uma poetisa portuguesa
As palavras
Seja alegria, seja mágoa, ciúme
Pena de amor, ou grito de revolta
Tudo a palavra humana em si resume
Tudo arrasta suspenso à sua volta!
Pena de amor, ou grito de revolta
Tudo a palavra humana em si resume
Tudo arrasta suspenso à sua volta!
Palavras:
Céu e inferno!
Cinza e lume!
Mistério que a nossa alma traz envolta!
Umas, consolação!
Céu e inferno!
Cinza e lume!
Mistério que a nossa alma traz envolta!
Umas, consolação!
Outras, queixume…
Todas correndo como o vento à solta!
Tudo as palavras dizem:
A verdade, a mentira, a crueldade…
Mas afinal, o que perturba e espanta
É o drama das que nunca foram ditas
Das palavras pequenas e infinitas
Que morrem sufocadas na garganta!
A verdade, a mentira, a crueldade…
Mas afinal, o que perturba e espanta
É o drama das que nunca foram ditas
Das palavras pequenas e infinitas
Que morrem sufocadas na garganta!
(Alcobaça a 13 de agosto
de 1898 -
Lisboa em 1967)
Virgínia Victorino
Virgínia Villa Nova de Sousa
Victorino (1898-1967) é poetisa e dramaturga.
Esteve no Brasil, a convite de
Getúlio Vargas, em 1937. A
sua obra mais famosa é “Namorados” (1918), com catorze edições.
Outras obras: “A Volta” (peça teatral
em três atos foi representada, pela primeira vez, no Teatro Nacional de Lisboa,
a 13 de Maio de 1931).
Medo
Ouve o grande silêncio destas
horas!
Há quanto tempo não dizemos nada...
Tens no sorriso uma expressão magoada,
tens lágrimas nos olhos, e não choras!
Há quanto tempo não dizemos nada...
Tens no sorriso uma expressão magoada,
tens lágrimas nos olhos, e não choras!
As tuas mãos nas minhas mãos
demoras
numa eloquência muda, apaixonada...
Se o meu sombrio olhar de amargurada
procura o teu, sucumbes e descoras...
numa eloquência muda, apaixonada...
Se o meu sombrio olhar de amargurada
procura o teu, sucumbes e descoras...
O momento mais triste de uma vida
é o momento fatal da despedida,
- Vê como o medo cresce em mim, latente...
é o momento fatal da despedida,
- Vê como o medo cresce em mim, latente...
Que assustadora, enorme sombra
escura!
Eis afinal, amor, toda a tortura:
- vejo-te ainda, e já te sinto ausente!
Eis afinal, amor, toda a tortura:
- vejo-te ainda, e já te sinto ausente!
Orgulho
És orgulhoso e altivo, também
eu...
Nem sei bem qual de nós o será mais...
As nossas duas forças são rivais:
Se é grande o teu poder, maior é o meu...
Tão alto anda esse orgulho!... Toca o céu.
Nem eu quebro, nem tu. Somos iguais.
Cremo-nos inimigos... Como tais,
Nenhum de nós ainda se rendeu...
Ontem, quando nos vimos, frente a frente,
Fingiste bem esse ar indiferente,
E eu, desdenhosa, ri sem descorar...
Mas, que lágrimas devo àquele riso,
E quanto, quanto esforço foi preciso,
Para, na tua frente, não chorar...
Nem sei bem qual de nós o será mais...
As nossas duas forças são rivais:
Se é grande o teu poder, maior é o meu...
Tão alto anda esse orgulho!... Toca o céu.
Nem eu quebro, nem tu. Somos iguais.
Cremo-nos inimigos... Como tais,
Nenhum de nós ainda se rendeu...
Ontem, quando nos vimos, frente a frente,
Fingiste bem esse ar indiferente,
E eu, desdenhosa, ri sem descorar...
Mas, que lágrimas devo àquele riso,
E quanto, quanto esforço foi preciso,
Para, na tua frente, não chorar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário