Hay que luchar
Zé Victor Castiel
(Nos círculos vermelhos, as perfurações à faca)
O que vimos, estarrecidos, no último domingo (8.1.2023), quando terroristas encomendados, financiados e insuflados por pessoas que, se tudo correr bem, serão identificadas e devidamente responsabilizadas, foi uma das maiores barbáries já testemunhadas pelo mundo. Uma horda de ignorantes que conseguiu involuir de manifestantes para terroristas em algumas horas e que, por serem psicopatas teleguiados, jamais conseguirão entender o que causaram ao povo brasileiro. O mais grave, claro, foi a tentativa de golpear a incipiente democracia brasileira, embora exista algo que tenha atingido, indelevelmente, todo o povo. Ao destruírem objetos raros, vandalizaram equipamentos modernos ou valiosos dos invioláveis casas do Legislativo, Executivo e Judiciário, agiram como verdadeiros neandertais comandados por bandidos endinheirados.
O que doeu de verdade foi a destruição do patrimônio cultural e histórico que estava alocado nos três palácios. Tudo que ali estava trazia consigo uma simbologia. Elejo como símbolo da tristeza a danificação implacável à obra de Di Cavalcanti (foto acima). Quem fez isso, acabou dando fortes estocadas no coração de cada brasileiro. Aquele quadro não estava ali aleatoriamente. Simbolizava a índole linda de nosso povo. Portas, mesas, janelas e carpetes serão repostos facilmente. A obra de Di Cavalcanti, no valor estimado de R$ 8 milhões, demandará muito tempo até sorte para ser recuperada. Não há perdão nem para quem encomendou e nem para quem executou.
Em 1962, nosso grande poeta Vinicius de Moraes escreveu a Balada a Di Cavalcanti, a qual permito-me reproduzir aqui, como símbolo da indignação de todos aqueles que têm o discernimento de saber que o que aconteceu no domingo passado foi um ato golpista, que, mesmo falhando, causou estragos no coração de todos.
Diz o “poetinha”:
“Amigo Di Cavalcanti
A hora é grave e inconstante.
Tudo aquilo que prezamos:
O povo, a arte, a cultura,
Vêm sendo desfigurado
Pelos homens do passado,
Que por terror ao futuro,
Optaram pela tortura.
Poeta Di Cavalcanti:
Nossas coisas bem-amadas,
Neste mesmo exato instante,
Estão sendo desfiguradas.
Hay que luchar, Cavalcanti,
Como diria Neruda.”
A partir e hoje, é mister que se considere que qualquer manifestação cuja pauta de reivindicações seja apenas o golpe à democracia será realizada não por pessoas inocentes ou impunes, mas por cúmplices e partícipes do que aconteceu no domingo. Para todos esses, o meu asco e as consequências da lei.
(Do jornal Zero Hora, 12 de janeiro de 2023)
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