Letra poética de Vinicius de Moraes, melodia de Carlos Lyra.
Nelita e Vinicius
Introdução:
Meu poeta, eu hoje
estou contente,
Todo mundo, de repente, ficou lindo,
Ficou lindo.
Eu hoje estou me rindo,
Nem eu mesma sei de quê.
Porque eu recebi
Uma cartinhazinha de você...
Se você quer ser minha namorada,
Ah, que linda namorada,
Você poderia ser,
Se quiser ser somente minha,
Exatamente essa coisinha,
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser.
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento,
Ser só minha até morrer.
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você.
E, de repente, me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê.
Porém, se mais do que minha namorada,
Você quer ser minha amada,
Minha amada, mas amada pra valer.
Aquela amada pelo amor predestinada,
Sem a qual a vida é nada,
Sem a qual se quer morrer.
Você tem que vir comigo em meu caminho,
E talvez o meu caminho seja triste pra você.
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos,
Os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois.
E você tem que ser a estrela derradeira,
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois...
Vinicius escreveu canção “Minha namorada” para a quinta esposa.
A estudante Nelita de Abreu Rocha não estava interessada no compositor quando o conheceu, mas aceitou viajar com ele para Roma e Paris. A fuga do casal para a Europa teve ajuda de Carlos Lyra e Tom Jobim.
Nelita de Abreu Rocha não se interessava por poesia e nem deu muita bola para Vinicius de Moraes quando o conheceu, ainda casado com Lucinha de Proença, no início da década de 1960. Aos 20 anos, estudante de pedagogia, a moça namorava firme outro rapaz, também com aspirações a poeta. Mas Vinicius acabou se encantando por ela, e os dois tornaram-se amantes. O namorado oficial descobriu o caso proibido, e Vinicius, com o respaldo dos amigos Carlos Lyra e Tom Jobim, encontrou uma solução bastante inusitada: carregou a moça rumo a Roma e Paris. A passagem está no livro O poeta da paixão, de José Castello.
Casou-se com nove delas!
Amar, para ele, era uma necessidade orgânica, básica, uma questão de sobrevivência. Por isso amou todas as mulheres do mundo e casou-se com nove delas!
Beatriz foi a primeira. E com ela, Vinicius teve dois filhos. A segunda foi Regina Pederneiras. Depois, Lila Bôscoli. A seguir, Lúcia Proença, de uma tradicional família carioca. A quinta esposa foi Nelita, uma modelo. A jornalista Cristina Curjão veio a seguir. Uma baiana maravilhosa, Gesse, foi sua sétima mulher e com ela ele viveu dois anos. A penúltima com viveu foi a argentina Martita. Por fim, a bela Gilda Queiroz Matoso, jovem, colunável e doce companheira, com quem esteve casado até o fim.
(Texto da revista Contigo, de julho de 1980*)
*Mês e ano da morte do poeta.
Soneto da hora final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no roto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.
Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.
Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: ‒ Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: ‒ Sê forte.
E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.
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