domingo, 19 de julho de 2020

Chuang Tzu e o Sonho da Borboleta



Era uma noite fresca na China antiga. Um amigo de Chuang Tzu foi procurá-lo numa estalagem local. Chegando lá, encontrou-o sentado numa mesa, bebericando seu chá com um semblante contemplativo.

– Aí está você! – disse o amigo de Chuang Tzu. – Achei que estivesse contando a todos mais uma de suas histórias. Por que está tão calado?

– Há uma questão em minha mente – disse Chuang Tzu. – Uma questão sobre a existência.

– Entendo. Você quer que eu lhe deixe sozinho com seus pensamentos?

– Não, gostaria de compartilhá-la com você. Talvez você possa me ajudar com sua perspectiva.

– Minha perspectiva é de pouco valor, mas ficarei contente em ouvir – ele puxou uma cadeira.

– Saí para uma caminha no final da tarde –, começou Chuang Tzu. – Fui até um de meus lugares preferidos embaixo de uma grande e frondosa árvore. Ali sentei e comecei a pensar no significado da vida. Estava tão fresco e agradável que logo relaxei e peguei no sono. Comecei então a sonhar que estava sobrevoando um belo campo florido. Olhei para trás e vi que tinha asas. Elas eram grandes e bonitas e se agitavam rapidamente. Eu havia me transformado numa borboleta! Senti uma enorme sensação de liberdade e alegria ao voar suavemente em qualquer direção que quisesse. Tudo nesse sonho parecia completamente real em todos os sentidos, tanto que, depois de um tempo, eu me esqueci por completo que um dia fora Chuang Tzu. Eu era simplesmente uma borboleta e nada mais.

– Eu tive sonhos em que voava, mas nunca como uma borboleta – o amigo respondeu. – Esse sonho me parece uma experiência maravilhosa.

– E foi, mas como todas as coisas, cedo ou tarde tiveram que acabar. Lentamente, acordei e percebi que eu era novamente Chuang Tzu. Isso é que me intriga.

– O que há de tão intrigante? Você teve um belo sonho, só isso.

– E se eu estiver sonhando agora? Essa conversa que estou tendo com você parece real em todos os sentidos, assim como meu sonho. Eu achei que era Chuang Tzu que tivesse sonhado ser uma borboleta. Mas, e se sou uma borboleta que, agora mesmo, está sonhando ser Chuang Tzu?

– Bem, eu posso lhe afirmar que você é realmente Chuang Tzu e não uma borboleta.

Chuang Tzu sorriu:

– Você pode ser simplesmente parte do meu sonho, nem mais nem menos real do que qualquer outra coisa. Assim, não há nada que você possa fazer para me ajudar a identificar a distinção entre Chuang Tzu e a borboleta. Essa, meu amigo, é a questão essencial sobre a transformação da existência.

(Do blog Consciência é a Resposta)

O taoísmo filosófico, cujo objetivo era alinhar a vida cotidiana do indivíduo ao Tao, está associado aos nomes de Lao Tse e Chuang Tzu. Por isso, as vezes se atribui esse conto a Lao-Tsé outras ao mestre taoísta Chuang Tzu. Segundo o conto, o sábio sonhou que era uma borboleta, voando alegremente aqui e ali. No sonho, ele não tinha mais a mínima consciência de sua individualidade como pessoa. Ele era realmente uma borboleta. Repentinamente, ele acordou e descobriu-se deitado ali, uma pessoa novamente, pensando se agora era uma borboleta sonhando ser um homem.


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