sábado, 14 de outubro de 2023

Um negócio chamado educação

 Bulhufas 

por Carlos Castelo Branco

Outro dia resolvi voltar ao velho prédio da minha faculdade. Tudo muito diferente. Começando pela máquina de Coca-Cola na entrada. Se pusessem uma engenhoca dessas no meu tempo de estudante, o responsável pela ideia seria torturado até confessar que era um agente da CIA disfarçado de bicho-grilo. 

Desculpem pela má palavra, mas estudei jornalismo. Estava em dúvida entre contabilidade, engenharia florestal ou me oferecer como pilha do universo num mosteiro tibetano. Terminei me apaixonando pela ideia de lutar pela Verdade. Mas, pelo que vi no campus naquela manhã, até o nosso juramento devia ter mudado. Para algo assim: “Juro produzir reportagens fofas com meus clientes, visando transformá-los em VIPs. Juro sempre passar astral positivo para a população, exceto quando a matéria for pegadinha”. 

Ah, a educação brasileira. Dia desses li que as faculdades privadas criam quatro novos cursos por dia. Nunca um setor teve nome tão apropriado: faculdades privadas. Você passa no vestibular de algumas destas e não entra, senta. Propaganda de cursinho na televisão, os alunos olhando as listas de aprovação, chorando e dizendo: 

– Sentei! Sentei, porra! 

– Glorinha? Entrou na privada? 

– Acabei de entrar, amiga! Fiquei tão aliviada! 

Ou ainda: 

– Essa hora em casa, Tiago. E a aula? 

– Hoje não teve, mãe. A faculdade tá entupida.

Já dá para imaginar alguns cursos que vêm por aí.

“Faça você também graduação em gastronomia teológica. O cardápio da Santa Ceia; tipos de Sangue do Senhor (tintos A, B, O, AB); como fazer pratos kosher à base de dendê. Possibilidade de diplomação antes do início do curso? Pergunte-nos como.” 

“Curso exclusivo de personal trainer filosófico. Um MBA inédito onde você aprende as técnicas para discutir Aristóteles, Schopenhauer, Adorno durante caminhadas, triatlo, partidas de tênis, vôlei de praia. Possibilidade de especialização em psicólogo-maratonista.”

“Seja um bacharel em criação Capacidade para transformar um curso supletivo num centro de pós-graduação de faculdades. O profissional do século 21, em duas semanas, sem mudança do quadro pedagógico. Novo sistema vestibular-raspadinha: raspou, entrou!” 

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