Anselmo Amaral
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das Missões
Triste e solitário...
Na solidão imensa da planura
de tudo o que passou ainda perdura.
Do tempo assistindo tal grandeza
que faz brotar da terra a natureza.
É ele − o Umbu!
Pensador taciturno das campinas,
a sempre professar Velhas doutrinas
que se perdem na poeira da idade,
tendo como Deus a eternidade.
Diógenes dos Pampas!
Os que passaram empunhando a lança,
na perseguição de uma esperança,
não lhe alteraram o porte indiferente.
Continua o mesmo em qualquer ambiente.
Legenda de valente!
A sombra acolhedora de seus galhos,
chegando por picadas e atalhos,
ferido pelas balas do invasor.
Alfarrábio das eras!
O tronco rugoso, feio e molengão
tem muitas cicatrizes de facão.
Afirmação heroica de um povo!
Epopeia imortal do Mundo Novo!
A Lenda do Umbu
Airton Pimentel
Quando Deus fez este mundo,
Cada árvore falou,
E todas fizeram pedidos
Para o Nosso Senhor.
Laranjeira pediu flores
Grinaldas brancas de pureza.
O jacarandá mimoso,
Quis lilás sua beleza
E a figueira das matas
Quis ter fruto saboroso
Pra saciar os passarinhos
Com manjar tão delicioso.
Quando Deus fez este mundo,
Fez o bem-me-quer-dos-campos,
Bibis roxos e amarelos,
Pitangas, guabirobas, araçás.
Louro, angico e guajuvira
Pediram cerne de lei;
E foram pedindo, pedindo,
Exceto uma que eu sei:
Que fez seu pedido à parte...
Assim todas elas, todas...
Uma a uma foram ouvidas
E atendidas com louvor.
Porém o umbu dos pampas
Pediu um poncho de folhagens
Pra acolher os peregrinos
Abombados de viagens.
Contristado! Pôs ressalvas:
− Não queria ser madeira
Suplicou lenho ordinário,
Que ao secar virasse poeira;
Que não prestasse pra lenha;
Que não prestasse pra tábua;
Que não prestasse pra fogo;
Que ao morrer virasse água;
Que não servisse de cruz
Pra um justo de amor,
Nem de caixão pra mortalha
Derradeira de um cantor.
Por isso nas soledades
Dos horizontes sem fim,
Sagrou-se a silhueta
Do umbu lá dos confins
(Poemas do livro
“Coletânea da Poesia Gaúcha”,
Organizador: Dilan
Camargo)
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