Por que todo maluco se acha que é Napoleão?
De onde vem essa loucura?
No livro “Napoleon” do inglês Andrew
Roberts magnífica biografia, onde vai contada um pedaço da história. Napoleão
ferrou-se e em 1816. Para quem acha que Napoleão tinha algo de maluco, Roberts
lembra que, ao seu tempo, a Inglaterra, Portugal e Dinamarca tinham monarcas
doidos. Em 1840, 19 anos depois de sua morte, quando ganhou sepultura em Paris,
num só hospício havia 14 pessoas dizendo que eram Napoleão.
Depois desse fato, a partir daí
sempre que se queria retratar um maluco qualquer, fantasiava-se o louco de
Napoleão.
Os caprichos de Napoleão
Livro mostra que o imperador
francês andava com muitas amantes, mas não dava importância ao ato sexual.
Fazia questão de frequentar teatros e dormia nos camarotes
Workaholic muito antes do
surgimento da palavra, o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821)
costumava trabalhar 18 horas por dia. E se gabava da eficiente administração
que fazia do tempo, prerrogativa para conseguir centralizar o poder e todas as
esferas da sociedade civil – das leis que governam a vida pública à moda nos
salões parisienses. “Não é preciso mais de 15 minutos para se fazer uma
refeição”, repetia aos generais. Isso lhe permitiu, por exemplo, comparecer a
57 das 109 reuniões de aprovação do código napoleônico, legislação que regulava
o direito. Mas ele não reinaria tão bem sem assessores caninos e caprichos
diversos – e são essas idiossincrasias que dão sabor às páginas de “A Era de
Napoleão” (Objetiva), do historiador inglês Alistair Horne, que busca fazer
diferença na bibliografia de mais de 600 mil livros sobre o imperador, a
maioria voltada para o seu talento militar.
Apesar do estilo espartano do
retratado, é o campo do prazer que se destaca – ou do desprazer, em alguns
casos, tão afoito ele era. Napoleão só gostava, por exemplo, das relações
sexuais apressadas – tratava o sexo como uma simples “troca de suores”. Famoso
por sua “infidelidade mediterrânea”, pelo menos uma vez ele ultrapassou o
limite de tempo.
A longa noite de amor se deu com
a atriz Marguerite George, uma das mais famosas vedetes da cena teatral
parisiense. Napoleão foi vê-la três vezes atuando numa peça de Pierre Corneille
na Comédie Française. Na última noite, chegou atrasado, gritou do camarote
“comecem tudo de novo” e, ao final, levou-a para os aposentos imperiais. A
noite foi tão animada que ele desmaiou durante o ato sexual, sendo flagrado por
sua mulher, Josefina, que o reanimou e o expulsou do quarto.
Como a traição caiu na boca do
povo, não se sabe. Mas toda vez que a atriz dizia a fala da peça “Cinna” (“Se
conseguir seduzir Cinna, poderei seduzir muitos outros”) a plateia procurava
com os olhos e aos risos o imperador no camarote real. Não raro, Napoleão se
fazia acompanhar de soberanos ou escritores estrangeiros (Wolfgang Goethe, por
exemplo) e estufava o peito ao defender os autores nacionais. Ele detestava
comédias, não permitia tramas bíblicas em cena (“quem deve fazer isso é a
Igreja”) e como espectador era frequentemente flagrado cochilando. Além de
ordenar o recomeço de espetáculos já iniciados, proibia peças de que não
gostava, alterava diálogos e pedia a troca da obra que estava sendo encenada.
Embora pródigo em frases
empoladas, era dado a chiliques: “Fui informado de que Paris deixou de ser
iluminada. Os responsáveis por isso são uns canalhas”, escreveu em uma carta
durante a campanha da Prússia. Esse estilo irascível presidia todas as
decisões, mesmo no campo da moda, quando atacava o uso de transparências pelas
mulheres da corte – exigia que se mirassem na discrição de sua mulher,
Josefina, que privilegiava os pesados tecidos de fabricação francesa.
Considerada pelo
imperador como modelo de bem trajar,
Josefina tinha 896 vestidos e apenas duas calcinhas
Josefina tinha 896 vestidos e apenas duas calcinhas
O vestuário da imperatriz contava
com 666 vestidos de inverno, 230 de verão e apenas duas calcinhas. A propósito,
lamentando a separação de Josefina, após mútuas traições, Napoleão afirmou:
“Ela tinha a… mais lindinha que se possa imaginar.” Teria dito isso ao seu
companheiro de cela na ilha de Santa Helena, o general Bertrand. O livro
resgata outro homem de confiança, não pelo manuseio das armas, mas pelo furto
de peças de arte e arqueologia: o ex-diplomata italiano Vivant Denon, conhecido
como “o olho da armada”. Desde a expedição ao Egito ele acompanhou Napoleão em
suas batalhas e se especializou em pilhar acervos artísticos para decorar o
Museu Napoleão (futuro Louvre). Da Itália veio, num carro de bois, as “Bodas de
Caná”, de Veronese; da Bélgica, os Rubens e Van Eyck. Em um dia de inverno,
visitando o museu, Napoleão irritou-se com os aquecedores que soltavam fumaça
abundante. E berrou: “Tirem-nos de lá, acabarão incendiando minhas conquistas.”
(Da revista Isto É,
maio de 2013)
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