Na foto, à esquerda, a Cia Hidráulica Porto-Alegrense,
à direita, a Sociedade Bailante, em foto de Luis Terragno, de 1865.
Na antiga Praça da Matriz, no nível
térreo da Assembleia, perto do Teatro São Pedro, havia a Bailante, construída
pelo Comendador Batista, pouco depois da metade do século XIX. A sua fachada
lembrava um pouco o estilo grego.
Afora as reuniões de família e o
comparecimento ao Teatro, Porto Alegre era uma cidade escura, pouco oferecia em
divertimentos noturnos. A Bailante, porém, teve muita aceitação e constitui-se,
logo em seguida, em ponto de reunião da sociedade não só para dançar, mas para
ouvir apresentações de flauta e cítara. Dançar polcas, valsas, mazurcas e xotes
era o ponto máximo do lazer na época.
Logo depois da invenção dos irmãos
Lumiére, o cinema chegou aqui com o filme “Paraíso
no Rio”, que depois de exibido no Teatro São Pedro foi repetido na
Bailante.
Mas não reuniam os porto-alegrenses só
para divertimento popular. Em 1886 e 1887 a Bailante realizou apresentações
brilhantes da Filarmônica Porto-Alegrense, com espetáculos chamados de soirée classique.
Quando o intendente Otávio Rocha,
na década de 20, mandou demolir a Bailante, ninguém lembrava mais que no local
aconteceram reuniões secretas do Partenon Literário apoiando a Abolição da
Escravatura e ativando discussões políticas.
No seu lugar ergueu-se o Auditório
Araújo Viana, que também mais tarde viria a ser demolido.
(Do livro “Porto
Alegre foi assim...”
desenhos a nanquim de
Hélio Ricardo Alves)
→ Acima, os terrenos onde hoje se
encontra a sede do Parlamento Gaúcho eram ocupados pela Companhia Hidráulica Porto-Alegrense
e pela Sociedade Bailante. A fotografia é de 1880.
→ A Sociedade Bailante situava-se
na Praça da Matriz, onde hoje está a Assembleia Legislativa, mesmo antes do
antigo Auditório Araújo Viana ser construído no mesmo local.
→ A Sociedade Bailante e o Teatro
São Pedro ficavam muito próximos um do outro. Na verdade menos de 50 metros os separavam.
Muitas vezes foram anunciados espetáculos nos quais o cinematógrafo era
complementar, geralmente apresentado nos intervalos das peças teatrais e das
óperas. A Bailante foi demolida em 1926, para a construção do antigo Auditório
Araújo Viana (demolido) e no local se encontra atualmente o Palácio Farroupilha
(Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul).
Auditório Araújo
Viana por Sioma Breitman
→ Em 1927, o Intendente Otávio
Rocha construiu, no local da antiga Sociedade Bailante e da Companhia Hidráulica
Porto-alegrense, o Auditório Araújo Vianna para os concertos e apresentações de
banda municipal, com concha acústica e uma plateia ao ar livre com 400 bancos
que se estendiam ao longo de quatro terraços, emoldurados por pérgula ornada de
roseiras. O Auditório foi demolido em 1955, para dar lugar ao Palácio
Farroupilha, sede da Assembleia Legislativa, inaugurada em 1967. Como
contrapartida um novo auditório foi construído no Parque da Farroupilha
(Redenção).
Sociedade Bailante –
1890 – Foto de Virgílio Calegari
→ O início da demolição da
Sociedade Bailante para que no local fosse erguido o antigo Auditório Araújo
Viana. Na fotografia acima, a demolição dos escritórios da antiga hidráulica.
Fotografias de 1926.
→ O antigo Auditório Araújo Viana
erguido onde antes havia os tanques da Hidráulica Porto-Alegrense e a Bailante,
na esquina da Praça da Matriz com a rua Duque de Caxias, teve
projeto e construção do engenheiro italiano Armando Boni,
de 1926
a 1927.
Auditório Araújo Viana e seus bancos de concreto
Por onde estão
espalhados os bancos
do antigo auditório Araújo Vianna?
do antigo auditório Araújo Vianna?
→ É possível que você já tenha
recorrido a um deles para descansar ou prosear sobre o tempo sem nem desconfiar
que estava sobre um pedaço da história de Porto Alegre. Caracterizados por
contornos delicados e ricos em detalhes, muitos dos bancos de concreto armado
do antigo Araújo Vianna estão espalhados pela cidade, como pequenas ruínas do
auditório que teve memoráveis concertos a céu aberto junto à Praça da Matriz
entre as décadas de 1920 e 1950.
→ Quando a concha acústica foi
demolida para a construção da sede da Assembleia Legislativa, os bancos foram
reaproveitados em outros pontos – a prefeitura cita como exemplo a Redenção,
parque onde foi construído o novo auditório. O ZH Pelas Ruas encontrou peças idênticas do mobiliário também
na Praça Júlio de Castilhos e nos Jardins do Departamento Municipal de Água e
Esgotos (Dmae), no bairro Moinhos de Vento, em clube e em igreja do
Teresópolis, na Zona Sul, e também na Praça Otávio Rocha, no Centro.
– Eu não sei de onde veio, nem quem fez ele. Mas dá pra
ver que o formato é desenhado, que é diferente dos outros bancos de praça –
disse o auxiliar fiscal Alex Júnior Silveira Alvarez, 17 anos, enquanto
descansava na Otávio Rocha.
→ Os mais de 400 bancos do
primeiro Araújo foram feitos em uma fábrica de artefatos de cimento nos fundos
da casa do engenheiro Armando Boni (morto em 1946, com 59 anos), na Rua Marquês
do Pombal. O italiano taciturno que chegou ao Brasil na década de 1910 desenhou
e fabricou as peças, finalizadas a mão, e também foi responsável por projetar o
auditório.
→ Como a prefeitura de Porto
Alegre não dispõe de levantamento de localização desses bancos e Boni
provavelmente usou as mesmas formas para outras encomendas, até mesmo para
outras cidades, não é possível afirmar com convicção quais deles testemunharam
as apresentações no auditório. Mas o filho do fabricante, o engenheiro
aposentado Benito Boni, 92 anos, acredita que os que estão espalhados pela
Capital, provavelmente, fizeram parte dessa história.
– Quando a gente se senta naquele
banco, lembra coisas antigas – relata o aposentado, que assistia aos concertos
da Banda Municipal nos bancos "normalmente cheios de gente".
→ Em 2009, a professora de Artes
Jéssica Couto, 31 anos, rastreou e registrou cerca de 80 bancos para seu
projeto de conclusão do curso de Fotografia na UFRGS – como foi divulgado por
Zero Hora em reportagem do caderno Cultura no mesmo ano. Embora não se dedique
mais com tanta intensidade, ela ainda não abandonou a pesquisa, e sonha em um
dia publicá-la em livro.
– Para uns, são só bancos velhos,
mas para mim sempre foram muito representativos pelo seu contexto, pela
importância histórica, artística e afetiva para a cidade – diz Jéssica,
acrescentando que os bancos comprados nas últimas décadas têm valor estético
atrelado ao menor preço apresentado em licitação.
→ De acordo com informações do
departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da prefeitura, os bancos não
têm nenhum tipo proteção individual (não são tombados), e a Secretaria de Meio
Ambiente, responsável por parques e praças, afirma que não há nenhuma ação de
resgate histórico em andamento.
(Do jornal Zero Hora, outubro de
2016)
Meus cumprimentos pelo blog. Muito interessante esse relato sobre "A Bailante", quanto ao prédio da sociedade, o senhor pesquisou quem foi o Comendador Batista, que a construiu, de quem era a propriedade da "A Bailante", ou quem fazia parte dela?
ResponderExcluirUma matéria sobre o Comendador Batista também está neste almanaque:com o título "O Primeiro Grande Construtor de Porto Alegre".
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