terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Uma parceria da bossa nova

 

Carlos Lyra


Ronaldo Bôscoli

(...) 

“Brasileiro não marca encontro, brasileiro marca bolo”, era a frase que (Ronaldo) Bôscoli adorava recorrer como justificativa da sua incapacidade de comparecer a compromissos. Contudo, no que dizia respeito ao que combinara com Carlinhos (Lyra), em momento algum passou por sua cabeça não aparecer. Chegou pontualmente − ou quase − ao encontro. Lyra foi logo lhe mostrando uma melodia que havia criado e, quando terminou, explicou do que se tratava: 

− Essa música é meio desenho animado, é inspirada em O Gordo e o Magro. 

Carlinhos havia feito uma brincadeira em cima da música tema do seriado da dupla de comediantes de O Gordo e o Magro (Stan Laurel & Oliver Hardy), que era exibido na televisão. Ronaldo achou interessante. 

− Vamos botar uma roupinha na criança. Faz um “monstro” aí. 

“Fazer um monstro” era cantar qualquer frase na melodia para que Bôscoli pudesse saber a métrica que poderia usar. Carlinhos cantou: 

Cadê você? Pra onde foi? 

Em um caderno apoiado sobre as pernas, Ronaldo escreveu a lápis um verso e cantou: 

Era uma vez um lobo mau 

− Cabe?  − perguntou a Lyra. 

− Cabe. 

Carlinhos foi fazendo mais “monstros”, que Ronaldo transformava em versos. Ao final, tinham uma canção que era a história de Chapeuzinho Vermelho adaptada para um Rio de Janeiro de praia e sol. Segundo Ronaldo, a letra era inspirada numa situação que havia vivido com uma garota em Copacabana. 

À noite, durante mais uma reuniãozinha no apartamento do Dr. Jairo, (pai de Nara Leão) a dupla mostrou o resultado da primeira parceria: 

Lobo Bobo 

Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli

Era uma vez um lobo mau,

Que resolveu jantar alguém,
Estava sem vintém, mas arriscou,
E o lobo se estrepou.
 

Chapeuzinho, de maiô,
Ouviu buzina e não parou,
Porém o lobo insiste e faz cara de triste.
 

Chapeuzinho ouviu
Os conselhos da vovó,
Dizer que não pra lobo,
Que com lobo não sai só.
 

Lobo canta, pede,
Promete tudo até amor,
E diz que fraco de lobo
É ver um chapeuzinho de maiô.
 

Mas Chapeuzinho percebeu
Que o lobo mau se derreteu,
Pra ver você que lobo
Também faz papel de bobo.
 

Só posso lhe dizer,
Chapeuzinho agora traz
Um lobo na coleira,
Que não janta nunca mais.
 

(Do livro “A Bossa do Lobo − Ronaldo Bôscoli”, de Denílson Monteiro) 

Escute, na internet, a interpretação dessa música de Carlos Lyra, do LP “Depois do Carnaval”.

Começar de novo

 

Oi pessoal, hoje vou contar a história de “Começar de Novo”. 

Ela foi uma canção de encomenda, quando em 1979, o diretor de séries da Rede Globo, o excelente Daniel Filho, através da direção da emissora, encomendou a mim e ao poeta e letrista Vitor Martins, uma canção para a abertura da série  “Malu Mulher”. 

A sinopse foi mandada ao Vitor, que escreveu a letra falando sobre recomeços de vida após o fim de uma relação, tema central da série vivida por Regina Duarte.

Nas entrelinhas, Vitor deixou uma releitura, dizendo que nós, brasileiros, precisávamos recomeçar uma nova vida, sem as garras, molduras, escoras, esporas (citação ao General Figueiredo, na época presidente do Brasil, oficial de cavalaria e que disse que preferia cheiro de cavalo a cheiro de povo) do Regime Militar vigente. 

Bem, a letra veio para as minhas mãos e comecei a musicá-la. Levei uma surra. Foi realmente difícil. Levei quase um mês. 

A primeira pessoa (sem contar minha família) a ouvir a música pronta, fresquinha, saída do forno, foi a maravilhosa cantora Wanda Sá, que nos fez uma visita por aqueles dias.

A Elis Regina já tinha estado em minha casa uma semana antes, com seu marido César Camargo Mariano e não pude mostrar, pois não estava pronta, mas bem que teria adorado. 

Terminei em cima do laço e mandei para a Globo. Sucesso geral. E aí, perdi o controle sobre o destino dela. A Globo, em conversas com duas megas gravadoras, chegou a três intérpretes: Elis, Maria Bethânia e Simone. Não sei que critérios usaram para escolher Simone para interpretar a canção, mas ela cantou belissimamente e teve um up-date na carreira. A série foi um sucesso. 

Além de a canção ter se tornado um de meus maiores sucessos também, sendo a minha canção mais gravada no mundo. Nunca imaginei que ela teria essa impressionante trajetória. 

Abraços, Ivan Lins. 

Começar de novo 

Ivan Lins e Vitor Martins 

Começar de novo,
E contar comigo,
Vai valer a pena
Ter amanhecido,

Ter me rebelado,
Ter me debatido,
Ter me machucado,
Ter sobrevivido,
Ter virado a mesa,
Ter me conhecido,

Ter virado o barco,
Ter me socorrido.
 

Começar de novo,
E contar comigo,
Vai valer a pena,
Ter amanhecido,

Sem as tuas garras,
Sempre tão seguras,
Sem o teu fantasma,
Sem tua moldura,
Sem tuas escoras,
Sem o teu domínio,
Sem tuas esporas,
Sem o teu fascínio.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Essas mãos

 Paulo Mendes*

Fotografia da internet

Ah, essas mãos sujas de terra que seguram toscos porongos em mates de erva lavada e curtos, como a própria esperança. Mãos de gente humilde que se criou na lida dura, trabalhando de sol a sol, sem carteira assinada, sem direitos, apenas obrigações. Trago na retina imagens dessas generosas mãos cheias de sulcos e calos, que fizeram gemer a terra, revolveram vergas no coice do arado tracionado a junta de bois. São dias, meses, anos, décadas, séculos de labuta por esses fundões de campo, gente que sempre teve as mãos machucadas, mas que levantaram ranchos de pau a pique, formaram moradas, e essas viraram povoados, vilas e depois cidades. Primeiro abrindo picadas no meio da mataria selvagem e inóspita, mais tarde, caminhos e, por fim, estradas reais. Saudemos essas mãos valentes dos avoengos, dos precursores, dessa gente que restou esquecida nas encruzilhadas. 

Lá de onde vim, apertei muitas mãos assim, calosas, cheias de cicatrizes de arames farpados, em terríveis laçaços nos alambrados infindos do Pampa, repletas de cortes de sogas, cordas e maneadores de doma, braços quebrados por coices e manotaços de redomão. Amigos e amigas, só eu sei o que minha alma campesina traz por debaixo das asas do poncho. Dizem, por que você não escreve sobre as façanhas da nossa gente? Não elevas a poética dos nossos usos e costumes, as guerras pela manutenção das sesmarias, das nossas mais caras tradições, os duelos de arma branca, os entreveros de capitães e generais, por que não exaltas nossos heróis que tombaram ensanguentados para defender a bandeira do pago? Respondo, tudo isso faço, mas fico com as mãos humildes dos que nunca seguraram espadas nem adagas, mas os simples utensílios de trabalho, as enxadas, os picões, as máquinas de plantar milho. As mãos que semearam o trigo, colheram e dele fizeram o pão. Meu pai José Mendes tinha as mãos assim, retorcidas, dedos grossos de quebraduras mal curadas, com cheiro de fumo em rolo. Minha mãe, dona Mirica, as trazia ressecadas de tanto lavar roupa em sanga, trabalhar nas lavouras de mandioca, feijão e fumo, de tanto cozinhar ao redor de fogões a lenha, de labutar dia e noite, sem domingos, feriados ou férias. Um dia, numa pequena pausa, viajei com ela de trem para uma cidade vizinha. Acredito que tenha sido a única viagem que fizemos juntos. Enquanto comíamos uns pedaços de galinha com farofa, ela olhou para a janela, para o mundo de campos e vacas que deixáramos para trás e disse: “Queria que a vida fosse sempre assim, uma viagem sem fim...”.  

São benditas essas mãos de peões que desenharam o mapa da nossa terra gaúcha, mãos de homens, mulheres e crianças tão pobres neste estado tão rico. Olho para essas mãos escuras e penso nas históricas desigualdades. E agora observo meio que envergonhado estas minhas lisas mãos de jornalista. Lembro que elas já foram também riscadas e calosas. Minhas mãos hoje escrevem pelas outras que não tiveram a mesma sorte. Juro, enquanto viver estarei sempre ao lado delas, defendendo, cuidando, com a arma da palavra em prol desses que nunca tiveram voz. Esta “Campereada” é para vocês, os que perambulam sem trégua pelas glebas. Nunca esqueço a mão que me embalou no berço. Jamais esquecerei. 

(Do jornal Correio do Povo, janeiro de 2023)

* Paulo Mendes é colunista do jornal Correio do Povo. Escreve a coluna  “Campereada”, publicada aos domingos no caderno Correio Rural. Como o nome já diz, é um espaço voltado para as coisas do campo. 

domingo, 29 de janeiro de 2023

Sete coisas para aprender com o galo:

 

1. → O galo levanta cedo para cumprir sua tarefa, mesmo que o tempo não lhe seja favorável. 

2. → O galo não se recusa a cantar em nenhuma circunstância. 

3. → O galo continua cantando mesmo que ninguém agradeça, nem lhe aplaudam. 

4. → O galo acorda os que dormem, mesmo que isso os incomode. 

5. → O galo proclama novas notícias. Um novo dia! 

6. → O galo é fiel à sua tarefa, aconteça o que acontecer. 

7. → O galo nunca se queixa de fazer sempre o mesmo serviço: cantar sempre à mesma hora. 

PS: Tudo que você fizer, faça sem reclamar, proclame coisas boas, cante, ria e desfrute da Vida, mesmo que isso incomode os outros. Seja feliz! 

(Portal TM TV) 

Onze milagres

 Carpinejar

Fui ver quais restaurantes de Porto Alegre são mais velhos do que eu. 

Encontrei onze com mais de 50 anos: 

• Gambrinus, 1889 

• Naval, 1907 

• Chalé da Praça XV, 1911 

• Santo Antônio, 1935 

• Tuim, 1941 

• Alfredo, 1955 

• Rock's, 1964 

• Walter, 1965 

• Komka, 1967 

• Barranco, 1969 

• Pampulhinha, 1971 

Conheço um por um. Mais do que conhecer, frequento os estabelecimentos desde pequeno. Seus proprietários me viram crescer, acompanhando integralmente as fases da minha formação: criança, adolescente, universitário, formado, trabalhando, casado, com filhos. 

É estranho e emocionante pensar que eles testemunharam os meus mais diferentes estilos, as cascas da minha metamorfose, do guaraná até a cerveja, da cabeça de penugem de bebê até a careca de adulto, da cadeirinha alta até a cadeira de cabeceira daquele que paga a conta. 

Não tenho o que esconder. Entrar pelas suas portas é o equivalente a me ajoelhar num confessionário. 

Alguns garçons são os mesmos da minha infância. De minhas babás, viraram conselheiros amorosos e padrinhos do meu apetite. 

Não preciso receber cardápio. Eles me servem telepaticamente pelo olhar. Nosso silêncio é ensaiado. Sequer posso pedir algo diferente. É o lombinho com queijo do Barranco, é a salsicha Bock com queijo da cozinha alemã do Walter, é o a la minuta acebolado do Alfredo, é a dobradinha do Naval, é o peixe do Gambrinus, é o filé ao alho e óleo do Santo Antônio, é o camarão à milanesa com arroz à grega do Pampulhinha, é a almôndega do Tuim, é o entrecot com molho de mostarda do Chalé, é o bolinho de aipim recheado com carne seca e requeijão do Rock's, é o xixo do Komka. 

Trata-se de um time de onze restaurantes heroicos, resilientes e épicos. Meu time dos sonhos. 

Onze lugares acompanhando namoros que se transformaram em matrimônios, celebrando amizades com as bolachas de chope e cantando os aniversários de seus clientes. 

Onze milagres que não sucumbiram nem com as portas fechadas da pandemia. 

Onze fortalezas da teimosia com mais de mio século de anedotas e casos. Para uma Capital que tem 250 anos, correspondem a uma grande média de preservação histórica. 

São onze endereços tombados pela paixão do público, cartões postais da família, pontos de encontro de três gerações. 

São onze casas que jamais deixaram de atender com qualidade, não importando a carestia ou a bonança dos governos. Sobreviveram ao Milagre Econômico, ao  Plano Nacional do Desenvolvimento, ao Plano Cruzado e fiscais do Sarney, ao Plano Collor de confisco da poupança, ao Plano Real. 

Adaptaram-se aos tempos bicudos, acolheram as personalidades e bichos das cédulas, migraram das velhas caixas registradoras ao Pix. 

Em suas mesas, passamos pelo regime militar, pelas Diretas Já, pela redemocratização do país, pelo impeachment de dois presidentes, pela polarização política. 

Eu queria agradecer a cada um deles. Eles têm toda a minha vida. 

(Do jornal Zero Hora, janeiro de 2023)

sábado, 28 de janeiro de 2023

Veraneios

 Luiz Coronel

Quando ela chega à praia,

na manhã azul de janeiro,

as ondas jogam carreira

pra ver quem a beija primeiro. 

Navega em ondas de luz,

desmaia o sol em seu corpo.

Suplico às nuvens e ao vento

que faça de mim o seu porto. 

Quando se entrega ao mar

deixa no sol certa mágoa.

Sua melhor intimidade

é um convívio só das águas. 

Ah, se um dia ela se desse

pra mim com tanta alegria

com que entrega seu corpo

às ondas do mar, tão frias! 

Sua inimizade com as nuvens

é ciúmes de passarela.

Hoje o sol já não a envolve.

Ele é das nuvens, só delas. 

Toda vestida de rendas,

ela corre pelas praias

e as sereias invejosas

rogam pragas que ele caia.

(Correio do Povo, 28 de janeiro de 2023)

Privação dos sentidos

 Deborah E. Hill

Quero sair para dançar, usar um vestido que rodopie e flutue em volta de mim e rir. 

Quero sentir a luz trêmula da seda enquanto ela escorrega pelos meus braços e pelo meu corpo, a alegria de tocar com os dedos sua maciez. 

Quero dormir na minha própria cama e regalar-me na frescura dos lençóis limpos e descansar minha cabeça em meu travesseiro macio. E ir dormir quando quiser, com todas as luzes apagadas e acordar quando estiver pronta. 

Quero me esticar em meu sofá debaixo da minha manta de lã azul e ouvir minha música favorita escoar dos auto-falantes para dentro do meu ser, regando a paisagem ressequida da minha alma. 

Quero sentar-me na varanda, bebericar café quente de minha caneca de faiança, ler o jornal e ouvir o cachorro latir para as folhas que caem ou para esquilos invasores. 

Quero atender o telefone e ligar para os meus amigos e família e conversar até termos colocado em dia todas as palavras que guardamos um para o outro, e rir. 

Quero ouvir o trem apitar através de Loveland, o cascalho sendo esmagado na porta da garagem e portas de carros batendo quando os amigos vêm nos visitar. E o tilintar e tinir dos talheres contra a louça, o chiado e o gorgolejo da máquina de fazer café. 

Quero sentir meus pés descalços na brancura fria do chão da minha cozinha e na maciez azul do tapete do meu quarto. 

Quero ver as cores, todas elas, cada cor jamais fiada na existência. E branco, branco de verdade, puro e imaculado. E acres de árvores verdes e quilômetros de estradas com fitas amarelas e centenas de metros de luzes de Natal. E a Lua. 

Quero sentir o cheiro de bacon fritando, um filé grelhando. Jantar de Ação de Graças e a plantação de tomates de meu pai. E roupa recém-lavada, asfalto novo em um estacionamento. E o oceano. 

Porém, mais do que tudo isso, quero ficar de pé na porta do quarto do meu filho e vê-lo dormindo. Ouvi-lo acordar pela manhã e vê-lo voltar para casa à noite. Tocar seu rosto e passar meus dedos por seus cabelos. Pegar uma carona em seu caminhão e comer seus sanduíches de queijo quente. 

E vê-lo crescer, rir, brincar, comer, dirigir e viver. Acima de tudo, de tudo, viver. E passar meus braços à sua volta e segura-lo até ele rir e dizer: 

− Já chega, mamãe! 

E então ser livre para fazer tudo de novo. 

******* 

Nota do editor: O texto a seguir nos foi enviado por uma prisioneira. Não sabemos qual o crime que ela cometeu. 

(Do livro “Histórias para Aquecer o Coração”)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

A omissão

 

Segundo o Padre Antonio Vieira, “a omissão é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldade se conhece. E o que facilmente se comete e dificilmente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo, pois quem sabe que deve fazer o bem e não faz, nisso está pecando”. 

O omisso nunca toma partido, nunca se envolve em polêmica, nunca defende aquele que está apanhando porque não quer confusão. Ele vê a covardia sendo cometida, mas fica, quieto, na dele, é um omisso total.

No final do ano passado, e no início deste ano (2023), houve uma grande polarização política em nosso país. Cada um defendendo a ideologia de seu partido. Se olharmos de maneira crítica e lermos nos jornais e o que foi mostrado nas TVs, percebemos que foi tentado um golpe de estado em nossa nação. Houve pedidos de fanáticos por uma intervenção militar e o que as urnas revelaram não valia para o candidato perdedor. 60 milhões de eleitores que escolheram um candidato contra 58 milhões que escolheram outro, isso, para os golpistas, não deveria ser aceito democraticamente e tentaram, por uma manifestação de vândalos alucinados, recolocar no poder o candidato perdedor. 

O país, então, ficou divido entre as pessoas de bom senso, democratas, gente a favor das vacinas, racionais, defensores da natureza, dos necessitados, das causas sociais e dos índios fragilizados brasileiros. Do outro lado, os negacionistas, os desumanos, os que defendem o lucro a qualquer custo, os que acreditaram num fascista, covarde, corrupto, sem amor à pátria, à família e muito menos a Deus. 

Amigos e familiares ficaram divididos entre duas propostas antagônicas: Um candidato que ficou oito anos no poder, fazendo um bom governo reconhecido por quase todo o povo brasileiro, que foi acusado por um juiz ambicioso e parcial, que largou sua carreira judiciária e aceitou um cargo importante para ser ministro da “Justiça!”, do candidato que ele ajudou a se eleger, depois pediu demissão porque seu “herói” estava interferindo na sua jurisdição de magistrado. 

O outro candidato xingou jornalistas que faziam perguntas ao seu desagrado, deixou que garimpeiros poluíssem as águas dos rios onde os índios Yanomamis tiram o seu sustento; deixou que madeireiros devastassem imensas áreas da floresta Amazônica; fez apologia de remédios sem comprovação científica na cura da covid,  negou a sua propagação e custou a comprar, no momento da pandemia, vacinas que poderiam salvar milhares de vidas. Sua atitude vai ser por muito tempo debatida no Tribunal da História no dia em que contarem o que aconteceu, por sua culpa, num momento dramático da doença no Brasil. 

Agora, seus eleitores vendo escancaradas na mídia todas as sujeiras da sua gestão, o desrespeito pelo povo, pelos países vizinhos, usando recursos da nação em motociatas demagógicas e eleitoreiras, sendo enganados em sua boa fé de brasileiro alienado, estão desiludidos porque não quiseram enxergar o óbvio: o mau militar, dito pelo ex-presidente do regime militar Ernesto Geisel em sua biografia para a História. O político que ficou mais de vinte anos no baixo clero da Câmara, sem apresentar qualquer projeto, zombou, fugindo do país, dos que acreditaram duas vezes nele. Isso é incrível! 

Sei de muitas famílias e grupos de amigos onde apenas um membro teve a coragem de se manifestar a favor dos ideais democráticos e foi hostilizado, marginalizado e excluído, pelo isolamento, porque não entrou na paranoia do golpismo difundido em redes sociais e e-mails familiares. Membro esse que ficou sozinho, sem apoio, sem uma palavra de carinho só porque foi corajoso e tomou uma posição contrária a da maioria burra e alienada. 

E que isso nunca mais aconteça em nosso país!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Pequenos contos de Humberto de Campos

 Sinceridade

Sem pai, sem mãe, sem parentes, o Conrado voltara do serviço militar sem saber, mesmo, para onde fosse. Dos amigos da família, poucos restavam; e entre estes estava o Antônio Luiz, proprietário de uma pequena casa de móveis, cuja esposa o havia abandonado no mundo deixando-lhe, apenas, como documento de fidelidade matrimonial, a Ernestina e a Lulu, que andavam, agora, a primeira pelos vinte anos, a segunda pelos dezoito. 

Acolhido pelo Antônio Luiz, que lhe deu casa e emprego, achou o Conrado que o melhor modo de pagar ao velho aquela dívida de gratidão seria casar uma das meninas, embora as soubesse alegres demais, para um homem trabalhador. E foi com essa ideia que, um dia, em conversa, tocou no assunto ao comerciante. 

− Mas qual das duas você pretende? − indagou o velho. 

− Eu? A mim é indiferente. O senhor que as conhece bem, é que pode ver qual das duas me servirá. 

Antônio Luiz puxou a última fumaça do cachimbo de espuma, bateu-o, desentupindo-o, e falou, com a mão na consciência. 

− Meu filho, isso depende de você. Se você pretende mulher que lhe dê filhos, fique com a mais velha; se, porém, quer uma que não lhos dê, escolha a mais nova. 

E a um olhar interrogativo do rapaz: 

− Sim, porque, se ela tivesse de tê-los, já os teria tido. 

O Ladrão Honesto

O capitão Vicente Bandeira estava já no segundo sono, quando, pelas três horas da madrugada, percebeu barulho na sala de jantar. Ouvido alerta, sentiu um estalar de gaveta, e outros ruídos que lhe denunciavam a presença de estranhos, no andar térreo da casa. 

− Lulu? − chamou, sacudindo brandamente a mulher. − Lulu?... Lulu?... 

− Hein?... Hein?... Que é?... − fez a boa senhora, despertando. 

− Parece que temos gatuno em casa, filha! 

Corajoso e decidido, o valente militar engatilhou a pistola, e, de pé ante pé, desceu ao andar térreo. E não se tinham passado quatro minutos quando Dona Lulu conheceu, em cima, pela queda precipitada dos móveis, que o marido havia se atracado com o ladrão. 

Confirmada a sua suspeita, desceu. Cabelo alvoroçado, em ceroula, descalço, Vicente Bandeira tinha diante de si, encostado à parede, com as roupas em tiras e o rosto em sangue, um rapazola de uns vinte anos, que tremia, chorando: 

− Não me mate, senhor capitão. Eu sou um gatuno honesto! Eu roubo para viver, é certo; mas roubo sem rebaixar-me! 

Vicente Bandeira olhava o rapazola, sem compreender. E o desgraçado continuava: 

− Eu sou um rapaz de bons costumes, educado com grande carinho. Nunca frequentei lugares suspeitos! 

E as mãos juntas, o rosto em lágrimas, um choro de cortar a alma: 

− E a prova, senhor capitão, é que, para roubar, eu só visito casas de família!...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Eu sou um passarinho solto...

 

Eu quero bater, eu quero correr, eu quero viver! 

Eu sou, pela minha natureza, um passarinho solto, quero traçar meu próprio rumo e escorregar nos caminhos mais pedregosos da vida, quero poder traçar as linhas do meu próprio destino, enfrentar, de peito aberto, as batalhas contra os inimigos que encontrarei pela frente. 

Eu sou, pela minha natureza de guerreiro, um passarinho solto, não me prendam a convenções, a normas rígidas do comportamento normal da sociedade, que não é séria e nem tem moral para julgar meus atos neste mundo. 

Eu sou um passarinho solto, que diz as suas verdades na cara do oponente, que não possui coragem de me enfrentar quando enumero os meus argumentos da minha verdade olhando no olho do meu adversário.   

Eu sou um passarinho solto na vida, eu lambo minhas próprias feridas no espaço restrito da minha solidão. Eu sou quem cuida de mim, quem me protege de todos os inimigos que querem me prejudicar com suas mentiras, recalques e neuroses. 

Eu sou um passarinho solto na vida, dou tudo de mim em tudo que eu faço, seja no esporte, sexo, amor ou paixão. 

Por favor, deixem-me voar livre! 

(Autor desconhecido)

Ajustes e cuidados

 Como evitar que a casa se torne perigosa para os idosos.

► Coloque uma luminária − ou mesmo uma lanterna − ao lado da cama para facilitar a movimentação à noite. Manter uma luz próxima acesa, como a do corredor, é recomendada. 

► Um telefone deve estar ao alcance da mão. 

► Em imóveis de dois ou mais andares, interruptores precisam ser instalados nas partes inferior e superior das escadas para que todo o trajeto seja percorrido com luz acesa. Iluminação que opera por detecção de movimento é um facilitador. Faixas adesivas antiderrapantes na borda dos degraus e corrimão dos dois lados também são indicados. 

► Interruptores devem estar, idealmente, na entrada de cada cômodo, evitando ter de caminhar no escuro. 

► No guarda-roupa, mantenha as peças em prateleiras de fácil acesso, evitando lugares mais altos. Vale a mesma orientação para armários que contenham objetos e alimentos acessados com frequência. 

► Fixe bem as estantes às paredes, para que possam servir de apoio seguro se necessário. 

► O idoso não deve subir em cadeiras, caixas ou escadas para alcançar algo no alto. 

► Em todas as peças, deixe espaços livres suficientes entre os móveis para permitir uma boa circulação. 

► Mantenha fios de telefones, eletrônicos e extensões fora das áreas de trânsito. 

► Evite tapetes, que podem provocar tropeços e escorregões. Se utilizá-los, opte por artigos não deslizantes. 

► Cadeiras e sofás baixos exigem mais na hora de sentar e levantar. Caso necessário, faça adaptações com almofadas. Móveis com apoio para os braços são melhores. 

► Instale barras de apoio no banheiro. 

► Assento do vaso sanitário pode ser substituído para ficar mais elevado. 

► Tapetes antiderrapantes são essenciais dentro e fora do boxe. 

► Cuidado ao escolher a cadeira de banho. Os pés devem ficar firmes no piso molhado. 

► Limpe líquidos, gordura ou comida que caírem no chão imediatamente. 

(Fonte: Ministério da Saúde) 

Jornal Zero Hora, janeiro de 2023.

Quantos comeram a banana?

 

No cacho de uma bananeira havia apenas uma banana. 

Dois viram. 

Cinco pegaram. 

Dez descascaram. 

Trinta e dois mastigaram. 

E apenas um comeu. 

Como pode ser isso? 

Resposta abaixo:

Dois (olhos de uma só pessoa) viram. 

Cinco (dedos de uma só mão) pegaram. 

Dez (dedos das duas mãos de uma só pessoa) descascaram. 

Trinta e dois (dentes de só uma boca) mastigaram. 

E apenas uma (só pessoa) comeu.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Gêneros jornalísticos

 

Há diversos tipos de textos em jornalismo que podem ser agrupados em gêneros. A Folha* comporta os seguintes: 

1) análise: contém a interpretação do autor e é sempre assinada; 

2) artigo: contém a opinião do autor e é sempre assinado; 

3) editorial: expressa a opinião do jornal e nunca é assinado; deve ser enfático, equilibrado e informativo, apresentar a questão tratada e desenvolver os argumentos defendidos pelo jornal, ao mesmo tempo em que resume e refuta os contrários; 

4) crítica: avalia trabalho artístico, acadêmico ou desempenho esportivo e é sempre assinada; 

5) crônica: aborda assuntos do cotidiano de maneira mais literária do que jornalística e é sempre assinada; 

6) “feature”: apresenta a notícia em dimensões que vão além do seu caráter factual e imediato, em estilo mais criativo e menos formal; pode ser o perfil de um personagem ou uma história de interesse humano; 

7) resenha: faz o resumo crítico de um livro e é sempre assinada; 

8) notícia: relata a informação da maneira mais objetiva possível; raramente é assinada; 

9) reportagem: traz informações mais detalhadas sobre notícias interpretando os fatos; é assinada quando tem informação exclusiva ou se destaca pelo estilo ou pela análise. 

Na Folha,* os gêneros opinativos e interpretativos devem ser fundados em informações confirmadas. 

* Folha de S. Paulo. 

(Do Manual de Redação da Folha de S. Paulo)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Vamos entender uma coisa...

 

Portenho → a palavra se refere a Buenos Aires, cidade portuária, capital da Argentina. Todo portenho é argentino, mas nem todo argentino é portenho. Usar portenho como sinônimo de argentino é o mesmo que usar londrino como sinônimo de inglês ou parisiense como sinônimo de francês. 

(De Folha de SP − Manual de Redação) 

A cidade de Buenos Aires não faz parte da Província de Buenos Aires. Isso porque a Cidade de Buenos Aires, assim como nossa Brasília, é um distrito federal, logo, é autônoma (o nosso Distrito Federal também: apesar de estar “dentro” do estado de Goiás, também não pertence ao estado, e é tão autônomo que conta até com um governador próprio mas não tem prefeito). 

O problema é que a área metropolitana que envolve a cidade de Buenos Aires, que é a capital da Argentina mas não é a capital da Província de Buenos Aires (que é La Plata, a 56 km de Buenos Aires), é muito maior que a cidade. Uma pessoa pode nascer na mesma área metropolitana e não ser portenho, mas sim bonaerense. E a regra é essa: quem nasce no restrito espaço da Ciudad Autónoma de Buenos Aires é portenho (“a pessoa do porto”), quem nasce fora dela, mas ainda dentro da região metropolitana e na Provínicia de Buenos Aires, é bonaerense. Só não chame um portenho de bonaerense, é quase um insulto. 

(Do blog Simonde)

P.S. Mas o que todos têm em comum é serem todos argentinos, pois, independente se nasceram na capital ou nas províncias, todos nasceram no mesmo país: a Argentina.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Canção do Expedicionário*

 

Antes de ler o poema em público, pela primeira vez, em março de 1944, Guilherme de Almeida declarou que não havia composto um hino guerreiro, mas uma simples mensagem de incitamento, destinado a levar “a terras estranhas um retrato lírico e sentimental de nossa terra”.

Na primeira estrofe, o poeta insere o provérbio popular “um é pouco, dois é bom, três é demais”, que Luiz Peixoto havia anteriormente incorporado em seu poema  “Casa de Caboclo”, o qual, com a música de Heckel Tavares, propagou-se largamente pelo país. Os dois últimos versos desta primeira parte reproduzem as palavras iniciais da mais célebre obra de Alencar. 

O segundo e o terceiro versos da segunda estrofe são extraídos da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. 

A terceira parte, que não foi musicada e que entra como declamatório, contém várias alusões literárias e musicais. O segundo verso alude à canção “Na Casa Branca da Serra”, de autoria de J. C. Oliveira, popularizada na gravação de Cândido Botelho. O verso seguinte evoca o “Luar de Sertão”, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. O quarto, o quinto e o sexto versos provém de  “Maria”, poema de Luiz Peixoto que Ari Barroso musicou e que Silvio Caldas foi o primeiro a fixar em disco. Moema é a personagem do “Caramuru”, o poema épico de Frei José de Santa Rita Durão. No verso seguinte, encontra-se outra alusão à “Iracema” de Alencar. 

Você sabe de onde eu venho?

Venho do morro, do engenho,

das selvas, dos cafezais,

da boa terra do coco,

da choupana onde um é pouco,

dois é bom, três é demais. 

Venho das praias sedosas,

das montanhas alterosas,

do pampa, do seringal,

das margens crespas dos rios,

dos verdes mares bravios,

da minha terra Natal. 

Por mais terras que eu percorra,

não permita Deus que eu morra,

sem que volte para lá,

sem que leve por divisa,

esse “V” que simboliza,

a vitória que virá. 

Nossa vitória final,

que é mira do meu fuzil,

a ração do meu bornal,

a água do meu cantil,

as asas do meu ideal,

a glória do meu Brasil. 

Eu venho da minha terra,

da casa branca da serra,

e do luar do meu sertão.

Venho da minha Maria,

cujo nome principia

na palma da minha mão. 

Braços mornos de Moema,

lábios de mel de Iracema

estendidos pra mim.

Ó, minha terra querida,

da Senhora Aparecida

e do Senhor do Bonfim. 

Por mais terras que eu percorra,

não permita Deus que eu morra,

sem que volte para lá.

Sem que leve por divisa

esse “V” que simboliza

a vitória que virá. 

Nossa vitória final,

que é a mira do meu fuzil,

a ração do meu bornal,

a água do meu cantil,

as asas do meu ideal,

a glória do meu Brasil. 

Você sabe de onde eu venho?

É de uma Pátria que eu tenho

no bojo do meu violão,

que de viver em meu peito,

foi até tomando jeito

de um enorme coração 

Deixei lá atrás meu terreno,

meu limão, meu limoeiro,

meu pé de jacarandá,

minha casa pequenina,

lá no alto da colina,

onde canta o sabiá. 

Por mais terras que eu percorra,

não permita Deus que eu morra,

sem que volte para lá.

sem que leve por divisa

esse “V” que simboliza

a vitória que virá. 

Nossa vitória final,

que é a mira do meu fuzil,

a ração do meu bornal,

a água do meu cantil,

as asas do meu ideal,

a glória do meu Brasil. 

Venho de além desse monte,

que ainda azula no horizonte,

onde o nosso amor nasceu,

Do rancho que tinha ao lado

um coqueiro que, coitado,

de saudade já morreu. 

Venho do verde mais belo,

do mais dourado amarelo,

do azul mais cheio de luz,

cheio de estrelas prateadas,

que se ajoelham deslumbradas,

fazendo o sinal da cruz. 

Por mais terras que eu percorra

não permita Deus que eu morra

sem que volte para lá.

Sem que leve por divisa

esse V que simboliza

a vitória que virá. 

Nossa vitória final,

que é a mira do meu fuzil,

a ração do meu bornal,

a água do meu cantil,

as asas do meu ideal,

a glória do meu Brasil.  

* Spartaco Rossi fez a música desse belo poema de Guilherme de Almeida. 

P.S. Escute este hino na internet.

Outra minuta

 Nilson Souza

O titular desta coluna, no uso das atribuições que lhe confere o editor, a tolerância dos leitores e os artigos 5º e 220 da Constituição Federal, DECRETA: 

Art.1º Fica decretado, com base no bom senso, no respeito ao próximo e na civilidade, o Estado de Gentileza em todo o território nacional, com o objetivo de garantir a paz e a fraternidade entre as tribos que habitam este país-continente que não é só verde, anil e amarelo, mas também cor-de rosa e carvão. 

§1º Fica estipulado o prazo de mais 500 anos para o cumprimento da ordem estabelecida no caput (seja lá o que for isso), a partir da publicação deste decreto, podendo ser prorrogado quantas vezes for necessário. 

§2º Entende-se como território nacional as ruas e praças públicas, os condomínios de luxo e as favelas, as escolas e as penitenciárias, o campo e a cidade, os mares e os desertos, as selvas e as pradarias, os lares e as empresas, todo e qualquer canto ou recanto desta pátria-mãe tão distraída, às vezes subtraída, mas sempre muito querida. 

Art.2º Na vigência do Estado de Gentileza ficam suspensos os seguintes comportamentos: 

I − A invasão de prédios públicos, o bloqueio de ruas e qualquer tipo de depredação ou agressão; 

II − A edição e distribuição de mensagens de ódio, verbais, por escrito ou gravadas, anônimas ou assinadas, individuais ou em grupo, explícitas ou veladas; 

III − A divulgação de ofensas, preconceitos e comentários ofensivos que possam de alguma maneira ferir a honra e a imagem de outras pessoas; 

IV − O repasse de fake news, suspeitas e teorias da conspiração, venham elas de onde vierem, mesmo que tenham a chancela daquela queridona Tia do Zap; 

§1º.  Durante o Estado de Gentileza, as dúvidas serão resolvidas pelo presidente da Comissão de Reciprocidade Total, também criada por este decreto. 

Art.3º Na vigência do Estado de Gentileza: 

I − Qualquer restrição a este documento, que em hipótese alguma será triturado, fica previamente autorizada, desde que seguida de uma proposta melhor; 

II − Não haverá prisões − nem qualquer outro impedimento ao direito natural de qualquer brasileiro de amar o próximo e o país, excetuando-se, evidentemente, infrações à lei e à Constituição. 

Art.4º A apuração da conformidade e legalidade deste decreto de boas intenções será conduzida pela Comissão de Reciprocidade já referida. 

Art.5º A Comissão de Reciprocidade Total será composta por: 

I − 01 (um) cronista metido a espirituoso; 

II − Todos os leitores que apoiam esta proposta utopista de pacificação imediata do país; 

III − Leitores que não apoiam e que até acham tudo isso uma bobagem, mas que tiveram paciência de ler até aqui. 

Art.6º Este decreto entra em vigor na data da sua publicação. 

(Do jornal Zero Hora, 17 e janeiro de 2023)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Fim e Começo

 Wislawa Szymborska*

Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
 

Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.
 

Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
 

Alguém tem que arrastar a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.
 

A cena não rende foto
e leva anos.
E todas as câmeras já debandaram
para outra guerra.
 

As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
De tanto arregaçá-las,
as mangas ficarão em farrapos.
 

Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao seu redor
já começam a rondar
os que acham tudo muito chato.
 

Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.
 

Os que sabiam
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem.
Ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.
 

Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens.
 

Tradução: Regina Przybycien

 

* Wisława Szymborska (2.7.1923 − 1º.2.2012) foi uma escritora polonesa ganhadora do Prémio Nobel de literatura em 1996. Poeta, crítica literária e tradutora, nasceu, viveu e morreu em Cracóvia, Polônia.

Sete coisas que afetam sua frequência vibratória.

 Do ponto de vista da Física Quântica

Somos seres vibrando em certas frequências. Cada vibração equivale a um sentimento e no mundo “vibracional”, existem apenas dois tipos de vibrações, a positiva e a negativa. Qualquer sentimento faz com que você emita uma vibração que pode ser positiva ou negativa. 

Os Pensamentos 

Todo pensamento emite uma frequência para o Universo e essa frequência volta para a origem, então no caso, se você tem pensamentos negativos, de desânimo, tristeza, raiva, medo, tudo isso retorna para você. É por isso que é tão importante que você cuide da qualidade de seus pensamentos e aprenda a cultivar pensamentos mais positivos. 

As Companhias 

As pessoas ao seu redor influenciam diretamente sua frequência vibracional. Se você se cercar de pessoas felizes, positivas e determinadas, você também entrará nessa vibração; agora, se você se cercar de pessoas reclamantes, que xingam,  pessimistas, com maus hábitos, tome cuidado! Eles podem estar diminuindo sua frequência e, consequentemente, impedindo você de fazer a Lei da Atração trabalhar a seu favor. 

A Música 

A música é muito poderosa. Se você apenas ouvir música que fala sobre morte, traição, tristeza, abandono, tudo isso vai interferir com o que você vibra. Preste atenção na letra da música que você ouve, pode estar diminuindo sua frequência vibracional. E lembre-se: você atrai para sua vida exatamente aquilo em que vibra. 

As coisas que você vê 

Quando você assiste programas que abordam infortúnio, morte, traição, etc. seu cérebro aceita isso como uma realidade e libera toda uma química em seu corpo, fazendo com que sua frequência vibracional seja afetada. Veja as coisas que fazem bem a você e o ajudam a vibrar em uma frequência mais elevada. 

O Ambiente 

Seja em casa ou no trabalho, se você passa muito do seu tempo em um ambiente bagunçado e desorganizado, isso também afetará sua frequência vibracional. Melhore o que está ao seu redor, organize e limpe seu ambiente. Mostre ao Universo que você está apto para receber muito mais. Cuide do que você já tem! 

A Palavra 

Se você costuma reclamar ou falar mal de coisas ou de pessoas, isso afeta sua frequência vibracional. Para manter sua frequência alta, é essencial que você elimine o hábito de reclamar, reclamar e falar mal dos outros, evitando fazer dramas e se vitimizar. Assuma a responsabilidade pelas escolhas de sua vida! 

A Gratidão 

A gratidão afeta positivamente sua frequência vibracional. Este é um hábito que você deve incorporar em sua vida agora. Comece a agradecer por tudo, pelas coisas boas e que você não considerava boas, agradeça por todas as experiências que você viveu. A gratidão abre as portas para que as coisas boas fluam positivamente em sua vida. 

Via @despertarodivino