Por Rolando Boldrin
O Zequinha, menino de uns 10 anos de
idade, era na fazenda do meu padrinho o que se pode chamar de “charrete boy”.
Na cidade tem o motoboy, não tem? Então! Nas fazendas tem – ou tinha naquele
tempo, que já vai longe – o charrete boy. O menino que com a charrete do
fazendeiro vai buscar as coisas ou as pessoas na cidade.
Pois naquele dia, o Zequinha tinha
ido buscar na cidade o Padre Antônio, que estava iniciando sua temporada por
lá. Era um padre novo e tinha uma particularidade que a gente só ficou sabendo
depois desse causinho que tô contando aqui e agora: ele era ventríloquo. Um dom
que poucas pessoas possuem que é o de falar sem abrir a boca. Dizem que é uma
técnica de emitir os sons pelo estômago. Aliás, um grande ventríloquo que
existiu no Brasil foi o pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Chamava-se
Batista Junior e se apresentava em circos e teatros. E, de lambuja, era um
grande compositor.
Mas, seguindo no causo. O Padre Antônio sobe na charrete com o caipirinha Zequinha, ruma a fazenda do meu padrinho pra rezar uma missa. Logo na saída, o padre pergunta se era longe a tal fazenda, ao que o menino prontamente e muito espertamente lhe responde que levaria uns pares de horas. O que dava pra entender que era longe pra cacete e a viagem ia ser dolorosa ou dolorida para um padre que não estava acostumado a meter a bunda no banco duro de uma charrete velha conduzida por uma eguinha lerda.
Padre: – Oh,
menino! Você sabia que os animais conversam?
Zequinha: – Entre eles, eu
sabia, sim sinhô. Eles cunvérsa bastante.
Padre: – Não, filho. Estou dizendo que
os animais conversam com a gente. Conosco. Mas para isso é preciso conversar
com eles com muito amor. Você quer ver os animais conversando comigo?
Aí o menino,
esperto, se encanta e atiça.
Zequinha: – Ara, sêo padre. Essa eu tô pagando pra vê. Animar conversa cum gente. Essa nunca vi não sinhô. E o sinhô me adiscurpa, mas num querdito.
Padre (falando para a égua): – Dona eguinha! Está muito pesada a charrete? (E faz a voz da égua sem abrir a boca) − Tááá... sêo padre.
O menino,
num susto, para a charrete.
Zequinha (gaguejando): – Sêo... padre... a égua falô... a minha égua... respondeu pru sinhô... eu escutei...
Padre: –
Todos os animais conversam com a gente. Quer ver mais?
O padre olha um urubu nos céus
e fala:
Padre: – Bom dia, urubu. (E faz
voz.) Bom dia, parceiro. Bom dia, sêo padre.
E assim, o Padre Antônio foi se
divertindo com a surpresa encantada daquele caboclinho, que viu com os próprios
olhos e ouvia ali, in loco, os bichos falando com aquele padre. Com isso, a
viagem, que poderia ser longa, terminou logo, logo.
Zequinha: – Óia, sêo Padre! O sinhô tá vendo aquela cabrita branca ali na grama? Por favor, o sinhô num querdite em nada que ela falá prô sinhô, viu!
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