domingo, 24 de setembro de 2023

O faz-nada

 

Honra ao vagabundo

ao faz-nada perfeito.

Tudo que ele não faz

não faz bem-feito.

Seu viaduto inexistente

não cai em cima da gente.

Seu pastel de coisa alguma

recheado de ilusão

não dá intoxicação.

Ele não é psicólogo

provocando a demência

nem é sociólogo

de olho na presidência.

Menos um na pista:

também não é motorista.

E muito menos

− aleluia! −

outro economista.

Viva o desocupado

esse antiempreendedor

e seu bendito torpor.

A sua preguiça

é a nosso favor.

Ele não enche as Bolsas

com seu alarido

nem corre pelas ruas

com celular no ouvido.

Que alegria:

jamais cobrará demais

pra consertar nossa pia.

É menos um grevista

menos um arrivista

menos um ativista

menos um congressista

menos um beletrista

menos um carreirista

e, Deus seja louvado,

menos um advogado. 

(Do livro “Poesia numa hora dessas?!”,

de Luis Fernando Veríssimo)


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