O Senhor Prado levantou os olhos do livro que estava lendo.
– Que deseja de mim? – perguntou.
– Desejo trabalhar – foi a pronta
resposta de Júlio Souza.
– Trabalhar? E como soube que tenho
trabalho?
– Li seu anúncio no jornal.
– Ah! Leu no jornal? Pois bem,
preenche você as condições exigidas no anúncio?
– Não sei, Senhor Prado. Mas
pensei que talvez pudesse experimentar e ver.
– Bem. Então vejamos. Que você pode
fazer?
Júlio hesitou um minuto. Sabia fazer
muitas coisas boas, mas não sabia como dizê-las em uma resposta breve.
Respondeu afinal:
– Faço tudo que me ordenar.
– De fato? Se você estiver
inteiramente certo do que diz, é na verdade um rapaz bastante útil.
– Bem, eu queria dizer – falou Júlio
corando – que posso tentar fazer tudo. Suponho que um cavalheiro não me
ordenará coisas que não devo fazer.
– Mas imaginemos que eu o empregasse
e no dia seguinte o mandasse ao meu armazém, e tivesse de subir vinte e cinco
vezes a ladeira que fica defronte à porta de trás. E então?
– Ora, – disse Júlio sorrindo – tenho
certeza de que poderia fazer isso e que o faria o mais depressa possível.
– Bem, suponhamos ainda que eu o mandasse
ao armazém vizinho, a fim de esperar uma boa oportunidade para tirar o melhor
bacalhau dos que estão expostos e correr para me entregar. E então?
– Isso eu não poderia fazer, senhor –
disse Júlio.
– Por que não? Não disse você que faria tudo o que lhe ordenassem?
– Sim, mas tenho algumas ordens que
estão acima de tudo. “Não furtarás” diz uma delas. E eu preciso cumpri-la.
– Ah! Então minhas ordens ficariam
abaixo dessas?
– Sim, Senhor Prado. Sempre!
E a voz de Júlio era mais firme do
que nunca. Começou a pensar que estava diante de um homem desonesto e que seria
até bom que não o empregasse. Mas justamente nesse momento o Senhor Prado lhe
estendeu a mão:
– Deixe-me apertar-lhe a mão, meu jovem. Quero experimentá-lo por algum tempo para ver se é verdade o que diz. Preciso de um empregado que ponha as leis de Deus em primeiro plano e as minhas em segundo.
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