domingo, 17 de março de 2024

Carta de uma idosa

  trancada num lar de idosos

Tenho 82 anos, 4 filhos, 11 netos, 2 bisnetos e um quarto, onde moro atualmente,  de 12 metros quadrados. 

Já não tenho mais a minha casa, nem as minhas coisas amadas, mas tenho quem arruma o meu quarto, quem me faça de comer, quem me faça a cama, quem me controla a pressão e me pesa. 

Não tenho mais as risadas dos meus netos, não posso mais vê-los crescer, abraçar e brigar; alguns deles visitam-me a cada 15 dias; outros a cada três ou quatro meses; outros, nunca. 

Eu não faço mais bolos ou ovos recheados e nem rolos de carne moída, nem ponto em cruz. 

Ainda tenho passatempos para fazer e o sudoku que me entretém um pouco. 

Não sei quanto tempo me resta, mas preciso de me acostumar com esta solidão; faço terapia ocupacional e ajudo no que posso a quem está pior do que eu, embora não queira me apegar muito: pois eles desaparecem frequentemente... 

Dizem que a vida é cada vez mais longa. Por quê? 

Quando estou sozinha, posso olhar para as fotos da minha família e para algumas memórias que trouxe de casa. 

E isso é tudo. 

Espero que as próximas gerações entendam que a família se constrói para ter um amanhã (com os filhos) e que retribuam na mesma medida aos pais com o mesmo tempo que eles nos presentearam para nos educar e criar. 

(Autoria desconhecida)

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