domingo, 12 de março de 2023

Febre do ouro

 Marcelo Rech

(...) 

Pelos padrões éticos exigidos de qualquer funcionário público ou privado, presentes que não sejam meros suvenires deveriam ser considerados gentileza ao cargo, jamais à pessoa. Fora disso, é suborno em potencial. No serviço público, o que supera valores simbólicos deve ser destinado à arca pública. Na iniciativa privada, presentes do gênero devem ser rejeitados, devolvidos ou doados com pleno conhecimento da cadeia de comando interna. 

Sem noção da liturgia do cargo, cujo principio basilar é a impessoalidade, Bolsonaro pisou sobre comezinhos princípios morais de um ocupante da Presidência. Mas só se surpreendeu quem desconhece um relatório de 1983 da Diretoria de Cadastro e Avaliação do Exército sobre o então tenente Bolsonaro, que tentava a sorte no garimpo em paralelo à carreira militar. Pela insistência em bamburrar*, seus superiores na caserna identificavam no tenente “demonstrações de excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”. 

A febre do ouro, como se vê, não tem cura.

(Parte da crônica do jornal Zero Hora, março de 2023) 

Bamburrar: encontrar por bambúrrio ('acaso') ouro, diamantes ou outras pedras preciosas, e enriquecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário