O tempo passa e as pessoas seguem
sendo as mesmas. Olhem os versinhos publicados na revista Careta em maio de
1922.
Melindrosa e almofadinha
São inteiramente iguais.
Têm os dois a mesma linha:
Ele é magro, ela é magrinha,
Ela é moça, ele é rapaz.
Ele pinta os lábios, Ela
Pinta o sete e mais até.
Ele cuida da farpela,
Ela cuida em ser mais bela
Até na ponta do pé.
Ela, às vezes, fica triste,
Mas ele é sempre jovial.
Ela a um beijo não resiste,
Perde a graça, perde o “chiste”,
Perde a nota original.
Ele não. Pouco se importa
Com o calor das emoções,
É sempre o amor que o conforta
E o transporta
Ao mundo das ilusões.
Tem tudo quanto deseja.
Tudo e alguma coisa mais.
Feliz, a sorte o bafeja
E há alguém que o proteja
Com desvelos paternais.
No salão é o rei da moda.
Perto dele, no salão,
Gira a sociedade toda...
Ciranda a dourada roda
De damas que vêm e vão.
Mas não lhe fale, que é feio,
Em casamento, porque
Ele abre o olhar, arfa o seio,
Fica em fúria, perde o freio
E avança contra você.
E quando avança é ajuntando
Vinte ou trinta num zum-zum...
Para esmagar todo o bando,
A gente briga espalhando
Beijos para cada um...
Pelo “zinho” e pela “zinha”
Sinto coisas infernais:
Ele é magro, ela é magrinha
Melindrosa e Almofadinha
São duas coisa iguais...
(Do Almanaque Gaúcho
de Zero Hora, abril de 2020)
*Melindrosa: mulher que satisfaz
pelo excesso de bons modos, de delicadeza e sensibilidade na maneira como se
comporta ou age com os demais. Alguém que fica ofendido ou surpreso facilmente:
um gênio melindroso. Diz-se da mulher cujo comportamento ou modo pode ser
considerado afetado. Mocinha elegante.
*Almofadinha: Corria o ano de
1919, meses após o final da Grande Guerra. Um concurso esquisito mobilizou a
cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro: “rapazes elegantes e efeminados” se
reuniram para definir quem era o melhor na arte de bordar e pintar almofadas
trazidas da Europa especialmente para a ocasião. Foi assim que o escritor
Raimundo Magalhães Jr., um tremendo conhecedor das coisas daquele tempo,
biógrafo de João do Rio e pai da carnavalesca Rosa Magalhães, se referiu aos
participantes do concurso. Magalhães Jr. explica que esse curioso certame deu
origem à expressão almofadinha, para designar os tipos afetados, cheios de salamaleques
e não-me-toques, nos tempos da República Velha.
(...)
(...)
Outra versão diz que o termo
deriva dos bancos de madeira dos bondes cariocas, que causavam transtornos aos
bumbuns mais sensíveis e obrigavam alguns passageiros a levar almofadas para se
sentar com o mínimo de conforto. Os machões achavam que só os frescos
precisavam das almofadinhas. Gosto das duas versões, a do concurso e a do
bonde. Desconfio, todavia, que a primeira é mais verossímil.
(Do blog Ouro de
Tolo)
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