sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Dia de aula

 Juliano Martinz

Eu caminho em direção ao colégio. Passos lentos, cabeça baixa, 15 anos de pouco entusiasmo. 

De repente, percebo uma movimentação atrás de mim. Em um breve relance sobre os ombros, vejo dedos que parecem apontados em minha direção. Penso ter visto um ou dois olhares acusadores. 

E então ouço uma voz masculina gritar “Pare! Polícia!”. Pela lógica, eu devia parar. Talvez até erguer as mãos. Mas, não me pergunte por quê – talvez pela surpresa da situação, tomo a pior decisão: correr. 

Enquanto corro, olho rapidamente para trás e vejo que as coisas pioraram. Um policial está correndo atrás de mim. 

Em desespero, corro o máximo que posso. Minhas pernas doem, cãibras ou coisa que o valha. Não vou conseguir manter este ritmo por muito tempo. 

Enquanto isso, os gritos de “pare” continuam. Penso ter ouvido um “pare ou eu atiro”. Mergulhado em meu pânico particular, não consigo entender. 

O que querem de mim? Eu sou apenas um adolescente desmotivado indo para mais um dia de aula. Tento refazer as falhas dos últimos dias. Será que emprestei algo de alguém e esqueci de devolver? Será que acessei algum conteúdo que é proibido em meu país e eu não sabia? 

Eu não encontro respostas. Eu não encontro forças para continuar correndo. 

Apenas aqueles gritos de “pare” e outras ameaças atrás de mim. 

Até que ouço o policial: 

– Pare, assassino. Maldito incendiário. 

De súbito, paro de correr. Com as mãos na cintura, tomo um longo fôlego, feliz e aliviado. 

Eu não sou nenhum santo, isto é verdade. 

Mas certamente a pessoa que a polícia está perseguindo não sou eu. 

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