segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Mas será o Benedito?

 Já ouviu esse bordão por aí?

Benedito Meia-Légua, que assombrou os escravagistas anos antes da abolição. 

Seu nome original era Benedito Caravelas e viveu até 1885, um líder nato e bastante viajado, conhecia muito do nordeste. Suas andanças conferiram-lhe a alcunha de “Meia-légua”. Andava sempre com uma pequena imagem de São Benedito consigo, que ganhou um significado mágico depois. 

Ele reunia grupos de negros insurgentes e botava o terror nos fazendeiros escravagistas da região, invadindo as Senzalas, libertando outros negros, saqueando e dando verdadeiros prejuízos aos racistas. 

Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele. 

Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era Imortal. E sempre que havia notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta “Mas será o Benedito? 

O mito ganhou força após uma captura dramática. Benedito chegou a São Mateus (ES) amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito. 

Noutro dia, quando foram dar conta do corpo, ele havia sumido e apenas pegadas de sangue se esticavam no chão. Surgiu a lenda que ele era protegido pelo próprio São Benedito. Por mais de 40 anos ele e seu Quilombo, mais do que resistiram, golpearam o sistema escravocrata. 

Meia-Légua só foi morto na sua velhice, manco e doente. Ele dormia em um tronco oco de árvore. Esconderijo que foi denunciado por um caçador. Seus perseguidores ficaram a espreita, esperando Benedito se recolher. Tamparam o tronco e atearam fogo. 

Seu legado é um rastro de coragem, fé, ousadia e força para lutar pelo nosso povo, que ainda hoje é representado em encenações de Congada e Ticumbi pelo Brasil. Em meio às cinzas encontraram sua pequena imagem de São Benedito. 

Todo dia 1º de janeiro, o cortejo de Ticumbi vai buscar a pequena imagem do São Benedito do Córrego das Piabas e levar até a igreja em uma encenação dramática para celebrar a memória de Meia-Légua. 

Fonte: Alê Santos 

Publicado por Mulheirismo Africano MDA 

Usada para expressar o sentimento de uma situação desagradável, a expressão “Mas será o Benedito?” costumava ter seu surgimento explicada pela expectativa sobre a nomeação de Benedito Valadares como interventor de Minas Gerais pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1933. Historiadores, no entanto, comprovam que a frase já era usada anos antes, vista em jornais e mesmo em músicas em 1930 e 1931 e mesmo antes: atualmente, novas pesquisas sugerem que a origem da expressão, ainda hoje popular em muitas partes do Brasil, remonta a um importante líder negro, que lutou contra os escravocratas no século XIX e tornou-se lenda por sua força e coragem: Benedito Meia-Légua. 

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