quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Histórias de Paraquedistas XXXV

Manobra de Resende − 13 de novembro de 1957

(Jornal: A Noite)
Acima, foto à direta, abaixo: Sgt Adeniltom Miranda)
(Manchete da reportagem:)*
* Com grafia atualizada.

Paraquedistas deram o Salto da Morte

Acidente trágico marcou o encerramento das manobras aeroterrestres em desenvolvimento na região de Resende, no Estado do Rio, em combinação com Corpo de Cadetes das Agulhas Negras. O jovem sargento Adenilton Miranda (Pqdt 1131, do Turno 1954/1), foto acima, abaixo, no canto à direita, na manchete: PÁRA-QUEDAS NÃO ABRIU, e o soldado João Rodrigues da Silva (Pqdt 3363, do Turno 1957/5), ambos da Terceira Companhia do Batalhão Santos Dumont (Núcleo da Divisão Aeroterrestre), projetaram-se no espaço sem que seus paraquedas abrissem e os de emergência, uma vez acionados, enrolaram nos militares do que resultou em morte de ambos. Os corpos foram trazidos para esta capital e ficaram expostos na capela do Hospital Central do Exército, de onde saíram pela manhã de hoje (14.11.1957) para o campo dos militares, no cemitério de Ricardo de Albuquerque, com honras militares de estilo.

Mortos 2 paraquedistas na Manobras de Agulhas Negras

Dois acidentes fatais, vitimando os paraquedistas sargento Adenilton Miranda e o soldado João Rodrigues da Silva, ambos pertencentes à Terceira Companhia do Batalhão Santos Dumont, marcaram o início das manobras aeroterrestres nos campos de instrução das Agulhas Negras, ontem.

Até agora (1957), em 93 mil saltos efetuados, a Divisão de paraquedistas perdeu sete vidas, numa percentagem de sinistros que não atinge a um centésimo de 1 por cento em relação ao número total dos lançamentos individuais.

Excetuando-se esse lamentável acontecimento, as manobras têm-se destacado pelo seu brilhantismo e adestramento técnico do pessoal.

Nada menos que 850 homens, jipes e canhões de 75 mm sem recuo montados em jeeps, sob o comando do tenente coronel Roberto de Pessôa, participaram do 1º Escalão de Assalto.

Dezoito aviões de transporte, em vagas de nove de cada vez, serviram para os lançamentos dos paraquedistas, do Grupo Tático, os quais se prolongaram até as primeiras horas da tarde.

Canhões de Paraquedistas

Hoje de madrugada (14.11.1957) iniciou-se a segunda fase de lançamento com 2º Escalão Imediato. Foram jogados de paraquedas dois canhões e obuses de 105 mm, estes para funcionarem montados em jeeps.

Os obuses de 105 mm pesam 3.500 quilos e são sustentados por dois paraquedas de 130 metros de diâmetro cada um, servido cada qual por 120 linhas de suspensão, com a resistência de 35 quilos, por polegada quadrada.

Cabeça de ponte

Após os lançamentos do escalão Imediato, o tenente-coronel Roberto de Pessôa ordenou o ataque para estabelecimento de uma cabeça de ponte no objetivo visado, com o fim de conseguir-se fazer junção com as forças terrestres em avanço.

A operação de lançamento do 2º Escalão foi apoiada pelo Primeiro Grupo Caça a Jato da FAB, que “varreu” eventuais posições de inimigos e procurou manter superioridade aérea na zona do lançamento.

Lott presente

O general Lott* e outras altas autoridades militares, além dos adidos militares de diversos países, assistiram às operações ontem realizadas em Agulhas Negras.

Jornal A Noite, de 13 de novembro de 1957.

* Henrique Batista Duffles Teixeira Lott (Sítio, MG, hoje município de Antônio Carlos, em 16 de novembro de 1894 − Rio de Janeiro, 19 de maio de 1984) foi um militar e político brasileiro, que atingiu o posto de marechal, foi Ministro da Guerra e concorreu à Presidência da República nas eleições de 1960.

*********

Dois paraquedas não abriram

Centenas de paraquedas foram lançados dos aviões (C-82), ontem, nos Campos das Agulhas Negras. Mas dois não abriram e os que neles se lançaram perderam a vida. Um soldado teve uma forte crise nervosa, um dos mortos era seu amigo e passou ao seu lado na queda livre. O coronel Santa Rosa, comandante da prova, solidarizou-se com ele e abraçou-o comovido, mas disse que o exercício teria que prosseguir, e outros paraquedas continuaram abrindo no céu.

Saltaram 800 paraquedistas nas Manobras de Resende

Oitocentos paraquedistas e dezoito aviões (C-82) participaram ontem (13.11.1957) das manobras aeroterrestres em Resende. O comandante da prova, coronel Santa Rosa, disse ao Jornal do Brasil que pela primeira vez na América do Sul foram lançados jeeps de aviões, tendo sido a operação realizada com êxito.

O Ministro da Guerra e outras autoridades militares irão hoje ao campo das Agulhas Negras assistir à continuação das manobras.

Dois mortos

Dois paraquedas não abriram e os paraquedistas morreram. Os mortos foram 3º sargento Adenilton Miranda e o soldado João Rodrigues da Silva. O primeiro tinha 22 anos. O outro tinha 18 e viera de Alagoas. Adenilton deixou viúva e dois filhos.

Foram, também, acidentados, o soldado Araújo e o 3º sargento Nei Silva (este já saltou 105 vezes de paraquedas).

“João era meu colega”

Em terra, depois dos saltos, um soldado teve uma crise de nervos. O coronel Santa Rosa, comandante interino da Divisão Aeroterrestre, perguntou:
− Que é isso, meu garoto?
− João era meu colega e vi quando seu paraquedas entrou em charuto.
O coronel tentou consolá-lo e disse:
− Meu filho, somos homens e nossa profissão tem alguns acidentes. Vamos para frente e nunca esquecendo desses colegas mortos em ação.

Os dois mortos eram da 3ª Companhia do Batalhão Santos Dumont e serão enterrados hoje às 11 horas no cemitério de Ricardo de Albuquerque. Esses corpos estão no Quartel dos Paraquedistas.

Os paraquedistas

Ontem, iniciando as manobras de fim ano do I Exército, 850 homens saltaram nos campos das Agulhas Negras, próximo a Resende. Junto, pela primeira vez na América do Sul, foram jogados de paraquedas, jeeps, canhões de 75 mm sem recuo e rações.

A primeira turma a saltar é a chamada Precursora. É constituída de 10 homens. Sua função é determinar a área de lançamento, manter contacto com o avião lançador e indicar o local onde os homens devem ser lançados. Os 10 homens, ontem, foram comandados pelo tenente Bozano*. Eram 6,15 horas.

*Na época 2º tenente Ramiro Júlio Souto Bozano, pqdt 1516, do Turno 1954/5, MS 295, Prec 26, SL 31 e MSSL 2.

Saúde vem depois

Em seguida desceram os componentes do Corpo de Saúde. Seis homens prontos para os socorros de emergência.

Os fuzileiros (80) foram lançados às 6.30 horas. O comando acompanhado de 120 soldados veio depois, às 7 horas.

Jipes descem

Eram 7,30 horas quando os aviões da Força Aérea Brasileira lançaram, em paraquedas, dois jipes e dois fardos A-22, de rações.

A tropa foi jogada em duas vezes: 120 homens às 9,30 horas. Às 10,10 horas desceu mais um jipe. Seguiu-se o restante da tropa, até as 11,30 horas, completando um total de cerca de 800 homens.

18 aviões

Para os saltos, foram empregados 18 aviões que operaram em vagas de nove cada vez.

O coronel Santa Rosa, comandante interino da Divisão Aeroterrestre, falando ao Jornal do Brasil informou que o paraquedismo no Brasil, está em franco desenvolvimento, especialmente o militar. E disse:
− Nós, hoje, tivemos ocasião de realizar, pela primeira vez na América do Sul, o lançamento de jipes. Utilizamos um paraquedas dotado de capacidade especial para aguentar os 250 quilos da carga. É um paraquedas com 30 metros de diâmetro.

Pouco acidente

Sobre o acidente, disse:
− Nessa manobra, atingimos, praticamente, 100 mil saltos. Para esse número tão elevado de lançamentos, ocorreram, incluindo as de hoje, sete mortes. Dessas, duas apenas foram ocasionadas por falha do material.
E acrescentou:
− É preciso que se note que hoje perdemos dois homens a quem amávamos como se fossem nossos filhos. Porém o resto da manobra foi de um sucesso formidável. Perfeito o lançamento das viaturas, munições e rações.

Encerram-se hoje

As manobras dos paraquedistas encerram-se hoje com o lançamento de mais 500 homens e dois canhões obuses de 105 milímetros, e canhões de 105 milímetros montados em jipes.

Os obuses de 105 mm pesam 3.500 quilos e são sustentados por dois paraquedas de 130 metros de diâmetro cada um, servidos por 240 linhas de suspensão com a resistência de 34 quilos cada uma. A suspensão semiesférica de nylon oferece uma resistência de 35 quilos por polegada quadrada.

Encontro com tropas em terra

O tenente-coronel Roberto de Pessoa, depois que os paraquedistas e material estiveram em terra, determinará o ataque simulado, para estabelecer uma cabeça de ponte no objetivo visado, até fazer a junção com as forças terrestres em avanço.

O 1º Grupo de Caça a Jato da FAB apoiará a operação de lançamento do 2º Escalão e varrerá as eventuais posições inimigas e procurará manter superioridade aérea na zona do lançamento.

Capelão e ministro vão ver

O general Teixeira Lott, Ministro da Guerra, os adidos militares estrangeiros e outras autoridades civis e militares irão, hoje, aos campos das Agulhas Negras, para assistirem à parte final das manobras.

Deverá estar presente, também, o capelão paraquedista da 101ª Divisão Americana que se encontra no Rio.

Comando

A direção da manobra está sendo feita pelo coronel Sylvio Américo Santa Rosa (pqdt 2246, do Turno 1955/1, especial, MS 610), secundado pelo tenente-coronel Roberto de Pessôa (pqdt 1, pioneiro, MS 1), comandante do Grupamento Tático de Manobras, major-aviador José Rebelo Meira Vasconcelos, comandante do 2º Grupo de Transporte da FAB, major Carlos Alberto Goulart Pereira, comandante do Escalão de Assalto, major-aviador Keller, comandante do 1º Grupo de Caça da FAB e o capitão Silas Bueno, comandante do Escalão Imediato.

Jornal do Brasil, de 14 de novembro de 1957.

(Pesquisa realizada de jornais microfilmados pela
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
no mês janeiro de 2020)


O viveiro de periquitos, que estava localizado entre a 1ª Companhia de Fuzileiros Aeroterrestres e a Companhia de Petrechos Pesados (CPP-1), ambas companhias do Regimento Santos Dumont, recebeu o nome do soldado João Rodrigues da Silva, em homenagem ao Sd morto nas Manobras de Resende em 1957.

P.S. O viveiro, cujo nome homenageava um soldado morto, fato raro na Brigada de Infantaria Aeroterrestre, não existe mais...

Em virtude desse acidente, o Sgt Duílio Caldeira, pqdt 1841, MS 425. fez um belo soneto em homenagem aos dois paraquedistas mortos.

Aos Companheiros que se foram

A tropa está em forma e faltam dois soldados.
Eles não ouvem mais os toques do clarim...
Pela fatalidade foram dispensados
E encontraram no dever, o heroico fim.

A tropa está em forma e em silêncio escuta
O triste toque do adeus aos camaradas
De cujas vidas o destino fez permuta
Lhes dando em troca a paz e glórias desejadas.

A tropa está em forma e busca dominar
As lágrimas furtivas a correr nas faces,
Naquela rústica homenagem aos companheiros

Por terem precocemente alcançado
O epitáfio glorioso que nós outros
Inconscientemente todos desejamos...

Agulhas Negras, 15 de novembro de 1957.



4 comentários:

  1. ADENILTON MIRANDA deixou viúva e 2 filhas
    Sou neta dele e gostaríamos de saber mais notícias sobre o assunto

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    1. Pesquisei na Biblioteca Nacional, no centro do Rio de Janeiro, os jornais do dia após o acidente, lá poderás saber mais sobre o acidente.

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    2. Gostaríamos do contato com alguém da família pq dps da fatalidade perdemos contato com a família

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    3. Se algum puder dar a informação solicitada, pode dar através deste almanaque.

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