeno, e é mentira. A verdade é que Deus perdoa. Se Deus não perdoasse, − meu Deus!

→ Eu também criei um mundo. E vi, também, que era bom.

→ Nunca me esqueço de que fui criança...

→ Para fazer um céu basta uma estrela...

→ A eternidade é a vida de cada um. Na vida de cada um, quantas eternidades!

→ O pessimismo é uma atitude. O otimismo é um jeito. Nasce-se otimista. Fica-se pessimista.

→ Eu digo que não gosto de escrever cartas, e afinal só escrevo cartas...

→ Um amigo que morre é um amigo que nunca se perde. A vida é uma desperdiçada.

→ Entristeci muitas vezes. Nunca fui desgraçado.

→ Por que será que a gente sempre fala na felicidade, quando a noite vem caindo?...

→ A brutalidade de certos homens dá a impressão de que eles estão brincando...

→ Nem os espelhos nos refletem iguais. Somos sempre outros na face dos espelhos.

→ Num boletim científico, que folheei na sala de espera de um consultório, li este título: “Os paradoxos do beribéri”.

→ Se você voltar ao mundo, quererá de novo ter amigos? – Sim... os rios, os jardins...

→ Às vezes fico cismando que era com música que eu deveria contar as minhas coisas...

→ Quando muito ansiamos por uma coisa, é como se já houvéssemos tido e perdido... O desejo é o primeiro clarão da saudade...

→ A vida... A vida é uma criança. Pousa as mãos sobre ela, acaricia, vai murmurando: − Fecha teus olhos... dorme, minha filha... dorme, meu amor...

→ Escurece. O dia morre pensando na manhã...

→ Felicidade, − essa alegria iludida e sozinha...

→ Tudo o que começa é alegria...

→ O que sentimos, o que dizemos, outros sentiram, outros disseram. Não te magoes por isso. O perfume das rosas volta em todas as rosas, e vê como o nosso jardim é lindo...

→ Somos todos iguais. A humanidade é uma só. Variam um pouco as aparências. E os estilos...

→ Provérbio chinês: − Se não puderes evitar que o aborrecimento entre na tua casa, não lhe ofereça cadeira.

→ Uma senhora me pediu, no outro sábado: − fale-me com franqueza. – Eu falei. Ela ficou espantada.

→ A realidade é muito maior do que se pode imaginar: continua, continua...

→ Gosto de ser brasileiro. Sentir pela cabeça, pensar pelo coração, herdeiro contente dos antepassados, dentro da vida que, quando se inicia, vê a luz.

→ Um assunto que interessa é o que faz o café esfriar...

→ A vida, afinal, só tem um lado. Mas esse lado é o outro...

→ Os homens se apavoram pelo que pensam; o que sentem não os assusta.

→ Nunca é tarde para ir mais longe...

→ Cada palavra que se escuta acende uma chama na memória. Mais pelos ouvidos do que pelos olhos a nossa vida se enche de recordações...

→ A palavra é claridade. O gesto é sombra. Mas é o gesto que nos irmana às ondas, às asas, às nuvens...

→ És o dia que faz...

→ Um homem de minha devoção definiu uma mulher: “É tão verdadeira que, de começo, tem o ar um pouco simples. É preciso olhá-la muito tempo para a ver”. E definiu a vida.

→ Certas mulheres, em certas tardes, têm a graça ingênua e natural de certas flores...

→ Há os que se esquecem de lembrar, há os que se lembram de esquecer.

→ A alma não faz anos...

→ “Há tempo de rir, e há tempo de chorar”, segundo Salomão. Há, também, tempo de chorar de tanto rir...

→ Testamento (passível de ser anulado): − Deixo a todos o desejo de tudo que não realizei...

→ Com palavras que pertencem a todos, simplesmente, naturalmente. O modo de dizer é que talvez faça a diferença...

→ Mesmo aos grandes desesperados, sempre resta alguma esperança...

→ Vivo de improviso, apesar de viver sem eloquência.

→ Nesta idade eu podia repetir o que dizia aquela senhora alemã. De Santa Maria da Boca do Monte, sempre que se confessava: − “Eu não matei, eu não roubei, tudo mais eu fiz”.

→ A noite chega como um abraço...

→ É mais fácil esquecer um grande amor do que um número de telefone...

→ O tempo feliz é sempre o tempo que passou. Embora, nesse tempo, se tivesse sido muito desgraçado...

→ Sei de criaturas que desperdiçam a vida, maldizendo-a, à espera sempre de melhores dias. Por isso mesmo cada vez os dias lhes parecem piores...

→ Um autor, diante de uma mulher, tem que ser sempre um autor. Às vezes, não sabe de quê...

→ A felicidade não morre toda. A gente é sempre um pouco feliz da felicidade que teve...

→ Desejamos tanto... e tudo está em nós...

→ Os egoístas morrem sozinhos.

→ Nós todos, um a um, quantos! Como somos! Como fomos! Em cada imagem nossa, que multidão!

→ Gosto disto aqui. Aprendi, mais ou menos, o jeito que isto tem. Não me zango. Não me lamento. Vou indo. Há tanta coisa bonita!

→ Sempre olhei para os jardins, com doçura e gratidão. Eles são as minhas aldeias. Tão sossegados! Só nos jardins há amores perfeitos. Só nos jardins, os cravos não são para crucificar, nem ferrar. E as rosas, que sinceridade!

→ A beleza não é o corpo. É um sentimento do corpo. Não é a alma. É uma imagem da alma. Está no desejo. Está na saudade. Música nos olhos. Palavras que se aperta nas mãos. O último, longo, longo adeus à vida...

→ Não é envelhecer que entristece, − é não encontrar mais moços... Parece que a minha geração foi a última que teve vinte anos.

→ Sou contra o equilíbrio. Acho que a gente deve cair para poder levantar-se...

→ Como é difícil ser o que se é...

→ Exclamas: − Não espero mais nada neste mundo! − É o que estás fazendo...

→ Às vezes, eu converso comigo... Já comecei a falar sozinho... Antes eu cantava sozinho... Foi a voz que baixou...

→ Eu tenho pena é do meu anjo da guarda... Coitado! Teve que vir comigo...

→ As minhas rosas se esqueceram de que tinham espinhos. As minhas abelhas se esqueceram de que tinham ferrões.

→ Cada um na vida, vê apenas o “seu” caso. E acha que esse é o caso da vida.

→ É impossível escrever um diário. Um diário devia guardar todas as coisas que acontecem. E há coisas que acontecem só para a gente se esquecer delas.

→ Nunca inventei, − assisti...

→ Nunca um desejo me afligiu. A imaginação me deu tudo.

→ “Inocência” é a palavra mais bonita da nossa língua. “Você”, a mais gostosa. “Umbigo”, a mais engraçada.

→ Há a terra onde nós nascemos, e há a mulher que nós amamos. Tudo mais é reflexo...

→ A criatura que se confessa, confessa todas as criaturas. Muitas coisas não sabemos de nós porque não ouvimos as coisas que os outros sabem deles, e contam.

→ Liberdade de pensamento... Quando foi que houve? Diz-se que o pensamento não é livre quando não se pode ser contra o pensamento dos outros. Este pensamento tem me consolado muito.

→ Também da chuva, gosto da que vem, suave, lenta, com melancolia. Dessa, nervosa, irritada, barulhenta, não; e peço-lhe que me desculpe...

→ A palavra é claridade. O gesto é sombra. Mas é o gesto que nos irmana às ondas, à asas, às nuvens...

→Apesar da chuva, o sol nasce para todos. Não se aflijam os que leem telegramas nos jornais. De tantos boatos ruins, acabará saindo uma notícia boa.

→ As lembranças são estrelas. A memória é uma noite bonita. Não faz mal que essas estrelas tenham morrido há muitos anos. A luz delas ainda me acaricia...

→ Muitas pessoas enlouqueceram por excesso de imaginação, e muitas pessoas não enlouquecem porque são indecisas...

→ Os limites do mundo podem ser essas paredes caladas, com a janela aberta para o céu...

→ Afinal, não é a vida que melhora o mundo: é a morte. Que pena!

→ ... conseguir, cada dia, uma pequena felicidade: o pão nosso de nossa alma.

→ O primeiro amor é todo o amor... A gente só ama uma vez... Mas vai a repetir... a recordar...

→ O que importa é a natureza. Num começo de dia assim, que prazer melhor que o de concordar encantadamente com que o filósofo não se enganou: o mundo é a nossa representação.

→ O corpo é a doença da alma.

→ No destino de cada homem há uma cidade, a cidade onde ele foi moço, a cidade para onde volta, muitas vezes nessas viagens paradas. Revê, revê-se... É como era. E ninguém envelheceu. E nada envelheceu. As novidades mais novas são as recordações.

→ Só os felizes se queixam de envelhecer...

→ Que silêncio tão longo numa hora tão breve!

→ Amava com paixão, viver. Quando sentiu a morte disse: − Meu Deus, por que este castigo?

→ A ausência enche a casa toda.

→ O perfume da rosa volta em todas as rosas.

→ Deve-se dizer tudo o que se sente... para, mais tarde, pensar que se sentiu errado. É um passatempo.

→ Estou mais vizinho do mar. É bom. Isto alarga os horizontes.

→ A sombra é o silêncio visível. A sombra de uma árvore é a saudade que os ramos têm da terra...

→ Olha as árvores como são serenas. E no entanto, ocultas na terra, como as raízes sofrem!...

→ “Confiar, desconfiando”. Um disse. Muitos repetem. É assim que se estraga a vida...

→ O dia chegará em que poderemos ficar calados...

→ Na verdade, não há sonho: há lembrança.

→ O homem estendeu a mão:
     − Uma esmola.
     Eu também estava sem dinheiro. Expliquei
     − O senhor ainda leva uma grande vantagem sobre mim: o senhor pode pedir.

→ Aprendi, desde bem cedo, a compreender e a perdoar. De vez em quando, por muito compreender, perdoar se torna difícil. Porém sempre tenho arranjado um jeitinho...

→ O vagabundo feliz. Vai cantando e criando a música que sai do canto e é a sua música. Homem sem rumo. Caminha para onde a estrada o leva. Ser. Coisa. Sentimento encarnado. Natureza viva.

→ Em toda a minha vida, do que mais gostei, foi de querer bem...

→ O meu prazer é mudar de opinião. Com esse prazer vou evitando a velhice...

→ Não te apresses em alcançar o fim. Vai andando... vai andando... a estrada é que é boa...

→ Se alguém me convencesse de que anjo da guarda não existe, eu teria um grande desgosto...

→ Há o determinismo. Há o livre-arbítrio. Não há nada, e há tudo. A questão é não ter pressa.

→ Na América do Norte, liberdade é uma estátua.

→ O que eu sou é monótono. Ou melhor: igual. De entre as palavras abolidas, igualdade foi a que sempre me acompanhou. Gosto de ser adjetivo concreto de um substantivo tão abstrato.

→ Ah! Como se precisa ter paciência! E que paciência se precisa ter para não mostrar que se precisa ter paciência!

→ Bondade é uma coisa que não podemos passar adiante; ela volta sempre.

→ O tempo passa... Que mal há nisso? Certas criaturas ficam sempre na mesma idade, e essa idade é a do dia que as conhecemos e começamos a lhes querer bem.

(Frases do livro “As Amargas, Não...”, lembranças de Álvaro Moreyra)


Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreira da Silva, ou simplesmente Álvaro Moreyra (Porto Alegre, 23 de novembro de 1888 − Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1964) completou o curso de ciências e letras (1907). Em 1908, iniciou-se no jornalismo, participando da vida literária. No Rio de Janeiro (1910), entregou-se ao jornalismo na redação do “Fon-Fon“, a revista que atuava no Simbolismo. Diplomou-se em direito (1912). No terreno propriamente teatral, fundou, junto com Eugênia Moreira, o “Teatro de Brinquedo”. Membro da ABL, contista, poeta, teatrólogo, comentarista de rádio, jornalista.

NOTA: Modificou voluntariamente o longo nome de família para Álvaro Moreyra, com y, para que esta letra “representasse as supressões” destes nomes.