Nós podemos até esquecê-lo,
mas ele nunca se esquecerá da gente...
Esta história aconteceu comigo.
Era o ano de 2006, já no mês de fevereiro, eu estava, nessa ocasião, em Jaconé* e fui até o portão da casa, à toa, nos meus pensamentos. Fazia muito calor e vi um vira-latas passando pela rua. O bichinho vinha com um palmo de língua para fora. Penalizado, abri o portão e o chamei. Coloquei uma vasilha de água fresca e uma vasilha com ração e ele saciou-se à vontade. Depois, espreguiçou-se e deitou num canto. Até aí tudo bem, resolvi dar um tempo para ele e depois o mandaria ao seu destino.
Mas a tarde passou, veio a noite e ele nada de ir embora. Dormiu lá na casa.
No dia seguinte, fui para a praia pescar e ele me acompanhou. A minha esposa saía para caminhar, ele a acompanhava, e, assim, ele nos adotou. E o tempo foi passando e ele já era considerado da família e passamos a chamá-lo de Dentinho, por ter um dos caninos bem à mostra.
Aí, chegou o dia de virmos embora. O nosso Giovani foi nos buscar. Embarcamos a minimudança na Van e, na hora da saída, o Dentinho ficou nos olhando da varanda sem nada entender.
Tempos mais tarde, já aqui no Rio, tivemos a triste notícia de que o nosso Dentinho havia morrido atropelado. Confesso que chorei, pois, quando estávamos na praia, eu falava com ele para se cuidar e ele parecia me ouvir.
No ano seguinte, retornamos a Jaconé e por lá ficamos até agosto. Lembro-me que cheguei a comentar com um grande conhecido meu que o meu desejo era de, quando lá chegar, a primeira coisa que eu iria fazer era procurar pelo Dentinho, mas, infelizmente, ele se fora.
Meu vizinho, lá de Jaconé, disse-me que, depois que viajamos, o Dentinho, de vez em quando, aparecia lá por casa. Ficou a saudade.
Agora, em 2008, também estávamos lá. Eu sempre vou pela manhã, pedalando a minha byke, buscar o pão e o jornal. Já era o mês de abril e eu tinha o costume de, ao passar por um cão, mexer com ele: - Oi, moleque! - coisas assim e mexi com um que encontrei no caminho, mas a visão dele me deixou com uma sensação estranha. Logo à frente, vinha uma senhora fazendo caminhada e me alertou sobre um cachorro que vinha seguindo a minha bicicleta e eu estava numa boa velocidade:
- Moço, o seu cachorro está o seguindo!
Parei a bicicleta e olhei para trás, e vi o mesmo vira-latas que eu havia mexido momentos antes, quando, de repente, apareceram vários outros vira-latas e o pau quebrou! Eram dentes, rabos, orelhas tudo num redemoinho louco no meio da poeirada, até que o meu valente seguidor, em nítida desvantagem, bateu em retirada.
Na volta, avistei-o de longe e pude verificar que estava bem. Passei por ele e nem olhei, pois poderia me seguir até em casa e eu já tenho três cachorrinhas.
Dois
dias mais tarde, um vira-latas pula o muro lá da casa (muro baixo), entra
abanando o rabo e o reconheci. Era o meu seguidor. Mas, espere. Ele é muito
parecido com o falecido Dentinho. Os mesmos olhos castanhos arredondados, o
dente canino à mostra, as patas traseiras com os pés projetados para fora que
ficam engraçadas ao andar e a velha coceira na barriga, deixaram-me intrigado.
Chamei a minha esposa e ela também ficou
No dia seguinte, a minha esposa foi caminhar, ele a seguiu. Mais tarde fui pescar, ele me acompanhou. Era mesmo o nosso amado dentinho! Infelizmente (ou felizmente), o cãozinho morto atropelado era o seu irmão e nos deram à notícia errada.
Agora, às vésperas de irmos para Jaconé novamente, não vejo a hora de nos encontrarmos de novo. Que Deus me dê esta Graça. Foi realmente um milagre. E viu Deus que isso era bom...
Paulo Cezar Salerno – Pqdt 10.207 – 1963/3
* Jaconé é parte distrito de Maricá e,
outra parte, distrito de Saquarema. Sua traquilidade muitas vezes comparada a
de cidades do interior e seus recursos naturais, fazem de Jaconé um ótimo lugar
para passar um final de semana, feriados e as férias com a família. Fica a
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