Um caminhão velho, desses de carregá tranquera, foi buscar na cidade um caixão de defunto pra ser usado por um dito cujo que tinha falecido lá praquelas redondezas. Lá vinha o caminhão com o caixão (sem o defunto, que ainda tava na casa de moradia).
Eis que, ao passar por um capiau, o motorista é interpelado na tentativa do referido capiau cavar com isso uma bêra, que é praquelas bandas uma carona.
Capiau:
- Oh, moço! Será que o sinhô pode me dar uma bêra até o Lageado?
Motorista:
- Pode trepá lá em cima, coió. E óia: lá na carroceria tem um caixão de defunto, mas não se preocupe porque ele tá vazio.
Capiau (trepando):
- Brigado, moço.
De repente, começa a chuviscar. O tar capiau tinha tomado remédio quente e não podia levar aquele chuvisqueiro na cachola. Abriu a tampa do caixão de defunto vazio e se agasalhou lá dentro dele, de um jeito até bem que gostoso. Fechou o caixão com a tampa, sem medo de nada.
Acontece que, conforme o caminhão passava na estrada, outros capiaus também pediam bêra, chegando a juntar uns 20 no caminhão. Achavam naturalmente que ali tinha um defunto fresco, pois o motorista ia sempre avisando:
- Óia. Pode subi, mas num liga praquele lá de riba, não.
Eis que a chuva dá uma parada boa. Nessa hora, o capiau que ia dentro do tal caixão abre num impacto a tampa e, sentando-se num gesto brusco, pergunta a todos:
- Cumé, moçada? Já parô de chovê?
Nem é preciso dizer o que aconteceu. Foi capiau pra tudo quanto era lado, com o caminhão em movimento.
******
Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin, (Nova Alexandria, 2001).
Nenhum comentário:
Postar um comentário