Luiz Coronel
Cadê?
Cadê, mas cadê?
(Perdido
olhar na distância)
Nossos
antigos brinquedos
restam
no pátio da infância.
Triângulo, cobre e imba,
constelação
colorida.
Ágeis
bolinhas de gude
voam das mãos, incontidas.
Olha
a “víbora* da cruz”,
por
aqui quero passar.
Nas
águas do rio do tempo
a infância quer navegar.
Somos
adultos, gigantes,
no
chão raso, sem degraus.
Passo a passo nos movemos
com nossas pernas de pau.
Pião
com prego e frieira
é
pião lançado à raia.
Qual
uma tonta bailarina
desfaz seu giro, desmaia.
Céu
povoado de pandorgas*.
Papel
de seda e taquara.
Nos
telhados há um menino
que as arremessa, ampara.
A
velha pelota de trapos
das
peladas de arrabalde.
Sapato,
calça e camisa
demarcavam nossas traves.
Cinco
sacas de ternura,
cinco
sacas de arremedo,
vão
passando pela ponte
que elevam nossos dedos.
Não
se pula mais na corda?
E
a saltitante “sapata”?
O
que nos prende à infância
nem mesmo o tempo desata.
(Do Correio do Povo, outubro de 2022)
*Em algumas cidades do Sul, cantam biborá ou víborá da cruz...
*Pandorga, no Sul, é o mesmo que pipa, papagaio...
Cantigas de roda
João Marino Delize
Quando nos sábados, lá em
minha humilde escola,
As meninas cantavam em suas brincadeiras de roda,
E os meninos viviam correndo atrás de uma bola,
As canções que elas cantavam, aquele tempo recorda:
“Sete e sete são quatorze,
com mais sete, vinte e um,
Tenho sete namorados, posso só casar com um”.
“Meu potinho de melado, minha cesta de juá,
Quem quiser comer melado, abra a porta e venha cá”...
“Eu vi o mourão da cruz*, por
aqui eu quero passar,
Por aqui eu passarei e uma menina eu deixarei,
Qual delas será, a da frente ou a de trás?”...
“Da laranja quero um gomo, do
limão quero um pedaço,
Do menino mais bonito, quero um beijo e um abraço”...
Esse tempo era tão lindo, pena que não volta mais!
Maringá, 22-09-2007
* Em algumas regiões do Brasil, cantam “Ó bimborão
(ou biborá) da Cruz...”
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