segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Eu sou Napoleão!

Por que todo maluco se acha que é Napoleão?

De onde vem essa loucura?


No livro “Napoleon” do inglês Andrew Roberts magnífica biografia, onde vai contada um pedaço da história. Napoleão ferrou-se e em 1816. Para quem acha que Napoleão tinha algo de maluco, Roberts lembra que, ao seu tempo, a Inglaterra, Portugal e Dinamarca tinham monarcas doidos. Em 1840, 19 anos depois de sua morte, quando ganhou sepultura em Paris, num só hospício havia 14 pessoas dizendo que eram Napoleão.

Depois desse fato, a partir daí sempre que se queria retratar um maluco qualquer, fantasiava-se o louco de Napoleão.

Os caprichos de Napoleão


Livro mostra que o imperador francês andava com muitas amantes, mas não dava importância ao ato sexual. Fazia questão de frequentar teatros e dormia nos camarotes

Workaholic muito antes do surgimento da palavra, o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) costumava trabalhar 18 horas por dia. E se gabava da eficiente administração que fazia do tempo, prerrogativa para conseguir centralizar o poder e todas as esferas da sociedade civil – das leis que governam a vida pública à moda nos salões parisienses. “Não é preciso mais de 15 minutos para se fazer uma refeição”, repetia aos generais. Isso lhe permitiu, por exemplo, comparecer a 57 das 109 reuniões de aprovação do código napoleônico, legislação que regulava o direito. Mas ele não reinaria tão bem sem assessores caninos e caprichos diversos – e são essas idiossincrasias que dão sabor às páginas de “A Era de Napoleão” (Objetiva), do historiador inglês Alistair Horne, que busca fazer diferença na bibliografia de mais de 600 mil livros sobre o imperador, a maioria voltada para o seu talento militar.

Apesar do estilo espartano do retratado, é o campo do prazer que se destaca – ou do desprazer, em alguns casos, tão afoito ele era. Napoleão só gostava, por exemplo, das relações sexuais apressadas – tratava o sexo como uma simples “troca de suores”. Famoso por sua “infidelidade mediterrânea”, pelo menos uma vez ele ultrapassou o limite de tempo.

A longa noite de amor se deu com a atriz Marguerite George, uma das mais famosas vedetes da cena teatral parisiense. Napoleão foi vê-la três vezes atuando numa peça de Pierre Corneille na Comédie Française. Na última noite, chegou atrasado, gritou do camarote “comecem tudo de novo” e, ao final, levou-a para os aposentos imperiais. A noite foi tão animada que ele desmaiou durante o ato sexual, sendo flagrado por sua mulher, Josefina, que o reanimou e o expulsou do quarto.

Como a traição caiu na boca do povo, não se sabe. Mas toda vez que a atriz dizia a fala da peça “Cinna” (“Se conseguir seduzir Cinna, poderei seduzir muitos outros”) a plateia procurava com os olhos e aos risos o imperador no camarote real. Não raro, Napoleão se fazia acompanhar de soberanos ou escritores estrangeiros (Wolfgang Goethe, por exemplo) e estufava o peito ao defender os autores nacionais. Ele detestava comédias, não permitia tramas bíblicas em cena (“quem deve fazer isso é a Igreja”) e como espectador era frequentemente flagrado cochilando. Além de ordenar o recomeço de espetáculos já iniciados, proibia peças de que não gostava, alterava diálogos e pedia a troca da obra que estava sendo encenada.

Embora pródigo em frases empoladas, era dado a chiliques: “Fui informado de que Paris deixou de ser iluminada. Os responsáveis por isso são uns canalhas”, escreveu em uma carta durante a campanha da Prússia. Esse estilo irascível presidia todas as decisões, mesmo no campo da moda, quando atacava o uso de transparências pelas mulheres da corte – exigia que se mirassem na discrição de sua mulher, Josefina, que privilegiava os pesados tecidos de fabricação francesa.


Considerada pelo imperador como modelo de bem trajar,
Josefina tinha 896 vestidos e apenas duas calcinhas

O vestuário da imperatriz contava com 666 vestidos de inverno, 230 de verão e apenas duas calcinhas. A propósito, lamentando a separação de Josefina, após mútuas traições, Napoleão afirmou: “Ela tinha a… mais lindinha que se possa imaginar.” Teria dito isso ao seu companheiro de cela na ilha de Santa Helena, o general Bertrand. O livro resgata outro homem de confiança, não pelo manuseio das armas, mas pelo furto de peças de arte e arqueologia: o ex-diplomata italiano Vivant Denon, conhecido como “o olho da armada”. Desde a expedição ao Egito ele acompanhou Napoleão em suas batalhas e se especializou em pilhar acervos artísticos para decorar o Museu Napoleão (futuro Louvre). Da Itália veio, num carro de bois, as “Bodas de Caná”, de Veronese; da Bélgica, os Rubens e Van Eyck. Em um dia de inverno, visitando o museu, Napoleão irritou-se com os aquecedores que soltavam fumaça abundante. E berrou: “Tirem-nos de lá, acabarão incendiando minhas conquistas.”

(Da revista Isto É, maio de 2013)

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