Sebastião Nery
Agripino Grieco:
01 - Mineiro dá bom dia porque
bom dia volta logo. É a terra onde olho vê, mão tira e pé corre. Por isso dá
tanto banqueiro lá. O que é o batedor de carteira senão um banqueiro apressado?
02 - O primeiro artigo sobre o
Gilberto Freire quem escreveu fui eu. Casa Grande e Senzala é um livro bem
pensado e mal escrito. Pensado na casa-grande e escrito na senzala.
03 - O Ataulfo de Paiva era tão
medíocre, cabeça tão vazia, que quem comesse os miolos dele podia comungar.
04 - Em Campinas, um professor me
saudou dizendo: − Desta cidade saíram muitos homens de talento. Aparteei: −
Saíram todos. Ficaram furiosos comigo.
05 - Em Campos, acabei minha
conferência dizendo: − O rio Paraíba passa por aqui e fica tão envergonhado que
se joga no mar. Também não gostaram.
06 - Em Feira de Santana, no
hotel, uma velha professora estava em prantos porque seu marido, um português,
fugiu levando tudo dela. Perguntei-lhe: − A senhora, tanto tempo professora, e
não conhecia o português?
Filósofos políticos:
→ Do ventre das mulheres, de
cabeça de juiz e da boca das urnas nunca se sabe o que vai sair. (Bias Fortes -
MG).
→ Prefiro dormir no chão a cair da cama. (Idem).
→ Lá em Minas reflorestamento a
gente faz com eucalipto, porque em dez anos já é uma árvore secular. (Benedito
Valadares - MG).
→ Conversa de mais de dois é comício. (Idem).
→ Reunião, só depois do assunto resolvido. (Idem).
→ Povo é bom visto do palanque. (José Maria Alkimim - MG).
→ Bom não é ser governo. É ser amigo do governo. (Idem).
→ Meu filho, eu sou tão velho,
tão antigo, que sou de um tempo em que calcinha era peça íntima. (Marcial Dias
Pequeno - RJ).
→ Falar não sei, mas sei dizer. (Domingos - BA).
→ Opinião pública é cheque sem fundo. (José Abílio - PE).
→ Prestígio de coronel é como grama: quanto mais corta mais
ele cresce. (Idem).
→ Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. (Vitorino
Freire - MA).
→ O risco que corre o pau corre o machado. (Idem).
→ Eu não sou Zagalo. Não jogo para empate. (Idem).
→ A luz que vai na frente é a que clareia mais. (Teodorico
Bezerra - RN).
→ A política é feita de tudo que
é bom: música, foguetão, baile, passeata, dança, flores e aplausos. (Idem).
→ O adiamento de uma luta incerta é sempre uma vitória.
(Pinheiro Machado - RS).
Histórias:
O major João José, da PM, era muito popular em Aracaju. Foi dar uma
aula aos soldados:
− Vocês sabem o nome desse
aparelho? É búscola. Serve para dar a direção. No meu tempo não tinha nada
disso não. Era Norte pra frente e Sul pra trás.
José Maria Alkimim encontra-se com dona Lia Salgado, famosa
soprano mineira:
− Mas como a senhora está jovem, dona Lia.
− Qual o que, Dr. Alkimim, já sou até avó.
− A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por
antiguidade.
*****
Nova seleção
de textos constantes do “Folclore Político n.º 2” , seleção de Sebastião Nery,
publicação da Editora Record - Rio de Janeiro, 1976, págs.
diversas. Disse Millôr Fernandes: “...No decorrer de sua experiência de mais de
duas décadas como repórter especializado, Sebastião Nery pode colher, nos
anfiteatros mais engraçados do Brasil, o Senado e a Câmara, muitos de seus
momentos mais hilariantes”. E prossegue: “Por isso, é um livro extremamente atual,
esse Folclore Político, com o qual o próprio Nery aprendeu que, muitas vezes,
parar de enfrentar o tigre frente a frente e puxar-lhe o rabo inesperadamente é
mais útil à causa e muito mais eficiente. Já foi muito dito, mas nunca é demais
repetir: castigat ridendo mores, ou
seja, rindo é que se castiga os mouros”.
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