domingo, 10 de setembro de 2023

Algarismos Romanos

 

(...) 

− Vou agora apresentar ao respeitável público um grupo de artistas velhos aposentados, os tais Algarismo Romanos, de uso naquela Roma que os irmãos Rômulo e Remo fundaram antigamente nas terras da Itália. Senhores Algarismos Romanos, para a frente! 

A cortina abriu-se de novo e apareceram seis artistas velhos e capengas, cobertos de pó e teias de aranha. Eram o I, o V, o X, o L, o C e o M. Fizeram um cumprimento de cabeça, muito trêmulos, e perfilaram-se diante dos Algarismos Arábicos. 

(...) 

− Ora bolas! − exclamou a boneca. − Isso são letras do alfabeto, não são algarismos. E está faltando o D, doente. Com certeza ficou no hospital, gemendo os reumatismos. 

− Os romanos − explicou o Visconde − não tendo sinais especiais para figurar os algarismos, usavam essas sete letras do alfabeto. O I valia um; o V valia cinco; o X valia dez; o L valia cinquenta; o C valia cem; o D valia quinhentos e o M valia mil. 

E quando queriam escrever o número 7, por exemplo? − indagou Pedrinho: 

− Para escrever o 7 eles botavam o V com mais dois II à direita − explicou o Visconde. E dirigindo-se aos velhinhos: − Vamos lá! Formem o número 7 para este menino ver. 

O V adiantou-se e a seu lado vieram colocar-se dois II, ficando uma figura assim: VII. 

− Muito bem − disse o Visconde. − Formem agora o número 4. 

Os romanos colocaram-se nesta posição: IV, e o Visconde explicou que uma letra de valor menor, colocada depois de outra, somava com ela; e colocada antes, diminuía. Por isso, VI era 6 e IV era 4. 

Em seguida ele fez os artistas romanos formarem em todas as posições, de modo que dessem todos os números, e ao lado de cada combinação botou o algarismo arábico correspondente. 

Formou-se no picadeiro uma figuração assim:  

I        1   um

II       2   dois

III      3  três

IV      4  quatro

V       5  cinco

VI      6  seis

VII     7  sete

VIII    8  oito

IX       9  nove

X       10 dez 

− Que complicação! − exclamou Emília. − Estou vendo que os árabes eram mais inteligentes que os romanos. E os números além de dez? 

O visconde mandou que os algarismos romanos formassem os números além de 10, eles se colocaram assim: 

XI – 11; XII – 12; XIII – 13; XIV – 14; XV – 15; XVI – 16; XVII – 17; XVIII – 18; XIX – 19; XX – 20; XXI – 21; XXII – 22, etc. 

− E o 50 como é? 

O Visconde deu ordem para a formação do 50 e imediatamente um L se adiantou, muito lampeiro. 

− Pronto! − exclamou o Visconde. − Esse L quer dizer cinquenta. Quem quiser representar 60, ou 70, ou 80, é só botar um X, dois XX ou três XXX depois do L, assim: LX, LXX, LXXX. 

− E 100? 

− Era o C. Duzentos dois CC. Trezentos três CCC. 

− E 500? 

− Era o D. 

− E 1000? 

− Era o M. E se esse M tivesse um risquinho em cima, M, ficava valendo um Milhão, isto é, mil vezes mil. 

− Muito bem − disse Narizinho. − Faça-os agora formarem o número do ano em que estamos, 1946.* 

O Visconde deu a ordem e os algarismos romanos colocaram-se deste jeito: MCMXLVI.* 

− Não entendo − berrou Emília. − Explique-se. 

− Muito simples − disse o Visconde. − O primeiro M quer dizer Mil. Temos depois outro M com um C à esquerda; ora, C é 100 e antes do M diminui de cem esse M, o qual fica valendo novecentos. O resto é fácil. 

− Fácil, nada! − protestou a boneca. − Fácil é a numeração dos árabes. 

− E por isso mesmo os Algarismos Arábicos venceram os Algarismo Romanos − observou o Visconde. − Hoje são os únicos empregados nas contar. Os Algarismos Romanos ainda se usam, mas apenas para marcar capítulos de livros, ou as horas, nos mostradores dos relógios. Quase que só. 

(Do livro “Aritmética da Emília”, de Monteiro Lobato) 

* 1946 (MCMXLVI) ano da publicação do referido livro.


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