Pela
segunda vez na história, o Barreirão chegava à final da liga, E de novo sob a
batuta do folclórico técnico Modesto do Carmo, conhecido por máximas do tipo:
− Posso até ser “Modesto”, mas “Carmo”, não!
− Zagueiro tem que jogar igual a pé de milho: “plantado”!
− Goleiro e paraquedas não podem falhar.
− Equipe de futebol e injeção têm que ser sempre “bem aplicadas”.
E o Barreirão era favorito. Jogaria em casa, estava invicto e dois de seus jogares se destacavam: os gêmeos Tota e Tuta.
Tuta era o Xerifão da zaga. Jogador limitado, se impunha pela raça e disposição. Já o centroavante Tota era craque, o goleador e ídolo da torcida.
Com o estádio lotado e debaixo de chuva fina, a bola rola. E aos cinco minutos, o adversário faz 1 X 0.
O jogo segue tenso e o pior viria aos 20 minutos: o habilidoso Tota se envolve numa confusão com um adversário e é expulso.
A partir daí, o ataque do Barreirão, inoperante sem o goleador, nem assusta a defesa adversária. A torcida já entra em desespero, quando, no banco, o velho Modesto, nem um pouco “Carmo”, resolve agir.
Aos 40 minutos, aparentemente para confundir o rival, substitui o seu outro atacante pelo zagueiro reserva e manda o truculento Tuta jogar no ataque!
A tática parece desastrosa: nos minutos finais do primeiro tempo, o máximo que o raçudo beque consegue é cair estatelado, duas vezes, numa poça d’água na área adversária, após furadas espetaculares.
Depois do intervalo, o jogo recomeça e o técnico insiste com o enlameado camisa 3 como centroavante. Mas para surpresa geral, o improvisado Tuta, ainda com a camisa imunda de lama, volta inspirado: em jogadas de rara categoria, balança as redes três vezes. Com 3 x 1 e o título garantido, é substituído, faltando 15 minutos para o final da partida.
Acaba o jogo e o técnico “estrategista“ é carregado em triunfo pela torcida. Inconformados com a perda do título e desconfiada da repentina habilidade do truculento zagueiro Tuta (ou seria Truta?) os adversários protestam.
Terá sido o expulso craque Tota quem retornou no segundo tempo com a camisa 3 enlameada do irmão gêmeo Tuta?
Impossível saber. E o folclórico técnico segue a sua vida: bem mais “Carmo” e nem um pouco “Modesto”.
§ § §
(Victor Kingma no jornal “O Globo”)
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