Vinicius de Moraes (1913-1980)
tinha uma maneira toda sua de enxergar as coisas que o cercavam: acreditava que
a grande vantagem de ser poeta é ter como patrão apenas a própria vida.
Em dezenas de entrevistas que
concedeu, sempre inteligente nas respostas e conceitos, Vinicius deixou suas
ideias sobre os mais variados assuntos. Justamente com seus poemas, musicados
ou não, artigos e crônicas, essas respostas ajudam a entender como o poeta via
o mundo e as pessoas. Abaixo, trechos de seu pensamento:
Sobre o Brasil:
→ Depois de cinco anos nos
Estados Unidos, voltei em 1951 com uma tal sede de Brasil, uma tal fome de Rio
de Janeiro, uma tal gana de olhos escuros, peles mulatas e seu divino aroma,
bossas e dengues, samba, molejo e malemolência, que encampei tudo sem querer
saber de onde vinha e parti para a mais total ignorância. Eu queria “comer” o
Brasil. A coisa terrível com o Brasil é que a gente precisa muito mais dele do
que ele de nós.
Sobre a esperança:
→ Eu sempre digo que a esperança
é um bem gratuito. Não se paga nada para ter e é melhor ter do que não ter.
Sobre bares e bebedores:
→ Até hoje não sei direito o que
faz os caras mudarem de bar, mas o fato é que, de repente, seu instinto nômade
e de caçador busca outro ambiente para curtir. Há, é claro, os
fiéis-até-a-morte, mas em geral são bebedores solitários, que só têm diálogo
com o copo.
Sobre mulheres:
→ O que eu mais gosto na mulher é
a disponibilidade dela para o amor. É a qualquer hora e a qualquer tempo.
Sobre sensualidade:
→ Eu sou um ser erótico,
naturalmente. Problema existencial, é claro. Porque tenho horror à
licenciosidade, à pornografia. Não se pode ser sensual apenas com as mulheres,
num sentido puramente sexual. A gente deve ser sensual em relação à vida, a
tudo. E, dentro do sensualismo, o erotismo é uma arte maior, como era concebida
na China, por exemplo.
Sobre a Bossa Nova:
→ A bossa nova foi uma conjuntura
histórica, um momento determinado onde a música brasileira precisava mudar. O
pessoal todo tinha nível universitário, mas ninguém tinha nada de elitista.
Eram gente de classe média, até mais para abastada, mas artistas de muita
sensibilidade e todos ligados à cultura popular.
Sobre a poesia e poetas:
→ Acho difícil que um poeta
jamais possa conseguir o seu filé em troca de um soneto ou uma balada. Por isso
me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heroica seja a sua aparente
inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com
os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua
longa luta contra a própria natureza e contra si mesmos para se realizarem em
amor e tranquilidade.
(Contigo Extra, julho
de 1980)*
*Edição lançada por ocasião da morte de Vinicius de Moraes,
em 9 de julho de 1980.
Grande Poeta !
ResponderExcluirIntenso em tudo.
Saudade dessa genialidade.
“A grande vantagem de ser poeta é ter como patrão apenas a própria vida.”
Excluir(Vinicius de Moraes)