quarta-feira, 24 de março de 2021

Carta de Guia de Casados

 

Entre janeiro e março de 1650, D. Francisco Manuel de Mello escreveu a A Carta de Guia de Casados, a pedido de um noivo pertencente à fidalguia. E para matar o tédio durante os dois meses em que esteve preso na Torre Velha. 

A obra emite conceitos tão esdrúxulos e preconceituosos, que nos dias de hoje só pode ser lida por curiosidade ou por brincadeira. O texto trata duma série de questões matrimoniais, (exclusivamente na visão do marido!), destinadas àqueles que se dispunham a enfrentar as vicissitudes do matrimônio. 

Nela, D. Francisco, estribado na sua experiência mundana (era solteiro e conquistador!), dá conselhos vários; desde o governo econômico da casa, o trato com os criados, até o controle da mulher – a quem ele atribui a responsabilidade única pelos dissabores e desarmonias conjugais. Quanto aos maridos (pobres vítimas): nenhum reparo a fazer! 

Segundo ele, à mulher cabe uma função totalmente subalterna à do marido, e num âmbito restrito às quatro paredes da casa. A seu ver, para ser feliz a mulher deveria ser analfabeta e submissa!… 

Na Carta de Guia de Casados, o bom D. Francisco classifica todas as esposas nas seguintes categorias, incluindo recomendações aos maridos das mesmas: 

– Brabas: as que mais dão trabalho ao marido para corrigir. “É de se lamentar o fato de o castigo e a violência serem hoje, algumas vezes, mal vistos na gente de grande qualidade; 

– Feias: O remédio é simples: A feia é pena ordinária, porém que muitas vezes ao dia se pode aliviar, tantas quantas seu marido sair de sua presença, ou ela da do marido”; 

– Néscias: A burrice natural na mulher é coisa pesada, mas não insuportável. Procure o marido emprestar de seu juízo, aquela discrição que vir que a ela falta. Mas, se o marido também for tolo, a mulher néscia não lhe causará prejuízo. 

– Doentes – O marido deve ter paciência e tratar da mulher doente, (…) pois favor foi grande de Deus padecesse antes aquela parte que menos falta faria à família. 

– Proluxíssimas: Para as geniosas, a solução é fácil: Convém que estas tais se lhes aperte o freio, e lhes deem pouca mão no governo da casa. As geniosas causam problemas com os criados, e o marido terá que fazer a escolha: a mulher ou os criados? 

– Ciosas: O autor recomenda que os maridos sejam discretos nos suas escapadas, e não deem razões para os ciúmes das suas caras-metades; 

– Gastadoras: Deve uma mulher honrada tratar o dinheiro com aquele mesmo temor que ao ferro e ao fogo! Pois por ali logo se vai ao fundo a família inteira. O recomendável é que a esposa não lide com dinheiro nunca.

– Apetitosas: Calma. São apenas as que hoje chamamos gulosas. E que por um bom petisco venderão o próprio marido. Regime alimentar nelas! 

– Voluntariosa: Faça-se-lhes compreender que à sua conta não está o entender, senão o obedecer (…) – Curto e grosso. 

– Ligeiras: Por este nome entende D. Francisco as “fáceis”, as excessivamente “gentis” com homens que não o marido, o pai, os irmãos e ou o padre. Observando: (…) porque não acho nome decente. Estas exigem do marido vigilância contínua! Dormir sempre com um olho aberto, é o ele recomenda. 

– Formosas: Segundo o autor, as piores! Pois (…) saiba que tem perigosa mercadoria. E, por esta razão não faltou já quem duvidasse se a formosura se dava por prêmio, se por castigo. De qualquer forma: olho vivo e disciplina! 

(Do blog História do Riso)

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