Manobra de Resende − 13 de novembro de 1957
↑
(Jornal: A Noite)
Acima, foto à direta, abaixo: Sgt Adeniltom Miranda)
(Manchete da
reportagem:)*
↓
* Com grafia atualizada.
Paraquedistas deram o Salto da Morte
Acidente trágico marcou o
encerramento das manobras aeroterrestres em desenvolvimento na região de
Resende, no Estado do Rio, em combinação com Corpo de Cadetes das Agulhas
Negras. O jovem sargento Adenilton Miranda (Pqdt 1131, do Turno 1954/1), foto
acima, abaixo, no canto à direita, na manchete: PÁRA-QUEDAS NÃO ABRIU, e o soldado João Rodrigues da Silva (Pqdt
3363, do Turno 1957/5), ambos da Terceira Companhia do Batalhão Santos Dumont
(Núcleo da Divisão Aeroterrestre), projetaram-se no espaço sem que seus
paraquedas abrissem e os de emergência, uma vez acionados, enrolaram nos
militares do que resultou em morte de ambos. Os corpos foram trazidos para esta
capital e ficaram expostos na capela do Hospital Central do Exército, de onde
saíram pela manhã de hoje (14.11.1957) para o campo dos militares, no cemitério
de Ricardo de Albuquerque, com honras militares de estilo.
Mortos 2 paraquedistas na Manobras de Agulhas Negras
Dois acidentes fatais, vitimando
os paraquedistas sargento Adenilton Miranda e o soldado João Rodrigues da
Silva, ambos pertencentes à Terceira Companhia do Batalhão Santos Dumont, marcaram
o início das manobras aeroterrestres nos campos de instrução das Agulhas
Negras, ontem.
Até agora (1957), em 93 mil
saltos efetuados, a Divisão de paraquedistas perdeu sete vidas, numa
percentagem de sinistros que não atinge a um centésimo de 1 por cento em
relação ao número total dos lançamentos individuais.
Excetuando-se esse lamentável
acontecimento, as manobras têm-se destacado pelo seu brilhantismo e
adestramento técnico do pessoal.
Nada menos que 850 homens, jipes
e canhões de 75 mm sem recuo montados em jeeps, sob o comando do tenente coronel
Roberto de Pessôa, participaram do 1º Escalão de Assalto.
Dezoito aviões de transporte, em
vagas de nove de cada vez, serviram para os lançamentos dos paraquedistas, do
Grupo Tático, os quais se prolongaram até as primeiras horas da tarde.
Canhões de Paraquedistas
Hoje de madrugada (14.11.1957)
iniciou-se a segunda fase de lançamento com 2º Escalão Imediato. Foram jogados
de paraquedas dois canhões e obuses de 105 mm , estes para funcionarem montados em jeeps.
Os obuses de 105 mm pesam 3.500
quilos e são sustentados por dois paraquedas de 130 metros de diâmetro
cada um, servido cada qual por 120 linhas de suspensão, com a resistência de 35
quilos, por polegada quadrada.
Cabeça de ponte
Após os lançamentos do escalão
Imediato, o tenente-coronel Roberto de Pessôa ordenou o ataque para
estabelecimento de uma cabeça de ponte no objetivo visado, com o fim de
conseguir-se fazer junção com as forças terrestres em avanço.
A operação de lançamento do 2º
Escalão foi apoiada pelo Primeiro Grupo Caça a Jato da FAB, que “varreu”
eventuais posições de inimigos e procurou manter superioridade aérea na zona do
lançamento.
Lott presente
O general Lott* e outras altas
autoridades militares, além dos adidos militares de diversos países, assistiram
às operações ontem realizadas em Agulhas Negras.
Jornal A Noite, de 13
de novembro de 1957.
* Henrique Batista Duffles
Teixeira Lott (Sítio, MG, hoje município de Antônio Carlos, em 16 de
novembro de 1894 − Rio de Janeiro, 19 de maio de 1984)
foi um militar e político brasileiro, que atingiu o posto
de marechal, foi Ministro da Guerra e concorreu à Presidência
da República nas eleições de 1960.
*********
Dois paraquedas não abriram
Centenas de paraquedas foram
lançados dos aviões (C-82), ontem, nos Campos das Agulhas Negras. Mas dois não
abriram e os que neles se lançaram perderam a vida. Um soldado teve uma forte
crise nervosa, um dos mortos era seu amigo e passou ao seu lado na queda livre.
O coronel Santa Rosa, comandante da prova, solidarizou-se com ele e abraçou-o
comovido, mas disse que o exercício teria que prosseguir, e outros paraquedas
continuaram abrindo no céu.
Saltaram 800 paraquedistas nas Manobras de Resende
Oitocentos paraquedistas e
dezoito aviões (C-82) participaram ontem (13.11.1957) das manobras
aeroterrestres em Resende.
O comandante da prova, coronel Santa Rosa, disse ao Jornal do
Brasil que pela primeira vez na América do Sul foram lançados jeeps de aviões,
tendo sido a operação realizada com êxito.
O Ministro da Guerra e outras
autoridades militares irão hoje ao campo das Agulhas Negras assistir à
continuação das manobras.
Dois mortos
Dois paraquedas não abriram e os
paraquedistas morreram. Os mortos foram 3º sargento Adenilton Miranda e o
soldado João Rodrigues da Silva. O primeiro tinha 22 anos. O outro tinha 18 e
viera de Alagoas. Adenilton deixou viúva e dois filhos.
Foram, também, acidentados, o
soldado Araújo e o 3º sargento Nei Silva (este já saltou 105 vezes de
paraquedas).
“João era meu colega”
Em terra, depois dos saltos, um
soldado teve uma crise de nervos. O coronel Santa Rosa, comandante interino da
Divisão Aeroterrestre, perguntou:
− Que é isso, meu garoto?
− João era meu colega e vi quando seu paraquedas entrou em
charuto.
O coronel tentou consolá-lo e disse:
− Meu filho, somos homens e nossa
profissão tem alguns acidentes. Vamos para frente e nunca esquecendo desses
colegas mortos em ação.
Os dois mortos eram da 3ª
Companhia do Batalhão Santos Dumont e serão enterrados hoje às 11 horas no
cemitério de Ricardo de Albuquerque. Esses corpos estão no Quartel dos
Paraquedistas.
Os paraquedistas
Ontem, iniciando as manobras de
fim ano do I Exército, 850 homens saltaram nos campos das Agulhas Negras,
próximo a Resende. Junto, pela primeira vez na América do Sul, foram jogados de
paraquedas, jeeps, canhões de 75
mm sem recuo e rações.
A primeira turma a saltar é a
chamada Precursora. É constituída de 10 homens. Sua função é determinar a área
de lançamento, manter contacto com o avião lançador e indicar o local onde os
homens devem ser lançados. Os 10 homens, ontem, foram comandados pelo tenente Bozano*.
Eram 6,15 horas.
*Na época 2º tenente Ramiro Júlio
Souto Bozano, pqdt 1516, do Turno 1954/5, MS 295, Prec 26, SL 31 e MSSL 2.
Saúde vem depois
Em seguida desceram os
componentes do Corpo de Saúde. Seis homens prontos para os socorros de
emergência.
Os fuzileiros (80) foram lançados
às 6.30 horas. O comando acompanhado de 120 soldados veio depois, às 7 horas.
Jipes descem
Eram 7,30 horas quando os aviões
da Força Aérea Brasileira lançaram, em paraquedas, dois jipes e dois fardos
A-22, de rações.
A tropa foi jogada em duas vezes:
120 homens às 9,30 horas. Às 10,10 horas desceu mais um jipe. Seguiu-se o
restante da tropa, até as 11,30 horas, completando um total de cerca de 800
homens.
18 aviões
Para os saltos, foram empregados
18 aviões que operaram em vagas de nove cada vez.
O coronel Santa Rosa, comandante
interino da Divisão Aeroterrestre, falando ao Jornal do Brasil informou que o
paraquedismo no Brasil, está em franco desenvolvimento, especialmente o
militar. E disse:
− Nós, hoje, tivemos ocasião de
realizar, pela primeira vez na América do Sul, o lançamento de jipes.
Utilizamos um paraquedas dotado de capacidade especial para aguentar os 250
quilos da carga. É um paraquedas com 30 metros de diâmetro.
Pouco acidente
Sobre o acidente, disse:
− Nessa manobra, atingimos,
praticamente, 100 mil saltos. Para esse número tão elevado de lançamentos,
ocorreram, incluindo as de hoje, sete mortes. Dessas, duas apenas foram
ocasionadas por falha do material.
E acrescentou:
− É preciso que se note que hoje
perdemos dois homens a quem amávamos como se fossem nossos filhos. Porém o
resto da manobra foi de um sucesso formidável. Perfeito o lançamento das
viaturas, munições e rações.
Encerram-se hoje
As manobras dos paraquedistas
encerram-se hoje com o lançamento de mais 500 homens e dois canhões obuses de 105 milímetros , e
canhões de 105
milímetros montados em jipes.
Os obuses de 105 mm pesam 3.500 quilos e
são sustentados por dois paraquedas de 130 metros de diâmetro
cada um, servidos por 240 linhas de suspensão com a resistência de 34 quilos
cada uma. A suspensão semiesférica de nylon oferece uma resistência de 35
quilos por polegada quadrada.
Encontro com tropas em terra
O tenente-coronel Roberto de Pessoa, depois que os
paraquedistas e material estiveram em terra, determinará o ataque simulado,
para estabelecer uma cabeça de ponte no objetivo visado, até fazer a junção com
as forças terrestres em avanço.
O 1º Grupo de Caça a Jato da FAB
apoiará a operação de lançamento do 2º Escalão e varrerá as eventuais posições
inimigas e procurará manter superioridade aérea na zona do lançamento.
Capelão e ministro vão ver
O general Teixeira Lott, Ministro
da Guerra, os adidos militares estrangeiros e outras autoridades civis e
militares irão, hoje, aos campos das Agulhas Negras, para assistirem à parte
final das manobras.
Deverá estar presente, também, o
capelão paraquedista da 101ª Divisão Americana que se encontra no Rio.
Comando
A direção da manobra está sendo
feita pelo coronel Sylvio Américo Santa Rosa (pqdt 2246, do Turno 1955/1,
especial, MS 610), secundado pelo tenente-coronel Roberto de Pessôa (pqdt 1,
pioneiro, MS 1), comandante do Grupamento Tático de Manobras, major-aviador
José Rebelo Meira Vasconcelos, comandante do 2º Grupo de Transporte da FAB,
major Carlos Alberto Goulart Pereira, comandante do Escalão de Assalto,
major-aviador Keller, comandante do 1º Grupo de Caça da FAB e o capitão Silas
Bueno, comandante do Escalão Imediato.
Jornal do Brasil, de
14 de novembro de 1957.
(Pesquisa realizada
de jornais microfilmados pela
Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro,
no mês janeiro de
2020)
O viveiro de periquitos, que estava
localizado entre a 1ª Companhia de Fuzileiros Aeroterrestres e a Companhia de
Petrechos Pesados (CPP-1), ambas companhias do Regimento Santos Dumont, recebeu
o nome do soldado João Rodrigues da Silva, em homenagem ao Sd morto nas Manobras de Resende em
1957.
P.S. O viveiro, cujo nome
homenageava um soldado morto, fato raro na Brigada de Infantaria Aeroterrestre,
não existe mais...
Em virtude desse acidente, o Sgt
Duílio Caldeira, pqdt 1841, MS 425. fez um belo soneto em homenagem aos dois
paraquedistas mortos.
Aos Companheiros que se foram
A
tropa está em forma e faltam dois soldados.
Eles
não ouvem mais os toques do clarim...
Pela
fatalidade foram dispensados
E
encontraram no dever, o heroico fim.
A
tropa está em forma e em silêncio escuta
O
triste toque do adeus aos camaradas
De
cujas vidas o destino fez permuta
Lhes
dando em troca a paz e glórias desejadas.
A
tropa está em forma e busca dominar
As
lágrimas furtivas a correr nas faces,
Naquela
rústica homenagem aos companheiros
Por
terem precocemente alcançado
O
epitáfio glorioso que nós outros
Inconscientemente
todos desejamos...
Agulhas Negras, 15 de novembro de 1957.
ADENILTON MIRANDA deixou viúva e 2 filhas
ResponderExcluirSou neta dele e gostaríamos de saber mais notícias sobre o assunto
Pesquisei na Biblioteca Nacional, no centro do Rio de Janeiro, os jornais do dia após o acidente, lá poderás saber mais sobre o acidente.
ExcluirGostaríamos do contato com alguém da família pq dps da fatalidade perdemos contato com a família
ExcluirSe algum puder dar a informação solicitada, pode dar através deste almanaque.
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