Tem um cumpadi meu que tomava todas. O mardito chegava em casa sempre chumbado até os cacos. A mulher não aguentava mais.
Foi nesse pé até o dia em que ela resolveu dar uma lição no bebum. Combinou com uma cumadi. Devia acontecer depois de a cumadi colocar o tal bebum na cama pra dormir. O dito cujo, depois que dormia de fogo, desmaiava.
Pois bem: tudo acertado. Quando ele tinha acabado de se apagar no sono, a mulher veste nele um terno preto, gravata e tudo. Com a ajuda da vizinha, coloca o infeliz numa mesa no centro da sala. E, como se fazia com defunto antigamente, acende quatro velas grandes, joga por cima do corpo dele um punhado de jasmim e apaga as luzes da sala.
A mulher, dispensando a vizinha, posta-se ao lado do suposto defunto com um véu preto a cobrir-lhe o rosto. Na penumbra da sala, com um prato de comida vazio na mão, fica ali, à espera do acordar do grande cachaceiro.
Depois de umas oito horas, foi isso que aconteceu:
Cumpadi (acordando):
- Ué? Onde é que eu tô? Meu Deus!
Mulher (com voz cavernosa):
- Você está no inferrrno. Você morreeuuu...
Cumpadi:
- E a sinhora? Quem é?
Mulher:
- Eu sô a cozinhêra de Satanásss. Estou aqui para dar de comer a quem tem fomeee. Cooomaaaa (oferece o prato vazio). Cooomaaa. Você está nos quinto dos infernos.
Cumpadi:
- Escuita aqui... Já que a sinhora é a cozinhêra de Satanás e tá me oferecendo comida, me diga uma coisa: pra móde um aperitivo... pra móde bebê, a sinhora num troxe nada não?
Diz-se que ele bebe até hoje. A mulher, essa morreu faz um tempão!
Adaptado de Contando Causos, de Rolando
Boldrin,
(Nova
Alexandria, 2001).
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