quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Como surgiu o jogo do bicho



Barão João Batista Viana Drummond

Foi o próprio fundador do Jardim Zoológico do Rio de janeiro, o Barão João Batista Viana Drummond, quem criou essa loteria em 1893, quando o governo cortou a verba de alimentação para seus animais. Para compensar a perda da subvenção, ele mandou imprimir nos ingressos os desenhos de 20 bichos e, a cada dia, sorteava um deles. “Quem comprasse uma entrada, que custava então mil réis, ganhava 20 000 réis se o animal estampado no bilhete fosse o mesmo exibido no quadro pouco antes do fechamento do parque”. Afirma a historiadora Maria do Rosário Tavares de Lima, do Museu do Folclore, em São Paulo. A estratégia deu tão certo que se espalhou por outros pontos da cidade e, logo depois, por todo o país. Apesar de clandestino, o jogo do bicho ainda hoje continua vivo como uma das mais populares e onipresentes tradições culturais brasileiras.

01 Avestruz dezenas: 01 02 03 04

02 Águia dezenas: 05 06 07 08

03 Burro dezenas: 09 10 11 12

04 Borboleta dezenas: 13 14 15 16

05 Cachorro dezenas: 17 18 19 20

06 Cabra dezenas: 21 22 23 24

07 Carneiro dezenas: 25 26 27 28

08 Camelo dezenas: 29 30 31 32

09 Cobra dezenas: 33 34 35 36

10 Coelho dezenas: 37 38 39 40

11 Cavalo dezenas: 41 42 43 44

12 Elefante dezenas: 45 46 47 48

13 Galo dezenas: 49 50 51 52

14 Gato dezenas: 53 54 55 56

15 Jacaré dezenas: 57 58 59 60

16 Leão dezenas: 61 62 63 64

17 Macaco dezenas: 65 66 67 68

18 Porco dezenas: 69 70 71 72

19 Pavão dezenas: 73 74 75 76

20 Peru dezenas: 77 78 79 80

21 Touro dezenas: 81 82 83 84

22 Tigre dezenas: 85 86 87 88

23 Urso dezenas: 89 90 91 92

24 Veado dezenas: 93 94 95 96

25 Vaca dezenas: 97 98 99 100


As melhores músicas de Bororó

Curare” é o segundo sucesso de Alberto de Castro Simões da Silva, o afamado boêmio carioca Bororó, violonista e compositor nas horas vagas, cuja obra praticamente se resume a duas músicas, Curare e Da cor do pecado, ambas clássicos.



Bororó - 1898 - 1986

Bororó foi o padrinho da carreira artística de Orlando Silva, que em 1939 ficou enciumado por não ter gravado “Da cor do pecado”, o outro clássico, lançado por Sílvio Caldas. Então o compositor deu-lhe “Curare”, como compensação. Além da letra brejeira, a construção harmônica da segunda parte, especialmente a frase final, uma seqüência avançada para época, tornam este samba atraente para intérpretes, como João Gilberto, interessados em músicas de concepção mais elaborada.

Esta música tem diferentes interpretações e diferentes grafias na sua letra. No texto abaixo, mantivemos a interpretação de Orlando Silva, gravação de 14 de agosto de 1940.

Curare − 1940

Você tem boniteza
e a natureza foi quem agiu.
Com esse óio de índia,
curare no corpo,
que é bem Brasil.
Tu é toda a Bahia,
é a flô do mocambo
da gente de cô.

Faz do amor confusão,
numa misturação
bem banzeira e inzoneira,
que tem raça e tradição.

Quebra, machuca minha dô
Nega, neguinha,
tudo, tudinho,
meu amorzinho.

Com essa boquinha vermelhinha,
rasgadinha,
Qui tem veneno como quê.
Conta tristeza e alegria pro seu bem.
E tudo vive a dizer:
Que você é diferente
dessa gente que finge querê.

No livro - A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello relatam que “a musa dos versos chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável, que trabalhava em frente ao Tribunal de Justiça e lhe foi apresentada por Jaime Távora, oficial do gabinete do ministro José Américo. Iniciou-se assim um romance de vários anos em que Bororó foi responsável pela mudança de vida da moça. Mais tarde ela se casaria com um médico, tendo morrido ainda jovem em conseqüência de uma gripe mal curada”.

“Da cor do pecado” permanece como um clássico sendo gravada por grandes nomes da nossa MPB como Elis Regina, João Gilberto, Nara Leão, Ney Matogrosso, Jacob do Bandolim e Luíz Bonfá.

Da cor do pecado

Esse corpo moreno,
Cheiroso e gostoso,
Que você tem.
É um corpo delgado,
Da cor do pecado,
Que faz tão bem.

Esse beijo molhado,
Escandalizado,
Que você me deu.
Tem sabor diferente,
Que a boca da gente
Jamais esqueceu.

E quando você me responde
Umas coisas com graça,
A vergonha se esconde,
Porque se revela a maldade da raça,
Esse corpo de fato
Tem cheiro de mato,
Saudade, tristeza,
Essa simples beleza,
Esse corpo moreno,
Morena enlouquece.
Eu não sei nem por quê,
Só sinto na vida
O que vem de você.

“As duas canções-mestras de Bororó elevam o erotismo que desde cedo embalou a sensibilidade e o sentimento musical do povo brasileiro a um nível tão extremo de realização, que nele já não se acha qualquer vestígio de vulgaridade. E o curioso é que esse erotismo puro, decantado, seja alcançado não por uma recusa ou por um distanciamento dos elementos tradicionalmente tidos como vulgares (a carne, o sexo), mas pela exaltação livre destes mesmos elementos. Por uma série de manobras poético-musicais, nas duas canções o corpo é plenamente afirmado em sua alegria física, sem que venha a se tornar uma coisa, um objeto oco, sem rosto, em total submissão frente aos impulsos básicos do organismo, da matéria”. (Paulo da Costa e Silva).

Fonte:

A Canção no Tempo - 85 Anos de Músicas Brasileiras, Vol 1: 1901-1957 / Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. - São Paulo: Ed. 34, 1997. -Site e blog do IMS.


Orlando Silva, “O Cantor das Multidões”, em 1940.


domingo, 25 de janeiro de 2015

Sapatos sujos

Mia Couto*

O escritor moçambicano Mia Couto, também licenciado em Medicina e Biologia, fez uma oração de sapiência, no dia 7 de Março, na abertura do ano letivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Excertos desta oração foram publicados no “Courrier Internacional” de 2 de Abril. Destacamos... “Os Sete Sapatos Sujos”:

Não podemos entrar na modernidade com o atual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei “Sete Sapatos Sujos” que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:

Primeiro Sapato:

A ideia de que os culpados são sempre os outros.

Segundo Sapato:

A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho.

Terceiro Sapato:

O preconceito de que quem critica é um inimigo.

Quarto Sapato:

A ideia de que  mudar as palavras muda a realidade.

Quinto Sapato:

A vergonha de ser pobre e o culto das aparências.

Sexto Sapato:

A passividade perante a injustiça.

Sétimo Sapato:

A ideia de que, para sermos modernos, temos que imitar os outros.


*Mia Couto, pseudônimo de António Emílio Leite Couto  
(Beira, 5 de Julho de 1955), é um biólogo e escritor moçambicano.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Para melhorar o Português




      Esta é do professor Pasquale: As frases erradas tantas vezes repetidas com as quais a gente já se acostumou...

a)     Planos ou projetos para o futuro. Você conhece alguém que faz planos para o passado? Só se for o Michael J. Fox no filme "De volta para o Futuro“.

b)     Criar novos empregos. Ora, bolas, alguém consegue criar algo velho?

c)      Habitat natural. Todo habitat é natural; consulte um dicionário.

d)     Prefeitura Municipal. No Brasil só existem prefeituras nos municípios. Aliás, ainda bem!

e)      Conviver junto. É possível conviver separadamente?

f)       Sua autobiografia. Se é autobiografia, já é sua.

g)      Sorriso nos lábios. Já viu sorriso no umbigo?

h)     Goteira no teto. No chão é impossível!

i)        Estrelas do céu. "Paramos à noite para contemplar o lindo brilho das estrelas do mar?"

j)       General do Exército. Só existem generais no Exército.

k)     Brigadeiro da Aeronáutica. Só existem brigadeiros na Aeronáutica.

l)        Almirante da Marinha. Só existem almirantes na Marinha.

m)   Manter o mesmo time. Pode-se manter outro time? Nem o Felipão consegue!

n)     Labaredas de fogo. De que mais as labaredas poderiam ser? De água?

o)      Pequenos detalhes. Existem grandes detalhes?

p)     Erário público. O dicionário ensina que erário é o tesouro público, por isso, erário só basta!

q)     Despesas com gastos. Despesas e gastos são sinônimos!

r)      Encarar de frente. Você conhece alguém que encara de costas ou de lado?

s)       Monopólio exclusivo. Ora, pílulas, se é monopólio, já é total ou exclusivo...

t)       Ganhar grátis. Alguém ganha pagando?

u)     Países do mundo. E de onde mais podem ser os países?

v)      Exultar de alegria. Você consegue exultar de tristeza?

w)    Viúva do falecido. Até prova em contrário, não pode haver viúva se não houver um falecido.




Pense bem, antes de dizer essas frases...




O amor em prosa e verso



Do amor

Affonso Tresguerres

Dizia um filósofo que estar enamorado é uma espécie de patetice transitória – definição baseada naquilo que o enamorado melhor faz, que é agir como um pateta. E certamente só um tolo seria capaz de empobrecer sua vida mental, de reduzir seu campo perceptivo e motivacional até o extremo de concentra-se em um só objeto, de tal maneira obcecado que todo o resto passa a segundo plano ou simplesmente desaparece. O enamorado, assim como os lunáticos ou os tontos, raciocina conforme uma lógica especial, em que os princípios da lógica propriamente dita quase sempre estão ausentes. Assim, o enamorado crê no que é incrível, espera o inalcançável, considera provável o impossível, e impossível o que é evidente. Por fim, quando um dia as coisas voltam a seu lugar, quando cessam os sintomas e desaparece a febre, custa-lhe entender o que aconteceu, e às vezes chega à triste conclusão de que ele mesmo tornou-se uma prova tangível do efeito Bamum, segundo o qual nasce um novo tolo a cada minuto, e uma prova também do que poderíamos considerar uma variante do mesmo efeito, que estabelece que um tolo, por tolo que seja, sempre vai encontrar alguém mais tolo do que ele e que, além disso, o admira e, melhor ainda, até se apaixona por ele. Assim vivemos.

Sonetonº116

William Shakespeare

Que eu não veja impedimento
Na sincera união de duas almas.
Não é amor aquele que,
Encontrando modificações, se modifica
Ou diminui se o atinge o desamor do outro.
Oh, não! O amor é para sempre
E enfrenta ileso as piores tempestades.
É estrela guia para cada barco errante,
De brilho intenso, mas valor secreto.
O amor não depende do tempo
Não escolhe nem dia nem hora
Mas resistirá ao limiar da Morte.
E, se se provar que estou errado,
Nunca fiz versos,
Nem jamais alguém terá amado.

Os versos que te fiz

Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra ter oferecer.

Têm a dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Milionários

Juana de Ibarbourou

Segura minha mão. Vamos para a chuva
descalços e com roupa leve, sem guarda-chuva,
com o cabelo ao vento e o corpo na carícia
oblíqua, refrescante e miúda, da água.

Que riam os vizinhos! Posto que somos jovens
e nos amamos e adoramos a chuva,
vamos ser felizes com o prazer singelo
de um casal de pardais que arrulha na rua.

Adiante estão os campos e o caminho de acácias
e a chácara suntuosa daquele pobre senhor
milionário e obeso, que com todos os seus ouros

não poderia comprar nenhum grama do tesouro
inefável e supremo que Deus nos deu:
somos flexíveis, jovens, estamos cheios de amor.

Contra-senso

Marta de Mesquita da Câmara

Oh, meu amor, escuta, estou aqui.
Pois o teu coração bem me conhece:
eu sou aquela voz que, em tanta prece,
endoideceu, chorou, gemeu por ti!

Sou eu, sou eu que ainda não morri
− nem a morte me quer, ao que parece −
e vinha renovar, se inda pudesse,
as horas dolorosas que vivi.

Oh, que insensato e louco é quem se ilude!
Quis fugir, esquecer-te, mas não pude...
Vê lá do que teus olhos são capazes!

Deitando a vista pelo mundo além,
desisto de encontrar na vida um bem
que valha todo o mal que tu me fazes!

Quero

Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que amas que me amas.
Do contrário evapora-se a armação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmente,
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.

Quero ser amado por tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e não sua emissão,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me disseres
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de mear,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,

essa coleção de objetos de não-amor.

A prisioneira

Marcel Proust

São, sobretudo, criaturas assim que nos inspiram amor, para nossa aflição. Pois cada ansiedade nova que por causa delas sofremos desfalca-lhes aos nossos olhos um pouco da personalidade. Estávamos resignados ao sofrimento, crendo amar fora de nós, e percebemos que nosso amor é função de nossa tristeza, que nosso amor é talvez a nossa tristeza, e que o seu objeto só em diminuta porção é a moça da cabeleira negra. Mas, afinal, são sobretudo criaturas assim que nos inspiram amor. 

sábado, 10 de janeiro de 2015

Aparecida



Aparecida, a biografia da santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil. Fruto de pesquisas realizadas no Brasil e no exterior pelo jornalista Rodrigo Alvarez traz três séculos de história sobre a padroeira do país. Narra, por exemplo, a noite em 1978 em que um homem atormentado invadiu a basílica de Nossa Senhora Aparecida e destruiu a imagem da santa - atentado que se desdobrou em uma sequência de acontecimentos cheios de mistérios, como numa trama cinematográfica. Este é apenas um dos eventos que cercam 'Aparecida' e, à medida que se desenrolam, vão se confundindo com a própria História do país. Ilustrada, a obra descreve personagens curiosos - o padre que tirava a santa do altar às escondidas; o governador que cortava cabeças; a restauradora irritada; o frei que enfrentava corruptos. E também revive personalidades marcantes, como a princesa Isabel, que lhe deu a coroa; o general Médici, que financiou uma peregrinação pelo país da ditadura; e os três últimos papas, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, que fizeram questão de beijá-la.

Veja as curiosidades narradas na obra:

› No dia 7 de dezembro de 1868, a princesa Isabel (aquela mesma que aboliria a escravidão brasileira, vinte anos depois) e seu marido, o conde d´Eu, pediram ajuda à santa para conseguir engravidar. Não se sabe a influência da ajuda divina, mas, após anos infrutíferos, o casal teve três filhos.

› Três dias antes do golpe militar de 1964, em 29 de março, um domingo de Páscoa, o então presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, compareceu a uma missa na basílica e confidenciou aos padres que a queda do presidente João Goulart era iminente. O diário do santuário destacou naquele dia: “A revolução vem aí!”.

› Em 16 de maio de 1978, um homem, depois diagnosticado como doente mental, quebrou o vidro de proteção e roubou a santa durante uma missa na igreja. No processo, a imagem perdeu a cabeça e se despedaçou (depois foi restaurada). O rapaz seria preso no mesmo dia.

› Um fato pessoal meu (Nilo), quando, em 1964, fui servir na Brigada de Infantaria Paraquedista, nunca antes havia pedido, pessoalmente, nada a santo nenhum, sempre me senti protegido. Quando fui brevetado e comecei a saltar uma vez por mês em exercícios militares, sabendo das estatísticas de acidentes com paraquedas, fiquei preocupado. Não sei por qual acaso, comecei, dentro dos aviões que saltaria, a rezar, muito discretamente, para Nossa Senhora Aparecida. Pedi por mim e por meus colegas proteção no salto. Naquele ano, 1964, não morreu, em salto, nenhum paraquedista.


Trovas de banheiro

Advertência:

Advertência:

Este texto contém expressões escatológicas e pornográficas.

Leitura só para adultos.

“Os grafitos de latrinas constituem um ritual de transgressão como o carnaval e tantos outros existentes na nossa e noutras culturas Praticada a orgia, puxa-se a descarga e volta-se à vida normal.”

Gustavo Guimarães Barbosa


Poemas variados

Isto não é mictório.
Isto é uma coisa indecente.
A gente não mija nele:
ele é que mija na gente.

Amar sem amado
é se limpar
sem ter cagado.

Cagar, cagar, cagar!
Cagar, supremo prazer!
Quando é preciso cagar,
até se deixa de foder.

Bravo! A isto se chama cagar,
e não esses cagões de merda,
que dizem vão cagar
e não cagam nenhuma merda.

No final, dei a descarga
o meu troço estremeceu,
deu dois passinhos de valsa,
cumprimentou e desceu.

Até gente fina e altiva
neste cômodo isolado
tem barriga subversiva,
e o cu mal comportado.

Neste lugar mal-cheiroso,
pensando numa buceta,
o cara vibra de gozo
ao terminar uma punheta.

A gente faz o que gosta
e muitos têm a pachorra
de pôr em cima da bosta
um glacezinho de porra.

Aqui fora da privada,
escuto uma peidorrada;
pelo ronco, pelo berro
esse cu já levou ferro.

Cagar é bom, dá prazer
ao pobre cu solitário,
é o mesmo que o ‘bicho’
numa enrabada ao contrário.

Oh dama, por quem me aflijo
vos suplico, consintais
que introduza o com que eu mijo
no por onde vós mijais.

Neste local certa feita
caguei cagalhão tão grosso
que tive a impressão perfeita
de ter cagado o pescoço.

Adeus fazenda da fome,
nunca mais me verás tu:
criei limo nos dentes
e teia de aranha no cu.

Neste mundo não há nada
como dar uma boa cagada.

A besta que isso escreveu
prova que nunca fudeu.

Neste local solitário,
onde a vaidade se apaga,
todo covarde faz força
e todo valente se caga.

Cagaste fora do vaso,
por que não cagaste dentro?
Tens a bunda fora de esquadro
ou o cu fora do centro?

Cagar é lei do mundo,
cagar é lei do universo,
cagou Dom Pedro Segundo,
cagando fiz este verso.

Merda não é tinta,
dedo não é pincel,
quando vier à privada
é favor trazer papel.

Ai, ai, ai
Que boca estreita que o penico tem
Se a gente mija, o cu fica de fora
Se a gente caga, o pau fica também.

Neste mundo fode cabra e fode bode
só não fode quem não pode
e quem não pode é que se fode.

Nesta cabine de tábuas,
Porta de saco de juta.
Entra gente boa e má,
Entra até filho da puta!

Sob o caixão da privada,
Há um montão de material.
Toda a bosta acumulada,
Desde os tempos de Cabral.

Num mictório de botequim recém pintado,
o dono colocou um cartaz com o seguinte aviso:

“Por favor deffecar dentro do vaso”

Um gaiato, ao ver no aviso a palavra defecar com dois efes,
fez a seguinte trova:

Quem será o mequetrefe
que escreveu tal maravilha.
Quem defeca com dois efes
limpa o cu com cê cedilha?

Pego o papel higiênico,
passo aquela lixa na bunda,
aperto o botão da descarga,
mas aquela merda não afunda.

Me debruço para a frente
Pra enxergar meu cagalhão,
Pois quem caga acocorado
Caga por dois, meu irmão.

Frases de mictórios públicos

“Todo o fino caga grosso e todo o grosso caga fino.”

“Cague cantando que a merda sai dançando.”

“Não adianta cagar cantando, pois a merda não sai dançando.”

“Lá fora você é valentão, aqui dentro você é cagão.”

“O peido é o grito de liberdade da merda oprimida.”

“O peido é o suspiro de um cu apaixonado.”

“Enquanto você está cagando, tem um japonês estudando.”

“Você que está aí
sem fazer nada
então vá puta
que o pariu!”

Algumas frases são do livro “Grafitos de Banheiro”,
de Gustavo Barbosa, Editora Brasiliense.

Outras são parte do folclore de mictórios públicos.

Caguei

Sei que é mesmo uma agressão
Este ponto a que cheguei,
Andando com um camisolão
Nas costas escrito: Caguei!

Muita gente bem vestida,
Que anda parece um rei,
Quando olha sua vida
Digo pra mim – Caguei!

Para você, meu amigo,
Que sempre cumpriu a lei,
Seria um castigo
Se eu falasse... Caguei!

As cagadas deste mundo,
Que as conheço e bem sei,
O meu desprezo profundo
E mais uma vez... Caguei!

Poema composto numa mesa do Bar Amarelinho, na Cinelândia, RJ,
por Geselyno Leão da Silva.

Um barro em Itapuã

(ao som de Tarde em Itapuã)

O velho calção eu baixo,
Tô com vontade de cagar.
Pego o jornal de anteontem,
Que é pro meu cu se informar.
E sinto a bosta saindo,
Aquele coisa profunda,
A merda bate na água, é bom.
Largar um barro em Itapuã,
Rabo de barro em Itapuã, oi.
Meu cu que arde em Itapuã,
Lá vai cocô em Itapuã.