Laurindo Rabelo
No
cume daquela serra,
Eu
plantei uma roseira.
Quanto
mais as rosas brotam,
Tanto
mais o cume cheira.
À
tarde, quando o sol posto,
E
o cume ao vento adeja,
Vem
travessa borboleta
E
as rosas do cume beija.
No
tempo das invernadas,
Que
as plantas do cume lavam,
Quanto
mais molhadas eram,
Tanto
mais no cume davam.
Mas
se as águas vêm correntes,
E
o sujo do cume limpam,
Os
botões do cume abrem,
As
rosas do cume brincam.
Tenho,
pois, certeza agora
Que
no tempo de tal rega,
Arbusto
por mais mimoso
Plantado
no cume, pega.
Vem,
porém, o sol brilhante
E
seca logo a catadupa;
O
mesmo sol a terra abrasa
E
as águas do cume chupa.
A
rosa do cume fica
no
mais alto da montanha
A
rosa do cume pica
A
rosa do cume arranha.
As
rosas do cume espreitam
entre
as folhagens d'além
trazidos
na fresca brisa
os
cheiros do cume vêm.
No
cume duma montanha
tem
um olho d'água à beira.
É
uma água tão cheirosa
que
a multidão ansiosa
o
olho do cume cheira.
“As
rosas do cume” e outros poemas obscenos de Laurindo Rabelo foram publicados em
Poesias livres (1882), opúsculo de encadernação e papel baratos que se tornou
raridade. Atualmente, conheço apenas quatro acervos que possuem exemplares
desse livro: a Biblioteca José de Alencar, da Faculdade de Letras (UFRJ); as
coleções particulares de Antonio Carlos Secchin – poeta, professor e membro da
Academia Brasileira de Letras (ABL) – e de Israel Souza Lima, biógrafo dos
patronos da ABL; e o acervo José Ramos Tinhorão, do Instituto Moreira Salles.
Ainda
sobre “As rosas do cume”, além de sua publicação em Poesias livres, há um
histórico registro fonográfico do poema. Trata-se da gravação feita no início
do século XX pelo ator e cançonetista português Franco d’Almeida, que a equipe
da Coordenadoria de Música do IMS digitalizou a partir de um disco 76 rpm,
pertencente também ao acervo José Ramos Tinhorão, disponível para audição aqui no
blog do IMS.
Laurindo José da Silva Rabelo
(1826-1864)
Laurindo José da Silva Rabelo (Rio de Janeiro, 8 de julho
de 1826 − Rio de
Janeiro, 28 de setembro de 1864) foi um médico, professor e poeta romântico brasileiro, patrono da Academia Brasileira de Letras.
Apesar da origem humilde, conseguiu
com dificuldade vencer as barreiras sociais, e formar-se em Medicina.
Antes, porém, chegara a cursar o Seminário
de São José, ainda no Rio de Janeiro, pensando em tornar-se padre. Vítima de preconceito e perfídias pelos colegas, decide
abandonar o internato. Almejou a carreira militar, mas da mesma forma desistiu.
Na Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro iniciou o curso, que concluiu em Salvador,
no ano de 1856.
No ano seguinte ingressa no Corpo de
Saúde do Exército, seguindo para o Rio
Grande do Sul, onde permanece até 1863. Em 1860 tinha se casado
com Adelaide Luísa Cordeiro. De volta ao Rio, leciona no curso preparatório
para a Escola Militar as disciplinas de História, Geografia e Português.
Apreciava a vida boêmia, gozando de
grande talento satírico
e capacidade de improviso, fazendo repentes e
composições de modinhas − o que lhe granjeou grande popularidade e a alcunha de “Poeta
Lagartixa” − dada sua constituição física, “magro e desengonçado”.
Rabelo teve morte prematura, de
problemas cardíacos, com apenas trinta e oito anos de vida.
P.S. Ainda sobre “As rosas do cume”,
além de sua publicação em Poesias livres, há um histórico registro
fonográfico do poema. Trata-se da gravação feita no início do século XX pelo
ator e cançonetista português Franco d’Almeida, que a equipe da Coordenadoria
de Música do IMS digitalizou a partir de um disco 76 rpm, pertencente também ao
acervo José Ramos Tinhorão, disponível para audição no blog do IMS.
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