O Conselheiro Acácio por Arnaldo Ressano-1945
→ Conselheiro hipócrita e
enfatuado, ridículo e convencido. É o símbolo do convencionalismo e da
respeitabilidade burguesa. Representa o constitucionalismo e o formalismo
oficial.
→ Natural de Lisboa, ex-director geral, fora nomeado
conselheiro por carta régia.
→ Os seus gestos eram sempre
medidos. Crítico severo e autor. Não tinha família e habitava o 3º andar da Rua
do Ferragial. Vivia amantizado com uma criada.
→ Ocupava-se da economia política e era cavaleiro da Ordem
de Santiago.
→ Fisicamente, era alto, magro,
de rosto comprido, afilado e calvo, vestia-se habitualmente de preto, “com o
pescoço entalado num colarinho direito”.
Descrição de Eça de
Queirós no livro “O Primo Basílio”
Era alto, magro, vestido todo de
preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo
ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto; tingia
os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e
aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia
o bigode: tinha-o grisalho, farto, caído aos da boca. Era muito pálido; nunca
tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes
muito despegadas do crânio.
Fora, outrora, diretor-geral do
Ministério do Reino, e sempre que dizia “El-rei!” erguia-se um pouco na
cadeira. Os seus gestos eram medidos, mesmo a tomar rapé. Nunca usava palavras
triviais; não dizia vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir.
Dizia sempre “o nosso Garrett, o nosso Herculano”. Citava muito. Era autor. E
sem família, num terceiro andar da Rua do Ferregial, amancebado com a criada,
ocupava-se de economia política: tinha composto os Elementos genéricos da
ciência da riqueza e a sua distribuição, segundo os melhores autores, e como
subtítulo: Leituras do serão! Havia apenas meses publicara a Relação de todos
os ministros de Estado desde o grande Marquês de Pombal até nossos dias, com datas
cuidadosamente averiguadas de seus nascimentos e óbitos.
*****
→ Conselheiro Acácio é uma das
personagens da obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Esta figura fictícia tornou-se
célebre como representação da convencionalidade e mediocridades dos políticos e
burocratas portugueses dos finais do século XIX,
sendo até à atualidade utilizada para designar a pompa balofa e a postura de
pseudo-intelectualidade utilizada por muitas das figuras públicas portuguesas.
Deu origem ao termo acaciano, designação utilizada para tais figuras ou para os
seus ditos.
Conselheiro Acácio por Bernardo Marques
Vocábulos Literários
Acaciano → deriva do ridículo
Conselheiro Acácio, personagem do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós.
Embora a figura do Conselheiro seja vista como uma crítica ao moralismo
hipócrita e ao apego às meras aparências sociais, o termo imortalizou outra
faceta da personagem: o hábito de proferir, com toda a pompa e solenidade,
frases absolutamente ocas e triviais. Por isso, “frases acacianas” ou “verdades
acacianas” servem para criticar a banalidade ou o absurdo de qualquer
afirmação. Um bom exemplo é a frase “em futebol, ou se ganha, ou se perde, ou
se empata”, dita em tom sério e solene.
(Prof. Cláudio
Moreno)
“O Primo Basílio” faz parte da
segunda fase da obra de Eça de Queirós, iniciada com a publicação de “O crime
do Padre Amaro”. O objetivo central do autor nessa fase foi destruir a
burguesia através de críticas mordazes e da ironia corrosiva que marcou seu estilo,
daí as sátiras destrutivas à sociedade portuguesa. Foi também a forma
encontrada para levar avante os objetivos da geração realista portuguesa, que
se pretendia socialista.
A crítica de “O Primo Basílio” é contra toda a sociedade lisboeta, marcada pela ociosidade burguesa, a futilidade, a devassidão, a imoralidade, a hipocrisia social, a superficialidade nos relacionamentos, a falsidade e a arrogância que o dinheiro parece criar em certos indivíduos.
“O Primo Basílio” procura atacar a mediocridade
burguesa, representada de maneira às vezes caricatural em Jorge e Luísa,
através de um episódio doméstico, inspirado em “Madame Bovary”, de Gustave
Flaubert, e em “Eugênia Grandet”, de Honoré de Balzac. O casal estampa, por
assim dizer, essa sociedade aparentemente tranquila, mas que oculta em seus
subterrâneos, imoralidades mantidas secretas para o grande público: desejos
sexuais inconfessáveis, relacionamentos amorosos vulgares, ambições pessoais
indisfarçáveis e um culto zeloso da aparência, que nem sempre conseguem sufocar
o ranço de decadência e ascensão social forçada.
(Do Blog Travessia
Poética)
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