(...)
Vou falar
agora sobre as Medidas, ou o Sistema Métrico.
(...)
− Medir é uma das coisas mais
importantes da vida humana. Os homens não fazem nada sem primeiro medir. Quem
vai comprar chita numa loja, obriga o caixeiro a medir um pedaço de fazenda.
Quem vai vender feijão no mercado da vila, pesa-o antes de entrar em negócio. Pesar é
medir. O automóvel que para numa bomba de gasolina a fim de encher o tanque,
faz o bombeiro medir a gasolina que entra. Sem essas medições seria impossível
negociar. Se eu vou a uma casa e peço um pedaço de morim, ou um pouco de
açúcar, faço papel de idiota. Tenho de pedir tantos metros de morim ou tantos
quilos de açúcar. A base da vida dos negócios, portanto, é a medição.
Mas todos os países tinham suas
medidas, de modo que a trapalhada era grande. Daí veio a ideia de organizar
medidas que servissem para todos os povos − e os sábios começaram a estudar a
questão. As medidas devem ser de três espécies. Temos que medir as coisas que
têm comprimento, como uma corda, uma peça de morim. Temos que medir os
líquidos, como o querosene, o vinho, o leite, ou as coisas esfareladas ou
reduzidas a pequenos pedacinhos, como o arroz, o açúcar, o café. E temos de
medir o peso de certos materiais.
Em primeiro lugar, os sábios trataram
de achar a melhor medida para as coisas que têm
comprimento − e inventaram o Metro.
Que é o Metro?
(...)
Era preciso encontrar uma medida
fixa, que os homens não pudessem nunca alterar, e então eles se lembraram de
tomar a distância entre o Equador e o Polo Norte. Fizeram lá uns
cálculos e acharam que tinha 5.130.740 toesas.
− Que é toesa?
− Era uma medida de comprimento usada
na Europa.
− Mas se havia essa toesa, para que
inventaram o metro? A humanidade não ia vivendo muito bem com a toesa?
− Não ia. O comprimento da toesa era,
como se diz, arbitrário sem base, variando de um ponto para outro. Não
prestava, a toesa. Eles mediram aquela distância em toesas porque não havia
outro meio. Acharam, como já disse, que a distância entre o Equador e o Polo
Norte era de 5.130.740 toesas e então dividiram essa distância em dez milhões
de partes iguais. Tomaram uma dessas partes e deram-lhe o nome de Metro. Quer dizer que o Metro é a décima milionésima parte da distância entre o Equador e o Polo. E pronto!
Nunca mais poderia haver dúvida sobre o comprimento do Metro. Quem o quisesse
verificar, era tomar outra vez aquela distância e dividi-la em dez milhões de
partes.
− E que quer dizer Metro? − perguntou
Narizinho.
− É uma palavra que vem do grego metron, medida. Temos na língua muitas
palavras em que entra o metro como termômetro,
instrumento para medir a temperatura; barômetro,
instrumento para medir a pressão atmosférica; cronômetro, instrumento para
medir o tempo, etc. E o novo sistema de medidas ficou se chamando Sistema
Métrico, porque a base dele é o Metro.
Depois de obtida a medida de
comprimento, os sábios trataram de arranjar a medida de capacidade, isto é, a
medida para os líquidos ou as coisas esfareladas − e inventaram o Litro.
(...)
− Litro − explicou o Visconde − é o
primeiro filho do Metro. Depois de arranjado o Metro para medir o comprimento,
os sábios arranjaram o Metro Quadrado para medir as superfícies. O Metro
Quadrado é uma superfície quadrada que tem um Metro de cada lado, assim:
Depois arranjaram o Metro Cúbico,
para medir as coisas líquidas ou esfareladas. O Metro Cúbico é um cubo que tem
um Metro de comprimento, um Metro de largura e um Metro de altura, assim:
Depois
dividiram esse bloco em mil bloquinhos iguais, assim:
E cada um desses bloquinhos ficou
sendo a milésima parte do bloco inteiro, ou um Decímetro Cúbico. Pois o tal litro é isso: é um Decímetro Cúbico.
Depois que desse modo foi conseguida uma medida fixa para os líquidos,
acabou-se a atrapalhação de medidas sem base científica. Um litro é sempre a
mesma coisa em qualquer país do mundo. Não varia. É sempre um Decímetro Cúbico,
ou a milésima parte do Metro Cúbico.
(...)
− Restava ainda conseguir a medida
fixa para as pesagens. Se eu quero comprar chumbo, por exemplo, não posso medir
esse metal com o Metro, nem com Litro. Tenho de usar a balança e pesá-lo. Mas
qual devia ser a unidade de peso das
balanças? Era outra atrapalhada no mundo. Havia toda a sorte de pesos,
havia Onças, e Arrobas, e Quintais, e Oitavas, e Libras, sempre variando de um
ponto para outro. Como para medir o comprimento havia Léguas, e Milhas, e
Braças, e Varas, e Côvados, e Palmos e Passos, e Pés, e Polegadas. Como para
medir líquidos havia Pipas, e Almudes, e Quartilhos. Como para medir coisas
secas e esfareladas havia os Alqueires e Quartas que a nossa gente da roça
ainda usa.
Tudo isso já não tem razão de ser,
depois do Sistema Métrico inventado
pelos sábios. Para medir comprimentos temos o Metro ou as divisões e multiplicações do Metro. Para medir Líquidos
temos o Litro ou as divisões e
multiplicações do Litro. Para medir as coisas de peso temos o Quilo, que se divide em mil Gramas.
(...)
− O Quilo e o Grama −
continuou o Visconde − são também filhos do Metro. Os sábios tomaram um Metro Cúbico de água destilada e o
dividiram em mil partes iguais − cada parte ficou sendo um Quilo. Depois
dividiram o Quilo em mil partes iguais, e cada parte ficou sendo um Grama.
O Visconde continuou:
− Depois de arranjado o Metro, foi só
dividi-lo em partes iguais para obter os Decímetros,
os Centímetros e os Milímetros. Decímetro é a décima parte
do Metro. Centímetro é a centésima parte. Milímetro é a milésima parte.
Depois prepararam as medidas grandes.
Fizeram o Decâmetro que vale 10 Metros , medidas que
ninguém emprega. Fizeram o Hectômetro,
que vale 100 Metros
e também não é usado. Fizeram o Quilômetro,
ou mil Metros que é usadíssimo.
(...)
Com o Metro e o Quilômetro os homens
se arrumam perfeitamente. É mais fácil, por exemplo, dizer 10 metros do que dizer um
Decâmetro.
− E para o Grama fizeram a mesma
coisa. Dividiram-no em Decigrama, Centigrama e Miligrama. Decigrama é a décima parte dum Grama; Centigrama é a
centésima parte; Miligrama é a milésima parte.
Depois vieram as multiplicações. Decagrama, ou 10 Gramas . Não pegou. Hectograma, ou 100 Gramas . Também não
pegou. E Quilograma, ou Quilo, como se diz vulgarmente. Esse
pegou. Não há quem não use o Quilo, e também a Tonelada, ou mil Quilos.
− E o Litro?
− O Litro foi dividido em Decilitro ou décima parte dum Litro; em
Centilitro ou centésima parte; e em Mililitro, ou milésima parte.
− E pegaram?
− Nada disso pegou. Ninguém usa. Como
também ninguém usa as multiplicações do Litro − O decalitro, ou 10 litros ; o Hectolitro,
ou 100 Litros
e o Quilolitro, ou 1000
Litros . Mais fácil dizer logo 10 Litros , 100 Litros ou 1000 Litros do que os
tais Decalitro, Hectolitro e Quilolitro.
(...)
− O Metro – continuou ele – divide-se
em 100 Centímetros
e cada Centímetro divide-se em 10 Milímetros .
− E para medir terrenos? – perguntou
Pedrinho.
− Medição de terrenos é medição de
superfície. Um terreno é uma superfície de chão. Para medida de superfície os
sábios tomaram como eu já disse, o Metro Quadrado, e com 100 Metros Quadrados
constituíram o Are, que ficou sendo
a unidade.
− E o tal de Hectare que vovó tanto usa? Ela diz que aqui no sítio tem 520 Hectares ...
− O Hectare – respondeu o Visconde –
corresponde a cem Ares, ou 10.000 metros
quadrados .
Mas entre nós as medidas de terrenos
que mais usamos ainda são as antigas. Temos o Alqueire e a Quarta. Um
Alqueire de terra é a superfície de chão onde cabe um Alqueire de grãos de
milhos plantados; uma Quarta de terra é o chão que leva uma Quarta, ou 12 litros de milho.
(...)
− E a Légua Quadrada, Visconde? Já
ouvi falar nisso – observou Pedrinho.
− A antiga Légua, medida de
comprimento que foi substituída pelo Quilômetro, tinha um valor muito variável.
A usada no Brasil e chamada “Légua de Sesmaria”, tinha 6.600 metros . Já a
Légua Marítima também usada pela nossa gente do mar, tinha 5.555 metros . Mas a
Légua comum que ainda hoje usamos tem 6.000 metros justos.
(...)
(Do livro “Aritmética
da Emília”, de Monteiro Lobato,
Editora Brasiliense)
Editora Brasiliense)
↓
Bem interessante!
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