quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Temos que lutar

 Hay que luchar 

Zé Victor Castiel

(Nos círculos vermelhos, as perfurações à faca)

O que vimos, estarrecidos, no último domingo (8.1.2023), quando terroristas encomendados, financiados e insuflados por pessoas que, se tudo correr bem, serão identificadas e devidamente responsabilizadas, foi uma das maiores barbáries já testemunhadas pelo mundo. Uma horda de ignorantes que conseguiu involuir de manifestantes para terroristas em algumas horas e que, por serem psicopatas teleguiados, jamais conseguirão entender o que causaram ao povo brasileiro. O mais grave, claro, foi a tentativa de golpear a incipiente democracia brasileira, embora exista algo que tenha atingido, indelevelmente, todo o povo. Ao destruírem objetos raros, vandalizaram equipamentos modernos ou valiosos dos invioláveis casas do Legislativo, Executivo e Judiciário, agiram como verdadeiros neandertais comandados por bandidos endinheirados. 

O que doeu de verdade foi a destruição do patrimônio cultural e histórico que estava alocado nos três palácios. Tudo que ali estava trazia consigo uma simbologia. Elejo como símbolo da tristeza a danificação implacável à obra de Di Cavalcanti (foto acima). Quem fez isso, acabou dando fortes estocadas no coração de cada brasileiro. Aquele quadro não estava ali aleatoriamente. Simbolizava a índole linda de nosso povo. Portas, mesas, janelas e carpetes serão repostos facilmente. A obra de Di Cavalcanti, no valor estimado de R$ 8 milhões, demandará muito tempo até sorte para ser recuperada. Não há perdão nem para quem encomendou e nem para quem executou. 

Em 1962, nosso grande poeta Vinicius de Moraes escreveu a Balada a Di Cavalcanti, a qual permito-me reproduzir aqui, como símbolo da indignação de todos aqueles que têm o discernimento de saber que o que aconteceu no domingo passado foi um ato golpista, que, mesmo falhando, causou estragos no coração de todos. 

Diz o “poetinha”:

“Amigo Di Cavalcanti 
A hora é grave e inconstante. 
Tudo aquilo que prezamos: 
O povo, a arte, a cultura, 
Vêm sendo desfigurado 
Pelos homens do passado, 
Que por terror ao futuro, 
Optaram pela tortura. 
Poeta Di Cavalcanti:
Nossas coisas bem-amadas, 
Neste mesmo exato instante, 
Estão sendo desfiguradas. 
Hay que luchar, Cavalcanti, 
Como diria Neruda.”
 

A partir e hoje, é mister que se considere que qualquer manifestação cuja pauta de reivindicações seja apenas o golpe à democracia será realizada não por pessoas inocentes ou impunes, mas por cúmplices e partícipes do que aconteceu no domingo. Para todos esses, o meu asco e as consequências da lei.

(Do jornal Zero Hora, 12 de janeiro de 2023)

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