Nílson Souza
Rua do Arvoredo atual Fernando Machado - 1906
No período do império, os presidentes das províncias brasileiras faziam relatórios para prestar contas ao poder central. No ano de 1864, o advogado Esperidião Eloy de Barros Pimentel, escolhido pelo imperador para presidir o Rio Grande do Sul, registrou o seguinte no documento oficial emitido de Porto Alegre:
“Continua inalterada a tranquilidade pública. Cumpre-me, entretanto, registrar aqui um fato, ocorrido nesta cidade, e que esteve prestes a perturbá-la. Tendo desaparecido o taberneiro Januário Martins, e seu caixeiro, e procedendo a polícia a minuciosas indagações, descobriu em um fosso no quintal da casa em que habitava José Ramos os cadáveres daqueles infelizes; descobrindo-se também naquela ocasião os ossos completos de um esqueleto humano. As mais veementes presunções condenavam a Ramos e sua amásia Catharina Palse. Os interrogatórios, que às 3 horas da tarde começaram na Secretaria da Polícia, e continuavam ainda à noite, atraíram curiosos em grande número, e alguns deles ousaram exigir que os presos lhes fossem entregues para serem por suas mãos justiçados. Os crimes eram horrorosos, e acompanhados de circunstâncias as mais agravantes. Mas tal pretensão, em todo o caso inadmissível num país civilizado, era tanto mais desarrazoada quanto tinha sido pronta e eficaz a ação da justiça. Os presos foram recolhidos à cadeia, sendo, porém, de lamentar ferimentos em pessoas que, surdas às admoestações da autoridade, conservavam-se diante da força, atirando-lhe pedras, pedaços de garrafas, e apupando-a.”
Esse foi o registro oficial do crime da Rua do Arvoredo, atual Fernando Machado, fato que no decorrer dos anos saltou dos registros oficiais e das páginas dos jornais para a literatura, ganhando novas nuances e transformando-se na principal lenda urbana da Capital gaúcha. Não há como transitar por aquela artéria da cidade sem lembrar sua história de horror.
(...)
(Do jornal Zero Hora, 5 de março de 2024)
Rua do Arvoredo década de 1870
* Os crimes foram cometidos
entre 1863 a 1864.
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