quarta-feira, 15 de maio de 2019

Folclore Político nº. 2



Sebastião Nery

Agripino Grieco:

01 - Mineiro dá bom dia porque bom dia volta logo. É a terra onde olho vê, mão tira e pé corre. Por isso dá tanto banqueiro lá. O que é o batedor de carteira senão um banqueiro apressado?

02 - O primeiro artigo sobre o Gilberto Freire quem escreveu fui eu. Casa Grande e Senzala é um livro bem pensado e mal escrito. Pensado na casa-grande e escrito na senzala.

03 - O Ataulfo de Paiva era tão medíocre, cabeça tão vazia, que quem comesse os miolos dele podia comungar.

04 - Em Campinas, um professor me saudou dizendo: − Desta cidade saíram muitos homens de talento. Aparteei: − Saíram todos. Ficaram furiosos comigo.

05 - Em Campos, acabei minha conferência dizendo: − O rio Paraíba passa por aqui e fica tão envergonhado que se joga no mar. Também não gostaram.

06 - Em Feira de Santana, no hotel, uma velha professora estava em prantos porque seu marido, um português, fugiu levando tudo dela. Perguntei-lhe: − A senhora, tanto tempo professora, e não conhecia o português?

Filósofos políticos:

→ Do ventre das mulheres, de cabeça de juiz e da boca das urnas nunca se sabe o que vai sair. (Bias Fortes - MG).

→ Prefiro dormir no chão a cair da cama. (Idem).

→ Lá em Minas reflorestamento a gente faz com eucalipto, porque em dez anos já é uma árvore secular. (Benedito Valadares - MG).

→ Conversa de mais de dois é comício. (Idem).

→ Reunião, só depois do assunto resolvido. (Idem).

→ Povo é bom visto do palanque. (José Maria Alkimim - MG).

→ Bom não é ser governo. É ser amigo do governo. (Idem).

→ Meu filho, eu sou tão velho, tão antigo, que sou de um tempo em que calcinha era peça íntima. (Marcial Dias Pequeno - RJ).

→ Falar não sei, mas sei dizer. (Domingos - BA).

→ Opinião pública é cheque sem fundo. (José Abílio - PE).

→ Prestígio de coronel é como grama: quanto mais corta mais ele cresce. (Idem).

→ Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. (Vitorino Freire - MA).

→ O risco que corre o pau corre o machado. (Idem).

→ Eu não sou Zagalo. Não jogo para empate. (Idem).

→ A luz que vai na frente é a que clareia mais. (Teodorico Bezerra - RN).

→ A política é feita de tudo que é bom: música, foguetão, baile, passeata, dança, flores e aplausos. (Idem).

→ O adiamento de uma luta incerta é sempre uma vitória. (Pinheiro Machado - RS).

Histórias:

O major João José, da PM, era muito popular em Aracaju. Foi dar uma aula aos soldados:
− Vocês sabem o nome desse aparelho? É búscola. Serve para dar a direção. No meu tempo não tinha nada disso não. Era Norte pra frente e Sul pra trás.

José Maria Alkimim encontra-se com dona Lia Salgado, famosa soprano mineira:
− Mas como a senhora está jovem, dona Lia.
− Qual o que, Dr. Alkimim, já sou até avó.
− A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por antiguidade.

*****

Nova seleção de textos constantes do “Folclore Político n.º 2”, seleção de Sebastião Nery, publicação da Editora Record - Rio de Janeiro, 1976, págs. diversas. Disse Millôr Fernandes: “...No decorrer de sua experiência de mais de duas décadas como repórter especializado, Sebastião Nery pode colher, nos anfiteatros mais engraçados do Brasil, o Senado e a Câmara, muitos de seus momentos mais hilariantes”. E prossegue: “Por isso, é um livro extremamente atual, esse Folclore Político, com o qual o próprio Nery aprendeu que, muitas vezes, parar de enfrentar o tigre frente a frente e puxar-lhe o rabo inesperadamente é mais útil à causa e muito mais eficiente. Já foi muito dito, mas nunca é demais repetir: castigat ridendo mores, ou seja, rindo é que se castiga os mouros”.


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