Juremir Machado da Silva
Pouco
conhecido nas rodas sociais por viver numa praia onde não tinha sinal de
internet, Máximo é autor de mínimas anotadas à mão. Aqui vão algumas que
produziu e mandou para comemorar sua entrada no WhatsApp.
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Por que a Câmara de Vereadores, que tem verbas para cultura, não quer ajudar a
pagar a cobertura da Feira do Livro? Quer obras sem capa? (certo, não é uma
grande mínima, mas Máximo, às vezes, usa o mínimo de espaço para fazer
perguntas que possam trazer o máximo de esclarecimento).
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Quando o ministro da economia, do alto da sua sapiência, fura o teto de gastos,
definitivamente não há mais como manter os pés no chão.
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Na época das utopias, quando tudo era possível em tese, um amigo poeta dizia:
“Eu me contradigo, sim, por que meu sangue nunca coagula”. Nestes tempos
pragmáticos ele é aconselhado a procurar atendimento.
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Chega uma hora em que a pessoa se olha no espelho e constata: tudo muda, menos
a passagem do tempo e a política, que continua sendo a arte de entregar menos
do que se promete por suposta culpa do clima, nome que se dá a um conjunto de
circunstâncias produzida pelos próprios interessados.
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(In)temporais: a opinião pública é a mais terrível das ditaduras. O homem que
luta contra ela, suicida-se. O homem que a ela se submete, torna-se escravo.
Eis a prova de que a liberdade de expressão silencia.
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Há o tempo de semear ideias e o tempo de preencher formulários, o tempo de
viajar e o tempo de olhar as imagens colhidas em deslocamento, o tempo de
sonhar acordado e o tempo de prestar contas sonolento e fazer relatórios que
não serão lidos, o tempo de criar e o tempo de fazer a declaração do imposto de
renda mesmo tendo ganhado pouco, o tempo de correr mundo e o tempo de
atravessar o deserto com o camelo nas costas.
(No Correio do Povo, outubro de 2021)
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