Com ataques de submarinos nazistas aos navios brasileiros em nossas costas marítimas, a imprensa e os escritores de nossa terra resolveram reagir, através de reportagens, principalmente poemas, conclamando as nossas Forças Armadas (e o povo em geral) a contra-atacarem o perigoso e cruel inimigo, e glorificarem os nossos símbolos nacionais, em 1943.
Às
Armas!
Luiz Guimarães Filho
Às armas, cidadãos! Os infernais torpedos
Já fizeram correr o brasileiro sangue.
Nas entranhas do mar, entre os frios
rochedos,
Jaz a nossa Bandeira enxovalhada e
exangue.
Guerra ao monstro que espreita entre as
ondas oculto!
Maldição sobre o vil! Vingança contra o
insulto!
Mostra que herdaste, ó povo, a intrepidez
sublime
Desse gigante audaz cuja cabeça honrada
Expiou no baraço o corajoso crime
De arrancar os grilhões à Pátria
escravizada.
Mártir da realeza! Herói de Vila Rica!
A forca onde expiraste, hoje te
glorifica!
Vibra na solidão a voz do Padre Roma,
Ei-lo pronto a lutar por teu pendão
ferido!
À beira do horizonte o teu perfil assoma;
O semblante sereno, o forte braço
erguido:
“Pátria amada – murmura – eu morrerei de
novo
Para entranhar a fé no gênio do teu povo.
Tem fé no teu valor! Tem fé no teu
destino!
Fé nas bênçãos de Deus de onipotente
graça!
Fé na Vitória, fé na força de teu hino,
E fé na tua raça!”
A luz de tal virtude é como o sol que
banha
De púrpura e de fogo, a crista da
montanha...
Que o teu fiel ouvido esteja sempre
atento
À voz da vilania, à marcha do perigo,
Que o teu certeiro olhar penetre o
pensamento
Do mísero inimigo!
Fechem-se os corações e as almas sejam
mudas,
Pois vela na penumbra o espírito de
Judas...
Quando a hora soar das decisões supremas
E chamar-te o dever ao campo de batalha,
Arranca a baioneta, arma o fuzil!
Não temas,
Gente galharda e brava, o choque da
metralha!
Teus jovens esquadrões que o medo não
profana
Alegres partirão para a fogueira
humana...
Alegres partirão para o festim da guerra,
Para o combate! A glória! As trincheiras
da morte!
Vibrantes desse ardor que inflama a nossa
terra
Desde as várzeas do Sul, às florestas do
Norte!
Rufa o tambor no campo e nos quartéis
guerreiros...
Pela Pátria Imortal, às armas,
Brasileiros!...
Sou brasileira
Sou brasileira, sou da terra augusta
Onde tudo é valor, tudo é grandeza;
Onde a coisa menor, menos robusta,
Perde na força e ganha na beleza.
Sou brasileira. Tenho n´alma acesa
Chama de amor que muito amor me custa;
Nasci nas pompas desta natureza.
Entre o vale florido e a terra adusta.
Sou brasileira, mais que os ricos são,
Porque sei bem prezar o bem querer
A própria terra onde me falta o pão.
Sou brasileira porque sei sofrer,
Porque sinto febril o coração,
Porque adoro esta terra sem a ver.
(Benedita de Melo Amaral, poetisa negra,
pobre e cega.)
A Nossa Bandeira
Henriqueta Miranda de Abreu
Vede-a:
É linda!
- Raríssimo tesouro!
Tem a cor do céu,
A cor do ouro...
Em maneios de graça,
À brisa se balança...
É a Bandeira da Fé,
Do Amor, da Esperança!
Olhai-a com enlevo:
É da Pátria
Gratíssima feição.
Tem reflexos e cores,
Vozes e murmúrios,
Risos e canções...
- São os raios de sol
Em cascatas de luz
Nas festivas manhãs...
Das florestas, as frondes verdes
Sorrindo,
E, em cores e perfumes,
Abrindo
As corolas louçãs...
São as cachoeiras imensas,
Fragorosas,
Dos rios, despenhando-se
Num aluvião de águas poderosas,
Em bramidos,
Correndo para o mar...
São, do mar, os queixumes...
O riso alegre e cristalino
Da infância inocente
E da mocidade em flor...
São, das aves brejeiras,
As canções de amor,
Alvissareiras...
São, das noites tranqüilas,
As cintilações fulgentes
Do Cruzeiro,
Que abençoa
Esta terra fecunda, boa,
E sem rival,
Que nós dá a doçura
Dos frutos
E, dos celeiros,
A fartura imensa e perenal!
Tudo isto traduz
Nossa linda Bandeira.
Amai-a porque é bela,
Impoluta e gloriosa
- Pois nunca foi vencida –
Porque, do torrão amado,
- Este Brasil grande, idolatrado,
É a imagem formosa,
Pura e verdadeira!
Pax Hominibus
A vida amai com o bem e o mal que a vida encerra:
Com os risos de ventura e as lágrimas de dor,
Desde a estrela do céu, ao verme vil da terra,
Mereça tudo o mesmo arrebatado amor.
Homens que vos fitais na sangueira da
guerra,
A boca em rictus de ódio, o olhar
ameaçador,
E levais, campo em fora, e por vale e por
serra,
A equipagem da morte, em sinistro
clangor,
Não perturbeis, com ela, a aleira da
vida!
Deixam vossos corcéis à planície despida,
Ao passar, em tropel, aos embates
mortais.
Deixai nascer a flor, frutificar a seara
E cantar a floresta e a fonte de água
clara,
Numa orquestra de amor, de fartura e de
paz.
Bastos Tigre
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