quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Frases e pensamentos de Antônio Carlos Jobim

Antônio “Tom” Carlos Brasileiro de Almeida Jobim

Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927
Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994

Mais conhecido como Tom Jobim, foi compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. É considerado o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira pela revista Rolling Stone, e um dos criadores e principais forças do movimento da bossa nova.


Tom por Aroeira

Além de gênio das canções, Tom Jobim era também um frasista admirável, cujas reflexões ajudam a compreender melhor o Brasil e a humanidade. Alguns exemplos:

“Acho muito especial a ideia de morrer sendo imortal”. (Depois de convidado a disputar uma vaga na Academia Brasileira de Letras).

“O Brasil só será feliz quando todo mundo for morar em Ipanema.”

“Brasileiro tem ódio de quem faz sucesso.”

“O Brasil não pode ver nada dar certo. O Brasil ama o Garrincha, mas precisa aprender a amar o Pelé. O Brasil não consegue amar o Pelé. Ele deu certo e o Garrincha morreu na miséria.”

“É difícil o Brasil dar certo porque está de cabeça para baixo: a parte mais larga fica em cima, a mais estreita sustentando-a.”

“Morar em Miami é ótimo, mas é uma merda. Morar no Rio é uma merda, mas é ótimo.”

“Como todo brasileiro da minha geração, fui educado para falar mal de mim e bem dos outros.”

“Substitui com vantagens o seio materno.”, referindo-se aos charutos Havana que fumava.

“Toda vez que eu me meti com política fui preso. Você ser comunista no Brasil é uma coisa muito difícil. Melhor ser comunista em Paris, que é mais chique.”

“Ideologia é a pior coisa que tem. Sujeito que acredita em ideologia te mata por causa de uma ideia. E eu acho você muito mais importante do que uma ideia.”

“Bossa nova é samba. Dediquei a minha vida ao samba de preto. E os caras aqui dizendo que eu estava traindo a música autêntica do Brasil.”

“O Brasil odeia árvore. Tem nome de árvore, mas odeia. No futuro, os homens vão replantar florestas.”

“O ser humano deu errado. Completamente. Por onde passou o homem ficou só a terra arrasada.”

“O Tom Jobim está trabalhando mais do que merece. Estou fazendo shows por falta de dinheiro.”

“O cara precisa ficar velho para ser perdoado. Já estou em idade de olhar as garotas de longe, na praia. O pior é que você vai ficando velho e as moças cada vez mais bonitas.”

”Hoje, meus desejos me abandonaram. Tomo muito cuidado com barra de terra, barra de ouro e barra de saia. Mas não desisti de uma coisa: da vontade de ser brasileiro.”

“Que coisa melhor do que ouvir o próprio silêncio?”, ao referir-se ao fato de morar no mato.

“Minha formação é clássica, com professores de piano. E tive o popular, o botequim. Afinal, nasci no Brasil.”

“Ainda há esperança. Cada mulher que eu não tive foi uma canção que eu fiz.”

(Zero Hora, 09 de dezembro de 1994)
  

Tom por Baptistão



Meu verão de A a Z

Martha Medeiros


Pôr do sol em Ipanema, Porto Alegre-RS

(Foto de Filipe Rebuelta)

Ela está aí, batendo na porta: a estação mais gostosa, sensual e alegre do ano. Como aproveitar? Selecionei algumas dicas mundanas e absolutamente pessoais, coisas que me fazem feliz e que talvez sintonizem com suas preferências também. O importante é curtir este verão quente de um jeito cool.

A: Ar-condicionado. Arpoador. Água, Amigos. Acordar cedo. Ataque de riso. Astomélias. Artesanato. Artista de rua.

B: Bicicleta. Bom humor. Biquíni. Búzios. Buda. Banda do Mar.

C: Caminhadas. Cores vivas. Chuva. Consciência ambiental. Camiseta. Camarão. Calma.

D: Dolce far niente. Drenagem linfática. Declaração de amor.

E: Espumante. Estrada.

F: Férias. Frescobol. Filtro solar. Fio dental (entre os dentes!). Food trucks. Frutos do mar.

G: Grenal. Grana. Gengibre.

H: Hidratante. Havaianas. Hippie chic.

I: Intimidade. Inspiração. iPod. Iogurte grego. Ilha grega.

J: Jipe. Jorge Benjor.

K: K.C & The Sunshine Band (“That´s the way I like it”).

L: Livros. Lírios. Lugares exóticos. Lua cheia.

M: Mar. Marrocos. Mediterrâneo. Mapa astral. Morro de São Paulo.

N: Noronha. Namoro. Natureza.

O: Ouro branco (o bombom). Ouro branco (o metal). Óculos escuros. Off-line.

P: Punta del Diablo. Piscina. Preguiça. Piquenique. Pousadas. Pé no chão. Picolé de abacaxi. Pulseiras. Pilates.

Q: Queijo ementhal. Queijo parmesão ralado na hora. Queijo de cabra. Qualquer queijo.

R: Rabo de cavalo. Rio de Janeiro. Ricardo Darín. Rock. Rasteiras.

S: Simplicidade. Sexo. Sol. Santa Catarina. Surfe.

T: Toalhas brancas. Teatro. Terraço.

U: Uruguai. Uvas

V: Ventilador de teto. Viagens, Vadiagens. Vestidos. Vintage Trouble. Vinho verde. Vida.

W: Woody Allen.

X: XXI, o século.

Y: Yin. Yang. Yoga.

Z:  Ziriguidum, pra quem gosta. E pra quem não gosta, uma boa rede na sombra e zzzzz.




Primeiro Selfie

Fotografia de 1926 mostra casal usando 'pau de selfie'

Imagem histórica mostra casal tirando foto de si mesmo e foi descoberta por inglês quando mexia em álbum de família.


Fotografia de 1926 mostra casal usando 'bastão de selfie'

Uma fotografia de 1926, descoberta pelo inglês Alan Cleaver em um álbum de família, mostra o que pode ter sido o precursor do “pau de selfie”. A foto mostra o casal Arnold e Helen Hogg usando um bastão para tirarem uma foto de si mesmo após seu primeiro ano de casamento.

Alan Cleaver é neto do casal moderno e encontrou a imagem com a seguinte legenda: “Tirada de si mesmo", outubro de 1926”. A foto tem apenas cinco centímetros.

“Em nossa família sempre foi uma das fotos favoritas e o fato de ter despertado muito interesse agora teria sido algo adorado pelo meu avô,” disse Cleaver ao jornal britânico Daily Mail.

Segundo ele, o avô não tirou muitas fotos ao longo da vida, mas tem diversas feitas após seu casamento nos anos 1920.

“Ele estava obviamente tentando algo novo. Infelizmente acreditamos que essa tenha sido a única que ele tirou desta maneira e o deixou satisfeito para que a incluísse em seu álbum”, contou.

Cleaver admite nunca ter visto o avô usando seu “bastão de selfie”.

 (Do site do IG Notícias)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Mensagens de Boas Festas



De um meteorologista:

“Espero que o Ano Novo seja caracterizado por tempo bom, temperatura estável, ventos soprando de quadrantes apropriados, fracos ou moderados, mas trazendo sempre bons augúrios.”

De um economista:

“Que haja uma inflação de bons sentimentos, demanda não reprimida de carinho por parte de amigos e familiares, liquidez de afetos e alta acentuada em sua cotação pessoal.”

De um filósofo:

“Considerando os dilemas da existência, a angústia que caracteriza a condição humana, a incerteza que pesa sobre nosso destino desde que o homem passou a exercer sua suprema faculdade de pensar – será que podemos, sem ultrapassar os limites da lógica cartesiana, desejar a outrem Boas Festas e um feliz Ano Novo? Se o podemos, é o que desejamos.”

De um estatístico:

“Desejo que os valores numéricos consignados na coluna denominada Felicidade superem os valores da coluna de Frustrações; mais que isto, que esta diferença seja estatisticamente significativa, e que a alegria do amigo represente uma amostra válida do que ocorre com sua família.”

De um geógrafo:

“Desejo ao amigo que, ao percorrer sua trajetória no Ano Novo, evite a Serra do Desânimo, avance pela Península do Arrojo, atravesse o Oceano da Prosperidade e chegue em paz ao Arquipélago do Sucesso.

De um geômetra:

“Seja A o ponto em que o amigo se encontra, no presente estágio de sua existência, e B um ponto hipotético situado em alguma parte do ano vindouro. Desejo que a linha capaz de unir A e B seja, como se espera, a linha reta, e que o comprimento da referida linha não ultrapasse, em unidades métricas, a quantidade equivalente em energia disponível para qualquer ser humano que chega ao final do Ano velho.”

De um biólogo:

“Que o Ano Novo que aí vem, comporte-se como uma célula que traz em seu código genético uma mensagem completa de felicidade e uma capacidade inesgotável de reprodução.”

De um ficcionista:

“Era uma vez um Ano Velho. Sentindo que seus dias estavam chegando ao fim, ele chamou o Ano Novo, e disse: Escuta, por que não vais procurar aquele meu amigo e dá a ele um abraço por mim? O Ano Novo aceitou muito contente a incumbência e lá se foi, cantando: pela estrada afora, eu vou bem sozinho, etc. Aí apareceu o lobo...”

(Moacyr Scliar)


Moacyr por Fraga (ZH)


domingo, 21 de dezembro de 2014

O Quarto Rei Mago

De Anna Letícia


Poucos sabem, mas conta a lenda que existiu um quarto Rei Mago. Todo o mundo conhece a história dos três Reis Magos, que talvez não fossem magos ou sequer reis, mas sábios, astrólogos, filósofos e estudiosos. Eles eram Melchior, Baltazar e Gaspar, e levavam de oferenda ao menino Jesus ouro, incenso e mirra.

O quarto Rei Mago chamava-se Artaban. Ele era um médico cheio de posses, mas assim como seus amigos Gaspar, Melchior e Baltazar, Artaban acreditou em um sinal celeste que indicaria o nascimento do Rei dos Judeus, e assim resolveu seguir o tal sinal. Desfez-se de todas as suas posses e comprou uma safira, um rubi, e uma pérola para oferecer ao salvador, além de provisões para a viagem. Acontece que durante toda a sua vida Artaban não conseguiu chegar a tempo de ver o menino Jesus e poder oferecer seus presentes. A princípio, Artaban deveria encontrar os outros reis em determinado lugar, porém em seu caminho foi surpreendido por um moribundo necessitando ajuda e resolveu ficar com o doente até sua recuperação. Com isso perdeu alguns dias de viagem e ao chegar ao local do encontro com os amigos, os três já haviam partido deixando um recado em pergaminho para que seguisse pelo deserto. Como havia consumido suas provisões e deixado o que restara com o hebreu moribundo, resolveu vender a safira para comprar camelos e mais provisões. Seguiu viagem assim, porém triste de ter que se desfazer de um presente que era para Jesus.

Chegando a Jerusalém, Artaban presenteou com o rubi um capitão de Herodes a fim de salvar a vida de uma criança.

Passou o resto da vida em busca do Messias, com apenas uma pérola a ofertar. Sabendo que não o encontraria em palácios ou entre riquezas e luxos, mas entre os pobres e sofridos, Artaban frequentou os ambientes mais inóspitos, sujos e pobres. E assim sua alma pura o fazia refém da solidariedade e com isso o tempo passou, e os anos consumidos em prestação de serviços médicos, cuidados aos necessitados, e dedicação aos desafortunados e doentes.

Após 33 anos de busca, finalmente, Artaban teve a oportunidade de ver a face do Salvador e entregar-lhe o presente. Jesus seria crucificado. Quis salvar Jesus com a pérola. Porém, mais uma vez, Artaban é surpreendido por uma situação em que abre mão da pérola, o último presente, para salvar uma menina que seria escravizada para saldar dívidas do pai, mercador falecido.

Conta a lenda que, após salvar a moça, a terra tremeu e Artaban foi atingido na cabeça por uma viga. Assim quase inconsciente ele duvida de sua busca e de sua dedicação a Jesus. Por um segundo pensa que não fez o suficiente para ver a face de seu Salvador e entregar-lhe sua oferenda. Mas alguma coisa em seu coração pulsa paz e ele percebe que viveu a vida inteira da forma mais intensa, da melhor forma que pudesse lhe caber, fazendo e dedicando o que tinha de melhor e mais puro. Naquele momento, Artaban entendeu que viveu uma vida inteira de entrega.


P.S. A história original seria do conto "A lenda do Quarto Rei Mago", do escritor: Henry Van Dyke


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Recuerdos Natalinos



Quando chega dezembro, sempre retornam as antigas e ternas recordações da minha infância lá na Vila Rica. No fim de ano, aumentava o serviço no bolicho e no armazém. Com as férias do colégio, dedicava-me exclusivamente a ajudar minha mãe no atendimento da venda campeira e na entrega dos ranchos. Muitos clientes mandavam as listas de compras e, à noite, depois de alimentados os animais e fechadas as portas, íamos para o armazém sob a luz de um lampião a querosene separar os produtos, pesar e deixar em caixas para que fossem entregues no outro dia de carroça. Naquele período, havia uma grande movimentação lá em casa. Umas tias iam nos visitar e ajudar na função. Minha mãe tinha o costume de lavar toda a casa, desde as paredes ao teto, “para tirar a sujeita e o mau-olhado”. Gostava de começar o ano com a casa limpa, como aprendera com a mãe dela, numa fazenda na Serra das Encantadas.

Havia ainda as novenas, quando as senhoras vizinhas carregavam a Santa de casa em casa para as rezas. As famílias faziam seus pedidos e agradeciam pelas graças do ano. Lembro de um ano em que um guri vizinho, o Chiquinho Brabo, pediu para que Jesus lhe devolvesse sua irmãzinha Jaciara, de 3 anos, morta naquele ano de uma doença repentina. Eu, que era mais velho, sabia que a Jaci nunca mais voltaria, mas nada disse ao Chico. Sem saber o que fazer, dei-lhe duas pandorgas e a única bola de couro que tinha. “Agora tu tens alguma coisa para brincar”, eu disse, entregando-lhe o saco de estopa com os presentes.

Noutro ano, me surpreendi com dona Esmeralda, a lavadeira, cuja família havia sido destroçada por uma enchente do rio Ivaí. Ficara sozinha, ela e uma filhinha de colo. Apesar da tragédia, agradeceu pela vida, pela filha e pediu a Deus apenas saúde, pois sabia trabalhar e fibra tinha de sobra para criar o bebê. Nunca esqueci daquela figura que nunca se abatia com os percalços e lutava confiando em dias melhores. Dizem que a filha formou-se advogada, casou e buscou a mãe para morar com ela na cidade.

Na Noite de Natal, rezávamos ao lado de um presépio rústico. Depois comíamos carne assada, mandioca cozida, quibebe, salada de maionese e tomávamos guaraná frisante Polar. De sobremesa, havia arroz de leite, ambrosia, doce de abóbora e pedaços de melancia fresca que ficava desde a véspera dentro de um poço num saco de estopa. As primas brincavam de sapata, cinco-marias e bonecas de palha. Os guris faziam carretinhas de lata, bois e cavalos de sabugo ou de osso. Todos juntos corríamos à noite, no terreiro, atrás dos pirilampos. E a vida seguia assim, tranquila, com aquela beleza singela que se encontra no coração solidário dessa gente humilde, simples e justa que vive na simplicidade do campo.


Paulo Mendes, no Correio do Povo, dezembro de 2011


Degola à gaúcha

Jacqueline Ahlert

Tropas vindas dos pampas destacaram-se na Guerra de Canudos por seus trajes exóticos e sua extrema violência na execução dos sertanejos.


Ilustração: João Teófilo

O sangue dos sertanejos ainda estava fresco nas lâminas gaúchas enquanto o general Artur Oscar escrevia a Ordem do Dia de 6 de outubro de 1897, concluída com a saudação: “Viva a República dos Estados Unidos do Brasil! Está terminada a Campanha de Canudos!”.

Soldados recrutados nos pampas foram um reforço especial na quarta expedição do governo republicano ao vilarejo baiano, que, surpreendentemente, resistia ao Exército Brasileiro, ao qual impusera três humilhantes derrotas. Os combatentes gaúchos chamaram a atenção tanto por suas vestimentas exóticas como pela violência com que participaram da vitoriosa investida. Suas lanças e espadas carregavam a tradição de barbárie das recentes guerras ocorridas no Sul.

Em seus 11 meses de duração, a Guerra de Canudos mobilizou cerca de 12.000 soldados, oriundos de 17 estados brasileiros. As unidades militares sul-rio-grandenses foram recrutadas apenas para a quarta e última expedição. Estima-se que mais de 25.000 pessoas morreram em consequência de toda a ação bélica – entre soldados do Exército Nacional (contabilizados em 5.000), “sertanejos”, mulheres e crianças.

O conflito ocorreu durante o conturbado período que sucedeu à queda da monarquia. Corria a primeira década de instalação do regime republicano quando as unidades do Exército foram chamadas a enfrentar os moradores do arraial de Canudos, no interior da Bahia, seguidores de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, um líder de discurso messiânico, monarquista, e contra os novos impostos da República.

Depois de três derrotas sucessivas dos militares, a importância do conflito agigantou-se. Subjugar o arraial dos “jagunços incultos” passou a ser uma questão de honra para o governo federal. A quarta expedição, de caráter retaliatório, teve os militares gaúchos entre os principais agentes da concretização das palavras pronunciadas pelo presidente Prudente de Moraes: “De Canudos não ficará pedra sobre pedra, para que não mais possa se reproduzir aquela cidadela maldita”.

A princípio, Artur Oscar, o comandante da investida, viu-se em maus lençóis. Em vias de sofrer um esmagamento definitivo, telegrafou ao recém-nomeado ministro da Guerra, o porto-alegrense Carlos Machado Bitencourt, solicitando o reforço de 5.000 soldados. Confiante na capacidade bélica dos gaúchos, o ministro convocou os batalhões de Infantaria e Cavalaria das regiões de Bagé, São Gabriel, Rio Grande, Rio Pardo, Pelotas, Porto Alegre, e de unidades militares transferidas para o Rio Grande do Sul durante a Guerra Civil de 1893-1895, que, no rastro de suas 10.000 mortes, ficou conhecida como “revolução da degola”.

Com esses poderosos efetivos rearmados, Canudos foi cercado por três meses, bombardeado e, por fim, invadida. Segundo o historiador militar Cláudio Moreira Bento, 341 militares gaúchos tombaram na luta; entre eles, 33 oficiais. O general Carlos Teles, comandante de uma unidade sul-rio-grandense em Canudos – e que se destacara na resistência do cerco revolucionário à cidade de Bagé (1893-1894) –, contribuiu para a vitória porque, em pleno sertão, formou um esquadrão de lanceiros ao estilo gaúcho, com 60 homens da Infantaria. Destacaram-se pelo patrulhamento, combate às emboscadas e missões de suprimento de víveres para as tropas isoladas.

Flávio de Barros, principal fotógrafo do conflito, deu especial atenção aos militares gaúchos. Seus fardamentos extravagantes, misturados com peças da indumentária típica de sua região, contrastavam com o inóspito cenário e se distinguiam dos uniformes das demais unidades do Exército na Campanha de Canudos. Recrutados para pelear no sertão, eles não abdicaram das vestimentas que utilizavam nos combates ao Sul. E a identidade regional sulina se fazia notar em plenas plagas sertanejas: a pilcha gaúcha (bombacha, guaiaca, bota, chapéu de abas largas e lenço no pescoço); jaqueta militar, por vezes; espada e, com menor frequência, revólver à cintura; lanças de madeira. O general Silva Barbosa e seu Estado-Maior costumavam ser vistos devidamente “pilchados”.


Para as poses fotográficas, asseavam-se especialmente, assumindo postura “altiva”. A mão na cintura e geralmente uma das pernas flexionada à frente são indícios da segurança de saberem o que representavam e do orgulho de pertencerem àquela confraria. Sua aparência límpida e elegante era ainda mais notável em oposição ao entorno miserável da caatinga, em que construções de taipa ponteavam na vegetação seca.


A Cavalaria tipicamente gaúcha de Silva Barbosa reproduziu no sertão as cargas de lança do pampa. Apesar de improvisados naquele combate longínquo, “tinham a prática das corridas pulando sobre as ‘covas de touro’ das campinas do Sul”, escreveria mais tarde Euclides da Cunha no clássico Os Sertões.

A bombacha, símbolo destacado das tropas de Cavalaria no outro extremo brasileiro, adquire aspecto ainda mais exótico e distintivo em Canudos. Euclides da Cunha, ao tratar do gaúcho, enfatizava que “as suas vestes são um traje de festa, ante a vestimenta rústica do vaqueiro. As amplas bombachas, adrede talhadas para a movimentação fácil sobre os baguais, no galope fechado ou no corcovear raivoso, não se estragam em espinhos dilaceradores de caatingas.” Euclides também tece loas à combatividade da Infantaria do Sul, que qualifica como “uma arma de choque”: “Podem suplantá-la outras tropas, na precisão e na disciplina de fogo, ou no jogo complexo das manobras. Mas nos encontros à arma branca aqueles centauros apeados arremetem com os contrários, como se copiassem a carreira dos ginetes ensofregados das pampas”.


Apesar desses elogios românticos, a crueza dos fatos venceu o estilo euclidiano. Com seus próprios olhos, o escritor compreendeu o que significava a especialidade daqueles homens no manejo da “arma branca”. Os gaúchos agarravam cada derrotado “pelos cabelos, dobrando-lhe a cabeça, esgargalando-lhe o pescoço; e, francamente exposta a garganta, degolavam-na”. Conforme Manoel Benício, correspondente do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, essas degolas ocorriam “sem diferença a sexo e a idade”.

Para suas vivências nos cenários da guerra transpunham, assim, as técnicas das “charqueadas” dos pampas, impressionante matadouro destinado a obter a matéria-prima para fabricar o charque (carne-seca), principal produto de exportação, onde se habituavam a conviver com a morte violenta. É possível imaginar os soldados gaúchos transitando nos espaços dos combates com os canos das botas e as bombachas ensanguentadas, insígnias onde tinham limpado as armas assassinas e onde tinha respingado o sangue das vítimas. Nas imagens posadas para as lentes de Flávio de Barros, suas roupas não têm manchas de sangue ou mesmo sujidade em excesso. As fotografias do coronel Joaquim Manuel de Medeiros e seus ajudantes, e do general Carlos Eugênio e seu Estado-Maior, demonstram a relativa e intrigante limpeza de suas fardas, visto estarem numa guerra. As bombachas reluzem brancas em contraste com o cenário sertanejo. Não se visualizam as vítimas da ética e do estilo gaúcho de guerrear.

Os registros visuais dos gaúchos em Canudos ilustram a ideia da guerra como ato cultural, além de suas implicações políticas e econômicas. Representam indivíduos que se consideravam membros de uma espécie de guilda, uma associação de pares cujos regulamentos, leis e condutas atribuíam ao espírito da guerra um lugar de destaque. Os militares do Rio Grande do Sul, por meio da indumentária gauchesca, se autodistinguiram. Ao praticarem um “serviço relevante” à República que surgia, tiveram sua “identidade regional” reconhecida por toda a nação. Dessa forma, um grupo exclusivo da região pecuária dominada pela oligarquia de fronteira – e que jamais representou a maioria da população rio-grandense – configurou-se como expressão hegemônica da cultura sulina. Nesse sentido, a Guerra de Canudos representou o grande evento nacional de reconhecimento oficial do gaúcho, potencializando no Rio Grande do Sul um movimento identitário que até hoje marca as relações entre esse povo e os demais brasileiros.

Jacqueline Ahlert é professora
da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo,
do Rio Grande do Sul.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ordem de Despejo


    Ap. 101

ONÇO:
 Amor, aonde você vai assim toda de oncinha? Esta selva está uma cidade.
ONÇA:
 Para de me cutucar com vara curta. Eu sei me cuidar.
ONÇO:
 É que nós fomos despejados, sabia?
ONÇA:
 Toma conta da nossa casa enquanto a serra elétrica não passa.
ONÇO:
 Puxa... Queria ir beber no açude com os amigos... Mas vou quebrar o seu galho.
ONÇA:
 E eu sou mulher de quebra-galho?! Seu animal cachaceiro!
ONÇO:
 Cuidado com a cobra do 202 quando sair. Ela adora falar mal de você.

Ap. 202


COBRA:
 Lá vem aquela onça do 101 toda pintada. Piranha!
COBRO:
 Não provoca. A moça é uma fera!
COBRA:
 Você gosta que se enrosca todo por ela, que eu sei.
COBRO:
 Nossa, como você é venenosa.
COBRA:
 Uma víbora!
COBRO:
 Precisamos de um galho novo. Esse aqui vão derrubar já, já.
COBRA:
 Ah, se Deus tivesse dado asas à cobra eu estaria em Paris, no pescoço de alguma dançarina exótica de strip-tease, e não aqui nesta enrolação.

Ap. 102


MICO:
 Queria tanto aquele apartamento dos canarinhos... Parece um ninho de amor.
MICA:
 Claro, eles estão em fase de reprodução. É piu-piu pra cá, piu-piu pra lá...
MICO:
E nós estamos em fase de extinção. Não transamos mais. Vão derrubar a nossa árvore! Onde vamos morar?
MICA:
 Não esquenta. Cada macaco no seu galho.
MICO:
 O que você quer dizer com isso?
MICA:
 É que nós estamos em fase de separação, amor. Arranjei um mico-leão muito mais dourado que você.
MICO:
 Sabia que ia acabar pagando esse mico.

Ap. 201


CANÁRIO:
 Foi bom pra você, amor?
CANÁRIA:
 Nossa, você é muito bom de bico. Seu piu-piu é demais.
CANÁRIO:
 Não importa o tamanho do bico e sim o trinado que ele faz.
CANÁRIA:
− Precisamos achar outro ninho.
CANÁRIO:
 Gostava tanto daqui. Boa vizinhança, vista pro verde...
CANÁRIA:
 É a especulação, amor. Vai ser derrubado tudo...
CANÁRIO:
 Vão construir um edifício enorme aqui no nosso terreno.
CANÁRIA:
 Eles ofereceram alguma coisa em troca pela árvore?
CANÁRIO:
 Ofereceram... Uma gaiola de casal no 24° andar... Sem vista.

               (Miguel Paiva em “Bundas” número 15, de 21.07.1999) 


Saudade Selvagem

Jair Teixeira*


Nas minhas mãos maltratadas
Da regeira e da aguilhada,  (01)
Guardo a xucra tradição
Dos pealos de sobrelombo, (02)
Da polvadeira e do tombo   (03)
Nos dias de marcação.

Da minha carreta amiga
O rodado – peça antiga –
É relíquia; foi buril
Que delineou nas coxilhas
Destes Campos Farroupilhas,
O Grande Sul do Brasil.

Poder voltar? Quem me dera!...
Pra o meu rancho, hoje tapera,
Rever meus trastes sorrindo:
Serigote e o malacara, (04) (05)
Badana de capivara     (06)
E o cusco amigo latindo...

Fora do rancho, a cacimba!
Dentre dele, a tarimba, (07)
Que foi cama e foi divã...
Minhas chilenas, prateadas, (08)
Com as botas dependuradas
Cobertas de picumã. (09)

Que o “Patrão Velho Eterno”,
Aparte-me, aqui, do inferno,
Desta cidade que odeio
E reintegre-me à paisagem
E, num ambiente selvagem,
Eu volte a parara rodeio. (10)


*Jornalista e funcionário aposentado do TRT da 4ª Região.


Gravura de José Lutzenberger

Glossário*

(01)   Regeira: corda de couro presa às orelha dos bois lavradores para se guiarem as juntas.

(02)  Pealos: laço que se ata aos bois, ou a outro animal, quando este vai em disparada, prendendo-o pelas patas dianteiras e, consequentemente, derrubando-o.

(03)  Polvadeira: grande quantidade de poeira que levanta em estradas não pavimentadas quando  passa um carro ou mesmo num estouro de boiada.

(04)   Serigote: espécie de arreio, parecido com lombilho.

(05)  Malacara: diz-se de um equino que, não sendo totalmente escuro, tem uma listra branca na   testa, que vai desde o focinho até o alto da cabeça.

(06)   Badana: pele macia de couro sovado que se põe sobre os pelegos.

(07)  Tarimba: estrado de madeira, geralmente encontrado debaixo da ramada, onde os peões      dormem a sesta. 2. Prática, experiência.

(08)  Chilenas: grandes esporas cujas rosetas, às vezes, têm mais de meio palmo de diâmetro.

(09)   Picumã: substância preta que a fumaça deposita nas paredes, no teto das cozinhas e nos    canos das chaminés.

(10)  Parar rodeio: juntar o gado em determinado lugar do campo.

* Do Dicionário Gaúcho, de Alberto Juvenal de Oliveira, Editora AGE.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O primeiro gol de bicicleta



Leônidas, no Pacaembu, dando uma de suas famosas bicicletas.

O primeiro gol de bicicleta aconteceu em 1931 e foi marcado por Leônidas da Silva. Ele defendia o Bonsucesso numa partida contra o Esporte Clube Carioca. 

Leônidas da Silva,  um  dos  maiores jogadores da história do futebol, morreu na tarde do dia 24 de janeiro de 2004, aos 90 anos. O também conhecido como Diamante Negro estava internado no  Recanto São Camilo, clínica geriátrica em Cotia, São Paulo, onde passou os últimos 10 anos, época em que começou a agravar-se a doença que sofria, o Mal de Alzheimer. 

Leônidas foi o criador do gol de  bicicleta, e um dos maiores nomes da história do futebol  brasileiro.  Ele  conquistou  primeiro  o  Rio, ao brilhar em 1931 e 32 no Bonsucesso, que o descobriu no antigo Sírio Libanês. 

Em seguida,  teve breve passagem pelo Peñarol, mas voltou para casa e desfilou por Vasco  (campeão estadual em 1934),  Botafogo  (campeão em 1935)  e Flamengo (campeão em 1939, pelo qual marcou 142 gols em cinco temporadas). 

Depois, foi a vez de encantar os paulistanos, com a camisa do São Paulo, clube que defendeu de 42 a 50, nesse período ganhou os títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49.

Pela seleção brasileira, jogou as Copas da Itália-34 e da França-38, foi quando terminou como artilheiro da competição, com oito gols.

Leônidas nasceu em São Cristóvão, no Rio. Começou jogando nos Campos de Várzea, bem próximo a Ponte dos Marinheiros. Habilidoso, ágil, elegante, genioso, perseverante são alguns adjetivos que servem para definir sua vida, sua carreira, sua personalidade. Sua habilidade com a bola começou na infância. Trocava as aulas pelas peladas de rua com bola de meia. Seu sonho era ser jogador e conseguiu, para felicidade de milhões de torcedores que o viram exibir sua elegância nos gramados nas décadas de 30 e de 40.



Pelé fazendo gol bonito de bicicleta

Alexandre Dumas, pai

          Pseudônimo de Dumas Davy de la Pailleterie



Alexandre Dumas, pai, 1802 – 1870, famoso escritor francês autor de obras como: “Os Três Mosqueteiros”, “O Conde de Monte Cristo” e “O Homem da Máscara de Ferro”.

Viver de Letras

Alexandre Dumas, nome ignorado, até então, chegou a Paris e apresentou-se ao general Fay a quem fora recomendado. O velho militar indagou:

- Que sabe o meu amigo? Estudou matemática?

- Não, general.

- Mas tem, talvez, algumas noções de geometria, de física?

- Desconheço inteiramente tais matérias.

- E alguns rudimentos de Direito?

- Também não, general.

- E latim ou grego?

- Muito menos.

- Tem, acaso, prática de escrituração comercial?

- Nenhuma.

Disse-lhe então o general compadecido já de tanta ignorância:

- Dê-me o seu endereço. Pensarei, oportunamente, num meio de ajudá-lo. Por enquanto não vejo nenhuma possibilidade a seu favor, tamanho é o desconhecimento que revela sobre todos os assuntos essenciais ao desempenho de uma profissão qualificada.

Num recorte de papel estendido pelo general, Alexandre Dumas escreveu o seu endereço:

- Estamos salvos! – exclamou o general. Tem, pelo menos, uma linda letra. Vamos aproveitá-lo como copista de textos na Biblioteca Nacional.

Após iniciar o trabalho, Dumas foi agradecer ao general o emprego que lhe destinara. E disse-lhe:

− Vou viver da minha “letra”, general; mas asseguro-lhe que, um dia, hei de viver das letras...

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Frases de Alexandre Dumas:

“Por vezes é penoso cumprir o dever, mas nunca é tão penoso como não cumpri-lo.”

“Suprimir a distância é aumentar a duração do tempo. A partir de agora, não viveremos mais; viveremos apenas mais depressa.”

“Não poderá a velhice chegar tão depressa que não tenhamos de fazer meio caminho para ir ao seu encontro? De resto, o que é que nos faz velhos? Não é a idade, são as doenças.”

“Nos negócios não existem amigos, apenas clientes.”

“O mais feliz dos felizes é aquele que faz os outros felizes.”

“Os negócios são o dinheiro dos outros.”

“A mulher pensa em nada ou em algo muito semelhante.”

“O solteirão aborrece-se em todo o lado. O casado somente em casa.”

“Todas as mulheres querem ser estimadas e dão bastante menos importância ao fato de serem ou não respeitadas.”

“Em amor, não há último adeus, senão aquele que se não diz.”

“A cadeia do casamento é tão pesada, que são precisos dois para carregar com ela.”

“O destino de uma mulher lê-se nas feições do marido.”

“Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão.”

“São as mulheres que nos inspiram para as grandes coisas que elas próprias nos impedem de realizar.”

“Os maridos das mulheres que nós admiramos parecem-nos sempre estúpidos.”


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Na época de Natal



Na época do Natal, você ouve muito esta frase:

“Paz na Terra aos homens de Boa-vontade!”

E o que é Boa-vontade?

Entenda a expressão lendo o texto abaixo de C. G. Tennent.

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Boa-vontade

Boa-vontade é como um seixo atirado no centro de uma tranquila lagoa. As ondas se movem em círculos cada vez maiores até alcançarem as margens. E o mesmo se pode dizer de um sorriso amável, de um aperto de ao caloroso, de uma palavra bondosa, de uma boa ação e mesmo de um pensamento bondoso, e de uma oração silenciosa no coração de um homem para a paz – cujos efeitos repercutem por todos os cantos do mundo.

C. G. Tennent

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O suave milagre

Conta Eça de Queiroz (escritor português) que o rico Obed, com seus gados e vinhas, morrendo, mandou servos atrás de um certo Rabi da Galileia que fazia milagres. Não o encontraram. Publius Septimus, o poderoso centurião romano, estava com a filha morrendo e despachou legionários em busca do mesmo Rabi. Não o acharam. Ora, entre Enganiu e Cesárea, um menino pobre e moribundo pedia à mãe que lhe trouxessem Jesus, que ama os pequeninos, para sarar. A mãe, entre soluços, disse:

– Ó meu filho, como posso te deixar? Longas são as estradas da Galileia e curta a piedade dos homens. Ninguém atenderia ao meu recado e me apontaria a morada do doce Rabi. Ó meu filho, talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e fortes o encontram. O céu o trouxe, o céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes...

A criança murmurou:

– Mãe, eu queria ver Jesus...

E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus entrou e disse à criancinha:

– Aqui estou.


domingo, 30 de novembro de 2014

Carmen Miranda



Mudança de nome: De: Maria do Carmo Miranda da Cunha para Carmen Miranda.
Apelidos:Pequena Notável”, “Embaixatriz do Samba”, "The Brazilian Bombshell".

Data de nascimento: 9 de fevereiro de 1909.
Local de nascimento: Marco de Canavezes, Portugal.
Data de morte: 5 de agosto 1955.
Local de morte: Beverly Hills, Califórnia, EUA.
Túmulo: Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro, Brasil.

Altura: 1,54m
Peso: Entre 48kg e 56kg
Cor dos cabelos: Castanhos
Cor dos olhos: Verdes
Nacionalidade: Portuguesa
Ocupação: Cantora e atriz

Você sabia?

Maria do Carmo recebeu seu apelido Carmen em homenagem a Carmen da ópera de Bizet. 

Carmen Miranda mudou-se para o Brasil quando tinha apenas 10 meses de vida.

As plataformas de Carmen chegavam a ter 18cm.

1939 foi o ano que Carmen revolucionou Nova Iorque. Foi sua estreia que a tornou a "Brazilian Bombshell".

Carmen Miranda foi a primeira Sul-americana a estampar suas mãos, pés e assinatura na calçada da fama.

Carmen se apresentou em países como Itália, Bélgica, Dinamarca, Finlândia e Noruega, mas nunca em seu país de origem, Portugal.

Em 1946, Carmen foi a atriz que mais pagou imposto de renda nos EUA.

Carmen tinha uma mancha amarela em seu olho esquerdo e por isso gostava de ser fotografada desse lado, pois a mancha não era visível.

Em 1998, quarenta e três anos após a morte de Carmen Miranda, a interseção entre Hollywood Boulevard e Orange Drive recebeu o nome de Carmen Miranda Square

A Morte de Carmem Miranda


Em maio de 1955, a Pequena Notável faria suas últimas apresentações, aparecendo para o público de Las Vegas e Havana. Depois de quatorze anos de ausência, visitaria pela última vez o Brasil, já mostrando profundo esgotamento nervoso. Era 03 de dezembro de 1954. Depois de aqui ter sido homenageada, regressa, em abril, para os Estados Unidos. A 05 de agosto de 1955, aos 46 anos de idade, sucumbiria em sua casa, situada em Beverly Hills, acometida por um colapso cardíaco, após as filmagens para um programa de televisão, feitas com Jimmy Durante.

Seu desaparecimento foi notícia em Hollywood, onde era muito popular e os grandes jornais Nova-iorquinos deram enorme destaque à sua morte. O New York Herald Tribune deu à sua edição três colunas na sua primeira página; o Daily Mirror dizia, numa gigantesca reportagem, que Carmem era a artista mais bem paga dos Estados Unidos; o Daily News afirmou que depois de sua estréia, seu sucesso fora tão grande que ela se transformara na artista que maior sensação causava nos Estados Unidos; o New York Times chamou-a de protótipo do tipo feminino, com sua maneira extravagante de se apresentar; no Brasil, a Gazeta de Notícias publicou, em primeira página, uma matéria intitulada: "Maior que o de Chico Alves o enterro de Carmem Miranda!" e em seguida dava algumas notícias do sepultamento. Seu corpo chegou ao Brasil no dia 12 de agosto, sendo velado na antiga Câmara dos Vereadores do Rio. Mais de quinhentas mil pessoas acompanharam, chorando, os funerais da querida cantora popular, enquanto cantavam (em surdina) os seus maiores sucessos. Estavam ausentes, por esgotamento nervoso, a progenitora e a irmã (Aurora) da atriz.

Cenas pungentes aconteceram no cemitério. Setenta e cinco sepulturas foram danificadas pela multidão. O número de seu jazigo é 1724-E 1. Várias personalidades do mundo político, social e cultural se manifestaram diante do acontecimento. Jorge Guinle: "Nossa dívida para com ela nunca poderá ser saldada"; Sra. Carlos Eduardo de Souza Campos: "O Brasil e a sua música popular perderam uma grande intérprete"; Embaixador Negrão de Lima: "Foi, a seu modo, uma admirável e efetivíssima embaixatriz do Brasil"; Almirante: "Foi por querer cantar a música brasileira que ela morreu"; Assis Valente: "Carmem Miranda foi minha obsessão"; Ary Barroso: "fiquei surdo, mudo, cego, paralítico de emoção"; Mário Reis: "Não creio que Carmem tenha morrido"; André Filho: "As pessoas que honram e ficam consagradas na música popular, não morrem. Ficam para sempre".

Nos Estados Unidos, onde Carmem fizera sucesso e carreira, as opiniões daqueles que compartilharam de sua vida artística foram as mais elogiosas. Daryl Zanuck, chefe dos estúdios da 20th Century Fox declarou: "Carmem Miranda foi uma grande atriz, que trouxe um novo estilo profissional ao teatro e à tela. Sua personalidade era tão vivaz e deslumbrante que dificilmente poderá ser substituída no teatro". George Murphy, porta-voz da Indústria Cinematográfica Americana, afirmou: "Carmem era uma artista das mais destacadas de nossos tempos. Causa profunda dor que aquela que representou, com tanta graça, um grande país latino-americano se haja retirado de cena para sempre". Joe Pasternack, diretor de Carmem, que lhe havia dado o papel principal no filme "Meet me in Las Vegas", comentou, emocionado: "Não sei o que pensar”.

É demasiada a surpresa. Porém Carmem continuará sempre conosco. Viverá eternamente na recordação dos milhões de pessoas a quem deleitou com sua arte e sua personalidade". Em Beverly Hills, realizou-se uma missa pelo padre Charles Dignan, na Igreja do Bom Pastor, ocasião em que o padre Charles diria: "Carmem Miranda entregou-se inteiramente à tarefa de tornar os outros felizes. Literalmente, ela havia posto todo o seu coração em sua dança e em seus cantos. Agora ela está morta". Em 1956, o governador do Estado da Guanabara, Negrão de Lima, assinaria a lei nº 886, criando o Museu Carmem Miranda para a guarda de seus pertences, doados pelo seu marido David Sebastian. A 07 de novembro de 1960, era inaugurado seu busto, esculpido por Matheus Fernandes, no Largo da Carioca.


A mais ousada foto de Carmem Miranda,
dançando com Cesar Romero,
sem calcinhas...