quinta-feira, 6 de julho de 2023

O golpe do “primo”

 

Toca meu telefone de casa, alguém no outro lado da linha com forte sotaque de gente do interior, com voz alegre, cheio de intimidade comigo: 

− Alô, primo! Quanto tempo! 

Sinto de cara a tentativa de golpe, de sacanagem comigo, dou corda à conversa: 

− Primo! Quanto tempo, que bom que me telefonaste, eu precisava muito falar contigo, cara! 

Sinto que do outro lado da linha o “primo” travou a conversa, não deixo ele falar e já vou soltando o verbo em cima dele. 

− Da última vez que falaste comigo foi na festa da “tia Alzira”, lembras, te queixaste que não tinhas dinheiro para pagar o curso de informática que estavas fazendo, pediste uma grana emprestada, me deste o número da tua conta do banco. No outro dia, sem falta, depositei dois mil reais no banco em teu nome. 

O “primo”, no lado da linha: 

− É, me lembro sim, − achando que eu já havia mordido a isca. 

Continuei a conversa, não dando chance dele puxar o “peixe”. 

− Pois é, “primo”, agora, aproveitando a tua ligação, sou eu que te recorro num momento difícil da minha vida pelo qual estou passando. 

Ele já não falava mais nada do outro lado da linha, pois não esperava por esse contragolpe. Agora o otário era ele. Ainda tentou argumentar. 

− Primo, antes de eu depositar a grana na tua conta, tens que... 

Cortei o papo: 

− Não tem mimimi, primo, ficas sabendo que em casa de malandro, vagabundo não pede emprego! 

Desligou, brabinho.

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