Dimas Costa
“Nana filhinho,
Dorme meu bem,
Mamãe tá solita,
Papai logo vem.”
Com carinho, com ternura
que só as mães sabem ter,
a mãe gaúcha embalava o piazito
que recém, recém havia chegado
para os rodeios da vida.
Era um rancho pobre, humilde,
erguido lá no silêncio
de uma restinga perdida...
O
pai ‒ posteiro da estância ‒
passava o dia inteirinho
cumprindo o nobre trabalho
distante do rancho amado.
Rodeio... apartes e domas,
invernada recorrida...
E à tarde ‒ acabada a lida ‒
voltava ao rancho, cansado...
Mas
vinha muito feliz
o pobre campeiro rude,
pois tinha a santa virtude
de ser um pai carinhoso.
E a mãe, que triste ficava
no abandono o dia inteiro,
corria alegre ao terreiro
para rever o esposo.
Um
beijo terno estalava
num lábio rubro e ardente...
e outro beijo ecoava
na fronte de um inocente!
Depois, um homem dormia
enquanto uma mãe velava
um piazito que sorria
e uma voz meiga cantava:
“Nana filhinho
Que o bicho aí vem,
Papai foi dormir,
Mamãe vai também.”
Reboou,
porém, pelo pampa
um grito de rebeldia!
A ponta da lança esguia
relampejou pela serra!
Um turbilhão de galopes
quebrou a paz da querência
e em repúdio à prepotência
um eco bradava: guerra!
No
rancho, portas trancadas,
tremendo e o peito arfando,
uma mãe abandonada
cantava quase chorando:
“Nana filhinho,
Dorme meu bem,
Mamãe tá solita,
Papai logo vem.”
Mas
nunca mais o campeiro
voltou ao rancho à tardinha;
e a mãe gaúcha, coitada,
ficou pra sempre sozinha!
Pouco a pouco a dor pungente
lhe consumiu a existência;
e o filho ficou no mundo
carpindo a triste indigência...
E
agora uma voz alheia
de outra mãe compadecida
cantava a mesma canção
pra criança adormecida:
“Nana filhinho
mamãe logo vem...
Mas a mamãe já não vem mais...
e o papai... não vem também...”
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