Uma lenda surge, geralmente, a partir
de um acontecimento real, seja ele pitoresco, surreal, engraçado ou triste.
Sobre esse fato que irei relatar, surgiram ao longo dos anos muitas versões,
inserindo novos personagens, situando os fatos em outros locais, enfeitando a
história, de acordo com a imaginação de quem a contava.
Mas ele aconteceu, sim, na Escola de
Sargentos das Armas, conhecida nacionalmente como ESA, e foi assim:
A cidade mineira de Três Corações,
onde se localiza a ESA, é banhada pelo Rio Verde, que serpenteia pela
topografia sinuosa e acidentada das terras do sul de Minas Gerais. A escola foi
construída em uma acentuada curva desse rio, de tal forma que só existe um muro
na parte fronteira do quartel e todo o vasto perímetro restante é limitado
pelas águas barrentas do Verde.
Na outra margem, do lado esquerdo
do muro, existe um terreno plano em meio às montanhas, hoje tomado por
construções que não existiam há algumas décadas atrás. Naquela época, o local
era muito usado por circos e parques que vinham à cidade, e o fato ocorreu
justamente durante a temporada de um desses circos.
O aluno Jalvarez , do Curso de
Cavalaria, cumpria no posto nove o último quarto de hora de seu derradeiro
serviço de guarda ao quartel antes da formatura, marcada para dali a poucos
dias.
Eram três horas da madrugada e, em
meio à escuridão intensa, Jalva, como era mais conhecido, vislumbrou um enorme
vulto que se aproximava, vindo da barranca do rio.
- Alto
lá, identifique-se! – gritou- seguindo as normas do serviço.
A aparição,
entretanto, insensível à advertência, prosseguiu em direção ao guarda.
-
Alto, alto lá! – e nada.
Tremendo de medo ante o que, a estas
alturas, já lhe parecia coisa de outro mundo, o bravo guardinha ainda deu dois
tiros para o alto, como prevê o regulamento, mas não teve coragem de dar o
terceiro tiro, que deveria ser na “assombração”.
Fez meia-volta e abandonou o posto correndo,
indo dar com os costados no corpo da guarda, gritando:
-
Socorro!!! Um m ...m... monstro!!!
Corre daqui, corre de lá, acorda-se
toda a guarnição, põe-se em execução o plano de defesa, para só então se
descobrir que o tal monstro era o elefante do circo, que havia cruzado o rio e
invadido o quartel.
Comenta-se, e aí não posso confirmar,
que o coronel Guacacaí, comandante do corpo de alunos, alertado por telefone,
recomendou expressamente ao oficial de dia:
- Ponha
logo esse elefante para fora da escola, senão ele também acaba saindo sargento!
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