quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Poemas de Antônio Carlos Osório*

Velhice


Aos poucos a velhinha foi sendo jogada par um canto do mundo
e foi se apequenando cada vez mais
humilde
para caber nele
e não incomodar a ninguém
com o que resta da sua presença.

Soneto do grito


Se for preciso grite e é preciso
gritar ora blasfêmias, ora louvor
e alto gritar a hora enquanto é vivo
o tempo em chama matando riso e dor.

Claro gritar, gritar na treva escura,
gritar na pura exaltação do amor,
gritar a cólera em látego que dura
enquanto carne exsude desamor.

Que grite o homem, só o gritar perdura
perdido embora, grite enquanto é rubro
o sangue a circular a pele impura.

O homem é um grito solto em largo espaço
e se ninguém ouvi-lo pouco importa,
ele sempre dirá: sou um grito e assim me faço.

*****

(O) muro se vai construindo
de
va
gar.

Antonio Carlos Elizalde Osorio nasceu em Quarai, RS, na fronteira com o Uruguai, em 1928 e faleceu em Brasília, DF, em 22 de abril de 2016. Fez estudos na França e formou-se em Filosofia e depois em Direito, em Porto Alegre. Viveu em Brasília desde a época da construção até a sua morte.


Ele foi o primeiro advogado a se estabelecer na capital federal, em 1957. Em um sorteio, os fundadores da Ordem decidiram que não haveria a inscrição 001. Ele ficou então com a de número 007. A diretoria convoca a advocacia do Distrito Federal a prestar essa última homenagem ao seu primeiro representante.



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