quarta-feira, 12 de junho de 2024

Desafio

O desafio é também uma espécie de duelo poético entre cantadores. Esse gênero é conhecido em todo o Brasil, principalmente no sertão nordestino, onde autênticos poetas populares travam acirradas disputas faladas.

 

Sou Veríssimo do Teixeira,

Fura pau, fura tijolo;

Se mando a mão vejo a queda,

Se mando o pé, vejo o rolo...

Na ponta da língua trago

Noventa mil desaforos.

 

Sou Inácio da Catingueira,

Aparador de catombos,

Dou três tapas, são três quedas,

Dou três tiros, são três rombos;

Negro velho cachaceiro,

Bebo mas não dou um tombo.

 

Sou Romano da Mãe d′Água,

Mato com porva soturna;

Para ganhar eleição

Não meto a chapa da urna;

Salto da ponta da pedra

E pego a onça na furna.


Eu sou Pedro Ventania,

Morador lá das “Gangorras”;

Se me vires, não te assustes,

Se te assustares, não corras!

Se correres, não te assombres,

Se te assombrares, não morras!

 

Eu sou Claudino Roseira,

Aquele cantor eleito;

Conversa de Presidente,

Barba de Juiz de Direito,

Honra de mulher casada;

Só faço o verso bem feito!

 

Digo com soberba e tudo;

Sou filho do Bom Jardim,

Inda não nasceu no mundo

Cantador pra dar em mim;

Se nasceu, não se criou;

Se se criou, levou fim...

Do livro “Literatura oral no Brasil”, de Luís da Câmara Cascudo, Editora José Olympio, 1978.

Nenhum comentário:

Postar um comentário